Era
uma vez um bando de morcegos, que decidiu mudar da cidade para o campo, porque
o ar da cidade estava a ficar demasiado poluído. Os mosquitos na cidade eram
cada vez menos e de cada vez pior qualidade, quase sem sabor, e os morcegos
andavam a ficar fracos, magros, com as forças a falhar.
Não havia praticamente sítios escuros, e os sítios que
havia mais escuros, estavam completamente lotados de morcegos. E mais…o ruído era
cada vez mais forte: música barulhenta aos gritos em muitas ruas, muitas
conversas em que um falava mais alto que o outro, parecia que ninguém se ouvia,
carros, motas, camiões e autocarros a circular a toda a hora, toda a noite, por
todo o lado.
Toda esta barafunda, confundia os morcegos e deixava-os
de rastos…cansados, nervosos e desorientados. Voaram em bando vários
quilómetros e começaram a entrar num sítio mais sossegado…nos arredores da
cidade. Ficaram muito mais calmos, quase não havia luz, não se ouvia grandes
barulhos a não ser dos outros animais noturnos, e havia mosquitos com fartura.
Voaram felizes e calmos pelo campo, comeram até se
fartar, e instalaram-se comodamente em vários troncos de árvores velhas, cheias
de grandes buracos.
No dia seguinte, recompostos da viagem e com a barriga
aconchegada, vão visitar o campo seguinte. Encontram a mesma coisa. Alimentam-se
e voltam para o primeiro campo, o da noite anterior.
Nas noites seguintes, exploram os outros campos, felizes
e aterram num campo cheio de abóboras. Eles não conheciam esse sabor, e nunca
tinham provado, mas viram tantos pássaros a picar uma abóbora que quiseram
provar. Gostaram tanto, como gostam de mosquitos, e a abóbora desapareceu num
piscar de olhos.
Na noite seguinte, foi muito pior…pássaros, morcegos e
bruxas fazem uma festa nesse campo e destroem uma série de abóboras. A dona do
campo nem quer acreditar. Apanha-os em cheio, e eles ficaram tão assustados que
não fugiram. A senhora distribui vassouradas pelos morcegos, bruxas e pássaros.
Grita-lhes, ralha-lhes, e só depois de apanharem é que fogem.
A dona volta a plantar tudo, muito zangada e triste, os
seus netos aproveitam as carcaças das abóboras comidas, e fazem decorações
assustadoras…parecidas com caras de monstros, bocas gigantes com dentes enormes
feitos nas cascas, cortam grandes olhos, muito abertos e põem dentro velas a
arder. Iluminadas com velas ainda ficam mais monstruosas e metem mais medo.
Fizeram estas máscaras com as cascas de abóboras e de
cabaças, na esperança de que aqueles visitantes indesejados e atrevidos também
tivessem medo e não voltassem a estragar o campo dos avós.
Felizmente…aconteceu o que eles queriam. Os invasores
voltam ao campo, pensando que a dona já se tinha esquecido, e que já deveria
haver lá coisas apetitosas para eles comerem. A senhora estava às escuras a ver
da janela do seu quarto:
-
Venham, venham meus diabos! Vão ver a bela surpresa que tenho para vocês! É o
meu agradecimento por me terem estragado o campo.
Eles aterram no campo descansados,
mas quando vêem que o espaço estava cheio de cabeças luminosas, com caras horríveis,
quase gelam…olham para as caras, correm de um lado para o outro, desatam aos
guinchos, chocam uns contra os outros, e gera-se uma grade confusão.
A dona do campo e os netos desatam
às gargalhadas a ver a aflição dos invasores, e as quedas, os choques, as sapatadas
e os guinchos entre eles.
-
Áh, áh, áh…parecem umas baratas tontas! – Diz uma neta a rir
-
Funcionou mesmo bem, Avó! – Diz outro neto
-
Nunca vi bruxas, morcegos e pássaros com tanto medo de abóboras e cabeças a
arder.
A senhora às gargalhadas põe a
cabeça de fora e grita:
-
Se voltam a dar cabo do meu campo, serão as vossas cabeças que irão decorar o
campo! Xôôô…bandidos…atrevidos…
Todos desatam a fugir, e não voltam
para aquele campo. Depois dessa noite, só foram para os campos abandonados que
tinham o que comer, e puderam fazer todas as festas que queriam, sem estragar o
que não deviam.
Claro que foram mauzinhos com a
senhora, mas melhoraram a saúde deles e engordaram! Não precisaram de voltar à
poluição cada vez mais concentrada nas cidades.
E vocês? Se fossem morcegos…onde
preferiam viver? Nas cidades ou nos campos? Porquê?
FIM
Lálá
(26/Outubro/2014)
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