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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Os cachecóis da Avó Sonho


Era uma vez uma senhora chamada Maria do Sonho, mãe de 8 filhos, e Avó de 18 netos. Estava divorciada há uns anos, vivia numa vivenda nos arredores de uma grande cidade, com alguns gatos e cães, e era feliz. Todas os dias e noites a senhora tinha lá netos, que dormiam com ela, e até levavam amigos. A senhora quase não tinha sossego, mas os momentos que tinha livre gostava de costurar cachecóis, cada qual o mais bonito, colorido, macio, algumas mantas e colchas, roupinhas para bebés e outros mimos. Enquanto os construía, sorria. Um dia, um dos netos ficou a observá-la e perguntou-lhe:
- Avó, porque fazes tantas coisas dessas?
- O quê?
- Isso, com as agulhas e linhas.
- São cachecóis.
- E porque fazes isso?
- Gostas?
- São bonitos.
- Faço porque gosto.
- Então é por isso que sorris?
- Sim! Cada linha, cada cor, é uma recordação feliz da minha vida.
- A sério?
- Sim.
- É por isso que sorris?
- Também! Gosto de recordar momentos felizes! E quando recordamos momentos felizes, sorrimos!
- Pois é. E que recordações são essas?
- São de muitas situações. Da minha infância, da minha adolescência, com os teus pais, com os teus tios, contigo e com os teus primos...
           De repente a Avó fica com dores nos dedos e nas mãos. Para assustada, suspira e geme.
- Aiiii...
- O que foi Avó?
- Estou com dores nas mãos e nos dedos.
- Óh...queres que eu chame ajuda?
- Não. Deixa estar. Isto já passa.
- Descansa um bocadinho.
- Isso, mesmo! Deve ser mesmo destes movimentos repetitivos.
          Pousa a agulha e as linhas, e vai para a beira do neto, vão os dois alimentar os animais. No dia seguinte, a Avó Sonho tenta tricotar, mas as dores nos dedos e nas mãos não a deixam. Ela fica aflita, e chora, triste. Vai ao médico, e este diz-lhe que não pode voltar a tricotar. A pobre Avó desata num choro sem fim.
- Óh. Não posso acreditar! Como é que isto foi acontecer? E agora? O que é que eu vou fazer?
         Ao chegar a casa, liga para os filhos, cheia de tristeza e lágrimas. Os filhos enchem-lhe a casa, com os netos, e tentam animá-la, mas nessa noite não dorme. Fica a olhar para as linhas, e fala com elas:
- Óh, minhas queridas, e agora que não posso mexer-vos mais? O que vou fazer sem vocês? Como vou bordar e tricotar as minhas recordações felizes, antes que a minha memória me atraiçoe? O que vou fazer convosco, memórias felizes, se agora não vos posso juntar, nem fio por fio, misturar-vos e ligar-vos? Óh! Como vou sorrir, agora? Eu gostava tanto de vocês... era tão feliz!
           De repente, ouve uma voz:
- Então, Sonho, que tristeza é essa?
           A avó estremece:
- Quem está aí?
- Sou uma recordação tua, feliz.
- Quem?
           Aparece uma pequenina luz.
- Reconheces-me?
           A avó abre um grande sorriso:
- Olá! Há quanto tempo que não nos víamos. Por onde andaste?
- Estive sempre aqui, e já me tricotaste várias vezes nas tuas coisas! Ainda estes dias.
- Sim, é verdade...lembro-me de ti.
- Fomos tão felizes, juntas, não fomos?
- Fomos! Estou muito triste...o médico diz que estou velha, não posso mais tricotar, porque se o fizer, posso não conseguir mexer mais os dedos. O que vou fazer agora, para que a minha memória dos momentos felizes, não me atraiçoe? Os momentos tristes não faz mal se não me lembrar, mas os momentos felizes, não quero esquecer.
- Não te acredites no médico! Só tens de descansar um pouco mais.
- Óh, eu já não sirvo para nada...
- Não digas isso, nem penses numa coisa dessas. As tuas memórias felizes não te vão deixar, elas estarão sempre aí, eu tomo conta delas. Daqui a uns dias vais voltar a conseguir tricotar outra vez.
- Achas? Como?
- Acredita em mim! Nós estamos aqui para te ajudar.
           As duas têm uma longa conversa, riem, bebem um chá juntas, e a Avó adormece quase de manhã. A luzinha sua amiga cobre-a com carinho, com uma grande manta que a Avó fez, e calça-lhe umas luvinhas mágicas que lhe tiraram a dor. Deixou-lhe uma flor com uma mensagem: «Querida sonho, voltarei em breve! Continua a tricotar memórias felizes.»
           Quando a Avó Sonho acorda, fica surpresa, mexe as mãos e para grande felicidade, não sente dores. Volta a tricotar, e faz um cachecol sobre as suas lágrimas que chorou nessa noite, e linhas mais coloridas que representavam a felicidade de já não sentir dores, e de poder voltar a tricotar. Mas percebeu que não podia fazê-lo durante muitas horas, como antes, e aprendeu a fazer outras coisas que gostava, mas nunca deixou de tricotar. Tricotava sempre com um enorme sorriso, e toda a família ficou feliz com essa recuperação da Avó Sonho.
          A sua amiga luzinha tinha toda a razão, e voltou para partilhar com ela mais momentos felizes. Por serem recordações felizes é que tudo o que a Avó Sonho tricotava era tão especial e bonito! Quando estamos felizes tudo é mais bonito, temos mais saúde, ficamos mais bonitos, e deixamos outros com mais luz, porque talvez possamos fazer parte das suas recordações felizes, que os fazem sorrir.

E vocês? Se tricotassem, ou se tivessem uma Avó Sonho que tricotasse, que cores usariam? Que recordações tricotariam?

                                                                         FIM
                                                                         Lálá
                                                              (13/Dezembro/2017)
                                                                        
     

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