No mundo das guloseimas

           

 

      

          Era uma vez, no mundo das guloseimas, onde tudo era feito de doces, até as casas, os bancos, a natureza e os habitantes. Um dia, uns meninos foram visitar esse mundo, e ficam encantados com a diferença.

        Não era nada igual ao mundo deles. No mundo das guloseimas era tudo colorido, havia uma grande mistura de cheiros no ar, todos muito agradáveis e doces. 

   Era gomas, rebuçados, chocolates, chicletes, esponjas e algodões doces de todos os tamanhos, cores e formas, por todo o lado.

       Como os meninos quase não comiam daquilo na sua cidade, porque os pais não deixavam, aproveitaram, e fartaram-se de comer um bocado de tudo o que apanharam.

    Comeram tanto doce, tanto doce, que ficaram umas bolas. Nem se conseguiam mexer, com barrigas, braços e pernas cheias de dobras na pele, e pareciam balões. Até os botões das roupas despregaram. Eles estavam completamente enjoados, e a rebentar com tanto doce.

Todos os habitantes riam deles.

- Bem-feita! – Diz uma menina feita de goma

- Quem vos mandou comer tanto? – Pergunta uma chiclete

- Estão ali que nem se mexem… - Diz uma esponja doce a rir

- E agora…? – Perguntam os meninos muito assustados e cheios de dores de barriga

- O que é que fazemos? – Pergunta um menino desesperado

- Eu não me consigo mexer. – Diz outro

- Eu também não! – Acrescenta outro menino

- Sinto-me muito estranha! – Diz uma menina

- Olhem para nós… - Sugere outro menino

- Estamos no dobro. – Repara uma menina

- Não sei como consegui comer tanto! – Diz um menino

- As coisas aqui são mesmo boas. – Comenta uma nuvem de algodão doce que passa por cima deles

- Pois são! – Dizem os meninos

- Porque comeram tanto? – Pergunta um pássaro de rebuçado

- Porque na nossa cidade, os nossos pais não nos deixam comer doces. – Explica uma menina

- E fazem eles muito bem! – Diz uma flor de esponja doce

- Achas? – Pergunta um menino

- Com certeza! – Dizem todos

- É. Eu ficava zangada quando os meus pais me proibiam de comer doces, mas agora…ainda bem que eles não me deixam comer doces. – Diz uma menina

- Parece que os nossos grandes têm sempre razão… - Comenta outra menina

- Que grandes? – Pergunta um menino

- Os nossos pais e avós, que não nos deixam comer doces, e aqueles que dizem que isto faz muito mal à nossa saúde. – Responde a menina

- Pois! – Dizem os meninos

- Eu não queria que eles tivessem razão, mas têm mesmo razão! – Confirma outro menino

- Pois têm! – Respondem todos em coro

- Ai, sinto-me tão mal… - Suspira uma menina agarrada à barriga

- Também eu…mas não consigo agarrar a minha barriga sequer. – Diz outra menina

- Ai…! – Gemem todos

- Detesto sopa, mas acho que agora até gostava de comer sopa…- Diz um menino

- E eu, detesto alface…mas agora comia, em vez destes doces todos! – Diz outra menina

- Será que vamos voltar ao tamanho normal? – Pergunta uma menina assustada

            Aparece uma fada a rir:

- Mas que lindos que vocês estão!

- Lindos? – Perguntam todos

- Deves estar a brincar! – Diz uma menina

- Sim, estão tão fofos…áh, áh, áh… - goza a fada

- Que má! – Dizem todos

- Nós aqui a rebentar…e tu ainda te ris! – Resmunga uma menina

- Ninguém vos mandou comer tanto. Nunca vos disseram na vossa cidade que isto faz-vos muito mal?

- Sim! – Respondem todos

- E mesmo assim, chegaram aqui e comeram todas as guloseimas que apanharam.

- É que eram irresistíveis! – Diz uma menina

- Pois, e como não podíamos comer na nossa cidade, aproveitamos aqui. – Acrescenta um menino

- Por alguma razão é que os crescidos, com mais juízo que vocês, não vos deixam comer…já viram como iam ficar se eles vos deixassem comer tudo o que querem, de doces, como aqui? – Pergunta a fada

- Ficávamos horríveis. – Responde um menino

- Uns monstros. – Diz uma menina

- Toda a gente se ia rir de nós. – Lembra uma menina

- É. E chamar-nos gordos. – Acrescenta outro menino

- Que horror. – Respondem todos

- Foram teimosos… - Diz a fada

- Os adultos têm toda a razão. – Admite uma menina

- Não pensava que estas coisas tão boas nos fizessem tão mal. – Resmunga outra menina

- Por isso é que os adultos não vos deixam comer…ou se deixam é pouco de cada vez, e assim é que está bem. – Diz a fada

- Pois! – Respondem todos em coro

- E isto de ficarem umas bolas e mal-dispostos é só uma amostra do mal que tanto doce vos faz à saúde. – Informa a fada

- Ainda há mais? – Pergunta outro menino

- Muito mais. – Garante a fada

- Ai…! – Gemem todos

- Não vamos voltar à forma normal? – Pergunta outra menina

- Vão. Mas prometem que agora vão comer bem? – Pergunta a fada

- Sim! Prometemos! – Dizem todos em coro

- Só comerão coisas saudáveis… - Diz a fada

- Sim. – Prometem todos

- Depois deste açúcar todo, não vou comer doces tão cedo! – Garante uma menina

- Fazes tu muito bem! – Elogia a fada

- Eu não gostava de sopa, mas acho que vou começar a gostar!

- E eu de salada!

- Isso mesmo. – Diz a fada

- Detesto dar razão aos adultos, mas agora dou toda a razão, e das próximas vezes vou ouvi-los, e obedecer-lhes! – Garante outra menina

- Eu também! – Dizem todos

- Acho muito bem. Os adultos sabem que isto é muito mau para vocês, é por isso que não vos deixam comer, ou se comem…é pouquinho…! É muito mais importante, e muito melhor para vocês comerem coisas saudáveis, como sopas e saladas, peixe…e outras coisas que não gostam…é melhor aprenderem a gostar. O vosso corpo agradece. – Informa a fada

- Tens toda a razão! – Dizem todos

            A fada transforma-os nos meninos que eram. Eles suspiram de alívio e quando regressam a casa, parece que comeram nada. Estão bem-dispostos, risonhos, e surpreendem os pais, a comer os alimentos bons, mesmo aqueles de que não gostavam.

            A lição não foi esquecida, e as promessas dos meninos não foram quebradas.

FIM

Lara Rocha 

(3/Outubro/2014)