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domingo, 19 de junho de 2016

As botas

Lara Rocha 

Era uma vez uma família de andorinhas que emigrou do seu país de origem pelas alterações climáticas, que tornaram o ar da cidade muito poluído, com ondas de calor insuportáveis daquelas que nem dava para mexer uma pena…e muitos ficaram doentes porque em vez de boa comida e água limpa, passou a haver toneladas de lixo.
Voaram milhares de quilómetros, pararam em vários sítios que gostaram para descansar, mas decidiram continuar, até que chegaram a uma aldeia no meio de uma montanha muito alta, com muito poucas casas, muitas árvores, e gado a pastar.
O vento estava forte, apesar de sol. Viram uma fonte, beberam, refrescaram-se, e pousaram na relva macia, debaixo de uma árvore à sombra. Olharam em volta, respiraram e gostaram do ar, do silêncio quase total que já não ouviam há tanto tempo, sentiram paz, e que era ali!
Tinham encontrado finalmente um sítio que reunia tudo o que queriam, procuravam…quer dizer…só faltava uma casa! Haviam de encontrar, mas primeiro quiseram descansar…estavam tão cansados que nem ouviram os movimentos e as vozes das pessoas. Só acordaram quando a fome apertava, e comida não faltava! Estavam mesmo em paz.
Quando se sentiram mais fortes foram conhecer a floresta à procura de um ninho, e tudo era lindo: as flores, as árvores, as fontes, os animais, os sons e as cores que os rodeavam…até que viraram as cabeças e viram umas botas grandes que tinham ar de ter sido abandonadas! E estavam mesmo abandonadas. Tinham sido deixadas por um dos humanos por estarem velhas.
Elas não sabiam que o que estavam a ver eram botas, só que já tinham visto muitas nas cidades por onde passaram à beira do lixo. Espreitaram, não cheiravam a nada e por dentro estavam boas.
As andorinhas não procuraram mais, pois já estavam habituadas a ter de se desenrascar, inventar e criar habitações, meios de sobreviver e de se protegerem. Aproveitaram o par de botas e puseram-nas encostadas a uma árvore muito grande, velha, com um grande buraco no tronco.
Usaram tudo o que precisavam e mais gostavam para o ninho que ficou dentro do tronco, muito espaçoso e aconchegante, confortável. Uma bota pousada num ramo de uma árvore serviu de teto para tapar o ninho e a outra bota serviu de porta que elas puxavam nos dias de tempestade e frio.
Estavam maravilhosamente bem instaladas e sossegadas, rapidamente conheceram outras andorinhas que também tinham fugido e que se instalaram nas árvores à volta, quase parecia um condomínio fechado, onde todas eram como família, e usavam às vezes a bota da porta para abrigar, quando havia convívios nos dias frios e chuvosos. Todas partilhavam coisas umas com as outras, o que precisavam, todas ajudavam e faziam muitas festas.
Quando chegou a altura de ovos e bebés, a bota de entrada serviu muitas vezes de infantário onde estavam sempre acompanhados e vigiados por adultos que se revezavam enquanto iam buscar comida.
Umas fadas gostaram tanto da ideia das andorinhas que preparam uma surpresa para todas. Arranjaram mais pares de botas que estavam velhas e transformaram-nas em autênticos prédios para andorinhas, espaçosos, climatizados com uma temperatura sempre agradável que todas suportavam bem, com janelas que abriam e fechavam, infantário, parque e centro de convívio para as andorinhas mais velhas…depois, estes prédios abrigaram outros pássaros de outras espécies que eram sempre muito bem recebidos.

O que alguns deitam fora só porque estão com um aspeto menos bonito, outros aproveitam!

                                                           FIM
                                                           Lálá
                                                    (17/Junho/2016)
   

   

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