Era uma vez uma floresta ao lado de casas numa pequena Vila. Uma floresta aparentemente pequena, achavam as pessoas, porque a entrada era escura, provocada pela sombra das árvores enormes, frondosas, que se entrelaçavam umas nas outras.
Formavam um túnel onde dificilmente entraria o sol, e no Inverno, a entrada era tapada com as folhas que caíam das árvores, um manto em altura que parecia uma porta.
Nenhum habitante, desde as primeiras gerações que viveram nesse lugar tinha entrado na floresta, porque ouviam muitas histórias de terror, de coisas que aconteciam a quem se atrevesse a tentar entrar para explorar o espaço.
Contavam muitos mitos, lendas que pensavam ser verdadeiras, porque ouviam barulhos estranhos, principalmente de noite!
Gritos, vozes que não se percebia o que diziam, mas pelo tom, pareciam estar a discutir, risinhos maléficos, estalidos, ressonâncias, sons misteriosos que não faziam parte do dia a dia, e do meio onde estavam.
Diziam que viviam seres muito diferentes do ser humano, não humanos ou humanos cruéis. Na verdade, tudo não passava da imaginação das pessoas, por histórias contados dos antepassados, pelo medo do desconhecido e do escuro, embora nunca tivessem visto ninguém.
Histórias, mitos e lendas que faziam as pessoas ficar em casa à noite, imaginar coisas à noite, e tinham a certeza de que vinha da floresta, sentiam pavor, pânico, ansiedade.
Custava-lhes a adormecer, porque ficavam a pensar no que teria a floresta, se era assim tão terrível como diziam.
Um dia, dois adolescentes que também sentiam medo, viram um saquinho de lindas amoras vermelhas à sua porta, e na porta de outras casas.
Ficaram preocupados, mas gostaram tanto da cor do fruto que se esqueceram das lendas e mitos, nem sequer pensaram que poderia ter vindo da floresta.
Não sabiam como esse saquinho tinha aparecido à porta das casas, provaram e adoraram. Ofereceram aos pais e familiares, que primeiro gritaram:
- Cuidado, não comam isso! Pode ser venenoso ou uma armadilha da floresta. - diziam os pais
- Qual venenoso, ou armadilha, mamã e papá...claro que não é! Eu acabei de provar, e são uma delícia. Não sei quem as pôs aqui. - disse a Adolescente
- Mais uma razão para não comer isso! Não sabemos. - diz uma mãe
- Está bem, não querem provar, é quanto perdem!
A adolescente continua a comê-las deliciada. O adolescente faz o mesmo na casa dele, e as outras casas onde estava o saquinho com amoras.
Os pais decidem provar, a medo, mas primeiro rezam para que não seja uma armadilha ou venenoso. Os adolescentes riem-se.
Todos comem e percebem que realmente tem um sabor irresistível, é bonito e não lhes aconteceu nada! Quando saem a porta, encontram-se com os outros vizinhos, e conversam sobre o saquinho das amoras que receberam.
Todos comeram a medo, mas acharam maravilhoso.
- De onde terá vindo? - perguntam-se todos
- Quem é que o terá deixado aqui à nossa porta, e para quê? perguntam todos
Quando olham para o chão veem várias amoras espalhadas pelo chão, até à entrada da floresta e no inicio desta.
Começam aos gritos, em pânico.
- Eu disse que era uma armadilha! Ou veneno. - diz uma senhora com uma certa idade
- Eu também. - concordam os pais da adolescente, em pânico.
Os adolescentes desatam às gargalhadas.
- E agora, o que nos vai acontecer? - pergunta outro senhor
- É melhor chamarmos já ajuda, porque isto pode dar cabo de nós! - diz um senhor com alguma idade muito assustado
Os adolescentes não param de rir pelo exagero dos adultos, e por sentirem aquele pânico todo, ao pensar que vinha da floresta.
- Eu vou entrar! - diz a adolescente
- Eu vou contigo! - diz o adolescente
- Eu também vou… - dizem todos os adolescentes
- Vocês são loucos? - grita a Avó de um deles
- Nem pensam no que estão a fazer! - diz outra Avó
- Já deve ser efeito do veneno! - comenta um sr.
- Só se riem, e ainda por cima querem entrar ali. - comenta outra Avó
- Vamos, pessoal.
Os adolescentes, entram às gargalhadas na floresta.
- Que irresponsáveis! - grita uma mãe
- Voltem imediatamente. - grita outra mãe
- São completamente loucos! - diz um pai
- É da idade, mas vão-se arrepender! - comenta outro pai
- Eu tenho pena mas não vou ajudá-los! Sempre tive, e tenho medo! - diz uma mãe
- Eu muito menos - diz a Avó
- Que assumam! - comenta um pai, nervoso - Eu também não me meto lá.
- Nem eu! - dizem todos
Enquanto aguardam com expectativa e medo, a olhar para a entrada da floresta, os adolescentes, alguns a esconder e a disfarçar o medo, conversam alegremente, caminham, olham a toda a volta, para cima.
Apanham alguns sustos com alguns animais, que aparecem de repente. Continuam a andar e identificam muitos dos barulhos que achavam estranhos e ouviam de noite.
Percebiam que eram os guinchos, os gritos, os risos maléficos, que os faziam imaginar coisas.
Viram seres iguais a eles, pessoas, com alguma idade, outros mais novos, e crianças, que se refugiavam naquele sítio, e onde viviam desde sempre.
Famílias inteiras a viver em tendas de campismo, e árvores, muito simpáticos e acolhedores, com um estilo de vida muito próprio, diferente do deles.
Os adolescentes perguntam se foram eles que deixaram aqueles saquinhos de amoras nas portas. Eles responderam que sim.
- O que são? - pergunta um adolescente
- São amoras! Gostaram?
- Muito! - respondem todos
- Os nossos pais, avós, tios, vizinhos estavam cheios de medo de comer isso, a pensar que era venenoso, ou uma armadilha! - diz um Adolescente a rir
Todos dão uma gargalhada.
- Não! Podem estar descansados, que não é nenhuma armadilha, nem veneno! Porque pensaram isso? Nós oferecemos, porque faz parte da nossa cultura, para nunca nos faltar nada! Não pusemos antes porque deixamos noutras portas por aí, noutros lados, mas este ano, escolhemos vocês, que não conhecemos! Mas somos pessoas como vocês, trabalhamos na cidade, levantamo-nos muito cedo, outros trabalham de noite, temos horários diferentes, as crianças andam nos vossos colégios, e escolas.
- Áh! Que giro! - dizem todos a sorrir
- Nunca ninguém entrou aqui, porque há muitos medos, mitos e lendas em relação a esta floresta. - diz uma Adolescente
- A sério? - diz uma habitante surpresa a rir
- Sentem-se aqui um bocadinho connosco, e contem-nos, por favor.
Os adolescentes sentam-se numa manta, e todos ouvem o que os visitantes contam. Todos desatam às gargalhadas e os Adolescentes também.
- E vocês acreditavam? - pergunta uma habitante
- Ahhhh...no início sim… - diz uma Adolescente
- Sentíamos medo, pelo que contavam e achávamos que era verdade, porque ouvíamos alguns barulhos no escuro, que já descobrimos de onde vem. Como não conhecíamos, também imaginávamos coisas estranhas.
(Todos riem)
- Pois, nós também nunca nos encontramos antes, nem lá fora, nem cá dentro! - diz a habitante
- Ficaram cheios de medo que nós entrássemos…! - diz outra Adolescente
- Claro, entendo! O medo faz parte de nós, e faz-nos imaginar coisas que não existem, o que não conhecemos. É normal. As nossas crianças, filhos, e adolescentes da vossa idade também têm os seus medos de coisas absurdas. Até os Avós, e nós. - explica outra habitante. Nunca vimos nada aqui, do que eles imaginam.
- Sim! - confirmam os Adolescentes
- Estamos a aprender isso. - diz outro
- Mas...eu vou convosco, buscar as vossas famílias e vizinhos para virem conhecer a floresta, e a nós, e perceberem que afinal o medo deles não faz sentido. Nada do que eles imaginam sobre esta floresta, nada do que contam, é verdade!
- Boa idade! - concordam os Adolescentes
Os habitantes acompanham os habitantes até à entrada da floresta, numa conversa muito animada, a rir, a mostrar coisas.
Os pais, os Avós, os tios e os vizinhos ficam muito assustados, surpresos ao ver os Adolescentes com todas aquelas pessoas desconhecidas.
- Estão bem, filhos? - pergunta uma Avó
- Ótimos! - respondem todos
- Quem é esta gente toda? - pergunta uma mãe inquieta
- Olá! Somos os vosso vizinhos, aqui da floresta cheia de mitos e lendas, terrores… .- diz uma habitante
(Todos dão uma gargalhada)
- Venham conhecer a floresta que vos assusta tanto, e vão ver que nada do que sempre vos foi dito, é verdade. - acrescenta outra habitante
- Como assim? - pergunta outro Avô
- Nunca vieram a esta floresta porque sentem medo, não conhecem como ele é, e isso alimenta a vossa imaginação. Mas acompanhem-nos, e venham conhecer. - convida outra
Todos seguem os habitantes e entram na floresta. Primeiro, a sentir medo, ao lembrar de tudo o que diziam existir.
Depois, a perceber que afinal aqueles ruídos e barulhos, sons estranhos, eram da natureza e não tinham nada de terrível.
Os gritos e os guinchos que ouviam era o vento entre as folhas das árvores nos descampados a passar entre as searas de milho e trigo, as agulhas dos pinheiros altos.
Os risinhos e as vozes que ouviam sem se perceber o que diziam, eram as pessoas que viviam nas tendas e nas árvores, a conviver, e a conversar entre si.
As crianças a brincar e a rir, eram os risinhos diabólicos. Viram coisas que nem imaginavam ser possível existir naquele lugar misterioso.
- Tão bonito isto! - suspiram e comentam os visitantes
- Por causa do medo e do que nos contavam o que estávamos a perder! - comenta outro visitante
- E nós acreditamos sempre...então o medo já era deles, e dos nossos avós, bisavós. Os mitos, as lendas, que inventavam, ninguém se atrevia a entrar aqui, mesmo não conhecendo, nem para conhecer. - lembra outra visitante
- Sim, acredito que sim. Nunca veio cá ninguém! É verdade, inventam cada uma, para não exporem a riscos desnecessários, e justificar de forma disfarçada o medo do que não conhecem! Nem permitem que outros conheçam, para não sentirem medo, sozinhas, e sozinhos. - diz uma visitante
- É verdade! - confirmam todos os habitantes a rir
Ficaram encantados, com as paisagens e flores, frutos, cascatas, riachos, montanhas, prados muito verdes.
O gado que pastava sem pressa, outros deitados à sombra, alguns cavalos a correr livres pelos prados, ovelhas, vacas e bois, no repasto de erva suculenta.
Ouviram pássaros a cantar e a voar, de todos os tamanhos, patos a boiar, peixes de todas as cores, sol e sombra.
Enquanto viam as maravilhas da floresta, ouviam o dia a dia dos seus habitantes, e entenderam que o medo falava mais alto, até lhes fazia ver e ouvir coisas que não existiam.
Como estavam errados, pediram desculpa, um pouco envergonhados, e a rir. Agradeceram as amoras, convidaram para voltarem sempre que quisessem e tudo o que precisassem, era só chamar.
Retribuíram, e nos dias seguintes, cumprimentavam-se, conversavam, riam, partilhavam alimentos e construíram uma linda amizade, uma família.
Passaram a ir mais vezes passear pela floresta, para apreciar todas as belezas, e conviver com os seus habitantes.
E vocês?
Sentiriam medo de uma floresta que não conhecessem?
Acham que as lendas, os mitos e o medo do que não se conhece, ou que tem um aspeto diferente, pode despertar medos?
Que lendas e mitos é que já vos contaram, e que vos fizeram sentir medos?
Confirmaram se existia mesmo?
Continuaram a sentir medo?
Se entrassem, o que viam?
Podem deixar nos comentários, o que quiserem.
FIM
Lara Rocha
16/Março/2025
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