foto de Lara Rocha
Era uma vez, uma linda
fada que estava a voar numa folha de uma árvore. A folha caiu na água de um
lago, com uma forte ventania. A fada molhou-se
toda, e fica muito chateada.
- Olha para isto…! O que é
que te deu? Íamos a voar tão bem! – Resmunga a fada
Ela ouve uma gargalhada:
- Ainda por cima estás a
rir-te na minha cara! – Diz a fada ofendida – E agora, como é que eu me vou
secar? A água está fria…ainda se fosse quente…
- Desculpa, fada. Mas não
fui eu que me ri. – Diz a folha
- Ai não? Fui eu? –
Pergunta a fada
- Olá! Resmungona…
- O quê?
- Não fui eu.
A fada faz silêncio.
- Quem está aí?
- Fui eu que deitei a
folha abaixo! – Diz a voz de um elfo
- Mas que grande atrevido…aparece.
– Grita
Aparece um lindo e elegante Elfo.
- Olá… - Diz o elfo
docemente
A fada vira-lhe as costas zangada.
- Vai-te embora…não te
quero ver! – Diz a fada
- Desculpa, princesa… -
Diz o elfo
- Não sou princesa, sou
fada. – Diz a fada com o nariz levantado
- Porque é que nos
deitaste abaixo? – Pergunta a folha
- Porque queria conhecer a
princesa que tu passeavas.
- O quê? – Gritam as duas
- Isso é maneira de alguém
conhecer outra pessoa? – Pergunta a folha
- Também acho. Que disparate.
– Resmunga a fada
- Óh…uma menina tão linda…tão
resmungona… - Diz o elfo
- Não sou princesa, nem
menina. Sou fada! – Grita a fada
- Ui, que nervosa…
- Claro…mandaste-me para a
água, e achaste que eu ia ficar feliz, ou rir, não? Olha como eu estou? – Diz a
fada zangada
- Estás linda!
- Ui, uma beleza…a
escorrer água por todo o lado.
- Sim! Vá…anda dançar, que
isso seca. – Diz o elfo a sorrir
- Eu? Dançar contigo?
Depois do que me fizeste? Nunca.
Ela amua. Ele põe-se de joelhos com o ar mais doce do mundo,
sorri e diz:
- Perdoa-me, minha Fada
linda.
Era vira-lhe o rabo.
- Que rabiosque bonito,
mas gosto mais de te ver de frente…
Ela ia resmungar, mas como não estava à espera daquele elogio
ao seu rabo, começa a rir às gargalhadas, e o elfo ri com ela. Sem dar por
isso, já estão os dois virados um para o outro, a rir.
- Que riso tão bonito…fada!
– Elogio o elfo
Os dois param de rir, e fixam os olhos um no outro.
- O que é que os nossos
olhos estão a dizer uns aos outros? – Pergunta o elfo
- Não sei…estão a segredar
uns com os outros…não consigo perceber.
- Deixemo-los em paz, e a
conversar à vontade.
- É. Eles lá se entendem.
O elfo estala os dedos e aparece um belo ramo de flores, que
oferece à fada.
- Áh! Flores…que lindo! Obrigada.
Adoro.
Trocam sorrisos.
- Podemos dançar? –
Pergunta o elfo
- E onde tens a música?
- Está aqui à nossa volta.
- Não ouço nada.
- Vais ouvir…
Ele dá as mãos à fada, delicadamente, e
a sorrir. Ela rende-se à beleza e doçura do elfo. Abraçam-se, e trocam olhares
fixos, e sorrisos.
No silêncio, eles conseguem realmente ouvir música. A música
das águas que correm no lago com velocidades e intensidades diferentes, as
águas que passam entre as rochas e as águas das cascatas. Ouvem as gotas de
água que caem de cima, e o vento a soprar forte entre as folhas que abana. Ouvem
a água a borbulhar e a cair mais forte.
Ouvem o canto das cigarras e dos grilos na relva à volta
do lago, até ouvem os seus corações a bater, o sorriso e o brilho dos seus
olhos.
De repente aparece um coro de fadas, acompanhadas de
passarinhos, que cantam e tocam lindamente instrumentos como harpas, violinos,
piano, tambores, ferrinhos.
Toda a gruta desperta, e juntam-se morcegos, que
guincham, peixes que nadam velozmente, nenúfares que se abrem e de onde saltam
as flores, e belas fadas da água que fazem patinagem artística e mágicas
danças. A fada fica toda brilhante, muito feliz, o elfo, encantado e
sorridente, e participam alegremente na festa, dançam juntos.
Mas aquele momento
tão bonito é interrompido por um ser monstruoso que mora nas profundezas do
lago, muito mal-humorado, resmungão, agressivo, e solitário. Com um aspecto de
meter medo.
Aparece à superfície
e grita:
- Fora daqui!
Todos desaparecem do lago rapidamente, e encontram-se fora
dele.
- Cruzes, que coisa era
aquela? – Pergunta a fada
- Era o monstruoso sargo
que vive nas profundezas do lago. Odeia ser incomodado. Acha que é o dono do
lago. – Explica o elfo
- Que criatura nojenta! –
Suspira a folha
- Estava tão bom. – Diz a
fada a sorrir
- Gostaste, fada? Eu também!
Conseguiste ouvir a música que havia à nossa volta? – Pergunta o elfo
- Sim, consegui. Uma
música maravilhosa! – Diz a fada
- Pois foi. E também ouvi
os nossos corações a bater! – Diz o elfo
- Também ouvi.
- Ele diz que gosta muito
de ti.
- O meu também.
Os dois sorriem. Abraçam-se mais uma vez, e de cada um deles
sai uma linda luz. As duas luzes encontram-se, enrolam-se e fundem-se numa só. Atravessam
o corpo dos dois.
- A minha luz encontrou a
tua luz! – Diz o elfo
- A tua luz encontrou a
minha luz! – Diz a fada
- As nossas luzes, agora
são uma só…na amizade, no respeito e no amor incondicional. – Explica o elfo
- Que lindo! Eu sinto a
tua luz em mim. – Diz a fada a sorrir
- Boa! Eu também sinto a
tua luz em mim! – Diz o elfo.
- Muito obrigada…- Diz a
fada
- Não digas mais nada. Fica
sempre comigo! – Diz o elfo
- Sim! (sorri) Ficarei
sempre contigo.
Dão a mão e voam, num passeio livre,
pela floresta, e numas conversas muito animadas. Param algumas vezes para
apreciar a paisagem e desde esse dia, não se separam mais.
Às vezes os nossos corações encontram-se
e conversam, sem as nossas palavras…só entre eles. Não conseguimos ouvi-los,
mas eles entendem-se. Quando isso acontece, as nossas luzes encontram-se, e se
elas se envolvem e fundem numa só, todos sentimos a luz uns dos outros dentro
de cada um de nós.
É essa luz que nos preenche, que nos faz
sentir queridos e amados, que nos faz chorar e rir, e brincar…ou abraçar, só
para sentirmos um pouco mais de luz. Porque às vezes, a nossa luz também
enfraquece com a tristeza ou a solidão…é preciso pelo menos um abraço de alguém
que tem a nossa luz dentro de si, além da dele ou dela, para nos devolver o sorriso,
e nos fazer acreditar que o sol brilhará a seguir.
A nossa luz nunca é demais, e nunca se esgota…precisa
sempre de outras luzes que lhe toquem, para brilhar mais forte, e para acender
outras luzes em corações que precisam.
Muitas vezes
faltam-nos as palavras, mas elas não são precisas quando dois corações de luz
se encontram e conversam…e quando dessa conversa sai um abraço que conforta.
FIM
Lálá
(14/Outubro/2014)
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