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quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

AS DEUSAS DE PEDRO E SARA

                                                           foto de Lara Rocha 

Era uma vez um casal com muita idade, que vivia numa casa isolada no pico de uma montanha com a povoação no seu vale. O casal vivia feliz, e tinha tudo o que precisava, amigos também. À volta da casa tinham um quintal enorme, e campos onde pastavam animais.
Um dia Pedro e Sara foram ao quintal e pareceu-lhes ver alguma coisa de diferente…não sabiam o que era, mas algo tinha mudado. Brilhava uma luz diferente naquele espaço, mas não viram que havia uns pequeninos rebentos na terra.
Nessa noite, os rebentos cresceram e na manhã seguinte, com o sol acabado de se levantar, já se via um pé alto, com umas cabecinhas de flores, fechadas em botão. Pedro e Sara tinham a certeza que não haviam plantado nada nos últimos dias, pelo menos ali, mas a verdade é que estavam mesmo uns rebentos com cabecinhas de todas as cores…cada qual a mais bonita. Levantaram as mãos para o céu e agradeceram.
Pedro e Sara deixaram que as flores abrissem, mas não abriram. Sempre que eles olhavam para elas, nunca as viram abertas, viam-nas sempre em botão. Mas uma tarde, Sara foi ao quintal, e ouviu umas vozes, uns murmúrios e risinhos pequeninos. Ficou preocupada, olhou para todo o lado, e não viu ninguém, sentiu muito medo:
- Acho que ouvi alguma coisa…estarei a ficar louca? – Diz assustada
As vozes calaram-se. Passado um bocadinho, voltaram. Sara fica gelada, e pergunta nervosa:
- Quem está aí?
As vozes calaram-se outra vez, quando ela chamou o marido muito assustada:
- Pedro…Pedro…anda cá fora… - Chama a Sara aflita
Pedro vai ter com a esposa assustado:
- O que foi? Estás pálida…está tudo bem?
- Eu ouvi vozes. – Diz Sara
- O quê? – Pergunta Pedro assustado
- Sim. Já por duas vezes. – Confirma Sara
- Não pode ser!
- Eram vozes, tenho a certeza…
- Se calhar foi alguém que passou aqui.
- Não…não passou ninguém! Eu ouvi…Elas falam e calam-se, e riem.
- Não pode ser.
- Estou-te a dizer.
- Acho que te vou levar ao médico.
- Não.
- Sabes que ouvir coisas pode não ser um bom sinal.
- Estás-me a chamar velha, ou louca?
- Não…
As vozes regressam, e os risinhos também.
- Olha…estão a falar outra vez.
- Eu…não ouvi nada.
- Estou a ouvir…
- Mas estás a ouvir o quê?
- As vozes…e risos.
- Óh…que disparate…acho que apanhaste sol a mais…
- Não. Elas estão a falar.
E as flores desenrolam-se, uma por uma…botão por botão, mostrando as suas belas cores.
- Olha…as flores abriram!
- Áh! Que lindas.
As flores voltam a fechar-se, muito enroladinhas, e envergonhadas.
- Então…? Fecharam outra vez…?
- Mas…não estou a perceber nada.
- O melhor é…vamos para dentro… vamos… está calor, e acho que nos está a fazer mal.
O casal volta a entrar, muito pensativo e intrigado. As flores voltam a abrir e delas saem umas lindas fadas, cada uma com longos vestidos, cintilantes, cabelos compridos brilhantes, olhos grandes, elegantes, e conversam alegremente umas com as outras. Espreguiçam-se, bocejam, e rodam os seus vestidos para se sacudirem.
Sara espreita à janela, abre os olhos e a boca até não poder mais, quando vê as fadas a rodar os seus vestidos, a passear pelo quintal e as flores sem cabecinhas, porque as cabecinhas eram as fadas a dormir.
Sara corre para o jardim.
- Mas o que é que se passa aqui? Quem são vocês? Vocês existem mesmo? De onde vieram? Quem vos deu autorização para virem para aqui?
As fadas riem, apresentam-se, e dizem que vivem nas flores que ela viu. A senhora nem quer acreditar, sorri e diz:
- Desculpem tanta pergunta…mas que antipática que eu fui…é que…então eram vocês que falavam, murmuravam e riam?
- Sim! Éramos nós.
- E como é que não vos via?
- Porque estávamos em botão!
- Apareceu o teu marido, ficamos com vergonha, voltamos a enrolar-nos.
Sara ri.
- Áh! Então, não estou louca…!
- Não.
- Claro que não.
- O teu marido é que não nos viu porque nós não quisemos.
- Nem vos ouviu.
- Pois não!
- E porque ele não acredita em nós.
- Pensei que estava a ficar louca, ou a ouvir coisas que não existiam na realidade. Era muito mau sinal.
- Existe…somos nós.
- Mas como é que vieram aqui parar?
- É uma longa história.
- Gostamos deste sítio.
- Sentimos as vossas boas energias.
- E viemos fazer-te companhia.
- O meu marido já me faz companhia.
- Sim, mas sentimos que gostarias de ter mais meninas à tua volta.
- E acertaram. (sorri)
- Podemos ficar aqui?
- Claro que sim.
- Vais poder assistir aos nossos ensaios.
- Ensaios…?
- Sim, de danças.
- Áh…adoro danças.
- Boa…até podes dançar connosco.
- Está bem. Se eu souber…mas…e o meu marido?
- Deixa o teu marido…
- Ele vai achar que avariei de vez!
As fadas riem.
- Aproveita para te divertires…não te preocupes com o que o teu marido pensa…desde que isso te faça feliz.
- Acredito que sim.
- Vê lá.
Umas fadas vão buscar os seus instrumentos às flores, e começam a tocar. As outras dançam com os grande vestidos a rodar, que se encaixam uns nos outros, cruzam e foram um lindo espetáculo de cores, quando se abraçam e rodopiam, entrançam os cabelos umas nas outras, sempre com um sorriso.
Às vezes rodam tão rápido que só se vêem riscos de cores, a passar como se fossem estrelas cadentes, e voltam a subir, descem. A Sara fica encantada, e quando as fadas mudam a música, Sara acompanha-as como se fosse outra vez criança. Isso fê-la sentir-se tão feliz, e cheia de energia, riu, saltou, mexeu-se, tanto como elas.
O marido apreciava-a da janela, preocupado mas ao mesmo tempo ria-se. Ele não via as fadas. Quando vai ter com Sara, viu que ela estava rodeada de encantadoras mulheres, e rapidamente elas voltaram a enrolar-se sobre elas próprias e a esconder-se nas flores.
- Estás feliz…! – Comenta Pedro
- Sim. Parece que renasci! – Diz Sara com um enorme sorriso
- Dá para ver. Que linda que estás…sempre foste, mas estás mais agora.
- Estou ótima.
- Eu sei…sempre foste ótima.
- Estas flores são especiais.
- Eu acho que vi alguma coisa…
- Viste! E eu tinha razão. Não estava louca, nem a ouvir vozes… era tudo verdade, tanto que agora dancei com elas.
- Com quem?
- Meninas…
E cada flor volta a desenrolar-se, e aparecer como fada, com os seus lindos vestidos.
- Olá! – Dizem todas
Pedro solta uma longa exclamação:
- Ááááááááááhhhhhhhh….com todo o respeito pela minha esposa… que lindas mulheres! De onde vieram?
- São aquelas flores que apareceram de novo!
- O quê?
- Isso mesmo!
- E foi com elas que dancei agora.
- Mas que lindas…
E as fadas dançam outra vez para eles. A partir desse dia, tornaram-se uma verdadeira família. Sempre que não atuavam, as flores enrolavam-se sobre si próprias, e repousavam nos pés, descansavam, conversavam com a senhora, riam, e quando queriam, saiam das flores, e andavam pelo quintal, livres, ajudavam Sara e Pedro a plantar, a regar e a colher os alimentos, e frutos. Eram as deusas de Pedro e Sara, como se fossem filhas.
FIM
Lálá
(4/Janeiro/2017)


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