Se o passado fosse um conjunto de palavras, um texto, um filme, um guião, ou um poema...se escrevêssemos sobre o passado… qual a pontuação que usaríamos?
Hummmm....eu...colocaria muitos pontos finais, alguns que ainda hoje não consigo colocar, ou coloco e de vez em quando saltam. Demorei a aplicá-los, mas ficaram lá atrás, juntamente com tudo o que levou um ponto final.
Acho que só mais próximo da idade adulta, conseguimos fazê-lo, pelo menos aparentemente. Alimentei a raiva, o ódio, o rancor, a vontade de vingança que qualquer um de nós sente, durante muito tempo. Demasiado tempo!
Alguns pontos finais foram difíceis de aceitar e de os ver juntamente com alguns acontecimentos, e pessoas; a quem acrescentei um ponto e vírgula, símbolo das lágrimas que me fizeram cair.
Porque me magoaram, e fizeram sofrer, desiludiram-me; por isso também usei o ponto de exclamação porque não esperava que alguns e algumas o fizessem.
Como se atreveram a fazer-me isso, que desilusão! Nada fazia esperar essa necessidade de pôr um ponto e vírgula, e um ponto de exclamação, mais umas reticências.
As reticências para quê? Quando tentava procurar uma justificação para comentários e maldades. Não encontrei as respostas. Mas de outras pessoas e situações cansei rapidamente.
Foi muito fácil, e quase imediato que as pus, ainda acrescentei travessões para despejar toda a minha raiva e desagrado em relação a essas criaturas que infelizmente surgiram na minha vida e só me infernizaram.
Outras vezes, por muito que tivesse doído, e por muito que eu não quisesse, com um conflito entre a razão e a emoção, tive de pôr um ponto final.
Amores não correspondidos, desinteresse total, indiferença do outro lado, as amigas a tentar ajudar, casamenteiras, mas não funcionou. Não era para ser.
Doeu, muitos meses, pus muitos pontos e vírgulas nas lágrimas que tanto teimavam em cair, utilizei parênteses para representar o meu vazio e o estar fechada. Uma defesa.
Quando mais crescida, sorrio, ponho meio parêntese por baixo de dois pontos das reticências. Usei travessões, reticências dentro de parênteses, quando ouvi coisas que não gostei, às centenas, e tive de me calar, ficando com a vontade de falar, despejar tudo o que ficava atravessado.
Mas para não ter conflitos, calava-me. Eram parênteses e reticências porque não havia diálogo com quem me dirigiu palavras destrutivas, que me ofenderam e magoaram, tive de ouvir e calar.
Mas uns anos mais tarde, estava com pessoas de confiança e os parênteses abriram, saíram todas as reticências e todos os travessões, todos os pontos de exclamação e pontos e vírgulas.
Quando fui capaz de falar, mais adulta utilizei muitas vezes os travessões, os pontos finais com mais facilidade, abri os parênteses e deixei cair as reticências, embora tivesse de deixar algumas dentro dos parênteses, para não alimentar criaturas cruéis.
Também usei muitos pontos de exclamação e pontos finais. À medida que vamos aprendendo com as experiências, e as desilusões, tornamo-nos mais capazes de despejar os parênteses, e substitui-los por pontos finais.
Em relações, em falsas amizades, interesseiras, não reciprocidades, indiferenças. Não usamos tantas reticências, mas sim, pontos e vírgulas, pontos finais, sem tanta dor.
Quer dizer...dóis, colocar pontos finais, abrir parênteses, pôr reticências, e os travessões só os vemos na nossa mente! Mas tudo passa mais rápido, do que por exemplo, na Adolescência.
Mesmo na idade adulta, nem sempre é fácil colocar pontos finais em «sonhos não realizados», «esperanças», «expectativas furadas», «desejos frustrados», juntamente com pontos e vírgulas, nem aceitar e lidar com fracassos, injustiças.
Aqui, às vezes aparecem pontos e vírgulas, as nossas lágrimas, de frustração, raiva, incompreensão, e os pontos de interrogação quando procuramos os «porquês»?
Qual é a resposta desses pontos de interrogação? Abrimos parênteses, colocamos reticências, fechamos parênteses, ou pontos e vírgulas de lágrimas, mas sem travessões, porque não encontramos explicações nem respostas.
As reticências também são usadas quando pensamos, e não sabemos o que fazer. Os pontos de exclamação, os dois pontos lado a lado e os parênteses voltados para cima quando estamos felizes, quando nos sentimos realizados e somos valorizados, apreciados, incentivados.
Ou dois pontos lado a lado e um parêntese, o que fecha, virado para baixo, que mostra o nosso desagrado, a tristeza, ou o traço inclinado, que traduz a nossa raiva, frustração.
Quando pensamos no nosso passado, na atualidade, que pontuações usamos? Muitas vezes, as reticências, outras vezes, estas dentro de parênteses, e pontos de exclamação no fim da frase ou pensamento.
Estes pontos de exclamação, as reticências dentro de parênteses e os pontos e vírgulas, ou os dois pontos lado a lado, com meio parêntese virado...umas vezes para cima, outras vezes para baixo.
Geralmente sem travessões porque não dialogamos com outros, só com nós mesmos, e não precisamos de colocar travessões, porque não existem respostas.
Os sinais de pontuação são usados, tanto para o passado, como para o presente. Às vezes queremos colocar pontos finais, mas a insegurança, a incerteza, o medo, fazem-nos pôr reticências, quando também temos dúvidas se queremos ou demos usar ponto final.
Porque, em vez de ponto final, pomos uma exclamação ou um ponto de interrogação, mas sentimos mais segurança com reticências dentro de parênteses.
Talvez porque...as reticências dentro ou fora dos parênteses sejam um sinal de esperança que a situação ou pessoa a quem tentamos pôr o ponto final mude! Ou quando sonhamos, imaginamos, idealizamos que as coisas vão ser diferentes de um momento para o outro.
Cansamos de esperar, de ver os dois pontos lado a lado com o parêntese para baixo, e os pontos e vírgulas. Porque tudo continua igual, a pessoa e a situação.
Porque as lágrimas saem, porque o estômago e a mente, não querem sentir mais isso...porque a pessoa ou situação na verdade não merece, não está preocupada connosco ou com o que sentimos.
E lá vem outra vez o ponto de exclamação. A mente, o estômago, o coração, todo o corpo...começa a dialogar connosco, mas nós não lhe respondemos.
Todo o corpo, ao fim de algum tempo com as reticências, e os pontos e vírgulas, começam a dizer: põe pontos finais nesses assuntos, nessas situações. Já vai há tanto tempo, para que continuas a preencher-nos com elas, se elas só nos fazem mal?
Eles têm razão, mas às vezes, os pontos finais que achávamos já ter posto em pessoas ou situações, do passado, saltam para o presente. Lá vem outra vez as reticências, e os parênteses, porque queremos fazer isso, mas não sabemos como, ou não conseguimos.
Mais um ponto de interrogação, um ponto de exclamação, parênteses com reticências. A mente responde: põe pontos finais e verás como a leitura é diferente.
Deixa para lá o passado, e todas as coisas más. Lembra as coisas voas, agradece as coisas boas, lembra as pessoas boas que conheceste e que te fizeram bem, mesmo que no presente não saibas delas, ou não fales com elas, nem as vejas.
Lembra os momentos felizes, mas deixa espaço para o presente que é o que conta! Deixa o passado na caverna, para ele descansar em paz, e nós teremos paz.
Deixa o passado em paz, ele já não te dá nada, não te traz nada, não te ensina mais nada, não te dá mais nada de bom...Põe pontos finais! Nós precisamos e merecemos.
Não ponhas mais reticências no que não tem futuro, e no que é incerto ou pode nunca acontecer, nunca saberás muitas das respostas, também não precisas delas. Já passou!
O presente é que conta, tu estás no presente, e há sempre muitos pontos de exclamação para serem utilizados, nas coisas boas e bonitas, na simplicidade, no que tens agora, no que és agora. Com o que vale a pena!
Achamos que pomos pontos finais, mas continuamos na verdade, às vezes, a usar parênteses, co reticências, para nos sentirmos preenchidos, ou não perdermos a nossa identidade.
Mas até a nossa identidade, não é a mesma! Também ficou lá atrás, não somos mais aquela pessoa do passado, ou aquelas pessoas que fomos, não voltaremos a ser.
A cada ponto final, que pusemos ou pomos no passado, fica algo de nós que já podemos nem nos lembrar de como éramos. Pôr pontos finais pode ser mais ou menos difícil, mas é preciso.
No presente, usamos todos os sinais de pontuação! Talvez a pontuação mais difícil de usar, no passado e no presente, sejam os pontos finais.
E para vocês, qual é o sinal, ou sinais de pontuação que mais utilizam? Quais foram os que mais utilizaram no passado? E agora no presente?
Podem deixar nos comentários, se quiserem.
FIM
Lara Rocha
24/Março/2025