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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

O grilo


Desenho e foto de Lara Rocha 

        Era uma vez um grilo que fugiu de um país muito quente, onde deixou de haver árvores…foram todas queimadas pelas mãos de homens ambiciosos, não havia mais erva, porque também deixou de existir água, por isso, todos os animais tiveram de sair com grande tristeza e à pressa.
Todos caminharam muitos e muitos quilómetros, os que se cansavam depressa ficavam no primeiro sítio onde se sentiam bem, com sombra, água fresca e ar puro, outros andaram mais um pouco porque sentiam que mais à frente poderia ser mais seguro, e ainda outros continuaram.
Um grilo caminhou e encontrou um repouso, quando apanhou uma tempestade e teve de se abrigar…escolheu debaixo de um cogumelo grande e largo, que vivia num jardim de uma casa. Estava muito frio e ele sentia fome.
Uma coruja que estava sempre pousada na enorme árvore que abrigava o cogumelo, fazia a sua ronda nocturna com os seus olhos gigantes, e sentiu alguma coisa estranha. Pareceu-lhe ter visto uma sombra pequenina e muito frágil passar no jardim. No inicio não ligou…estava a chover muito, frio e muitos animais passavam por ali. Como não perturbavam, ela deixava-os ficar. Entretanto, quando olha para baixo, o cogumelo chamou-a.
- Está tudo bem aí em baixo, cogumelo? – Pergunta a coruja
- Temos uma visita… - Diz ele baixinho
- Quem?
- Anda cá ver.
A coruja desce, e pousa no solo. Debaixo do cogumelo está o frágil grilo, que traz consigo um instrumento musical e um saco com algumas coisas. Ele estava muito cansado e a tremer tanto que não conseguia abrir o saco para tirar de lá comida, água e roupa. As poucas coisas que ele tinha conseguido levar.
- O que temos aqui…? – Pergunta a coruja
O grilo treme ainda mais e deixa-se cair, todo encolhido.
- Um grilo… - Observa a coruja
- Sim…vais comer-me? Bom proveito…não sei se vais gostar. – Diz o grilo
- Óh, que disparate…eu…comer-te? Não… estou preocupada.
- Sou um grilo da paz. Mas se quiseres manda-me embora.
- Tu já costumas vir para aqui?
- Não. Só quero um sítio para me abrigar e descansar…estou…muito fraco. Já venho de muito longe.
- De onde?
- De uma terra que se transformou num deserto, sem água, sem árvores, sem relva… por mãos maldosas, gente ambiciosa que destrui tudo…
- Mas que horror!
- Já andei muitos quilómetros…acho eu…não sei quantos.
- Óh, fica à vontade. Não estás nada bem. Olha para ti…precisas de ajuda? Claro que sim… (abre-lhe o saco) Acho que precisas disto…e…disto…não…espera…vou arranjar-te algo melhor.
- Óh, não quero incomodar. Só quero descansar…e quando acordar procuro outro sítio. Por favor…deixe-me ficar aqui, só esta noite.
- Não te preocupes…podes ficar sempre aqui…esta pode ser a tua casa, se gostares do sítio. Ninguém se vai incomodar. Espera aí…
O grilo deita-se encolhido, a coruja arranca umas folhas grandes da árvore, umas cascas e volta a descer.
- Ora levanta-te…por favor.
O grilo levanta-se com muita dificuldade, a coruja faz uma bela e confortável cama para o grilo, pondo a casca da árvore por baixo, em forma de barco, duas grandes folhas da árvore.
- Deita-te, e experimenta se está confortável. – Diz a coruja
O grilo deita-se, surpreso e diz com um grande sorriso:
- Está maravilhosa…mais que confortável…perfeita.
A coruja sorri, e voa outra vez, vai buscar pedaços de musgo e penas de pássaros que se amontoaram no jardim. Volta e vê que o grilo está a comer e a beber o que lhe restava.
- Boa. Quando quiseres deita-te.
No fim de comer, o grilo deita-se, e a coruja cobre-o delicadamente, com a roupa que ele trazia, mais o musgo enrolado numa folha grande, e as penas presas.
- Estás confortável? – Pergunta a coruja
- Maravilhosamente confortável. – Responde o grilo
- Quente? – Pergunta a coruja
- Muito quente. Muito obrigada. Quer dizer…obrigado é pouco para tudo isto que estás a fazer por mim.
- Não te preocupes com isso! O que eu quero é que estejas bem. E qualquer coisa que precises, estou nesta árvore. Aqui estás protegido do frio, do vento e da chuva. Mesmo assim, se sentires frio ou precisares de alguma coisa diz-me… ou ao cogumelo. Agora…descansa!
- Combinado. Muito, muito obrigado.
A coruja voa para a sua toca, sempre atenta a tudo, e o grilo dorme a noite toda, e nos dias seguintes, só acorda quando sente fome, vai buscar comida, recomendada pelo cogumelo, e volta a dormir. A coruja está sempre de vigia.
Uma semana depois, o grilo está como novo. Alimenta-se, e sai da sua casa:
- Sim, eu quero ficar aqui. – Diz o grilo
E vai explorar todo o jardim. Fica encantado! Mete logo conversa com as flores e outros animais que por lá andam, muito simpático, faz grandes amigos, que lhe dão coisas que ele precisa, mesmo sem ele pedir.
Uns dias mais tarde, ele sente saudades do seu instrumento musical, acompanhado do seu belo canto, e começa a tocar timidamente para não incomodar. Muitas cigarras e outros grilos saem das tocas, muito curiosos para ver quem estava a tocar daquela maneira, o cogumelo fica a ouvir deliciado, e de repente o grilo pára.
- Áh! – Exclamam todos
- Que lindo… - Suspira uma cigarra
Todos aplaudem. 
- Continua mano… - Diz outro grilo
- Tanta timidez para quê? – Pergunta outro grilo desafiador mas simpático
- Toca mais… - Diz outro grilo
- Sim… - Incentivam todos
- Obrigado! – Diz o grilo a sorrir
Todos querem saber tudo sobre ele e fazem-lhe muitas perguntas, ele responde de forma simpática e delicada a todos. Todos se oferecem para o ajudar, acolhem-no e integram-no como mais um da família deles. ele fica muito feliz.
- Porque paraste, amigo? – Pergunta o cogumelo
- Não quero incomodar…desculpa! Tive saudades do meu instrumento…
- Mas não incomodas nada. Continua. Eu estava a gostar tanto. Que instrumento é esse?
o grilo sorri:
- A sério? Pensei que te ia incomodar…
- Não…
- É um violino.
- Violino? Huummm… nunca ouvi falar.
- Há umas meninas com asas que também tocam muito bem este instrumento.
- As fadas.
- Isso. Conheces?
- Sim, muito bem…sou um grande amigo delas. Elas vêm aqui muitas vezes…vão adorar conhecer-te e saber que tocas o mesmo que elas…Adoro esse som. Não tenhas vergonha de o tocar. É tão lindo…tão bom ouvi-lo.
- Obrigado.
- Toca mais…por favor!
O grilo fica tão feliz que toca alegremente, e o cogumelo dança, ri, e aplaude. As fadas ouvem e aproximam-se. O grilo sorri envergonhado, mas depressa fica à vontade, porque elas pedem-lhe para tocar mais, e acompanham-no.
Cresce logo entre eles uma linda amizade, e dias depois dão fantásticos concertos de música a tocar todos juntos…todos os animais e flores do jardim adoram esses momentos musicais, dançam, convivem, conversam, brincam, cantam, aplaudem e deixam-se levar pelas músicas.
Num instante, todos ficaram a conhecer o grilo. Até a menina da casa foi conhece-lo e pedia-lhe para ele tocar…enquanto ele tocava, ela sonhava, e brincava com as fadas, fazia os seus trabalhos da escola muito mais feliz e muito mais bonitos.
A coruja estava sempre a tomar conta dele e a aquece-lo quando caiu neve, e a menina também cuidava da casinha dele, com todo o carinho, tal como as fadas. Era tratado com muito carinho por todos, era muito feliz e fazia os outros muito mais felizes. 
Já imaginaram um grilo a viver no vosso jardim?
Já o ouviram cantar?
Fim
Lálá
19/Novembro/2015
   

    

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