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domingo, 26 de março de 2017

Gigante e pequena

    

     Era uma vez uma menina que estava a conversar num grupo de amigos, e disse:
- Hoje acordei muito estranha!
- Porquê? – Perguntam todos
- Senti-me um gigante. Tinha dois metros de altura!
- Não pode ser. – Respondem todos
- Isso se calhar era a altura que gostavas de ter. – Comenta uma menina
- Não, não. Era mesmo a altura que tinha quando acordei. Dois metros!
- Como é que sabes?
- Porque fui-me medir à fita que tenho na porta do quarto, mas a fita é pequena. Ficou muito lá em baixo, e eu estava muito, muito lá em cima. A minha cabeça quase batia no teto, e a minha mãe disse que a porta do quarto tem dois metros de altura.
- Não pode ser.
- Vives num castelo?
- Não, vivo num apartamento. Mas a porta do quarto tem dois metros, porque a minha mãe disse, e o que ela diz é verdade. Se eu quase bati com a cabeça no teto é porque também estava com dois metros de altura.
- Mas como podes ter ficado com essa altura, se estás do mesmo tamanho que ontem. – Comenta um menino
- Não sei como, mas sei que esta manhã estava muito mais enorme. Estava gigante.
- O meu pai disse que não há ninguém que tenha dois metros de altura. – Garante um menino
- Lá isso é que há. Uns jogadores de basquetebol, que o meu Avô disse que tinham mais de dois metros, e o meu pai tem amigos que têm quase dois metros de altura, alguns ainda passam. Eu já os vi. – Diz a menina
- E o que fizeste para ficar desse tamanho? – Pergunta outra menina
- Só se comeste alguma coisa que te fez crescer de repente, como aqueles cogumelos dos desenhos animados, que uns fazem crescer, outros fazem mingar. Eu nunca vi ninguém como nós a comer esses cogumelos, muito menos a crescer e a diminuir no mesmo dia.
- Não comi nada, nem bebi nada, acho que também não andava nenhum bicho, nem fada…a não ser que tenha sido um monstro que entrou no quarto e deitou lá alguma coisa, que me fez aumentar e diminuir, mas não vi, só se ele fez isso enquanto eu estava a dormir. – Explica e pensa a menina
- Então o que pode ter acontecido? A mim nunca me aconteceu nada disso! – Garantem os amigos
- A mim também nunca me tinha acontecido antes, mas tenham cuidado porque pode-vos acontecer. – Alerta a menina
- Como é que sabes? – Perguntam todos
- Se aconteceu comigo, também pode acontecer convosco.
- Ou não! – Exclama outra menina
- Podes ter sido escolhida por alguém poderoso, para ver se esses poderes funcionavam em humanos. – Diz outra menina
- Achas? – Pergunta a menina
- Sim. – Responde a amiga
- Mas quem? Se eu não vi ninguém? – Garante a menina
- Não sei. – Diz a amiga
- O que viste lá de cima, com essa altura toda? – Pergunta um menino curioso
- Vi coisas pequenas. Eu era a única coisa gigante que havia, de resto, parecia que estava num quarto de anões.
- Como assim?
- Sim, um quarto onde eu pensava que era tudo grande, e afinal…era tudo muito pequeno. Tentei deitar-me na minha cama, mas não consegui, porque era tão comprida, que se me deitasse ela desmontava-se toda, e se calhar só dava para pousar a minha cabeça.
- E conseguias estar de pé?
- Conseguia, mas via todo o meu corpo com um tamanho gigante. Como aquele gigante dos desenhos animados.
- E o que fizeste? – Pergunta outra menina
- E depois como ficaste outra vez pequenina? – Pergunta outro menino
- São muitas perguntas, e todas muito difíceis de responder. – Responde a menina
- Só fizemos uma pergunta…
- Não. Fizeram duas.
- Não, eu fiz uma, e ele fez outra.
- Pois, por isso são duas…são muitas perguntas. Não sei como fiquei outra vez pequenina. Sei que enquanto estava gigante fiz muitas coisas. Andei por muitos sítios, curei muita gente, fiz os homens pararem com as armas, trocarem abraços, reconstrui casas. Limpei mares e rios, plantei árvores onde não havia, pus água nos desertos por onde passei, fiz aparecer muitos animais que já tinham desaparecido…aqueles lobos, peixes, espécies de pássaros que estavam a desaparecer, criei ventos muito fortes para varrer o lixo de muitas cidades, e eles levaram-no para muito longe. Andei por cima de vulcões, e atirei para lá água fria, para que quando aquelas chamas saíssem não queimassem o que encontrassem pela frente. Brinquei com crianças, fiz rir muitos velhinhos, dancei com outros gigantes, sorri, chorei e zanguei-me…
- Áh! Que lindo. – Exclamam todos
- E como foste para esses sítios todos? – Pergunta uma menina
- A pé! – Responde a menina
- E não se assustaram quando te viram? – Pergunta um menino  
- Não. Até acho que era invisível, mas fiz essas coisas todas e era mesmo gigante. Sentia-me mesmo enorme. – Responde a menina
- Fizeste isso tudo numa noite? – Pergunta outra menina
- Fiz.
- Tiveste muito trabalho! – Comenta outro menino
- Tive.
- Mas foi um trabalho bom e bonito.
- Pois foi.
- E depois como voltaste para o teu quarto?
- A pé! Quando achei que já tinha feito tudo.
- E fizeste tudo?
- Ainda ficou muita coisa por fazer.
- E os mares tinham muito lixo?
- Muito mesmo!
- Como curaste as pessoas?
- Lancei-lhes um raio com muitas luzes.
- E como conseguiste que os homens parassem com as armas?
- Falei com eles, disse-lhes que era muito triste o que eles estavam a fazer, e que era muito mau. Estavam a destruir o mundo e as pessoas, e que isso não se faz. Ordenei que eles parassem imediatamente com as armas, para verem e ouvirem as coisas bonitas da natureza, para verem e ouvirem o riso e as palavras bonitas das pessoas. Disse-lhes que não queríamos guerra, só queríamos coisas boas, e aquilo não era bom, disse-lhes que por causa deles havia muita gente triste. Depois disse-lhes que no fundo eram bons seres humanos, só tinham de parar com as armas, e mostrar que tinham bom coração.
- Mas se fazem mal, se usam armas, não têm bom coração!
- Pois não, mas eu quis mostrar-lhes que eles tinham, para ver se mudavam.
- E mudaram?
- Mudaram. Pousaram as armas, choraram, ajoelharam-se, olharam para o céu, pediram perdão não sei a quem, que estava talvez lá em cima, eu não vi, e abraçaram-se. Disse-lhes que não voltassem a fazer essas maldades.
- E eles?
- Prometeram que não voltariam a fazer mal.
- Achas que isso vai acontecer?
- Acho que sim. Eles prometeram.
- Não sei…
- Acho que não vão deixar de ser maus.
- Eu acho que vão.
- E se não mudarem?
- Vou ter de falar com eles outra vez…ou até…bater-lhes, ou pô-los de castigos.
- Podes tentar ficar outra vez gigante, e transformar as armas deles em alguma coisa boa, se eles voltarem a ser maus.
- Boa ideia.
- E os animais como apareceram outra vez?
- Fechei os olhos, pensei neles, estalei os dedos e eles apareceram.
- De onde?
- Não sei, estava de olhos fechados, não podia ver de onde saíram…só sei que depois de estalar os dedos, e abrir os olhos, eles estavam lá.
- Uau! – Exclamam todos
- Não estás cansada?
- Não!
- Fizeste tanta coisa, que não dormiste.
- É. Mas não estou cansada, nem com sono!
- E tens a certeza que estavas gigante?
- Tenho!
- E como ficaste outra vez pequena?
- Não me lembro. Quando abri os olhos estava gigante, e vi que o meu corpo estava mesmo muito gigante.
- Achas que também podemos ficar gigantes?
- Sim, se forem escolhidos por quem me escolheu…
- E quem te escolheu?
- Não sei. Mas alguém foi porque não ficamos assim gigantes às boas, ou só porque nos apetece.
- Claro, se foste escolhida é porque acharam que podias fazer muitas coisas boas. E fizeste.
- Pois. Se quiserem podem experimentar. Pode ser que algumas destas noites também se tornem gigantes.
- Eu gostava!
- Eu também gostei muito.
- Será que também podemos ficar com dois metros?
- Sim, ou mais. Eu tinha dois metros, mas acho que quanto mais andava e quantas mais coisas fazia, mais aumentava de tamanho.
- Uau!
- Só não sei como fiquei com esses tamanhos diferentes.
- Se te sentiste gigante, é porque aconteceu mesmo.
- Como, não sei.
Aproxima-se a professora e contam logo a novidade:
- Professora, a Mara esta noite ficou gigante.
- Com dois metros.
- E fez muitas coisas boas…
- Foi? Como aconteceu? – Pergunta a professora com um sorriso
- Sim…
E cada um conta o que a menina fez.
- Eu acho que já entendi… - diz a professora
- O quê? – Perguntam todos
- Acho que já sei como te transformaste em gigante e depois ficaste pequenina outra vez.
- A professora também viu?
- Vi.
- Como foi?
- Foi um sonho que tiveste, e sentiste-te gigante por teres feito essas coisas tão bonitas e tão boas.
- Um sonho? – Perguntam todos
- Sim! Quando fazemos coisas boas e bonitas, sentimo-nos gigantes, por dentro, com o coração feliz, e sentimo-nos orgulhosos, sorrimos, mas continuamos do mesmo tamanho por fora, de aspeto. O mais importante não é a altura que temos, mas o tamanho do coração, aquilo que ele tem de bom, e tudo o que sonhaste, Mara, é muito bom, muito bonito. Todos gostaríamos de poder fazer essas coisas todas, mas infelizmente não podemos…só nos sonhos, onde tudo é permitido. – diz a professora
- Óh! – Exclamam todos
- Então não aconteceu mesmo? – Pergunta a menina
- Não! – Responde a professora
- Então…continua tudo na mesma? Com guerra, com doentes, com natureza poluída e espécies a desaparecer…? – Pergunta outra menina
- Infelizmente sim! Mas enquanto sonhamos, as coisas são um bocadinho melhores! – Diz a professora
- Eu pensei que podíamos ser gigantes como nos desenhos animados, e ficarmos outra vez pequenos, e que podíamos fazer coisas boas!
- Podemos fazer coisas boas, mas nem todas, não porque não queremos, mas porque há outras coisas e nem todos os corações são bons. O mais importante é que o nosso coração seja bom, bonito, e gigante como vocês…todos podem ser, e são, gigantes de dois metros, ou mais. Vamos para a sala!
            E as crianças voltam para a sala.
FIM
Lálá
(26/Março/2017)


  

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