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quinta-feira, 16 de março de 2017

Os porquinhos generosos




          Era uma vez uma pequenina aldeia de porquinhos que estavam muitas vezes tristes, porque tinham deixado de trabalhar. Eram animadores de rua, faziam lindos espectáculos pela cidade, recebiam muitas palmas, risos, sorrisos, e fotografias.
Estavam sempre a brincar, as rir e a provocar gargalhadas, sentiam-se realmente felizes quando viam todos a rir, até que as pessoas deixaram de reparar neles, ninguém mais olhou para eles, nem riam, nem aplaudiam. Passavam a correr, indiferentes aos simpáticos porquinhos, por isso, foram mandados embora, porque achavam que a culpa era deles.
Os porquinhos não percebiam porque é que as pessoas corriam tanto, não sabiam onde iam com tanta pressa, e porque não reparavam neles. Ficaram tão tristes, e passaram tanta vergonha, que não voltaram a sair da aldeia, preferiram ficar escondidos.
Os seus dias eram passados à janela, a olhar para longe, e para perto, perdidos nas recordações felizes que tinham dos espectáculos que davam na rua, dos carinhos, dos risos, das palmas e da atenção que recebiam de todos. Mesmo com essas boas lembranças, as lágrimas não paravam de cair.
Quando saiam, era só à volta de casa, pelo monte, nos campos, com um andar muito devagar, a soluçar, à procura de alguma coisa que nunca encontravam, e voltavam par a casa, para a janela.
Sempre que se encontravam e cruzavam-se, olhavam uns para os outros, levantavam as patinhas para cumprimentar, lá apareciam as lágrimas outra vez, e não diziam mais nada. Pensavam muitas vezes, no que podiam fazer, para não ficar sempre naquela tristeza, mas não se lembravam de nada, só queriam estar lá.
Um dia, uma senhora velhinha foi ter ao monte onde viviam os porquinhos, com um saco na mão, a andar muito devagar, a tossir, e a desequilibrar. Os porquinhos ficaram muito atentos, esconderam-se e espreitaram dentro das janelas para ver o que é que a senhora ia fazer. 
Até sentiram medo, mas ao mesmo tempo queriam ir ter com ela para ver se precisava de alguma coisa. A senhora soava, tremia, tossia…os porquinhos ficaram muito preocupados, e um deles perdeu a vergonha, esqueceu a tristeza, encheu-se de coragem, e saiu de casa, foi ter com ela, e perguntou preocupado:
- Boa tarde! Está tudo bem?
            A senhora sentou-se no chão, e o porquinho ampara-a.
- Ai…não estou nada bem. Nem sei onde estou! Acho que…estou perdida, e…
            O porquinho sentiu-a fraca e muito quente:
- Acho que está doente. Não se preocupe, vamos cuidar de si, e depois tentamos levá-la a casa.
            O porquinho assobia e aparecem todos os outros que estavam de olho, surpresos e preocupados.
- O que foi, amigo? – Perguntam todos em coro
- Acho que esta senhora está doente…!
- Vamos cuidar dela.
- Isso.
- Podemos levá-la para minha casa! – Oferece outro porquinho
            E todos ajudam a pegar na senhora, levando-a para casa do porquinho que se ofereceu.
- É melhor chamarmos o médico. – Diz outro porquinho, ligando imediatamente para o médico da aldeia vizinha que conhecia muito bem.
            Um porquinho dá um copo de água à senhora que tosse sem parar. A senhora bebe e agradece. Pouco depois chega o médico que a ausculta, todos os porquinhos estão muito atentos.
- Não é nada grave. É gripe. – Diz o médico
            Os porquinhos respiram de alívio, e enchem o médico de perguntas, sobre como cuidar da senhora. Ela não quer ficar, para não incomodar, mas os porquinhos não a deixam sair, e enquanto uns cozinham, outros conversam com a senhora. Dão-lhe de comer, e no final depois de muita conversa, a senhora descansa um pouco.
Os porquinhos passam o resto da tarde de volta dela, a olhar para ela ao mais pequeno movimento, ou barulho. Cumprem todas as ordens do médico, e tratam-na com muito carinho, cobrem-na, dão-lhe água, dão-lhe medicamentos, medem-lhe a temperatura, põem-lhe mais almofadas e mais cobertores, e conversam com ela.
À noite, depois do jantar, um dos porquinhos tem uma ideia:
- Amigos, acho que chegou a hora de reaparecermos…
- Como? – Perguntam todos
- Vamos animar a senhora.
- Como? – Perguntam todos
- Então…? O que é que nós fazíamos antes?
            Olham uns para os outros, suspiram, tristes…
- Achas que vamos conseguir? – Pergunta um porquinho com as lágrimas quase a cair dos olhos
- Claro que vamos conseguir! – Garante o porquinho
- Acho que já nem me lembro como se faz…! – Comenta outro porquinho triste
- Essas coisas nunca se esquecem!
- Pois não.
- Vá…toca a acordar. A senhora precisa de nós.
- Tenho tantas saudades… - Lamenta outro porquinho
- Por isso mesmo. Eu também tenho muitas saudades.
- Boa! – Gritam todos
            Chocam as patas, abrem um grande sorriso, reviram os caixotes dos disfarces, vestem roupas coloridas, pintam-se, e a brincadeira começa. A senhora fica muito surpresa, olha para eles, e os amigos atuam como se estivessem na rua, arrancando sonoras, saudáveis e luminosas gargalhadas à velhinha.
Ela ri e aplaude, interage com eles, participa das brincadeiras mesmo sentada, eles dão-lhe carinho, oferecem-lhe flores, e os seus olhos ganham um brilho nunca antes visto, de felicidade. Até fica boa mais depressa. Os porquinhos não cabiam neles próprios com tanta felicidade, pelas reações da velhinha, e por voltarem a fazer o que mais gostavam, até a senhora ficar bem.
Quando fica totalmente recuperada, lembra-se onde é a sua casa, mas fica triste, e os porquinhos também, porque vão separar-se, e estavam tão felizes, a gostar tanto de estar juntos…eles levaram a velhinha a casa, e esta convida-os a entrar. Combinaram e prometerem que voltariam à cidade, à casa da senhora, todos os dias, para ver e ouvir o seu riso, e fazer o que eles mais gostavam.
Voltaram para casa, completos, e a senhora dormiu feliz, ansiosa que o dia seguinte surgisse para ter os seus amigos lá em casa. Prometeram e cumpriram. Depois a senhora chamou as suas amigas e amigos lá para casa, para se rirem e divertirem com os porquinhos, e que felizes que estavam.
Uns dias depois, a senhora e os amigos foram resmungar com quem os tinha despedido. Explicaram-lhes a grandeza dos seus corações, o que o riso que eles provocavam fazia à saúde, disseram-lhes que eles eram muito importantes, muito generosos e que faziam muita falta à sociedade, pois esta estava a tornar-se cada vez mais apressada, fria e indiferente.
A senhora e os amigos disseram tantas coisas boas e bonitas sobre os porquinhos, que a Diretora voltou a contratá-los para animar as ruas. Todos os dias apresentavam coisas diferentes, distribuíam abraços, beijinhos, sorrisos por quem passava.
As pessoas voltaram a parar, apreciar, rir e participar nos espetáculos, encantados, aplaudiam, tiravam fotos, e brincavam. Até davam dinheiro. Depois, gostaram tanto deles que as pessoas mais velhas lhes pediam para irem às suas casas, atuar, e claro, eles iam com todo o gosto. O que mais os preenchia era ver o riso e o olhar brilhante das pessoas, e receber as palmas.
Os porquinhos não voltaram a ficar à janela, mergulhados na tristeza, e com isso fizeram muitas pessoas esquecer as tristezas, mesmo que por instantes, pelo menos enquanto os viam atuar, e enquanto riam.  
FIM
Lálá
(16/Março/2017)



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