Era
uma vez uma casa sombria, pintada de negro, com móveis negros e a própria
pessoa que lá vivia era igualmente uma figura escura, que se vestia sempre de
negro. Tinha ficado assim porque vivia sempre
numa grande tristeza, por estar longe da sua casa, da sua família e por não ter
amigos. Como ele se vestia sempre de escuro, as outras pessoas tinham medo
dele.
Ele não era mau. Era apenas uma pessoa
triste e solitária. Os seus melhores amigos eram os livros, que tinha às
centenas em casa, num quarto com pouco luz. Um dia, o rapaz sombrio saiu, e reparou
num lindo arco-íris que tinha acabado de se formar na montanha. Ele nunca tinha
visto tal coisa…como passava a maior parte do tempo na sua casa escura.
Fica encantado e parece hipnotizado pelo arco-íris. Desata
a correr pelo campo fora até à montanha onde está o arco-íris, mas não consegue
apanhá-lo, porque entretanto desaparece. Isto deixa-o muito
irritado, e corre mais um pouco. Procura numa gruta, escura onde entra aos
gritos, e só vê luzes pequeninas verdes a aparecer.
- O que venha a ser isto? –
Pergunta um morcego irritado
- Que barulho é este? –
Pergunta outro morcego
- (boceja) Ááááhhh…quem é
que nos veio interromper o sono?
O rapaz está cheio de medo.
- Desculpem…quem são
vocês? – Pergunta ele a tremer
Os morcegos dão uma sonora gargalhada.
- Olha, olha…estamos a ser
visitados por um esqueleto! – Comenta um morcego a rir
- E treme! – Diz outro
morcego às gargalhadas
- Óh meu…vasa daqui. – Diz
um morcego calmo
- Onde estou? – Pergunta o
rapaz
- Ora…na nossa casa! –
Responde um morcego a rir
- Quem te deu permissão
para entrar? – Pergunta uma morcega chateada
- A porta está sempre
aberta… - Responde outro morcego
- Áh! Pois é. – Responde a
morcega
- Mas parece que ele ou…ela…ainda
não percebeu onde está. – Diz outra morcega a rir
Os morcegos voam à volta do rapaz, nervosos e guincham pela
gruta, e expulsam o rapaz de lá, aos gritos, cheio de medo. Ele corre e
cruza-se com um cavalo que trava a fundo e levanta uma poeirada.
- Ai, que susto! Isto são
maneiras de se andar pelo campo? – Relincha o cavalo
- Desculpa…não te vi.
- Eu sou bem grande. Quase
te passava a ferro…estás louco?
- Não. Só fujo de uma
gruta de morcegos…
- Áh! Fino…foste-te meter
na toca dos morcegos… (ri) esperto! As coisas não correram bem pois não? Eles odeiam
ser perturbados…
- Pois. Eu não sabia que
tinha entrado na toca dos morcegos.
- Não conheces a zona?
- Não.
- Áh! E o que vieste fazer
por aqui?
- Vim atrás de umas riscas
coloridas que vi em cima do monte.
- Riscas coloridas? Ááááááhhhh…tu
não estás bom dessa mioleira… os morcegos viraram-te ao contrário. Que riscas
coloridas? E logo no monte… (ri)
- Estavam ali. (O arco-íris
aparece outra vez) Olha, estão ali outra vez…sabes o caminho para lá?
- Sei, mas para que vais
atrás do arco-íris?
- Estou atrás daquelas
riscas às cores…
- Sim, e é o arco-íris.
- Áh! Que lindo.
- Nunca tinhas visto?
- Não.
- Em que planeta é que tu
vives?
- Na Terra! Como tu.
- Então como é que nunca
viste o arco-íris, nem sequer sabias o nome?
- É que eu quase não saio
de casa. Vivo numa casa escura, pintada de preto, com móveis pretos…
- Ui! Porquê?
- Porque sou um rapaz
triste, vivo na tristeza.
- Isso é muito mau. Devias
ter uma casa colorida para te alegrar.
- É por isso que estou
atrás das riscas do arco-íris.
- Desculpa desiludir-te,
mas nunca vais conseguir agarrar o arco-íris.
- Porquê?
- Porque ele não se agarra…é
uma ilusão…quando o sol bate na água…
- Mas se ele aparece e
desaparece é porque alguém o tira…
- Não. Ele aparece e
desaparece porque quando não há sol na água, não há cores.
- Mas eu quero aquelas
cores.
- Queres sair da tristeza?
- Sim.
- Então tens de pintar a
tua casa, com cores alegres.
- E como é que eu pinto a
minha casa?
- Ora…com pincéis,
trinchas…e tintas.
- E onde arranjo isso?
- Numa loja de tintas na
cidade.
- Paga-se?
- Claro que se paga…
- Mas eu não tenho
dinheiro. Nunca vou conseguir pintar a minha casa de cores…
- Não digas essas coisas
tão tristes. É claro que vais conseguir. Não é assim tão caro, e podes sempre
pedir aos teus amigos ou familiares…
- Estão muito longe.
- Vá lá, não inventes
obstáculos. Hás-de encontrar uma maneira. Anda…vou levar-te a conhecer a área.
- (sorri) Óh…não tens medo
de mim?
- Medo? Eu?
- Sim.
- Porque haveria de ter
medo de ti?
- Porque estou vestido de
negro. Toda a gente foge.
- Não sei porquê! É só a
tua roupa. O meu pêlo também é de cor preto…é só uma cor que tu gostas. Não mete
medo nenhum.
- Obrigado! – Diz o jovem
a sorrir
- Sobe. – Diz o cavalo
Ele sobe, e os dois vão passear sem
pressa, a conversar e a ver a paisagem. O rapaz sente-se muito feliz. Ao fim do
dia, os dois tornam-se grandes amigos, e o cavalo quer ajudar o amigo.
Depois de o deixar em casa, vai de porta
em porta, pela aldeia, e fala com as crianças e com adultos. Pede tintas de
cores alegres e pincéis. Ele conta a história do rapaz, e já todos sabem que
está a falar do rapaz que vive na casa de cor preta, e que anda sempre de roupa
preta.
Todos se prontificam a ajudar o rapaz. Juntam-se,
e reúnem todo o material que necessitam para pintar a casa. No dia seguinte, o
cavalo vai ter com o rapaz e convida-o para ir ao monte. O rapaz aceita logo,
feliz.
Enquanto os dois vão sem pressa passear
e a conversar alegremente, ainda de madrugada, todos os habitantes se juntam e
decoram a casa do jovem.
Pintam em alguns pedaços da parede preta, vários e enormes
arco-íris, sóis, céus azuis, praias, paisagens...cada um faz o desenho que mais
gosta. Pintam os móveis de cores claras, e ao fim do dia, a casa estava nova.
O cavalo volta com o jovem já quase à noite, e todos os
habitantes estão escondidos dentro da sua casa. Quando ele abre a porta,
aparece uma criança com uma lanterna virada para a sua cara e diz:
- Bem-vindo ao mundo da
luz!
Ele fica gelado com o susto.
- O que é que está a
acontecer?
De repente acendem-se luzes por todo o
lado, fortes. Os habitantes fizeram a instalação eléctrica em toda a casa, e
lâmpadas em todas as divisões, com uma luz forte.
O rapaz estremece, solta grandes exclamações, olha para todo
o lado, e abre um grande sorriso:
- Não acredito!
- Gostas da tua nova casa
da luz? – Pergunta o cavalo
- Adoro…está maravilhosa…linda…!
Quem fez isto?
Aparecem todos os que pintaram a casa dele, os que fizeram os
desenhos e encheram uma casa escura de luz, claridade, cor e brilho. Todos o
abraçam e dão as boas vindas.
- Óh…até estou emocionado!
Muito obrigado…são maravilhosos!
Entram umas avós com bolos e um belo jantar.
- Óh, que honra…! Sintam-se
na vossa casa…
Eles juntam mesas que levaram, cadeiras, pratos, talheres, e
copos, e festejam a nova versão do rapaz da casa escura. Conversam alegremente,
riem muito, dançam, brincam, tiram fotografias, e comem bem.
Desde esse dia, o rapaz de escuro, que vivia na casa
escura, encheu-se de bons amigos, que estavam sempre a convidá-lo e a conviver
com ele, passou a vestir roupas mais claras, e a ser feliz…sempre com um
sorriso iluminado, contagiante, e ajudava sempre os seus amigos, vizinhos, como
forma de lhes retribuir a nova decoração. Passou a estar muito tempo fora de
casa.
Que grande transformação! Não teve o arco-íris que ele
queria…o natural que via no monte, mas ganhou muitos arco-íris na sua vida.
Teve na mesma o
arco-íris na sua casa, e o sol pintados nas paredes, que tornavam a casa muito
mais luminosa e clara. O rapaz que vestia roupa escura e que vivia numa casa
escura, tornou-se um rapaz cheio de cor e de luz, com um sorriso que encantava
todas as meninas e senhoras que o viam. Ele tinha um arco-íris gigante dentro
de si.
As cores e as luzes
fazem-nos muito bem. Dão-nos alegria, leveza, vida, e saúde.
FIM
Lálá
(12/Outubro/2014)
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