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sábado, 31 de agosto de 2024

Se tiveres

Era uma vez uma menina adolescente, que queria chorar, mas o seu sofrimento era tão grande, a angústia era enorme, que guardava e segurava todas as lágrimas para si. 

Sentia muita vergonha de chorar, porque todos lhe diziam para não chorar, que era uma vergonha, que não tinha motivos para tanto, ficava com cara feia se chorasse e outros comentários. Chamavam-lhe chorona, mimalha, bebé, e outros nomes. 

Ela ficava triste, queria chorar, e não conseguia. Tinha as suas desilusões que a deixavam triste, mas mesmo assim, não conseguia chorar. Então, duas lágrimas dos seus olhos, fartas de estar presas, de estarem quase a sair, e não conseguirem, lembraram-se de falar com ela, para ver se finalmente conseguiam sair. 

- Se tiveres uma lágrima, deixa-a cair. - diz uma lágrima 

- Quem são vocês? 

- Somos as tuas lágrimas. 

- Áh. Não me interessam! Desapareçam, não quero falar convosco. Nem sequer vos estou a ver. Acho que estou a ouvir coisas. 

- Não! 

- Somos mesmo nós, as tuas lágrimas!  

- Aquelas que não deixas sair, aquelas que queres deixar cair, mas não deixas. 

- Não posso! - diz a adolescente 

- Porque não? 

- Nós estamos sempre na esperança de cair, quando pensamos que vamos cair, tu voltas atrás. 

- Isso faz-te mal. 

- Faz mal? Faz mal é ouvir aqueles comentários por chorar, por isso é melhor ficarem aí no vosso canto, dentro dos olhos. 

- E tu gostas disso? 

- Não, mas não tenho alternativas! 

- Porque não? 

- Porque toda a gente diz que não posso chorar. 

- Só cada um sabe porque nos deixa cair, e ainda bem! É para isso que servimos. 

- Mas que disparate! 

- É. 

- E eles não choram? 

- Não. 

- Mas tu não queres chorar? 

- Nem penso nisso. 

- Mas queres! 

- Nós sabemos que queres. 

- Como é que sabem? 

- Porque quando pensamos que vamos finalmente sair, tu recuas e não saímos outra vez. 

- Pois, porque não posso chorar. 

- Mas queres! 

- Às vezes.

- E porque não choras? 

- Porque chamam-me nomes feios. 

- Estás preocupada com o que dizem, e fazem o mesmo? 

- Sim. Não gosto de os ouvir a chamar isso. 

- É mais importante deixares-nos sair, quando queres, sempre que queres, do que dares ouvidos a esses comentários, de quem também choram. 

- Acham? 

- Temos a certeza - dizem as duas 

- Como é que sabem? 

- Ora...nós existimos em todos os olhos. Caímos de todos os olhos. Desde os olhos mais pequeninos, que ainda mal veem o mundo, aos olhos mais enrugadinhos que choram de tristeza, ou solidão, de dores. Nós vemos milhares de lágrimas a cair de milhões de olhos. 

- Óh sim, isso é triste. 

- E como fazem isso? 

- Caímos, esses milhares de olhos, deixam-nos cair, quando querem, sempre que precisam, às vezes às escondidas, e tu nem às escondidas. 

- E tu, dás-nos esperança, e de repente, voltas a fechar-nos. 

- Mais uma vez, quase saiamos, e tu prendeste-nos outra vez. 

- Porque...porque...não sei, porque não posso! 

- Que insensível. 

- Áhhhh...!

- Deixa-nos cair, como fazem todos os olhos! 

- Quer dizer, alguns, porque os teus, não nos deixam cair.  

- Não a prendas! - diz outra lágrima 

- Não nos prendas! - dizem as duas 

- Não posso deixar cair lágrimas. 

- Porque não? 

-Nunca outra ouvi. 

- Toda a gente as deixa cair. 

- Não! 

- Deixa- a cair. 

- Não a prendas. 

- Mas porque vou deixar-vos cair? Para me chamarem nomes feios? 

- Esquece os nomes feios. 

- A lágrima limpa a tua alma.

- Tira-te as dores! 

- Acaricia-te a pele do rosto. 

- Põe-te os olhos a brilhar. 

- Não te magoa! 

- E nunca te desilude ou trai. 

- Deixa-nos cair! - pedem as duas lágrimas dos dois olhos 

A adolescente, faz-lhes a vontade, deixa-as sair, elas gritam de felicidade, escorregam pela cara abaixo como se estivessem num escorrega de um parque radical, riem à gargalhada. 

- Uaaaaaauuuu. - gritam as duas 

- Finalmente! 

- Que lindos olhos! 

- Estão brilhantes. 

- Nós dissemos-te. 

A adolescente sorri e continua a deixar cair lágrimas, estas sentem-se felizes.  Na descida, beijam e acariciam a cara da adolescente, ela sorri. 

- Obrigada por nos libertares! 

- Não nos prendas mais. 

- Deixa os comentários para lá, e deixa-nos sair, não nos prendas! Por favor. 

- Está bem! - promete a adolescente

E  desde esse dia, a Adolescente, deixou de se preocupar com os comentários dos outros, e a deixar cair as lágrimas sempre que precisava, sempre que estava triste, sempre que se sentia desiludida, angustiada, ou magoada. 

As lágrimas não cabiam nelas, de felicidade, por poderem sair dos olhos, e a Adolescente até ganhou abraços, novas amizades, por deixar cair as lágrimas. 

Deixou de se fazer de forte, e percebeu que realmente todos os olhos devem deixar cair as lágrimas, seja de dor, tristeza, felicidade, raiva, frustração, desilusão e outras emoções que nos invadam. 

Porque engolir as lágrimas dói, fazermo-nos de fortes, quando o momento não é para isso, dói, adoece o corpo e a alma. Uns choramos com mais facilidade do que outros, nem que seja às escondidas, mas quem julga os outros por estarem a chorar, talvez nunca tenha experimentado a liberdade e a saúde de deixar cair as lágrimas.

                                                                                                    FIM 

                                                                                               Lara Rocha

                                                                                              7/Abril/2014  

E para vocês é fácil chorar? 

O que vos faz chorar com mais facilidade? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem. 

                


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