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sábado, 4 de outubro de 2025

As raízes dos segredos

Foto tirada por Lara Rocha (2016) 

     Era uma vez uma árvore muito alta, de tronco largo e muito velha. Já tinha uma série de raízes à superfície, que pareciam bancos, com mesas finas, parecidas com prateleiras e mesmo assim aguentava. Conheciam-na de um pinhal, no meio de tantas outras, mas esta era diferente! Especial. 

    Os habitantes mais antigos chamavam-lhe a árvore dos segredos, e contavam histórias muito bonitas sobre elas, que tinha poderes. Essas histórias já vinham dos bisavós, que contaram aos filhos, estes aos netos e todas as gerações as conheciam. 

    Os mais novos adoravam ouvir essas histórias, mas não acreditavam muito que tivesse poderes como diziam, por isso também não experimentavam. Passeavam pelo pinhal, viam essa árvore como todas as outras, entre tantas com as raízes de fora. 

    Os antepassados chamavam-lhe a Árvore dos Segredos, porque...contavam eles...pessoas de todas as idades, escreviam tudo aquilo que podiam contar. Todas as palavras que não podiam dizer, tudo o que achavam que não era bom pensar. 

    Escreviam todas as dores, todas as desilusões, frustrações, raivas, todas as zangas, todas as mágoas, tristezas, medos, todas as respostas que não puderam dar a quem muitas vezes os ofendia, tudo o que não compreendia, o que achavam injusto e tudo o que tinham de silenciar.

    Pediam desejos, e entregavam à árvore, escrevendo com os papéis, antes era nas folhas da árvore, com uma pena. Depois metiam tudo nos buracos entre as raízes, cobertos de terra, ou onde outros não chegassem para ler. 

    E conseguiam! Não mexiam nas folhas uns dos outros, respeitavam, porque cada um que escrevia, não queria que outros lessem, por isso, se eles fizessem isso, quem tinha escrito também não gostaria que lessem. 

    A árvore dos segredos era uma espécie de ouvinte, ou...leitora! Era segura porque não contava a ninguém, nem lia! Só recebia. Apenas os desejos, que escreviam e pediam para contar às estrelas, para os realizar. 

    Quando muitos não eram realizados, quem os tinha escrito, sentava-se numa raiz e chorava. A árvore sentia pena, juntava as raízes e envolvia-as, num abraço. Apesar de se assustarem, gostavam desse carinho, e escreviam o desagrado, a tristeza pelas estrelas não realizarem seus desejos. 

    Outras vezes, usavam as suas raízes para sentar e meditar, relaxar, apreciar a paisagem, sentir o vento na cara, e nos cabelos, ouvir a variedade de sons, e ver a beleza de tantas cores diferentes dadas pelo sol. 

    Os Bisavós e Avós contavam que dezenas, às vezes centenas de pessoas de várias aldeias, juntavam-se nesse pinhal, penduravam presentes feitos em croché e paninhos bordados, ou deixavam flores, saquinhos de sementes, uma peça de fruta que os  nas raízes dessa árvore. 

    Diziam que era para agradecer as coisas boas que a Natureza dava, e para não faltasse nada do que era preciso, nas mesas das famílias, principalmente, daquelas muito numerosas. As raízes dessa árvore também serviam de abrigo para pequenos animais, habitantes do pinhal; ficavam todos enroscadinhos e protegidos do frio, do calor, do vento, onde dormiam. 

    Era uma árvore quase como um diário com chave, onde guardamos os nosso segredos, as coisas que não são tão agradáveis, as boas recordações, o que gostamos mais, o que não gostamos, os nossos medos, o que nos deixa tristes, magoados, aborrecidos. 

                                                                            FIM 

                                                                        Lara Rocha 

                                                                      4/Outubro/2025 

    E vocês? Gostavam mais de ter um diário com chave em papel, verdadeiro, uma árvore dos segredos, como esta? Porquê? 

    Podem deixar nos comentários, se quiserem. 


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