Era uma vez uma menina que estava
sentada no seu jardim, numa cadeira de baloiço, debaixo de uma árvore cheia de
folhas e um tronco muito largo. A menina detestava ler, e detestava livros. Era
muito distraída e às vezes até se portava mal.
Um dia, as fadas dos livros não gostaram que ela tivesse
rasgado um livro só porque estava amuada. A mãe obrigou-a a ler, e ela não leu.
- Que coisa mais feia…rasgar
livros! – Resmunga uma fada ofendida
Quiseram dar-lhe uma pequena lição: chamaram o vento, que
soprou muito forte, tão zangado como ela e como as fadas, e descolou as folhas
todas do livro que ela tinha nas mãos, remexeu-lhe os cabelos até ficaram todos
no ar, e ainda lhe fez uma longa careta. Ela grita:
- Vento palerma.
- Palerma és tu, que
rasgas os livros sem terem culpa nenhuma de estares zangada. – Grita o vento
- Como é que sabes? –
Pergunta a menina
- Eu sei de tudo, e vi! Até
tenho outras amigas que viram. – Conta o vento
- Eu odeio livros…e odeio
ler!
- E só por causa disso
rasgas os livros…?
- É. Para ver se eles
desaparecem da minha frente.
- Mas porque odeias ler?
- Porque é muito chato
ler.
- E tu sabes ler?
- Sei.
- E porque achas muito
chato? Se calhar, na verdade não sabes ler.
- Sei, sei. Mas odeio que
me obriguem a ler.
- Quem é que te obrigada a
ler?
- Os meus pais, a bruxa da
minha professora, a cobra da minha avó…toda a gente.
- Espera aí…tu vives numa
casa, com gente ou com animais?
- Com gente, é claro!
- Estás a falar em bruxa,
cobra…
- Não estou a falar de
animais! Só estou a dizer esses animais porque não gosto deles, e porque são
maus.
- A tua família é má?
- É. Quando me mandam
fazer coisas que odeio…como…ler! Mas, e tu porque é que desfizeste este livro? Como
é que eu agora vou construí-lo outra vez?
- Eu ajudo-te.
O vento prende a mão à menina e leva-a a passear pelo mundo
dos livros, ensina-a como se constrói um livro, mostra-lhe milhões de livros,
imagens e palavras, e ela fica encantada.
Ela toca nos
livros, dança e brinca com as palavras e as imagens, junta e separa letras,
apanha-as no ar como borboletas, cheira-as e até come algumas, rega-as, sacode-as,
corre com elas, ri e salta.
Passeia com as personagens por sítios onde nunca tinha
ido nem imaginado, e nunca tinha visto, rebola na relva e mergulha em lagos,
sobe montanhas, toca nas nuvens e nas estrelas, e chega à fábrica onde se
constroem os livros. Num instante, constroem outra vez os dois livros que ela destruiu.
A menina volta ao seu jardim, completamente diferente. Calma,
sorridente, feliz e muito carinhosa com os livros que tem à sua volta. Pediu desculpa
aos livros, à Avó, ao Avô, aos pais e à professora. Percebeu que afinal é muito
bom ler, e que gostava muito de livros, de ler e de ver as palavras e as
imagens.
E também agradeceu a toda a gente que a mandava ler,
porque ler ajuda a crescer, e a viver. A menina tornou-se inseparável dos
livros e passou a tratá-los com muito carinho.
FIM
Lálá
(4/Outubro/2014)
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