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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

a vela e a lua

fotos de Lara Rocha 


Era uma vez uma vela que estava à janela da sua casa, apagada, à noite, e lembrou-se de olhar para o céu cheio de estrelas cintilantes. Era um momento que ela repetia muitas noites, para descansar, e relaxar, já conhecia muitos barulhos noturnos, entre cigarras, grilos, corujas a cantar, água a correr, vento, folhas a abanar, chuva, trovoada, neve, e às vezes descobria novos barulhos.                                             Quando estava mau tempo, ela ficava a apreciar a tempestade da janela do seu quarto, às vezes juntava-se com outras velas que tinham medo, outras vezes faziam reuniões e festas, pediam para as Guerras acabarem, e haver paz. 

Mas nessa noite, ouviu uma voz pequenina: 

- Boa noite! 

- Quem está aí? 

            Que grande susto que ela apanhou, recuou, estremeceu, voltou à janela com uma chama enorme no seu pavio, era o seu coração acelerado. Procurou da janela, olhou para todo o lado e ouviu risinhos. 

- Quem está í? - pergunta a vela muito assustada 

- Sou eu... estou aqui em cima! - diz a lua 

- Onde? (olha para cima) Não vejo nada, nem ninguém. 

- Aqui... sou a Lua.

             A vela já tinha visto a Lua muitas vezes, mas não tão bonita como estava nessa noite! 

- Áh! Olá! Desculpa, pensei que era um visitante aqui nas redondezas da minha casa. - explica a vela 

- Não faz mal (ri a lua). Não queria assustar-te. Mas vi-te aí tão quieta, tão silenciosa, e escura! Estás triste? 

- Não. Estava a descansar. Eu gosto destes momentos de silêncio e sossego, gosto muito de ver as estrelas, e a ti,  Lua. Pensei que não falavas! 

- Óh, desculpa interromper o teu descanso, não sabia. 

- Não faz mal. 

- Hoje estás especialmente bonita. Desculpa a minha indiscrição, mas vais a algum sítio especial, alguma festa? - pergunta a vela 

- Não. (ri a lua) É que sou a Lua Cheia, a maior de todas, a mais luminosa, é a minha vez de iluminar a noite. 

- Sei. Mas que linda. 

- Eu ia propor-te um passeio e um jogo, queres? 

- Um passeio, e um jogo...? Hummm... está bem. Porque não? E onde vamos? Tu vens cá abaixo? 

- Olha para o chão à tua volta. Já estou aí. - diz a lua  

- Áhhhh... Estou a ver uma claridade diferente. 

- Pois, sou eu. 

- E estás aí em cima? 

- Sim. 

- Então como vamos jogar, e passear? 

- Já vais ver. Eu acompanho-te, Ora, sai de casa, então. 

            A vela sai, intrigada, com o seu pavio aceso, de forma mais pequena, e olha para a lua. 

- E agora? 

- Agora, começa a andar por onde quiseres. Olha à tua volta, e vê as diferenças, vê o que muda...vês... eu também estou a andar contigo! 

- Áh, que giro! Como é que estás aí em cima, e aqui em baixo ao meu lado? 

- Magia...?! (ri) Não. É mesmo isso que acontece. 

            A vela enfraquece a sua chama para ver melhor a diferença da luz da luz refletida no campo. Corre, e vê que a luz da lua a acompanha, mexe-se e a lua parece que se mexe para a acompanhar. 

- Estou encantada a ver isto, mas...qual é o jogo, afinal? 

- É este. Para onde quer que vás, eu vou também, tu mexes-te, e eu mexo-me ao teu lado, à tua frente.

- A minha sombra é muito mais pequenina que a tua. - repara a vela 

- Claro que é! Mas é bonita. A minha luz e a sombra que veem aí em baixo é muito maior, porque estou muito cá em cima, para iluminar a noite, nesta via láctea que nunca mais acaba, tenho de ser muito maior. As estrelas que tu vês daí, parecem pequenas mas na verdade, também são enormes. 

- A sério? 

- Sim. 

- Realmente parecem mesmo pequeninas. 

- Pois, e eu gigante, como o sol.

- Sim. Mas aí em baixo só me veem quando estou neste formato. 

- Óhhh....a minha luz desaparece à beira da tua! 

- E depois? - pergunta a lua - os candeeiros também dão a luz que precisam de dar, e não deixam de ser candeeiros, a luz deles é importante, e não é como a minha. Querias ter uma luz maior? 

- Queria! 

- Para quê? 

- Para levar paz ao mundo! 

- Isso é bonito! Mas...E achas que uma vela só, como tu, vai chegar para levar paz ao mundo? 

- Pois. Sou demasiado pequena! A minha luz é demasiado fraca... 

- A Guerra é muito maior do que milhares de velas, ou milhares de luas. Mas não é a intensidade ou o tamanho da luz das velas, que vão mudar o mundo. A vossa intenção é ótima, mas até entre vocês, velas, existem tamanhos que dão luzes maiores outras mais pequenas, não é? 

- Sim, é verdade. 

- Cada vela é importante, mas uma só não chega para o tamanho da maldade humana, comos os que fazem a Guerra. 

- Pois, acho que tens razão! Tu vês a Guerra aí de cima? 

- Sim, infelizmente vemos! 

- Eu e muitas velas juntamo-nos muitas vezes, encostamo-nos umas às outras, umas vezes acendemo-nos umas às outras, pensamos em Paz, pensamos em saúde para todos os humanos e animais, desejamos em conjunto que a Guerra acabe. As nossas luzes ficam muito mais fortes, mais puras nessas noites e nesses lugares por onde passamos. 

- Áh, que bonito! Acho que já vos vi a fazer isso! 

- É, mas não funciona. 

- Funciona, claro que funciona, para vocês, que sentem paz, e fazem quem olha para a vossa luz, sentir paz! Isso é muito bom! Vocês servem para muita coisa aí em baixo. 

- Sim, é verdade...Como é que sabes? 

- Nós sentimos cá em cima! 

- A sério? 

- Sim! 

- A tua luz, também é relaxante. 

- Então porque é que a Guerra não acaba, com as nossas luzes? 

- Pois...gostava de saber responder a essa pergunta, mas não sei. Nem sei porque fazem a Guerra, se a paz é muito melhor! Eu gosto das vossas luzes! 

- Obrigada! - sorri a vela

            A vela e a lua continuam a conversar e a brincar às sombras, a comparar o tamanho da luz de uma e o tamanho da luz da outra, em diferentes sítios, correm, brincam, saltam, riem, dançam, a Lua vê o seu reflexo nos ribeiros, e a vela também. 

- Olha que grande que pareço aqui. - diz a vela 

- Sim, é verdade, e olha eu....áh, áh, áh, pareço uma bola ainda maior, cheia de ondas, ou às riscas. 

- É da água em movimento. E olha a minha chama, que esquisita! 

          As duas dão uma gargalhada, mexem-se, colocam-se em diferentes posições, a vela conta coisas sobre o lugar onde mora, mostra à Lua pormenores que ela nunca tinha visto. 

- Que giro que é o lugar onde vives. Olha, eu ficava aqui contigo o resto da noite, mas vejo que estás cansada, vou deixar-te descansar. 

- Sim, é verdade, estou com sono, e cansada, mas estava tão bom, eu estava a gostar tanto de falar contigo. 

- Não te preocupes, voltarei noutro dia! 

- Adorei as nossas brincadeiras. 

- Eu também! Uma boa noite, amiga. 

- Obrigada, Boa Noite para ti também e para vocês todos aí. Adoro ver-vos. 

- Continuem a juntar-se, vocês, velas, porque não podem acabar com a Guerra, mas enquanto estão juntas, sente-se paz à vossa volta, isso é o mais importante, e transmitem coisas boas para a Terra, para vocês! Não desistam. 

- Combinado! Obrigada por este bocadinho. - diz a vela 

- De nada! Obrigada eu. Até breve! 

         A vela recolhe para a sua casa, e a Lua continua lá em cima, linda, enorme, luminosa, sorridente. Ganhou uma nova amiga, e fez a vela sentir-se apreciada, querida, mesmo pequenina, é importante. Algum tempo depois, a vela junta as amigas e apresenta-as à Lua, repetem as brincadeiras, e divertem-se. A lua tornou-se a sua melhor amiga. 

         Cada vela, cada vida humana ou animal importa, mesmo que seja simples, cada um tem a sua própria luz, maior ou menor, umas vezes mais forte, outras vezes mais fraca, mas precisam da luz uma das outras. 

                                                                        FIM 

                                                                    Lara Rocha 

                                                                      23/2/2022 

            

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