Número total de visualizações de páginas

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

A estranha nuvem

    Era uma vez numa aldeia, há muitos, muitos anos atrás, com famílias numerosas. Não eram muito ricos em dinheiro, mas tinham alimentos que a terra dava, amor, carinho, dedicação, entreajuda, amizade, partilha e alegria. 

  Faziam muitas festas, mesmo com pouca luz das ruas, às vezes reforçada pela luz da Lua, momentos maravilhosos que fazia sonhar. Reuniam-se ao ar livre na praça para ouvir e contar histórias, ver as estrelas e conviver. Os adultos conversavam, as crianças corriam, brincavam, cantavam, saltavam, faziam jogos coletivos, e era uma grande animação.  

    Além dos habitantes, voavam sobre as flores e pousavam nas janelas, nas árvores, nos vasos, nos arbustos, em todo o lado, centenas, milhares de pirilampos que encantavam toda a gente com a sua misteriosa e maravilhosa luz. 

   Não havia poluição, nem prédios, por isso iluminavam com toda a força. Até os que fugiam das cidades vizinhas, juntavam-se a estes. Um dia, infelizmente, a aldeia começou a crescer, as construções aumentaram, e com elas, os candeeiros com luzes fortes, iluminação pública por todo o lado. 

    A poluição quase tanta como nas cidades. Os pirilampos começaram a refugiar-se na flores, não saíam à noite, ou se o faziam era por pouco tempo. Começaram a sentir o peso da poluição e das luzes, que os deixavam confusos, irritados, perdidos, cansados. 

  A sua luz começou a enfraquecer, os habitantes mais velhos ainda perguntavam por eles. Comentavam entre si, o que seria feito dos pirilampos, porque tinham deixado de os ver quando saíam para os procurar. 

   Algumas noites, ainda tiveram a sorte de ver uma pequenina luzinha dentro de algumas flores. Espreitaram e viram que eram os pirilampos, mas estranharam ser uma luz tão fraquinha. 

- Acho que os pirilampos estão doentes - comenta um habitante 

- Também acho! - dizem todos 

- Quase não brilham! - diz outro 

- Estão em vias de extinção. 

- Que pena! 

- Porque será? 

- Não sei! 

- Coitadinhos. 

   Como não aguentavam aquele ambiente, decidiram procurar outro sítio. Numa noite, saíram todos juntos, praticamente sem luz nas caudas. Formaram uma nuvem escura, parecia uma invasão de mosquitos, com umas pintinhas luminosas, quase pareciam estrelas no céu noturno. 

   Voaram devagar, bem juntinhos uns aos outros para se ajudarem, se precisassem e dar força coletiva. Estavam tristes. Os habitantes, e quem viu do solo, assustou-se: 

- Olhem aquela nuvem, parece de mosquitos...a ondular! - repara um dos habitantes

- É mesmo! 

- Acho que é melhor irmos para dentro. 

- Eles parece que vão noutra direção! 

- Pois, mas podem voltar para aqui. 

- Hummmm....não me parece! 

- Eu acho que aquilo é uma nuvem no céu noturno...algum fenómeno astrológico! Tem umas pintinhas brilhantes, e mexem-se. 

- Cá para mim é concentração da poluição. 

- Também pode ser infelizmente. 

- Áh! Pois é... - concordam todos 

    Ficam a apreciar a nuvem negra que parecia do espaço, ou o bailado dos pássaros à noite, a ondular, a mexer em bando, pontos negros, com pontos luminosos. 

- Parece o bailado dos pássaros, à noite! 

- Mas eles não voam de noite, nem fazem bailados no escuro, a não ser que sejam morcegos. Só que os morcegos não têm luz. 

- Que estranho!

- Sim, é verdade. Só espero que não seja uma praga de insetos para dar cabo das nossas plantações e alimentos. 

- Também acho. - dizem todos 

- Longe vá o agouro. 

  Quando olham para as flores onde costumavam ver as luzes dos pirilampos, viram-nas escuras. Muito intrigados, espreitam e não veem nada! Nem rasto dos pirilampos. 

- Onde estão os pirilampos? 

- Desapareceram…! 

- Óh! Não acredito. - Lamentam

- Eram tão bonitos. - comenta outro 

- Pois eram. 

- Para onde terão ido? 

- Acho que para o papo de algum animal ou bando de animais esfomeados. 

- Que horror. 

- É a lei da sobrevivência. 

 Enquanto os habitantes procuravam explicações para o desaparecimento dos pirilampos, a nuvem afastava-se cada vez mais. Ao passarem na grande cidade, ninguém reparou neles. 

   Aqui voaram depressa, e fugiram para o monte da cidade, onde se respirava um ar mais fresco, e aparentemente puro. Descansaram, estavam exaustos. Gostaram desse lugar, ficaram por lá alguns dias, a sua luz tornou-se novamente mais forte. 

    Adoravam voar livres, no escuro, com a aragem fresca do vento, outras vezes quente, conseguiam ver a lua, as estrelas. Pessoas que gostavam de ir a esse monte, viam-nos, fotografavam-nos, e foram espalhando a novidade que havia pirilampos no monte. 

  A partir desse dia, todas as noites, dezenas de pessoas iam vê-los, maravilhados, tentavam apanhá-los para ter em gaiolas como se fossem grilos, mas eles não deixavam, fugiam, apagavam as suas próprias luzes. 

- Já não se está sossegado em lado nenhum! - reclama um pirilampo nervoso 

- Que perseguição! - comenta outro irritado 

- Realmente…! - concordam todos 

- Para que é que nos querem apanhar? Não somos grilos nem borboletas...ora! - lamenta outro pirilampo intrigado

- São um perigo, estes terráqueos. 

- São mesmo! - dizem todos 

- Se calhar iam vender-nos! - comenta outro pirilampo

- Mas era só o que faltava. Nós fomos feitos para andar cá fora. 

- Pois! Mas essas criaturas nem devem saber isso, ou não querem saber. 

- Também é verdade. 

- Daqui a pouco temos de mudar de sítio outra vez! - diz um pirilampo 

- Que horror! 

    De dia ninguém os via, de noite, para terem paz, começaram a sair do monte, e foram visitar o Jardim da Cidade. Gostaram muito desse lugar, não foram vistos, sentiram segurança, e paz, deliciaram-se com as flores, a terra fresca, as gotas da rega, a escuridão. 

   Quem os via no monte à noite, deixou de os ver. De vez em quando revisitavam a aldeia de onde saíram, em forma de nuvem negra que pareciam insetos, ou uma nuvem no espaço com estrelas em movimento. 

  Mas ninguém os via, porque os habitantes achavam que tinham desaparecido, e não procuraram mais. Nas cidades ninguém os via, e nesse jardim, estavam sossegados, não gostavam daquelas luzes. 

  Afinal, a nuvem misteriosa, eram os pirilampos em voo, juntos, à procura de um espaço sossegado. 

                                                         FIM 

                                                  Lara Rocha 

                                                28/Abril/2025 


E vocês, veem pirilampos na vossa cidade? 

O que acham que podiam fazer para chamar pirilampos?  

Acham que eles gostam mais do campo, ou da cidade? 

E vocês? Se fossem pirilampos, por onde andavam? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem. 

                                                                    


Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras