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sábado, 31 de agosto de 2024

Se tiveres

Era uma vez uma menina adolescente, que queria chorar, mas o seu sofrimento era tão grande, a angústia era enorme, que guardava e segurava todas as lágrimas para si. 

Sentia muita vergonha de chorar, porque todos lhe diziam para não chorar, que era uma vergonha, que não tinha motivos para tanto, ficava com cara feia se chorasse e outros comentários. Chamavam-lhe chorona, mimalha, bebé, e outros nomes. 

Ela ficava triste, queria chorar, e não conseguia. Tinha as suas desilusões que a deixavam triste, mas mesmo assim, não conseguia chorar. Então, duas lágrimas dos seus olhos, fartas de estar presas, de estarem quase a sair, e não conseguirem, lembraram-se de falar com ela, para ver se finalmente conseguiam sair. 

- Se tiveres uma lágrima, deixa-a cair. - diz uma lágrima 

- Quem são vocês? 

- Somos as tuas lágrimas. 

- Áh. Não me interessam! Desapareçam, não quero falar convosco. Nem sequer vos estou a ver. Acho que estou a ouvir coisas. 

- Não! 

- Somos mesmo nós, as tuas lágrimas!  

- Aquelas que não deixas sair, aquelas que queres deixar cair, mas não deixas. 

- Não posso! - diz a adolescente 

- Porque não? 

- Nós estamos sempre na esperança de cair, quando pensamos que vamos cair, tu voltas atrás. 

- Isso faz-te mal. 

- Faz mal? Faz mal é ouvir aqueles comentários por chorar, por isso é melhor ficarem aí no vosso canto, dentro dos olhos. 

- E tu gostas disso? 

- Não, mas não tenho alternativas! 

- Porque não? 

- Porque toda a gente diz que não posso chorar. 

- Só cada um sabe porque nos deixa cair, e ainda bem! É para isso que servimos. 

- Mas que disparate! 

- É. 

- E eles não choram? 

- Não. 

- Mas tu não queres chorar? 

- Nem penso nisso. 

- Mas queres! 

- Nós sabemos que queres. 

- Como é que sabem? 

- Porque quando pensamos que vamos finalmente sair, tu recuas e não saímos outra vez. 

- Pois, porque não posso chorar. 

- Mas queres! 

- Às vezes.

- E porque não choras? 

- Porque chamam-me nomes feios. 

- Estás preocupada com o que dizem, e fazem o mesmo? 

- Sim. Não gosto de os ouvir a chamar isso. 

- É mais importante deixares-nos sair, quando queres, sempre que queres, do que dares ouvidos a esses comentários, de quem também choram. 

- Acham? 

- Temos a certeza - dizem as duas 

- Como é que sabem? 

- Ora...nós existimos em todos os olhos. Caímos de todos os olhos. Desde os olhos mais pequeninos, que ainda mal veem o mundo, aos olhos mais enrugadinhos que choram de tristeza, ou solidão, de dores. Nós vemos milhares de lágrimas a cair de milhões de olhos. 

- Óh sim, isso é triste. 

- E como fazem isso? 

- Caímos, esses milhares de olhos, deixam-nos cair, quando querem, sempre que precisam, às vezes às escondidas, e tu nem às escondidas. 

- E tu, dás-nos esperança, e de repente, voltas a fechar-nos. 

- Mais uma vez, quase saiamos, e tu prendeste-nos outra vez. 

- Porque...porque...não sei, porque não posso! 

- Que insensível. 

- Áhhhh...!

- Deixa-nos cair, como fazem todos os olhos! 

- Quer dizer, alguns, porque os teus, não nos deixam cair.  

- Não a prendas! - diz outra lágrima 

- Não nos prendas! - dizem as duas 

- Não posso deixar cair lágrimas. 

- Porque não? 

-Nunca outra ouvi. 

- Toda a gente as deixa cair. 

- Não! 

- Deixa- a cair. 

- Não a prendas. 

- Mas porque vou deixar-vos cair? Para me chamarem nomes feios? 

- Esquece os nomes feios. 

- A lágrima limpa a tua alma.

- Tira-te as dores! 

- Acaricia-te a pele do rosto. 

- Põe-te os olhos a brilhar. 

- Não te magoa! 

- E nunca te desilude ou trai. 

- Deixa-nos cair! - pedem as duas lágrimas dos dois olhos 

A adolescente, faz-lhes a vontade, deixa-as sair, elas gritam de felicidade, escorregam pela cara abaixo como se estivessem num escorrega de um parque radical, riem à gargalhada. 

- Uaaaaaauuuu. - gritam as duas 

- Finalmente! 

- Que lindos olhos! 

- Estão brilhantes. 

- Nós dissemos-te. 

A adolescente sorri e continua a deixar cair lágrimas, estas sentem-se felizes.  Na descida, beijam e acariciam a cara da adolescente, ela sorri. 

- Obrigada por nos libertares! 

- Não nos prendas mais. 

- Deixa os comentários para lá, e deixa-nos sair, não nos prendas! Por favor. 

- Está bem! - promete a adolescente

E  desde esse dia, a Adolescente, deixou de se preocupar com os comentários dos outros, e a deixar cair as lágrimas sempre que precisava, sempre que estava triste, sempre que se sentia desiludida, angustiada, ou magoada. 

As lágrimas não cabiam nelas, de felicidade, por poderem sair dos olhos, e a Adolescente até ganhou abraços, novas amizades, por deixar cair as lágrimas. 

Deixou de se fazer de forte, e percebeu que realmente todos os olhos devem deixar cair as lágrimas, seja de dor, tristeza, felicidade, raiva, frustração, desilusão e outras emoções que nos invadam. 

Porque engolir as lágrimas dói, fazermo-nos de fortes, quando o momento não é para isso, dói, adoece o corpo e a alma. Uns choramos com mais facilidade do que outros, nem que seja às escondidas, mas quem julga os outros por estarem a chorar, talvez nunca tenha experimentado a liberdade e a saúde de deixar cair as lágrimas.

                                                                                                    FIM 

                                                                                               Lara Rocha

                                                                                              7/Abril/2014  

E para vocês é fácil chorar? 

O que vos faz chorar com mais facilidade? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem. 

                


sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Os olhos dourados do bebé

      Era uma vez um bebé, que vivia numa floresta com os seus pais e família, numa árvore. Quando estava calor, dormiam num monte de relva fofa, macia, aos pés da árvore, e quando estava frio, dormiam dentro da árvore. 

     Durante o dia aproveitavam o calor natural do sol, e a sombra, no cimo da árvore. Todos se conheciam nessa floresta, e de vez em quando, era visitada por pessoas.

  Um dia de Verão, um grupo de crianças foi com adultos visitar a floresta, de dia. De repente, viram um lindo bebé a dormir em cima da relva fofa, aos pés da árvore, coberto por uma mantinha. 

  Os pais estavam no cimo da árvore, descansados, porque sabiam que o bebé estava em segurança, e sempre vigilantes. Os vizinhos também davam uma olhadela. 

   Os visitantes aproximaram-se, deliciados com a beleza do bebé. Quando este abriu os olhos, eram de cor amarelo dourado, de pestanas longas, cabelos que pareciam penas, muito bem tratados e luminosos, brancos com tons azulados. 

     Era uma fofura. Os visitantes assustaram-se, e o bebé também. Um adulto descansou o bebé, a sorrir: 

- Olá pequenino, não te vamos fazer mal. Que lindo que tu és! 

    O bebé retribui o sorriso. 

- É um animal bebé… 

- Não! Acho que é humano. 

- Os humanos não têm esta cor de olhos, e a cara dele, não parece humana, igual à nossa. 

- Mas é muito bonito! 

- É. 

    Os pais desceram, e aproximaram-se, eram uns lindos pássaros de uma espécie rara, com penas enormes, de muitas cores, pareciam pavões, olhos igualmente amarelos dourados que brilhavam. 

 Todos ficam espantados, com a beleza deles, surpresos. 

- Áh! Que lindos, estes pássaros. 

- Diz outro adulto. 

- Nunca os tinha visto! 

- Nem eu. 

 Cumprimentaram os visitantes, abrindo as gigantescas e longas penas. 

- Olá! 

- Olá. 

- Que pássaros tão bonitos, são de uma espécie rara, não? 

- Sim! 

- Mas temos mais família aqui. - acrescenta o pássaro 

- E são parecidos convosco? - pergunta um adulto 

- São. - respondem os dois 

- Nunca vimos esta espécie por aqui. - diz outro adulto 

- Pois, é normal. Nós não estamos sempre em exposição. 

- Áh, claro. 

- Este bebé...conhecem? - pergunta um adulto 

- Sim, conhecemos! 

- É nosso filho. 

- Filho? - perguntam todos 

- Sim, não sabem o que são filhos? - pergunta a mãe 

- Sabemos, claro, mas...não estávamos à espera de ver assim uma família tão diferente e tão bonita. - diz uma adulta 

- Mas deixam o bebé aqui assim, sozinho? - pergunta outra adulta 

- Ele não está sozinho, temos vizinhos que vão deitando o olho, e nós também estamos ali em cima, sempre vigilantes. - explica a mãe 

- Áh! E conseguem vê-lo dali? 

- Perfeitamente! - diz o pássaro 

- Já sabemos as horas a que ele adormece, a que ele acorda, quando se assusta, tal como vocês, humanas. É que lá em cima está calor para ele. - explica a mãe 

- Claro! - dizem todas 

   A mãe pega no bebé e todos ficaram muito surpresos, porque pensavam que era um bebé humano. Afinal, era um bebé pássaro, de uma espécie rara, com peninhas pequeninas pelo corpo todo, em tons azulados, com os olhos amarelos dourados, peninhas na cabeça, e umas garrinhas que impunham respeito. 

- Áhhhh! - Exclamam todos 

- É um passarinho bebé? - pergunta uma criança 

- Sim! - dizem todos 

- Pensávamos que era um bebé humano como nós. - diz uma adulta a rir

    Os pássaros riem e os visitantes também. 

- Mas ele não tem nada de humano. - diz uma adulta 

- Pois não, agora que vimos, mas enquanto estava deitadinho, todo enroscadinho, a dormir, cobertinho, pensávamos que era um bebé. 

- Óh, tão fofinho! - suspiram todos os humanos, encantados 

- Que lindo! - diz outra humana 

- Ele não tem as penas iguais a vocês, pais! - repara uma criança

- Tu também não és igual aos teus pais, pois não? - pergunta a mãe 

- Dizem que não…! 

- Claro que não. Desculpe a indiscrição (ri) são crianças. - diz outra adulta 

- Ora essa, sabemos bem como são as crianças. Faz parte, e é bom que elas reparem nessas diferenças! O nosso filho pode também não ter as mesmas cores que nós, quando crescer, ou pode ter algumas. Não sabemos, mas pela família...não tem acontecido, os filhos serem muito parecidos ou iguais aos pais. - explica a mãe 

- Com certeza. Nós humanos, também não somos iguais, dentro de casa, ainda mais diferentes, fora. - diz outra adulta 

- Ele ainda vai ganhar cor nas peninhas, estas vão cair, e vão nascer umas coloridas, como as nossas. Quando nascemos, temos estas cores azuladas, mas à medida que vamos crescendo, ganhamos outras. - explica a mãe 

- Áh! Que giro. É como o nosso cabelo quando somos bebés, e crianças, e a cor de olhos, ou os traços da cara. - acrescenta outra adulta 

- Pois. Ele ainda não anda, nem voa. 

- Tem tempo! - diz outra adulta 

- Claro que sim, e nós também, porque a infância é a idade mais bonita e passa tão rápido. - diz a mãe 

- Mesmo! - concordam todas as humanas e humanos

- Bem, não vos vamos incomodar mais! - diz uma humana 

- Não incomodam. - diz a mãe 

- Já estamos habituados a receber visitas. - diz o pássaro pai 

- Voltaremos noutro dia. - diz uma adulta 

- Quando quiserem. - diz a mãe 

- Obrigada, e desculpe. - diz outra adulta 

- Foi um gosto! - diz a mãe 

    Cada um faz festinhas ao passarinho pequenino, os seus olhos brilham mais intensamente, e sorri. Todos retribuem a doçura com um sorriso e carinhos. 

- Voltaremos. - dizem todos 

    E como prometido, passados uns dias, o grupo estava lá outra vez, brincaram com o passarinho, e com os pais, riram muito. 

  O passarinho cresceu, e o grupo acompanhou as mudanças das penas, realmente, tão bonitas como as dos pais. 

    Estes ganharam um amigo para a vida, foram muitas vezes à floresta, brincar e conversar com o passarinho que cresceu rapidamente, mas adorava correr com as crianças, brincar com elas, mostrar-lhes sítios encantados. 

   O pássaro dava abraços carinhosos, com as penas que se foram tornando longas, e tanto as crianças como os adultos adoravam-no. 

    Entretanto, chegou o Inverno, o passarinho e a família protegiam-se dentro das casas, nas árvores, no conforto das lareiras. 

   Mesmo assim saiam para apanhar sol, brincar na neve com as crianças e os adultos que continuavam a acompanhá-los. 

   Os pais dos diferentes pássaros também iam, com os filhotes, brincar com os adultos e as crianças na neve. Bebiam chá quente, que os pais faziam, faziam bonecos de neve, riam muito, eram momentos muito divertidos. 

  Todos ganharam uma amizade, como uma grande família. Realmente, nem tudo o que vemos primeiro, é a realidade! 

                                        FIM 

                                  Lara Rocha 

                                 29/Agosto/2024 

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Porque não tocas, flauta?

 Era uma vez um pequenino rapaz, que vivia numa pequena casa, no meio da floresta com a sua família. Um dia, no Natal, o seu Tio ofereceu-lhe uma flauta, mas só pegou nela quando era mais crescido, num fim de tarde com um pôr do sol gigante, umas cores que pareciam saídas de um quadro. 

O Tio explicou-lhe como se fazia, experimentou soprar, e não saiu nenhum som. Muito surpreso, tenta outra vez, e nada. Espreitou para a flauta, aparentemente não tinha nada que não a deixasse tocar. 

- Porque é que isto não toca, se eu estou a fazer como o tio disse? - pergunta o menino a olhar para a flauta 

De repente, soa uma voz pequenina: 

- Vai lavar essa flauta ali ao rio. 

- Mas, mas...quem é que está a falar? 

- Vai lavar essa flauta ali ao rio. 

- Mas ela não está suja. 

- Está! 

- Quem é que está a falar? 

- Vai lavar esse flauta ali ao rio. 

- Está bem, pronto, já que tanto insistes! Mas eu quero ver quem está a falar! 

- Primeiro vai lavar a flauta ao rio. 

- Já vou! 

O menino, sem perceber o porquê da insistência da voz em lavar a flauta no rio, molha-a na água, e esta começa a borbulhar. 

- A água está a borbulhar..! 

E de repente, do interior da flauta saem bolas de tintas de cores diferentes, pequeninas, que ao tocar na água aumentam de tamanho. Ficam tão grandes, e a pairar no ar que o menino até se assusta. 

- O que é isto? 

- São cores. Toca agora! - diz a voz 

O menino toca e sai um som estridente da flauta, as bolas estremecem, encolhem, como se ficassem arrepiadas. 

- Áh, mudaram de forma…! 

- Arrepiaram-se com o som. Toca melhor.- diz a voz 

- Mas como? 

- Como o teu tio te ensinou. 

- Eu fiz isso há bocado e não tocou nada, não saiu nenhum som. 

- Mas toca agora. - manda a voz 

- Não sei tocar. 

- Sabes sim - diz a voz 

O menino experimenta, e vê um peixinho transparente, de cristal a dar luz. Descobre que é a voz que ele ouvia, 

- Toca! 

- Foste tu que me mandaste lavar aqui a flauta? 

- Sim. 

- Áhhh...que lindo! Nunca te vi por aqui. De onde saíste? 

- Da flauta. 

- Era por tua causa que a flauta não tocava? 

- Era. Esta água está maravilhosa! 

- E como é que estavas numa flauta? 

- Para te ensinar a tocar. 

- Áh! E tu sabes tocar? 

- Sei. 

- E estas bolas que apareceram? 

- Já vais ver. Segue os meus movimentos... 

- Está bem. 

- Sopro para aqui? 

- Sim. 

O peixinho parece dançar, como se fosse um maestro ao mexer com as barbatanas, com um sorriso. As misteriosas bolas de cor, parecem ganhar vida própria, bailarinas, esticam, encolhem, aumentam, diminuem, mudam de cores, rebolam no ar, seguindo os sons. 

O menino fica tão encantado com aquele som, o peixinho e as bolas coloridas, que toca entusiasmado, mas a certa altura, as bolas cansam, o peixinho e o menino também. 

- Obrigada! Adorei. Podes vir aqui mais vezes, para me ensinares mais? 

- Sim, claro, vou ficar aqui. 

- Boa! E estas bolas para que servem? 

- Umas vão rebentar, com surpresas lá dentro, outras, vão dançar connosco, enquanto tocamos. 

- Áh! Que giro. E quando é que as bolas com surpresas vão rebentar? 

- Espera! 

- Vou ter de esperar? 

- Com certeza! 

- Mas eu queria saber agora. 

- Não! Ainda não podes, elas estão cansadas. 

- Está bem. 

- Vai descansar também. 

O menino obedece, janta com a família, vai dormir, e quando se deita no escuro, vê uma luz de presença ao seu lado. Assusta-se, mas fica encantado com ela.

- Não te assustes! Sou uma das bolas coloridas com surpresas. Rebentei. Vim fazer-te companhia, juntamente com a Lua e as estrelas! 

- Áh! Que linda, obrigado. 

- Vim inspirar-te e tomar conta de ti. 

- Está bem. E o que tem as outras bolas de cores? 

- Logo verás, ou quando elas quiserem, 

- Mas eu queria já! 

- Queres tudo já, não pode ser. 

- Pronto, está bem, eu espero. 

Os dois conversam, até o menino adormecer. No dia seguinte, cheio de sol e calor, volta a tocar flauta, junto ao rio, com as instruções do peixinho, e as bolas coloridas a dançar. A luz de presença continua com o menino, 

Nada acontece, tal como nos dias seguintes, até que...uma outra bola colorida, rebenta, e cobre todas as árvores, enche-as de frutos, e lindas cores. Folhas salpicadas de verde, vermelho, folhas vermelhas, folhas com salpicos de roxo e vermelho, amarelo, folhas verdes, folhas castanhas. Frutos como uvas lindas, enormes, penduradas nas ramas, maçãs vermelhas e amarelas, outras com cores misturadas, grandes, ouriços pendurados, e outros que caem, cheios de castanhas grandes.  

O menino assiste a tudo. 

- Qual era a surpresa desta bola que rebentou? 

- Olha bem para lá! Para as árvores! - recomenda o peixinho 

- Estão cheias de cores…! E aquelas cheias de frutos. - diz o menino  

- Quando é que isto acontece? - pergunta o peixinho 

- No...no...Outono? 

- Isso mesmo! - diz o peixinho 

- Então...começou o Outono, e a bola que rebentou, trouxe o Outono? 

- Sim! 

- Áh! Que lindo…! Uau, adoro aquelas cores, estão carregadas de frutos. 

O menino está maravilhado, tal como a família, ao ver aquelas cores e frutos. Continua a tocar, e uns dias depois, outra bola rebenta, Surge um cãozinho pequenino, do mais fofo que há, lindo, muito meigo, e outra bola rebenta, de onde sai a mãe do cãozinho, com mais três filhotes, igualmente lindos! O menino nem quer acreditar. 

Fica tão feliz, que continua a tocar, aquela flauta, e todos os dias, uma cor das bolas coloridas, faz com que o menino repare num aspeto bonito da Natureza, atrai passarinhos, borboletas, pirilampos, cuida muito bem dos cãezinhos que o adoram. 

Uma das bolas rebenta e faz com que ele repare na beleza da Lua Cheia, e nas estrelas, outra leva-o a apanhar chuva, feliz, a brincar com os animais, e a última, que rebenta, cobre tudo com um grosso manto branco, gelado, um vento cortante, que obriga a acender a lareira e a conviver com a família, com muitos petiscos, brincadeiras, gargalhadas.

Esta última bola, trouxe o Natal, e um irmãozinho bebé, para o menino, o seu desejo como prenda de Natal, de quem cuida com todo o carinho com a ajuda da mãe e do pai. 

E o menino continua a tocar, continuam a acontecer coisas mágicas, toda a família aplaude, quando o ouve. O tio, não cabe nele de orgulho. 

Era por isso que a flauta não tocava, mas quando a magia saiu, muitas coisas boas começaram a acontecer!  

E se fossem vocês a receber uma flauta que não tocasse? 

Porque não tocava? 

E se recebessem bolas surpresa, que rebentavam, o que é que elas trariam? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem. 


                                                        FIM 

                                                   Lara Rocha 

                                                   26/Agosto/2024 



sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Até qualquer dia, sonho

 Até qualquer dia, sonho! 

Olá sonho! Gratidão por toda a companhia que me fizeste, estes anos todos, gratidão pela tua presença durante estes anos, e por manteres viva em mim, a eterna, pensava eu, esperança de sermos companheiros diários. 

Gratidão, sonho, por me fazeres acreditar que nos íamos encontrar, realizar os nossos projetos conjuntos, gratidão por me levares a visitas na biblioteca e nos livros, que me fizeram enriquecer a mente, material, mais material, e material, porque achava que podia precisar, que este e aquele dariam jeito, este ou aquele era melhor retirar apontamentos, posso precisar. Fizeste-me acreditar que seria bom ter esses apontamentos. 

Gratidão, sonho, por me fazeres ter objetivos estes anos todos, de procurar, divulgar, concorrer, esperar respostas positivas, quando só recebemos respostas negativas e silêncios. 

Mesmo assim, sonho, continuaste comigo, e dizias-me: continua a tentar, faz isto, ou faz aquilo, experimenta fazer assim, deixa aqui, deixa ali, tentei, tentamos estes anos todos, sem sucesso. 

Mesmo assim, tu continuaste comigo! Tínhamos lugar, tínhamos contacto, tínhamos a luz da esperança acesa, que às vezes se apagava, mas tu estavas lá, e a luz voltava a acender, para se manter na penumbra, até que umas vezes se apagava e outras vezes se acendia mais forte, mas quase se apagar outra vez. 

Gratidão, sonho, pelos dois primeiros anos em que trabalhamos juntos, felizes, em que nos sentimos realizados e úteis, em que tivemos sucesso, até que a luz apagou, voltou a acender com outros objetivos e tu estavas lá, a manter a esperança viva, para eu não desistir. 

Mas a realidade é que nada mudou, continuamos juntos, com os nossos projetos, ideias, estudos, formações, e continuamos a luta para manter a luz acesa, que algum dia desses que já passaram há uns anos, ia realizar novamente o nosso...sonho! 

Muitas coisas influenciaram a não realização do nosso projeto conjunto, e continuam a influenciar, mas desta vez, ao fim de cerca de oito anos, tu cansaste de estar ao meu lado. 

Percebeste melhor a realidade do que eu, gratidão por isso, já que eu não percebi logo, talvez tu já soubesses que não iriamos vencer, mesmo assim, incentivaste-me a tentar, a não desistir, a procurar, a partilhar, a investir, a estudar, a continuar. 

Eu também cansei, desculpa! Cansei de acreditar que íamos conseguir, desisti, qualquer pessoa desistiria mais cedo, com certeza, mas tu, sonho, mantiveste-te do meu lado, fizemos uma boa equipa, apesar dos frutos não terem vingado. 

Nenhum de nós tem responsabilidade, são coisas do mundo em que vivemos. Vivemos alguns bons momentos juntos, de entusiasmo, confiança, acreditar que as coisas iam melhorar, mais dia menos dia. 

Eu e tu, sonho, construímos expectativas irrealistas, planos com base nos nossos desejos, e porque corria bem para outros, também pensávamos que correria para nós! 

Foi duro, sim, todo o investimento, os altos e baixos, foi triste, sim, enquanto acreditamos juntos, foi bom, mas logo a seguir, tudo se desmoronava, com a frustração dos «nãos», dos «silêncios», dos «já temos», dos «ficaremos com o seu contacto e se precisarmos ligamos», entre outros, que no início mantinham a luz acesa, até que se apagava. 

Continuamos a tentar, tudo na mesma...um dia tínhamos de cansar e decidimos desistir. A nossa união foi enfraquecendo, praticamente não nos encontramos, não construímos mais projetos, porque tu sabias que não se iam concretizar, mesmo assim, continuavas comigo, e davas-me força para eu não desanimar. 

Mas eu desanimei. Desculpa, sonho! Obrigada por me abrires os olhos, e desculpa eu só cair na realidade, agora. Hoje, a luz do nosso castelo, onde residiam os nossos sonhos, apagou! Permaneceu o vazio que já existia e tínhamos esperança que se enchesse. 

Por tempo indeterminado…! Como aconteceu desde o início, porque perdemos a esperança, porque desistimos de acreditar e de lutar, porque vimos que com a realidade que nos rodeia, não valia a pena continuar a construir o nosso cantinho. 

Cansamos, ficamos e estamos tristes, mas há-de passar, como das outras vezes em que sentimos tristeza. Não sabemos o que virá a seguir, mas os dois acreditamos que os mesmos planos tão desejados não será. Cansaste de me alimentar, e eu também. 

Deixamos tudo no nosso castelo, onde esteve tudo, estes anos todos. Hoje, a luz apagou mesmo! Não custou, mas acho que na minha essência, custou, doeu, como das outras vezes. 

Ficaste lá, sonho! Eu vim embora. Prometo que te vou visitar, também podes vir, para conversarmos sobre outras coisas, para matarmos saudades...o meu coração e a minha mente, estão sempre abertos para ti, como tu sabes, e como estiveram estes anos. 

Descansa, sonho! Eu também vou descansar, o que precisares, sempre que quiseres, sabemos onde estamos. Dorme, sonho, descansa, não estás lá sozinho, tens contigo todos os meus (nossos) sonhos, todos os projetos, todos os planos, todas as tentativas, os fracassos também, toda a força que me deste, as lembranças da minha companhia, os sucessos. 

Tudo. Trata bem de tudo, e até qualquer dia, quem sabe, encontramo-nos por aí, noutro castelo qualquer, ou no nosso. 

Por agora, dorme, sonho, descansa, logo veremos. Vemo-nos qualquer dia, obrigada por tudo. 

                                                                Lara Rocha 

                                                                9/8/2024