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domingo, 14 de julho de 2024

A lenda da praia petrificada

 Foto de Lara Rocha 

     Era uma vez um lugar muito longínquo, no meio de um mar sempre revolto, com ondas que pareciam devorar quem se aproximasse. Não sabiam se era uma ilha desabitada, um banco de areia, um deserto, ou uma praia, porque não tinha vegetação. 
   Para quem via, parecia um conjunto de pedra e um monte de areia. Tinham razão! Era um monte de areia para onde o acesso era impossível, porque as ondas tenebrosas eram as donas daquele pedaço estranho. 
    Os pescadores e as pessoas que viviam nessa praia, conheciam uma lenda da chamada praia petrificada. Como todas as lendas, quando não se sabe o que aconteceu de verdade, ou se foi mesmo isso que aconteceu, despertava a imaginação e fazia sonhar os ouvintes. 
    Cada um imaginava aquele espaço de forma diferente, inspirados pela lenda. Era intrigante, misterioso. A lenda da praia petrificada passou de geração em geração, uns dias via-se mais, outros estava mais coberta. 
    Contavam que esse espaço, tinha sido há muitos séculos atrás, uma bela praia, com águas cristalinas, areias brancas, vegetação, animais marinhos e aves, sem pessoas. 
    Não vivia lá ninguém porque a sua temperatura ultrapassava os 80 graus, e às vezes mais de 1oo graus, claro, qualquer ser humano que entrasse nessa praia, não aguentava. 
    Quer dizer, segundo a lenda, o único habitante, não humano da praia maravilhosa, era uma criatura, grande, uma mistura de tartaruga, com patas grossas, unhas compridas, o corpo coberto de penas coloridas, boca grande, cheia de dentarrões, orelhas grandes e barbatanas pois a sua casa era principalmente no mar. 
    Muito forte, sempre raivoso, odiava a presença de humanos, e para que a praia fosse toda dele, a sua raiva e maldade eram tão grandes, que os seus barulhos, a sua respiração, fervilhava como um caldeirão de lava, e o seu bafo era realmente muito quente. 
    Tudo parecia derreter à sua passagem, a areia parecia barro, e pó de um deserto, e depois voltava ao normal. A praia ficava deserta, era toda dele, quando recolhia, o mar ficava a ferver, e todos saiam das tocas. 
    Desfilava na praia, muito lentamente, não era simpático, mas também deixava os outros animais e plantas em Paz. Todos o respeitavam, mas não gostavam dele, como era antipático e demasiado quente, todos se escondiam, e sua excelência sorria, vaidoso, orgulhoso, já estavam habituados ao calor daquele ser horroroso. 
    A maldade e a raiva eram tantas, que as nuvens sentiam medo dele, fugiam, quase sufocavam e secavam em poucos segundos, ao passar por cima da praia. Nunca chovia! Por causa disso, tudo começou a secar rapidamente. 
A água do mar, fugiu, misturou-se com as ondas gigantes que rodeavam aquele espaço. Que alívio! Adoraram sentir aqueles abraços e embalos frescos das ondas gigantes. Foram muito bem acolhidas. 
    Aos poucos, todas as outras ondas deixaram a praia e estavam juntas, no mar alto. Já não aguentavam mais aquele calor da criatura. Eram mais quentes que as outras ondas, mas sentiam-se bem e adoravam aquele espaço. 
    As aves, os belos peixes exóticos, cheios de cor, as estrelas do mar, as conchas, os búzios, os cavalos marinhos, polvos, algas e até corais libertaram-se e fugiram, saíram aos milhares. 
   Essa fuga foi uma agradável surpresa para os pescadores de alto mar, e fizeram as suas delícias. Filmavam e fotografavam quando estes andavam mais pela superfície. 
  Os pescadores tentaram chegar mais próximo da praia misteriosa, mas não conseguiram por causa da temperatura sufocante, e só viam areia barrenta. A lenda conta que a temperatura nessa praia subiu cada vez mais, porque a criatura sentia-se sozinha, e triste, o ar tornou-se irrespirável. Parte da areia transformou-se em rocha, pedras de grandes dimensões que faziam figuras estranhas, a quem se juntou a criatura. 
  Como a criatura que mandava na praia, ficou sem água, umas pedras que estavam debaixo de água derreteram, e a sua raiva pela fuga da água, dos animais aumentou ainda mais, tal como a sua temperatura. 
  Até ela se transformou em rochedo de pedra, com uma forma um bocado diferente da sua original: perdeu as penas coloridas que tinha por todo o corpo, as patas e barbatanas colaram ao chão, juntamente com as outras rochas que se amontoaram. 
   Muitos séculos depois, ainda ninguém consegue chegar lá, mas os pescadores, navegadores e investigadores, continuam a sentir a temperatura muito alta, muito mais do que a que sentem no mar. 
  Acreditam que seja a raiva, a frieza, a antipatia, e a respiração, o bafo, da criatura misteriosa que lá habitava, e afugentava assim os humanos. Quando vista com binóculos e aparelhos de longo alcance, por não conseguirem chegar lá com o calor, conseguem ver as rochas com formas diferentes. 
  A lenda diz que os pescadores e estudiosos acabaram por descobrir a criatura e a praia petrificadas, veem o seu formato e sentem que é dela que vem aquele calor irrespirável, na praia onde não se conseguia viver, nem chegar perto, embora de vez em quando, a chuva já caia nessa praia. 

E vocês? Já viram na praia, rochas que parecem animais e outros seres como este da lenda? 

Também imaginam formas nas rochas, e como terá ficado assim, mesmo que não conheçam lendas? 

Se nunca o fizeram, experimentem, é muito divertido. Podem deixar nos comentários as vossas opiniões. 

FIM 
Lara Rocha 
13/Julho/2024 


Foto de Lara Rocha 
A praia petrificada 

sexta-feira, 5 de julho de 2024

A estátua da fonte

        Era uma vez uma fonte com uma estátua, muito bonita, com água muito transparente, sempre a correr, onde os passarinhos iam beber e refrescar-se. 
       A bela estátua adorava a visita dos bichinhos, e retribuía-lhes a cantar com eles, salpicava as penas. Isso era como se ela lhes fizesse carinhos. 
       Uma tarde de tempestade, a estátua da fonte serviu de abrigo aos passarinhos, nos seus pés que eram largos, juntamente com grandes folhas de uma planta, e debaixo de cogumelos. 
       Todos encostadinhos uns aos outros, assustados com a trovoada, e para se aquecerem, chilreavam quase ao som da chuva, outros momentos ficavam calados a ouvi-la a cair, e o som do vento que soprava forte. 
       A estátua adorava ser abrigo de passarinhos, e ela própria, ficava deliciada a ouvir a trovoada, a chuva e o vento, não sentia medo. 
       Nessa tarde, além dos passarinhos, a estátua viu duas borboletas a esvoaçar à sua frente, com grande dificuldade, a tentar segurar-se, a lutar contra o vento. 
       Eram enormes! As suas asas cheias de lindas cores, e tentavam agarrar-se uma à outra para se segurarem, mas pareciam estar a dançar. 
       A fonte convidou-as a abrigarem-se debaixo dela, e assim fizeram. Os passarinhos sentiram ciúmes, mas respeitaram a decisão da estátua da fonte. 
       Pouco depois, os ciúmes desapareceram quando repararam na beleza das borboletas, e quando estas começaram a conversar e a brincar carinhosamente com eles. 
      A fonte nunca tinha visto duas borboletas a dançar, e na verdade, a primeira vez que as viu, pensou que se estavam a tentar segurar. 
     Afinal primeiro tentavam segurar-se, mas depois mostraram as suas danças, ao som do chilrear dos passarinhos e as duas dançavam uma com a outra. 
- Estão a dançar? - pergunta um passarinho 
- Sim. - respondem as duas borboletas 
- Que música? - pergunta outro passarinho
- A música da natureza! - respondem as duas  
- Estamos rodeadas de música para dançar. 
- A música do vento - diz uma borboleta 
- A música da chuva - diz outra borboleta 
- A música da trovoada - acrescenta outra 
- A música da fonte! 
    A fonte sorri: 
- É verdade! Estamos rodeados de música. E que bonita que é! 
    Enquanto dura a tempestade, conversam uns com os outros, e quando o sol volta, as lindas borboletas dão um espetáculo de dança, movimento, beleza, e leveza, só com a música da Natureza à sua volta. 
    Ficam maravilhados e aplaudem, até parecem hipnotizados. As borboletas unem as asas e pousam na estátua, para lhe dar um abraço e um sonoro beijo. 
    A estátua fica tão feliz, que até deixa escapar umas lágrimas mais pequeninas, e abre um grande sorriso. As borboletas fazem o mesmo aos passarinhos, e estes ficam derretidos, riem. 
- Obrigada, linda estátua da fonte, por nos teres abrigado! - diz uma borboleta 
- Obrigada queridos passarinhos, pela companhia enquanto durou a tempestade! 
- De nada! Foi um gosto, e voltem mais vezes, que são maravilhosamente lindas. Adoramos ver-vos dançar, as vossas cores, a vossa leveza, e danças só com a música da Natureza! 
- Sim, voltem! - dizem os passarinhos 
- Nós adoramos esta fonte, estamos aqui todos os dias, para nos refrescarmos, e para bebermos. - diz um passarinho
- Eu também adoro a companhia deles, e de todos os que aqui vem. - diz a estátua. 
    E como prometido, nos dias seguintes, as maravilhosas borboletas voltaram à fonte, para dançar e encantar, a fonte, os passarinhos que chilreavam com ela, e dançavam com as borboletas. 

                                                    FIM 
                                              Lara Rocha
                                               5/Julho/2024 

Como imaginam essa estátua? 
E a fonte? 
Como imaginam as borboletas? 

Podem deixar nos comentários.