Era uma vez um lavrador que tinha um campo enorme recheado de abóboras. Umas ainda só tinham os troncos e as folhas arrepiadas e enormes, que cobriam delicadamente as flores de futuras abóboras, outras, já tinham as cabecinhas a espreitar, e outras já estavam a crescer.
Além das abóboras, o lavrador tinha no
seu campo, belos e enormes cachos de uvas pendurados nas redes…Huummm…tentadoras!
Apetecia comer só com os olhos. Maçãs, pêras, laranjas, romãs e amoras
silvestres também faziam parte.
Era um lavrador orgulhoso e vaidoso do
seu campo. Tudo era tão apetitoso e provocador, que até toupeiras e companhia
chegaram a comer sementes de abóbora e cabaço. Viam-se muitos buracos na terra.
O lavrador ficou fora de si, de tão
raivoso, e tentou várias vezes apanhá-las mas elas eram muito espertas…só
apareciam ao fim da tarde, quando o lavrador não estava.
Pensando que resolvia o atrevimento das
toupeiras e impedia que comessem as outras sementes, construiu um espantalho
assustador!
Um molho de palha, enorme, vestiu-lhe uma roupa,
pôs-lhe um bigode e barba feitos em lã, uns olhos gigantes, feitos de bolas de
futebol, com casca de laranja, uma carcaça de espiga, sem bolinhas de milho, a
fazer de nariz e uma boca de tábuas com pregos a fingir que estava aberta e
cheia de dentes.
Pôs um chapéu e uma vela no cimo. Estava mesmo
assustador. Mas, infelizmente as coisas não correram como ele esperava. Uns morcegos
passaram a voar baixinho e chocaram com a vela acesa. Ficaram com as asas
chamuscadas, e guincharam nervosos. Deitaram a vela abaixo, e esta queimou o
espantalho todo. O seu suporte e toda a palha de que era feito…a roupa…não
sobrou nada! O espantalho ficou em cinzas.
O lavrador ficou muito assustado e triste. Não percebeu
que foram os morcegos a destruir com a vela. Mas não desistiu. Ele tinha mesmo
de proteger aquele campo, por isso, construiu outro espantalho, com uma
decoração ainda mais feia e aterradora. Pô-lo no mesmo sítio do outro, com a
certeza de que agora estava mesmo seguro.
Mas, infelizmente…saiu tudo ao contrário do que ele
esperava! Durante a noite…enquanto o lavrador dormia, vários casais de cegonhas
que vinham de muito longe, gostaram do sítio e estavam muito cansadas. Então,
instalaram-se lá...atacaram o espantalho, tirando muitos pedaços de palha para
fazer os ninhos.
Por estar incompleto e faltarem várias partes, vários
outros passarinhos aproveitaram e tiraram mais pedaços. Isso fez o boneco
desfazer-se e cair.
As ovelhas, os cavalos, os burros e as vacas
aproveitaram logo e comeram a palha do boneco que estava no chão. As toupeiras
continuaram a rabear por baixo da terra e a comer raízes e sementes. Por causa
disso, alguns legumes e espigas apareceram ruídos ou estragados e murchos. As folhas
das couves e alfaces começaram a aparecer ruídas…eram os caracóis que as
comiam. Eles sabiam o que era bom.
O lavrador pensou que estava a ter um pesadelo, e não
queria acreditar que o campo estava em reboliço.
-
Malditos! Vou dar cabo de vocês… - Grita o lavrador muito zangado, quase a
explodir.
Todos os que tinham estragado o campo,
riram com vontade.
-
E agora…o que é que eu vou fazer?
Dá uma volta pelo campo, pensativo, pára
a olhar para todo o lado, triste, e não se lembra de nada.
-
Como é que aqueles horríveis entraram aqui e fizeram isto com o meu campo? Malditos!
– Grita – Apareçam covardes.
É claro que eles não aparecerem, nem
responderam, pois sabiam que não iam acabar bem. O lavrador dá outra volta, e
tem uma ideia:
-
Já sei! Desta vez não falha.
Constrói vários espantalhos,
terrivelmente feios e espalha-os pelo campo. No dia seguinte vê tudo na mesma. Planta
novas sementes.
Entretanto, numa linda noite de lua cheia, o campo é
visitado por uma bruxa e as suas aprendizes, que resolveram fazer uma festa. O resultado
dessa desta com bruxas não podia ser bom. E não foi.
Destruíram tudo. Comeram abóboras inteiras,
picaram-nas, e comeram o recheio, conviveram, dividiram as abóboras com os
morcegos que também quiseram participar na festa, e nada sobrou.
Depois ainda se juntaram umas criaturas horríveis,
desconhecidas que comeram os restos…pássaros enormes que comeram as uvas,
pequenos seres estranhos e muito feios, despiram as espigas todas e levaram com
elas as bolinhas de milho.
E por fim, uns cogumelos venenosos devoraram num abrir
e fechar de olhos, os troncos, os troços, e as folhas dos cabaços. Não sobrou
nada! No dia seguinte, o lavrador ficou destroçado, estava tão triste que
desistiu de cuidar do campo.
Na noite seguinte, uma grande surpresa…o campo é
visitado por um agricultor feito de estrelas cintilantes, e fadas. O agricultor
de estrelas e as fadas alisam a terra, limpam-na, aspiram-na, sopram-na,
afugentam todo o tipo de bichos que tentam aproximar-se com uma luz que dá
choques eléctricos.
Depois da terra limpa e alisada, o agricultor e as
fadas trabalham em conjunto: ele cava um buraquinho, uma fada deita as
sementes, outra tapa com terra, outra regra, outra aduba.
Fazem vários carreirinhos na terra e plantam abóboras,
cabaços, cenouras, cebolas, batatas, couves, milho, flores, feijões de várias
qualidades, pepinos, curgetes, olhos franceses, xuxus, nabos, nabiças, e muitas
mais coisas, incluindo árvores de frutos, nozes, castanhas, amêndoas, dióspiros,
romãs e de tudo um pouco.
Por fim, outra fadinha sacode as asas e deixa uns
lindos brilhantes na terra, e sobre tudo o que plantaram. Refugiam-se numa
casinha num tronco velho e ficam a descansar.
Todos os dias e várias noites, várias semanas, as fadas
e o agricultor feito de estrelas, iam vigiar o campo e cuidar dele. O lavrador
recuperou da tristeza quando olhou para o seu campo e tudo estava tratado,
limpo, com as produções a espreitar na terra.
-
Áh! Quem esteve aqui?
O lavrador nunca teve resposta para esta
pergunta…só viu o resultado final…um maravilhoso campo recheado de coisas boas.
tudo o que tinha sido plantado, cresceu enorme, suculento, tenro, fresco, de
encher o olho.
O lavrador colhe tudo quanto pode e come
deliciado. Oferece algumas coisas aos seus familiares, amigos e vizinhos, e
nascem umas coisas atrás das outras.
Com isso, o lavrador enriquece e volta a cuidar dos
seus campos com muita dedicação, carinho e atenção, claro…com a ajuda do
agricultor de estrelas e das fadas que ele nunca viu.
Mesmo que não os vejamos, podemos sentir, e sabemos que
eles estão lá, por todas as coisas maravilhosas que comemos, e que colhemos da
terra. Só pode ser tudo obra de uns seres muito especiais como…anjos…ou…fadas…ou…bom…aqueles
que vocês quiserem. Não acham?
A natureza é um verdadeiro milagre! Ela dá-nos tudo o
que tem de melhor, mesmo quando não a tratamos bem. Por isso, não faremos
muito, se lhe retribuirmos de alguma maneira…por exemplo, a cuidar bem dela,
protegê-la, e todos os dias agradecer o que ela nos dá! O ar, a vida, a água, a
comida…a felicidade e a paz!
FIM
Lálá
(26/Outubro/2014)
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