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terça-feira, 15 de outubro de 2024

A maçã de vidro com estrelas

 


       Era uma vez uma maçã, aparentemente igual às outras. Vermelha, grande, redonda, pendurada na árvore num enorme campo verde onde existiam outras árvores. Mas à noite, uma magia acontecia! 

      Quando um jovem rapaz, simples, que vivia na aldeia se deitava por baixo da árvore, para descansar, relaxar depois do stresse da cidade, e ouvir todos os barulhos à sua volta, certa noite, olhou para cima, viu um objeto estranho que nunca tinha visto. 

     Levanta-se assustado, e murmura: 

- Trabalhei tanto, hoje, que até já estou a ver coisas. Ou...a imaginar. 

     Olhou outra vez para a árvore, a toda a volta, de várias perspetivas, apreciou cada ramo, cada maçã, e realmente havia uma diferente. 

- Espera aí...afinal...acho que estou a ver bem! Esta maçã, é diferente de todas as outras. Mas, de dia são todas iguais, à noite também devem ser. Não...devo ser eu a imaginar. Alguma vez uma maçã vai ser diferente das outras à noite? De dia, são diferentes, umas maiores, outras mais pequenas, umas com formas maiores, outras com formas mais pequenas, mais perfeitinhas, ou com deformações...mas são boas, e são maçãs! Umas são de cor amarela, outras mais vermelhas, outras mais acastanhadas, com manchas, pintas de várias cores, mas à noite...acabam por ser...à primeira vista, todas iguais. Não...esta é diferente! Hummm… 

     Pega na maçã e comenta: 

- É pesada! Não. Isto não é uma maçã. Alguém pôs isto aqui, não sei como, nem para quê! É...linda! Mas...(toca com os ossos do meio dos dedos) É...é...de...vidro? Como pode ser? E...tem pintinhas a luzir. (Levanta a maçã) Áh! Que espetáculo! É transparente, e tem estrelas. É! São estrelas. (Olha para cima, e vê um céu repleto de estrelas, acompanhadas da Lua, cintilantes). Que céu tão bonito! E esta maçã de vidro reflete estas estrelas?! Deve ser isso. (Vira a maçã em vários sentidos, e vê sempre estrelas refletidas na maçã). Mas, que coisa mais bonita! Como é que isto veio aqui parar? 

- Boa! Reparaste. - diz a árvore 

      O jovem assusta-se: 

- Quem está aí? 

- Estás a olhar para mim. 

- Onde? 

- A árvore onde estava essa maçã! 

- É mágica. Mas quem é que a pôs aí? 

- Isso não interessa! 

- E porque é que ela está aí, ou para quê? 

- Para te lembrar que as estrelas existem, e gostam de ser apreciadas. Há quanto tempo não as vias? 

- Não sei...mas acho que as vejo todas as noite, aqui, quando me deito estado a ti para descansar. 

- Não. Se as visses, saberias que eram estrelas refletidas nessa maçã. 

- É que não estava à espera de ver estrelas numa maçã de vidro! Numa macieira, com tantas maçãs, que vejo todos os dias, e todas as noites, mas nunca vi nenhuma com estrelas. 

- Vês as estrelas, mas não as sentes nos teus olhos, nem no teu interior. 

- Acho que ninguém as sente! Elas estão muito longe. 

- Mas deviam sentir, porque tu também és feito de estrelas, todos são feitos de estrelas. Uns tem as estrelas sempre atrás das nuvens, outros nunca as veem porque estão sempre debaixo de tempestades, outros...uns dias veem-nas, outros dias não veem, e outros, veem-nas numa noite clara, todos os dias, quando vão para a cama, agradecer mais um dia, tudo o que merece ser agradecido, e sonhar. 

- Não sei se percebi o que disseste! 

- Relembra-te das minhas palavras, e perceberás. Vocês andam sempre na Lua, com os pés na terra, sempre a correr, sempre a olhar para coisas que não têm nada de estrelas, nem nada de bonito, nunca olham para o que é realmente especial, é por isso que estão a perder o vosso melhor! 

- Estás a dizer que somos maus? 

- Não...são indiferentes, e distraídos, só reparam no que não interessa. Tu sabes que muitos de vocês também têm maldade que chegue, em vez de estrelas. 

- E temos estrelas? 

- Sim! Nos olhos, no coração, nos atos, nas boas relações com os outros, nos sonhos, nos pequenos gestos de carinho, na voz, no canto, em todo o lado. As estrelas são parte de nós, do que somos! Podes ficar com essa maçã, e sempre que olhares para ela, verás estrelas, podes olhar para o céu, e para essa maçã, para te lembrares quem és. 

- Mas o que é que eu tenho a ver com as estrelas? 

- Isso, só tu saberás responder, olhando para a maçã, e conversando com as estrelas. 

- Que lindo! Mas isso é difícil. 

- Difícil? Não...é só olhares para as estrelas da maçã, e elas dão-te as respostas que procuras. 

- Uau! Todas? 

- Todas...não sei! Não sei quais são as tuas perguntas, mas também não tenho de me meter nesse teu assunto. Só cumpri a minha função...dar-te a maçã de vidro, para veres as estrelas refletidas nelas, e lembrar-te delas. Ao mesmo tempo, para te descobrires...talvez! 

- Terás outras maçãs de vidro com estrelas com outras pessoas? 

- Não sei. Olha para a maçã com estrelas: quando te sentires nervoso, quando estiveres triste, quando estiveres com  dúvidas ou com medo, quando não conseguires dormir, quando te sentires cansado, vazio, desiludido, sem esperança, solitário, sem sonhos e objetivos. E agradece todos os dias, tudo o que achas que deves agradecer. 

- Assim farei! Muito obrigado. Vou descansar. Boa noite, e gratidão pelas tuas maçãs, que são uma delícia, gratidão por esta maçã tão especial. 

- De nada! (sorri a árvore) Boa noite, e volta sempre. 

- Obrigado. Voltarei com certeza! Boa noite. 

     O jovem vai todo feliz, com a maçã de vidro com estrelas, deita-se, põe-na na mesinha de cabeceira, e sorri a olhar para ela. Faz o que a árvore sugeriu, e dorme sossegado, olhando para a maçã de vidro com estrelas, de dia e de noite, sempre que precisava, conversava e via as estrelas.

                                                    FIM 

                                              Lara Rocha 

                                         15/Outubro/2024

E vocês, já viram estrelas? 

Têm esse hábito de olhar para o céu e ver estrelas? 

Gostavam de ter uma maçã de vidro com estrelas? 

Falariam com ela?

Podem deixar nos comentários.

                                                    

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Castelinho de sonho

      



  Era uma vez uma menina que sonhou com um castelinho, mas não era igual aos que ela já tinha visitado com os pais. Este ficava escondido numa floresta, por onde era preciso passar, com pequeninas surpresas. 
    Cascatinhas, borboletas gigantes e cheias de cores, que esvoaçam à frente de quem passa, agulhas de pinheiros pequeninos, e troncos fininhos de árvores que adoram passar carinhosamente pelos cabelos das pessoas, e estas ficam todas arrepiadas, sorriem, riem de cócegas. 
    Passar por árvores que parecem ter olhos e sorrir para os visitantes, sentir um cheirinho tão agradável a mentol fresco, a flores, vê-las aos seus pés, ao lado, na relva, tão grandes e tão bonitas! 
    Ver pássaros e ouvi-los, de todas as espécies a chilrear, cada um com o seu cantar, parece uma sinfonia confusa, a desfilar diante dos olhos. Cada qual o mais bonito, cheio de cores, passam à frente da menina, e ela acaricia-os. 
    A paisagem é encantada, mágica. De repente, ouve uma música alegre, olha para todo o lado, e vê um jovem palhacinho, sorridente, mascarado, a dançar e a tocar, aos pés de uma árvore. 
    Para de tocar, olha para a menina, faz uma vénia, e com um sorriso, estende o braço, convida-a a entrar naquela árvore.
- Olá menina bonita, entra! Muito bem vinda. 
- Olá! Adorei a tua música. Mas entro aí na árvore? Como?
    E o palhacinho tira uma chave dourada do bolso. A árvore está cheia de fechaduras. 
- Tanta fechadura! Qual é a que pertence a esta? 
- Experimenta. 
- O que tem lá para ver? 
- Verás! 
- Mas... 
- Experimenta.
    A menina fica preocupada, experimenta várias fechaduras, que não abrem, até que uma delas abre. 
- Boa! Conseguiste...agora...fica à vontade! 
- Tu não vens comigo? 
- Não! 
- Mas, porque não? Como é que eu me oriento ali dentro? 
- Não precisarás de ninguém para te orientar. Quando entrares, saberás. É para explorar! Vais adorar. 
- Obrigada… 
    A menina entra, com medo, e começa a explorar todo o local. A entrada é uma gruta, cheia de cristais, uns transparentes, outros coloridos, tem um pequeno lago, com água a borbulhar, transparente, com peixes de vários tamanhos e cores. 
    Por cima dela, lindos candeeiros com uma boa luz, e outros que variam a intensidade das luzes, as cores: umas mais fortes, outras mais suaves. 
    Ela fica surpresa, encantada, solta grandes exclamações, e sorri. 
- Áh! Que lindos. 
    De repente, olha para o lado e dá um grito, porque vê um bando de morcegos pendurados, a dormir, enrolados nas suas asas. 
- Que coisa horripilante é esta? 
    E desata a correr, por um corredor, com armários, até uma sala, luxuosa, onde se senta numa cadeira poltrona de cor azul, macia, de veludo, para recuperar o fôlego. 
     Na sala havia uma mesa, com cadeiras e uma varanda. 
- Deve morar aqui alguém…! Que cadeira tão bonita, macia...confortável. Será a casa daquelas criaturas nojentas, penduradas? 
    Ouve uma voz: 
- Estás enganada! Aquelas criaturas horripilantes, são morcegos inofensivos, a dormir. Não é deles, eles estão aqui, porque são nossos amigos. 
- Quem está a falar?
    Aparece à sua frente, uma menina de cabelos longos, da sua idade, e do seu tamanho, a sorrir. 
- És tu que moras neste castelo? 
- Sim. Anda conhecer o resto!
- Mas aquele palhacinho que toca lá fora, dá a chave a toda a gente? 
- A toda a gente não! Só a quem ele sente que é uma boa pessoa. É que sentimo-nos muito sozinhos, e adoramos receber visitas de pessoas especiais, como tu. 
- Onde está a tua família? 
- Está ali. 
    A menina dá-lhe a mão, abre a varanda da sala, e leva-a para um belo jardim, onde estão os pais e os irmãos, a apanhar sol, confortavelmente deitados em colchões, sorridentes.  
    Os cães da família, que correm atrás das bolas das crianças, brincam uns com os outros, aproximam-se dela, cheiram-na, ela faz-lhes carinhos, e eles lambem-na eufóricos. Ela ri-se. 
- Eu gosto muito de cães! Tão fofinhos, estes. Também tenho cães. 
    Dão as boas vindas à menina visitante, de forma tão carinhosa como se fosse família. Conversam com ela, os irmãos e a menina convidam-na para dar um mergulho na piscina de água quente, tão bonita, tão agradável, que borbulha como um jacusi, não dá vontade de sair de lá. 
    Saltam, brincam, riem, conversam umas com as outras, com brinquedos, mergulham, e chega um grupo de senhoras, muito simpáticas, que trazem a comida. 
    Um banquete, que ela nunca tinha visto, tudo com um ar delicioso, dizem para ela comer tudo o que lhe apetecesse. Ela agradece. 
    Depois da barriguinha cheia e muita diversão, mostram-lhe o resto do castelo, com quartos grandes, mobiliário muito bonito, varanda, com vista para as montanhas distantes, muito altas, algumas com neve nos picos, e para a floresta.
    Cada quarto tinha fotografias, luzinhas de presença que se ligava antes de dormir, em forma de estrelas, como se estivessem no espaço. 
    Cada um com a sua casa de banho privativa, luxuosa, as camas confortáveis, bonecos e brinquedos no quarto dos mais pequenos, livros, secretárias, armários com roupas, e tudo muito bonito. 
    De repente, percebem que se está a formar uma tempestade, e avisam a menina para voltar para casa dela, guardar a chave, e seria sempre muito bem vinda àquele castelinho. 
- Uma tempestade? Mas estava um dia tão bonito, tão quente! 
- Pois estava, mas aqui é mesmo assim, de repente, tudo muda, e as tempestades visitam-nos. 
    A menina agradece, acompanham-na até à porta, a conversar alegremente, abraçam-se, dão dois beijinhos, desejam boa viagem, e que chegasse a casa antes da tempestade. 
    Ficou prometida uma nova visita, deu um abraço ao palhacinho que lhe deu a chave, e no sonho, quase a chegar à sua casa, a menina percebeu que também se estava a formar uma tempestade. 
    Na realidade acordou com um grande e estrondoso trovão, e uma grande chuvada. Ela acorda assustada, os pais vão ao quarto dela, e veem-na sentada na cama. 
- Então filha, dormiste bem? - pergunta a mãe 
- Sim! Vim agora da floresta, ainda bem que cheguei a casa antes da tempestade. Lá na floresta também se estava a formar, por isso é que acharam melhor que eu viesse embora antes da tempestade. Afinal, aqui também vai haver uma tempestade.
- Sim, já começou! - diz o pai 
- Mas qual floresta é que estás a falar? - pergunta a mãe 
- A floresta que visitei, tinha coisas muito bonitas, uma paisagem mágica, borboletas gigantes, pássaros de todas as espécies, cores, passei lá umas horas muito boas, com um palhacinho muito simpático que tocou uma música, deu-me uma chave dourada, para eu experimentar num monte de fechaduras e ver qual abria. 
    Abriu uma, e conheci um castelo tão bonito, com pessoas tão simpáticas, animais, comi petiscos deliciosos, brinquei muito com eles, os cães eram uma fofura. Os quartos eram todos bem decorados, as paredes tinham estrelinhas que acendiam à noite. Adorei! 
- Mas não te vimos, nem ouvimos sair... - comenta o pai a rir 
- Óhhhh...foi um sonho? - pergunta a menina desiludida e triste? 
- Sim! Estás na tua cama, no teu quarto...- diz a mãe 
- Óh!
- Acordaste com o trovão, não? - pergunta o pai 
- Sim. Pensei que foi verdadeiro! Foi tão bonito. - comenta a menina 
- Claro! - dizem os pais 
- Mas foi só um sonho. 
- Eu queria que tivesse sido verdadeiro...! - diz a menina triste 
- Esquece o sonho, a noite já acabou, o sonho foi com ela. Vá, vamos tomar o pequeno almoço, e fazer outras coisas, porque hoje não dá para ir lá para fora. - diz o pai 
- Está bem. - diz a menina triste 
- Podes escrever esse sonho, se foi assim tão bonito! - sugere a mãe a sorrir 
- Tu também escrevias os teus sonhos?
- Alguns. 
- Boa ideia. - diz a menina a sorrir 
- Mas primeiro tomamos o pequeno almoço. - lembra o pai 
- Está bem. 
    A menina levanta-se, e vai com os pais para a cozinha. Tomam o pequeno almoço, conversam alegremente, e fora de casa, a tempestade continua. 
    No fim do pequeno almoço, a menina segue a sugestão da mãe: escreve o sonho, sorridente. 

E vocês, se fossem passear por uma floresta, como esta menina, como seria? 
O que viam pelo caminho? 
Tinham um palhacinho à vossa espera? 
Ele dava-vos a chave? 
Seria dourada? 
Como seria a entrada do castelo, e todo o seu interior? 
Podem imaginar como quiserem, e deixar nos comentários. 

                                       FIM 
                                  Lara Rocha
                                 9/Outubro/2024  

    
    

domingo, 6 de outubro de 2024

Como será a toca dos morcegos?

Foto de Lara Rocha 

   











Era uma vez no jardim de uma casa grande, onde vivia uma família com dezenas de morcegos nas árvores. 

    As crianças sentiam medo de os ver esvoaçar no escuro da noite, mesmo depois dos pais e dos avós terem dito que eram morcegos, importantes para a Natureza, e para os humanos, não faziam mal. 

    Comiam mosquitos e outros insetos que apanhavam, e de dia ninguém os via. Como mesmo assim não conheciam, nunca se tinham aproximado deles, nem das árvores onde viviam, durante o dia, a imaginação das crianças, começou a funcionar, para ver se deixavam de ter medo. 

- Como será a casa deles? - pergunta uma menina 

- Os papás e os avós disseram que eram por aí, nas árvores. - afirma um menino 

- Mas eles dormem de cabeça para baixo! - comenta outra menina 

- Sim, e nas árvores existe muito espaço para dormirem de cabeça para baixo, imagino eu, porque todas as árvores aqui são enormes. - diz outra menina 

- Pois é! Também não sei. - comenta outro menino 

- Será que a casa deles tem salas, quartos, casas de banho, cozinhas, despensas, frigoríficos, fogões, lareiras, sofás, camas, cadeiras, mesas, armários e tudo o que nós temos? - pergunta uma menina 

- Acho que não. - dizem todos 

- Também acho que não. Eles são muito pequenos para caber nas árvores com isso tudo, e as árvores também não são grandes. - comenta um menino 

- Eu acho que eles não devem ter mobília, dormem pendurados em qualquer lado! - afirma outra menina 

- Pois, também acho. - concordam todos 

- Será que eles têm cobertores? - pergunta uma menina 

- Claro que não. Se dormem pendurados, onde é que vão segurar os cobertores, e os lençóis? - responde um menino 

- Pois, é verdade! - concorda a menina 

  Espreitam pela janela, e veem as sombras dos morcegos muito pequeninos, pendurados. 

- Olhem, estão ali… - repara uma menina 

- A dormir cá fora? - pergunta um menino 

- Devem estar com frio. - diz outra menina 

- Não. Eles já são frios quando dormem. - afirma outro menino 

- Parecem folhas! - comenta uma menina a rir 

- Pois é. - dizem todos a rir 

    Chega o Avô e comenta: 

- Então, o que estão para aí a dizer? 

- Avô, olha os morcegos ali. - diz uma menina 

- Estão cá fora! - exclama outra menina 

- Sim, e depois? - pergunta o Avô

- Eles devem estar congelados! - comenta outra menina 

- Parecem folhas...(todos riem) 

- Querem ir vê-los mais perto? - desafia o Avô 

- Está bem. - concordam todos 

- Eles não vão acordar? - pergunta outro menino 

- Não. - garante o avô 

    O Avô vai com eles a uma das árvores onde estão três morcegos muito próximos, a dormir, de cabeça para baixo, as asinhas fechadas sobre si mesmos, pendurados num raminho fininho. 

- Olhem eles aqui! - diz o Avô 

- Áhhhh…- exclamam as crianças

- São mesmo pequeninos! - repara uma menina 

- Pois são. Olhem as asinhas deles...fechadas para dormirem e para não aquecerem, porque eles são de sangue frio, e só assim é que conseguem dormir. E para não verem a luz do sol. - explica o Avô  

- Podemos tocar-lhes? - pede uma menina 

- Sim. Com carinho e sem medo - diz o Avô 

    Cada menina e cada menino faz festinhas nos morceguinhos, primeiro com medo de tocar, depois, como os morcegos não reagiam, tocaram à vontade. Adoraram a experiência, soltaram risinhos e exclamações.  

- Áhhh! Que giro, são fofinhos. - comentam 

- São! E sabem uma coisa engraçada? Quando se magoam numa asa, ela cura-se sozinha. - conta o Avô 

- A sério? - perguntam todos surpresos 

- Sim! - garante o Avô 

- Já viste algum assim, Avô? 

- Aqui vejo todos os dias. E vi, quando andei na tropa, mas os morcegos eram gigantes. 

- Gigantes? - perguntam todos 

- Sim. 

- Não tinhas medo deles? - pergunta uma menina, surpresa 

- Não! - garante o Avô 

- E eles não vos faziam mal? - pergunta um menino 

- Não, nós não éramos refeição para eles. - diz o Avô a rir 

- Eles também dormiam assim, pendurados? - pergunta outra menina 

- Dormiam! - responde o Avô 

- Nas árvores? - pergunta um menino 

- Sim, e noutros sítios, como aqui. - responde o Avô 

- Deviam ser pesados! - comenta outra menina pensativa a imaginar 

- Eu peguei num ao colo, era pesadinho, sim. - conta o Avô  

- Pegaste num ao colo? - perguntam em coro surpresos 

- Ele não te mordeu? - pergunta outro menino 

- Claro que não...ele estava a dormir! Eles é que têm medo de nós. - diz o Avô 

- Têm? - perguntam todos surpresos 

- Pois. - diz o Avô 

- Porquê? - perguntam todos 

- Não sei. Talvez...porque saibam que podemos fazer-lhes mal. Acham que somos uma ameaça para eles. Nunca lidaram connosco, como os cães, os gatos, e outros animais. Convivem connosco na paz, partilham o mesmo espaço que nós, mas não há qualquer perigo! - explica o Avô

- Nunca pensei! - comenta uma menina 

- Nós é que temos medo deles. - diz um menino 

- Não há razões para ter medo destes bichinhos. - garante o Avô 

    Todos riem. 

- E a toca deles, tem mobílias? - pergunta um menino 

    O Avô dá uma sonora gargalhada

- Óh filho, achas que sim? Para que querem mobílias, se eles dormem pendurados em qualquer sítio? 

- E quando está frio? - pergunta outra menina 

- Eles caçam na mesma, e depois metem-se...talvez...numa toca! - explica o Avô 

- Acho que está aqui uma toca! - repara uma menina 

- É. Parece! Ora espreita… - sugere o Avô 

    A menina espreita para metade de um tronco com uma grande abertura e por dentro, parece ter escadinhas. 

- É aqui, Avô, olha quantos estão a dormir pendurados aqui, nas escadinhas do tronco. 

    Todos espreitam. 

- Realmente, não tem mobília nenhuma! - comenta um menino 

- Claro que não. - diz o Avô a rir 

- Estes também estão a dormir, com as asinhas fechadas sobre eles mesmos, para se aquecer, talvez. - comenta outra menina 

- Onde é que eles guardam o que caçam, se não tem frigorífico? - pergunta um menino 

- Eles não precisam de frigorífico para guardar o que caçam. Comem tudo na hora, quando têm fome, voltam a sair. Já comem quantidade suficiente para aguentar o dormir de dia. - explica o Avô 

- Está ali outro, Avô! Debaixo do telhado da casota do cão. - repara outra menina

- Está sim, sra. Deve ser por isso que o cão ladra tanto. 

- Será que ele não tem medo do cão? 

    O Avô ri: 

- Claro que não tem medo do cão. O cão não lhe chega, nem tem medo dele, ladra só para o cumprimentar.  Olhem quantos estão ali, no fio onde antes se punha a roupa a secar! 

- Áh! Que giro. - comentam em coro 

- E onde é que eles têm casa de banho? - pergunta uma menina 

- Fazem em voo. Achas que estão preocupados como nós? Não precisam de casa de banho, nem de mobílias. - responde o Avô a rir 

- Eu pensei que a toca dos morcegos também era uma casa como a nossa! - comenta uma menina 

    Todos riem 

- Eu também. - diz outra menina 

- Não, já têm tudo o que precisam. Dormem onde possam ficar de cabeça para baixo, e à sombra, à fresca, o resto não precisam de mais nada. Só precisam de comida. - comenta o Avô 

- Uau! - suspiram todos 

- E como é que eles veem a comida? À noite, têm lanternas? - pergunta outra menina 

O Avô dá uma gargalhada

- Claro que não têm lanternas, mas têm detetores, uma espécie de radares, nos bigodes e os olhos é como se fossem infra vermelhos que lhes indicam onde estão os petiscos. 

- Que giro! - exclamam todos 

Vamos dar por aí uma volta, a ver se encontramos mais. - convida o Avô 

- Ali, Avô, debaixo daquele telhado onde se guardam as espigas. 

- Isso mesmo, no espigueiro. Olha como eles dormem ali. À sombra, sossegados, de cabeça para baixo até à noite. - responde o Avô

- E caçam a noite toda? - pergunta outro menino 

- Talvez! Deve ser também por isso que dormem o dia todo. Também não gostam de muita luz. A luz do dia não os deixa ver a comida. - responde o Avô

    Continuam à procura de morcegos, e reparam em muitos morcegos pendurados nos sítios mais estranhos, conversam e riem, ficam encantados com o que veem. 

- Eu gostava de ser morcego, nem que fosse só uma noite! - diz um menino 

- Que nojo! Ias comer insetos...! - comenta uma menina 

- Para que queria ser morcego? - pergunta outro menino 

- Só para ver como é que eles ficam à noite, como é que eles veem a comida à noite, como é que veem as cidades e as aldeias, os campos. - imagina o menino 

- Devia ser giro! - diz outra menina a rir 

- Eu não queria ser morcego! - comenta outro menino 

- Porque não? 

- Não gosto de dormir pendurado...quer dizer, acho que não ia gostar. 

- Se fosses mesmo morcego, ias gostar, porque era assim que dormias, e que dormem todos os morcegos. - diz uma menina 

- Pois. - dizem todos 

- Eles são muito leves e livres! - diz uma menina 

- Acho que também gostava de ser morcego uma noite, e dormia numa gruta cheia de cristais. - diz outra menina 

    Todos riem

- Isso também gostava, e com água! - acrescenta outra menina 

    À noite, espreitam pela janela, e veem dezenas de morcegos a esvoaçar numa correria de um lado para o outro. 

    Agora já não sentem medo, e riem às gargalhadas a ver a agitação, com voos cruzados, a subir e a descer, outros a pousar nas tocas, depois de um bom bocado a caçar. 

    Assim, perderam o medo dos morcegos, e todos os dias, apreciavam-nos da janela, riam, imaginavam histórias com morcegos, viam-nos de dia, faziam-lhes festinhas. 

    E vocês? 

Gostavam de ser morcegos por uma noite? 

Como seria? 

O que veriam?  

Onde dormiriam? 

Como imaginam as tocas dos morcegos? 

Já viram morcegos ao vivo? Como eram? 

                                                    FIM 

                                                 Lara Rocha 

                                             6/Outubro/2024 



quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O esquilo bondoso



    Era uma vez um esquilo que não parava um segundo!   Enquanto estava de olhos abertos, tinha sempre o que fazer, parecia ligado à tomada. 

   Corria de um lado para o outro, pedia aos trabalhadores no campo, que lhe emprestassem cestas, baldes, bacias, e desaparecia na floresta. 

    Os trabalhadores emprestavam-lhe, não sabiam para que era, mas achavam engraçada e misteriosa aquela correria toda. 

    Apanhava uma série de bolotas, pinhas, castanhas, folhas de Outono, enchia tudo o que podia, ficava com uma boa quantidade para si, para poder comer no Inverno, no conforto da sua casinha de árvore, e partilhar se precisasse. 

    Armazenava, mas distribuía por quem mais gostava, dizia que não podia perder tempo e tinha muito que fazer. 

    O que iria fazer um esquilo, com aquilo tudo? - perguntavam os trabalhadores 

    O esquilo fazia embrulhos de bolotas nas folhas que caiam das árvores, de várias cores, e oferecia aos outros esquilos, aos porcos que também comiam bolotas. 

    Deixava à porta dos trabalhadores tudo o que lhe emprestavam, com pequenos mimos, embrulhados nas folhas: pinhas que pintava com muitas cores diferentes, as cores do Outono.  

    Outras mais brilhantes, uvas com um tamanho grande, e um sabor delicioso, que eles desconheciam, maçãs grandes, bonitas e doces, castanhas grandes.

    Os trabalhadores ficavam muito surpresos, e numa tarde em que o esquilo passou a correr, perguntaram:

- Ei...obrigado por teres devolvido o nosso material! 

- De nada! Obrigado eu - diz o esquilo a sorrir 

- Onde vais a correr tanto? 

- Podemos ajudar? 

- Fica aqui um bocadinho connosco! 

- Ahhh...está bem! - diz o esquilo, um pouco cansado

- Mas, porque o trouxeste com isto tudo? - pergunta uma senhora 

- Para vos agradecer, e lembrar que é Outono! 

- Mas que coisas tão bonitas! - diz uma senhora 

- E são deliciosas! - diz outro senhor 

- Onde foste buscá-las? - pergunta outras senhora  

- Fui...por aí! O que interessa é que tenham gostado! - responde o esquilo 

- Claro que sim! - respondem todos 

- Mas gostávamos de saber onde é, para irmos apanhar também. - comenta outra senhora 

- Aaaaahhhh... eu trago-vos! 

- Mas que querido! - comenta uma senhora a sorrir 

- Que esquilo tão generoso! - diz uma menina 

- Também dou a quem precisa mais, sim. - confirma o esquilo 

- Então, estás convidado para a nossa festa. 

- Está bem! Obrigado. Quando é? E onde? 

    Os trabalhadores explicam tudo, contam a tradição, e o motivo da festa. O esquilo não fazia ideia, mas adorou ouvir tudo sobre a famosa tradição no Outono. 

    Depois de muita conversa: 

- Muito obrigado. Adorei saber tudo o que me contaram. Cá estarei. Se precisarem de alguma coisa de mim, eu ando sempre por aí.

- E andas sempre a correr? 

- Bem...quase sempre! Não posso perder muito tempo. Tenho muita coisa para fazer. Não sei andar de outra maneira - diz o esquilo 

- Mas também precisas de descansar! 

    Todos riem. 

- Sim, também descanso! Então...até já.

- Até já. - dizem todos 

    Lá vai o esquilo, e a festa começa a ser preparada. Sem que estivessem a contar, no dia da festa, de manhã bem cedo, o esquilo estava no largo, verdejante, a fazer a decoração das mesas, com coisas que tinha feito, parecido com os presentes que ofereceu aos trabalhadores.

    Cheio de energia, feliz, pinhas aqui, pinhas ali, pintadas de diferentes cores, castanhas espalhadas, uvas em cima de folhas de árvores, nozes ao natural, outras pintadas na casca de fora, lindas! Velas em cascas de nozes, e outros objetos decorativos que o esquilo tinha criado. 

    Quando os trabalhadores viram, nem queriam acreditar. 

- Ááhhhhh... que coisa mais linda! - suspiram 

- Obrigado! - diz o esquilo a sorrir 

- Mas não precisavas de ter este trabalho todo! 

- Fiz com todo o gosto, não foi trabalho nenhum. Trabalho têm vocês, a preparar as refeições e petiscos todos! 

- Sim, mas também fazemos com gosto. 

- Acredito! Estou curioso para provar - diz o esquilo

- Já está quase tudo pronto, daqui a bocadinho começamos a trazer. 

- Querem ajuda? 

- Não, obrigado! Já fizeste tanto. 

- Está bem. 

    Os trabalhadores estão maravilhados, e como o esquilo não consegue estar quieto, vai ajudar. Todos riem com a energia dele. 

    Depois de tudo pronto, começa a festa. Vestidos a rigor, muita música, muita animação, muita dança, muitos abraços, cantares, fotografias, petiscos, brincadeiras, jogos, o esquilo come de tudo, adora tudo, até não poder mais, como os trabalhadores. 

    Há momentos de contemplação da Natureza em silêncio, e agradecimento de cada um a tudo o que ela dá, tudo o que ela tem de maravilhoso. 

    Escrevem bilhetinhos, e põem aos pés de uma árvore, abraçam a árvore, acariciam-na, encostam-se a ela, dão as mãos à volta da árvore, de olhos fechados, e dizem em coro, em voz alta: «gratidão, Mãe Natureza por tudo o que nos dás!» 

    Largam as mãos, sorriem, aplaudem, e depois a animação continua noite dentro, com o esquilo sempre divertido, a fazer rir toda a gente, muita gargalhada e brincadeiras, a beber e a brindar com sumos de frutas, deliciosos, dançam, batem palmas, e a festa acaba com a chegada do nascer do sol, apreciado por todos. 

    O esquilo e os habitantes estão muito cansados e com sono, e cada um vai para sua casa. Depois de recuperados, ao fim do dia, comem o que sobrou, e ajudam a arrumar as coisas, com o esquilo todo elétrico. 

    O esquilo passa a ser visto como um amigo, um elemento de uma grande família, que visitava praticamente todos os dias, além da dele, mesmo no Inverno, com neve e frio, bem agasalhado, perguntava a todos se precisavam de alguma coisa. 

    Era muito bem recebido nas casas todas, ofereciam-lhe chá e biscoitos deliciosos. E no Natal voltavam a fazer uma grande festa, com a presença do esquilo, e os seus presentes tão lindos para cada um. 

    Estava sempre presente, e até apresentou a sua família, e amigos, aos trabalhadores, que nunca tinham visto tanto esquilo junto, e tão simpáticos como eram. 

    No Inverno ficava mais recolhido, a preparar presentes, mesmo assim, visitava a família e os amigos humanos. 

    Era um esquilinho mesmo bondoso! 

E vocês? 

Se fizessem uma festa no Outono, quem levariam? 

O que poriam nas mesas? 

Que produtos de Outono conhecem? 

Como seria essa festa? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem :) 


                                            FIM 

                                      Lara Rocha 

                                       3/10/2024