Desenho e foto de Lara Rocha
Era
uma vez um grilo que fugiu de um país muito quente, onde deixou de haver
árvores…foram todas queimadas pelas mãos de homens ambiciosos, não havia mais
erva, porque também deixou de existir água, por isso, todos os animais tiveram
de sair com grande tristeza e à pressa.
Todos
caminharam muitos e muitos quilómetros, os que se cansavam depressa ficavam no
primeiro sítio onde se sentiam bem, com sombra, água fresca e ar puro, outros
andaram mais um pouco porque sentiam que mais à frente poderia ser mais seguro,
e ainda outros continuaram.
Um
grilo caminhou e encontrou um repouso, quando apanhou uma tempestade e teve de
se abrigar…escolheu debaixo de um cogumelo grande e largo, que vivia num jardim
de uma casa. Estava muito frio e ele sentia fome.
Uma coruja que estava sempre pousada
na enorme árvore que abrigava o cogumelo, fazia a sua ronda nocturna com os
seus olhos gigantes, e sentiu alguma coisa estranha. Pareceu-lhe ter visto uma
sombra pequenina e muito frágil passar no jardim. No inicio não ligou…estava a
chover muito, frio e muitos animais passavam por ali. Como não perturbavam, ela
deixava-os ficar. Entretanto, quando olha para baixo, o cogumelo chamou-a.
- Está tudo bem aí em baixo, cogumelo? – Pergunta a
coruja
- Temos uma visita… - Diz ele baixinho
- Quem?
- Anda cá ver.
A coruja desce, e pousa no solo. Debaixo
do cogumelo está o frágil grilo, que traz consigo um instrumento musical e um
saco com algumas coisas. Ele estava muito cansado e a tremer tanto que não
conseguia abrir o saco para tirar de lá comida, água e roupa. As poucas coisas
que ele tinha conseguido levar.
- O que temos aqui…? – Pergunta a coruja
O grilo treme ainda mais e deixa-se
cair, todo encolhido.
- Um grilo… - Observa a coruja
- Sim…vais comer-me? Bom proveito…não sei se vais
gostar. – Diz o grilo
- Óh, que disparate…eu…comer-te? Não… estou
preocupada.
- Sou um grilo da paz. Mas se quiseres manda-me
embora.
- Tu já costumas vir para aqui?
- Não. Só quero um sítio para me abrigar e
descansar…estou…muito fraco. Já venho de muito longe.
- De onde?
- De uma terra que se transformou num deserto, sem
água, sem árvores, sem relva… por mãos maldosas, gente ambiciosa que destrui
tudo…
- Mas que horror!
- Já andei muitos quilómetros…acho eu…não sei
quantos.
- Óh, fica à vontade. Não estás nada bem. Olha para
ti…precisas de ajuda? Claro que sim… (abre-lhe o saco) Acho que precisas
disto…e…disto…não…espera…vou arranjar-te algo melhor.
- Óh, não quero incomodar. Só quero descansar…e
quando acordar procuro outro sítio. Por favor…deixe-me ficar aqui, só esta
noite.
- Não te preocupes…podes ficar sempre aqui…esta pode
ser a tua casa, se gostares do sítio. Ninguém se vai incomodar. Espera aí…
O grilo deita-se encolhido, a coruja
arranca umas folhas grandes da árvore, umas cascas e volta a descer.
- Ora levanta-te…por favor.
O grilo levanta-se com muita
dificuldade, a coruja faz uma bela e confortável cama para o grilo, pondo a
casca da árvore por baixo, em forma de barco, duas grandes folhas da árvore.
- Deita-te, e experimenta se está confortável. – Diz
a coruja
O grilo deita-se, surpreso e diz com
um grande sorriso:
- Está maravilhosa…mais que confortável…perfeita.
A coruja sorri, e voa outra vez, vai
buscar pedaços de musgo e penas de pássaros que se amontoaram no jardim. Volta
e vê que o grilo está a comer e a beber o que lhe restava.
- Boa. Quando quiseres deita-te.
No fim de comer, o grilo deita-se, e
a coruja cobre-o delicadamente, com a roupa que ele trazia, mais o musgo
enrolado numa folha grande, e as penas presas.
- Estás confortável? – Pergunta a coruja
- Maravilhosamente confortável. – Responde o grilo
- Quente? – Pergunta a coruja
- Muito quente. Muito obrigada. Quer dizer…obrigado é
pouco para tudo isto que estás a fazer por mim.
- Não te preocupes com isso! O que eu quero é que
estejas bem. E qualquer coisa que precises, estou nesta árvore. Aqui estás
protegido do frio, do vento e da chuva. Mesmo assim, se sentires frio ou
precisares de alguma coisa diz-me… ou ao cogumelo. Agora…descansa!
- Combinado. Muito, muito obrigado.
A
coruja voa para a sua toca, sempre atenta a tudo, e o grilo dorme a noite toda,
e nos dias seguintes, só acorda quando sente fome, vai buscar comida,
recomendada pelo cogumelo, e volta a dormir. A coruja está sempre de vigia.
Uma semana depois, o grilo está como
novo. Alimenta-se, e sai da sua casa:
- Sim, eu quero ficar aqui. – Diz o grilo
E
vai explorar todo o jardim. Fica encantado! Mete logo conversa com as flores e
outros animais que por lá andam, muito simpático, faz grandes amigos, que lhe
dão coisas que ele precisa, mesmo sem ele pedir.
Uns dias mais tarde, ele sente
saudades do seu instrumento musical, acompanhado do seu belo canto, e começa a
tocar timidamente para não incomodar. Muitas cigarras e outros grilos saem das
tocas, muito curiosos para ver quem estava a tocar daquela maneira, o cogumelo
fica a ouvir deliciado, e de repente o grilo pára.
- Áh! – Exclamam todos
- Que lindo… - Suspira uma cigarra
Todos aplaudem.
- Continua mano… - Diz outro grilo
- Tanta timidez para quê? – Pergunta outro grilo
desafiador mas simpático
- Toca mais… - Diz outro grilo
- Sim… - Incentivam todos
- Obrigado! – Diz o grilo a sorrir
Todos querem saber tudo sobre ele e
fazem-lhe muitas perguntas, ele responde de forma simpática e delicada a todos.
Todos se oferecem para o ajudar, acolhem-no e integram-no como mais um da
família deles. ele fica muito feliz.
- Porque paraste, amigo? – Pergunta o cogumelo
- Não quero incomodar…desculpa! Tive saudades do meu
instrumento…
- Mas não incomodas nada. Continua. Eu estava a
gostar tanto. Que instrumento é esse?
o grilo sorri:
- A sério? Pensei que te ia incomodar…
- Não…
- É um violino.
- Violino? Huummm… nunca ouvi falar.
- Há umas meninas com asas que também tocam muito bem
este instrumento.
- As fadas.
- Isso. Conheces?
- Sim, muito bem…sou um grande amigo delas. Elas vêm
aqui muitas vezes…vão adorar conhecer-te e saber que tocas o mesmo que
elas…Adoro esse som. Não tenhas vergonha de o tocar. É tão lindo…tão bom
ouvi-lo.
- Obrigado.
- Toca mais…por favor!
O grilo fica tão
feliz que toca alegremente, e o cogumelo dança, ri, e aplaude. As fadas ouvem e
aproximam-se. O grilo sorri envergonhado, mas depressa fica à vontade, porque
elas pedem-lhe para tocar mais, e acompanham-no.
Cresce
logo entre eles uma linda amizade, e dias depois dão fantásticos concertos de
música a tocar todos juntos…todos os animais e flores do jardim adoram esses
momentos musicais, dançam, convivem, conversam, brincam, cantam, aplaudem e
deixam-se levar pelas músicas.
Num
instante, todos ficaram a conhecer o grilo. Até a menina da casa foi conhece-lo
e pedia-lhe para ele tocar…enquanto ele tocava, ela sonhava, e brincava com as
fadas, fazia os seus trabalhos da escola muito mais feliz e muito mais bonitos.
A coruja estava sempre a tomar conta
dele e a aquece-lo quando caiu neve, e a menina também cuidava da casinha dele,
com todo o carinho, tal como as fadas. Era tratado com muito carinho por todos,
era muito feliz e fazia os outros muito mais felizes.
Já imaginaram um grilo a viver no vosso jardim?
Já o ouviram cantar?
Fim
Lálá
19/Novembro/2015