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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

o menino e o papagaio especiais






            Era uma vez um menino que vivia numa aldeia, e passava parte das suas tardes a lançar um papagaio, de plástico, colorido, preso por um fio à sua mão, a correr livre e solto, feliz, com um grande sorriso a levar com o vento na cara que brincava com os seus cabelos encaracolados. Era um menino sorridente, e o papagaio não se cansava de voar ao sabor das suas corridas pelos campos. 
           Os dois conversavam muito, o papagaio contava ao menino coisas que via de cima, e o menino ouvia-o encantado, conseguia imaginar o que o papagaio descrevia. 
Um dia, o menino contou ao seu papagaio o seu desejo de levar uma luz que curasse doentes, aos lugares onde houvesse, e milhares de luzes para que houvesse paz no mundo. O papagaio riu, mas ficou pensativo. 
          Ambos sabiam que ia ser difícil isso acontecer, mas acreditavam que talvez um dia fosse possível acontecer, também não sabiam onde iam arranjar essas luzes tão poderosas, se os médicos não conseguiam curar todas as doenças! 
         Fizeram o seu dia-a-dia normal, as suas corridas e brincadeiras, conversas, e não pensaram mais no assunto. À noite, o menino não conseguia dormir, estava inquieto, dava voltas e mais voltas na cama, mexia e remexia, cobria-se, destapava-se, mas o sono não vinha. Ficou a pensar no seu desejo, e como poderia realizá-lo. Decidiu que iria pedir ajuda ao feiticeiro da aldeia. Sossegou, adormeceu e sonhou com o seu desejo. De manhã, foi a casa do feiticeiro, explicou-lhe o seu desejo, e o feiticeiro riu com vontade: 
- Meu filho, isso é o desejo do mundo inteiro, de todas as pessoas do bem que não praticam a guerra. Eu sou feiticeiro, mas não vou poder realizar esse teu desejo! Desculpa. 
- Porque não? 
- Porque não há nenhuma magia que eu possa fazer para que as pessoas maldosas deixem de pensar em guerra. 
- O amor não pode fazer isso? 
- Pode, mas não há amor assim...por aí, à venda. Tem de vir do coração de cada um de nós, juntamente com a felicidade, a bondade, a vontade de ser bom, e a humildade. O amor é mágico, mas os feiticeiros não podem fabricá-lo! Tem de partir de cada um, já tem de estar em cada um. 
- E os sorrisos? Os abraços? 
- Tudo isso é bom, é do bem, só existe nos corações, eu também não posso fabricar. 
- Porque não? 
- Porque isso também não há assim à venda, há dentro de algumas pessoas, as pessoas que fazem bem, no coração delas, eu não posso andar por aí a roubar bocadinhos de amor, de abraços, e sorrisos, ou outras coisas bonitas. 
- Mas não podes criar uma luz que transmita paz, e que se solte nos sítios que mais precisam? 
- Hummm...não sei. Acho que não! Mas, agora vai brincar, se eu conseguir digo qualquer coisa. 
- Está bem, obrigada. 
            O menino saiu, e o feiticeiro riu às gargalhadas. 
- Santa Inocência! Coitadinho... 
            E continuou a rir, mas de repente parou, pensativo: 
- Espera ai...ele é inocente, mas...uma luz que acalme... talvez consiga criar! Pelo menos para ele não ficar tão triste, e até pode ser que funcione! Uma luz que acalme...que transmita paz....
            Revirou vários livros, procurou, pediu inspiração, e conseguiu criar umas luzinhas muito leves, de cores muito suaves, que acreditava acalmarem. Chamou o menino e comunicou-lhe a invenção. O menino ficou todo iluminado com um sorriso de orelha a orelha. 
- Mas como vais lançar estas luzinhas? - Pergunta o feiticeiro 
- Presas no papagaio. 
- Áh! Está bem! Boa sorte...e vamos acreditar que vão funcionar. Pede ao vento que tas leve para os países em guerra. 
- Está bem! Muito obrigada. 
          O feiticeiro guarda as luzinhas todas num saco. 
- São lindas...! - Diz o menino quase hipnotizado
- Sim, são. - Diz o feiticeiro 
         O menino agradece mais uma vez, e vai logo ter com o seu amigo papagaio. Prendeu as luzinhas no papagaio, e explicou para pedir ao vento que as leve para longe, mas pelo caminho podia largar as luzinhas em muitos sítios onde havia pessoas doentes. O papagaio estava preparado, orgulhoso e feliz por levar umas luzinhas tão poderosas, que acreditava cumprirem o seu desejo. 
- Vai amigo! Boa sorte, estou aqui... vai-me dizendo para onde devo levar-te. 
- Combinado! 
          O menino corre de um lado para o outro, como sempre livre, leve, solto, feliz, e o papagaio voa ao sabor dos seus movimentos, dando indicações ao menino para onde virar. Em todos os sítios onde chegou e sabia que havia pessoas doentes, largou centenas de luzinhas, que seguiram o seu caminho, e foram ter com quem mais precisavam. As pessoas melhoraram e ficaram curadas. 
           Depois, pediu ao vento para levar as luzes para mais longe, onde havia guerra. As luzes voltaram para os campos do menino, umas semanas depois, todas furadas e fundidas, umas largas centenas. O menino nem queria acreditar! Os dois choraram destroçados, perceberam logo que a maldade tinha ganho nesses países, e que até desfizeram as luzes. Começaram a pensar em como estariam as pessoas...se as luzes estavam naquele estado...como não estariam as pessoas, e as crianças, as casas...tudo! 
- O feiticeiro tinha razão! O amor não se vende por aí, tem de vir do coração de cada um de nós, juntamente com a felicidade, a bondade, a vontade de ser bom, e a humildade. O amor é mágico, mas os feiticeiros não podem fabricá-lo! Tem de partir de cada um, já tem de estar em cada um. - Diz o menino ainda a chorar
 - Óh! E nós temos isso tudo, porque nos devolveram as luzes naquele estado? - Lamenta o papagaio 
- Porque não tinham o mesmo que tu, filho! - Diz o feiticeiro que apareceu de repente, sem se saber de onde. 
- Ai que susto...estava tão mergulhado na minha tristeza que não te vi chegar. Já viste o que aconteceu? As luzes que mandei para os países em guerra, voltaram todas furadas! - E desata outra vez a chorar. 
- Claro! Entendo a tua tristeza! Eu disse-te que não podia fabricar paz, tentei fazer umas luzes que despertassem a paz, mas a maldade é tanta que eles nem as viram, não perceberam para que eram! 
- As outras foram entregues, e resultaram! - Diz o menino a chorar 
- Pois! As que curaram. Porque essas pessoas precisam de amor, de abraços, de todos os ingredientes vindos de corações bons, puros, como o teu! O teu desejo era sincero e funcionou.- Diz o feiticeiro 
- Mas o meu desejo para a paz nos países em guerra também era sincero! - Garante o menino 
- Não tenho dúvidas disso. Mas o deles não era! Foi por isso que elas voltaram. - Diz o feiticeiro 
- Óh, estou tão triste! - Diz o menino
- Eu também. Tinha tanta esperança que iam funcionar! - Acrescenta o papagaio
- Parte dela funcionou! Deves sentir orgulho e ficar feliz por isso.- Diz o feiticeiro
- E a outra? - Pergunta o menino 
- Com a outra não podes fazer mais nada, filho! Não vais ser tu a mudar os corações de pedra, que só tem maldade! 
- Porque é que eles são assim? Já pensaram na quantidade de pessoas que...bem, nem quero imaginar como estarão as pessoas, as casas e tudo...se as luzes ficaram assim! 
- Pois! É melhor nem imaginar! Mas continua a pedir nas tuas orações, que haja paz. Pode ser que um dia chegue lá a tua luz, e a de muita gente, a luz da bondade, a luz do amor, do bem. Não podemos fazer mais nada, infelizmente. Apenas podemos espalhar essa luz tão bonita, pelos que estão mais perto de nós, e pelos que querem recebê-la! - Explica o feiticeiro
- Entendi. - Diz o menino
            E naquela tarde, o menino continua triste, arruma as luzes numa gruta, e por cima de cada uma delas deixa cair uma lágrima, tal como o papagaio que o ajuda a arrumar. À noite, chorou outra vez e pediu paz. Ele não conseguiu levar paz e luz aos países que estão em guerra, como queria, mas conseguiu distribuir a sua luz, pelas pessoas que mais precisavam à sua volta, a quem ele ajudava, sorria, abraçava, visitava, com quem brincava, e falava, a quem dava carinho, e a quem dizia palavras simpáticas.
           Ele era um menino bom! Depois da tristeza, voltou a ser o menino feliz que era, que corria livre pelos campos, e adorava que o vento brincasse com os seus cabelos, a fazer voar o seu amigo papagaio. 
           Nós também não podemos acabar com a guerra nos países lá muito longe, mas podemos levar as nossas luzinhas mágicas, às pessoas mais próximas de nós, do bem, com corações bons, ao fazermos pequeninas coisas por elas, como o menino! 
           Experimentem, e podem experimentar rezar também pela paz! A paz só podemos fazer por nós, connosco e com os outros à nossa volta, ela já existe em alguns corações. Vocês conhecem corações bons? 

Fim 
Lálá 
22/Janeiro/2018
 

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