Era uma vez uma
menina que se chamava Lucinha. Vivia numa grande casa de pedra, numa montanha
muito longe da cidade, com os seus pais e tinha uma família enorme. Mesmo com
tanta gente à sua volta, ela sentia-se muitas vezes sozinha.
Queria
ter muitos, muitos mais amigos, como tinham a sua mãe e a sua Avó. Fartava-se
de pedir às estrelas que lhe dessem novos e bons amigos, mas até ao momento ela
continuava sem ter novos e bons amigos.
Uma noite, em que Lucinha voltou a
pedir às estrelas, muitos mais amigos, uma estrela quis dar-lhe a lição que ela
precisava de aprender sobre o que é ser amigo, e quem são os amigos. Resolveu brincar
um bocadinho com a situação, que ela sabia que era ilusão da menina, e deu-lhe
uma ideia:
- Põe cerejas no cabelo, e não te vão faltar amigos.
A menina achou um pouco estranha aquela
sugestão, mas no dia seguinte fez isso. Arranjou pezinhos de belas e atraentes cerejas,
e pôs no seu cabelo, presas com ganchos. As suas primas ficaram encantadas com
aquela novidade e como eram vaidosas, fizeram o mesmo.
Não demorou muito e era só pássaros à
sua volta, mas para devorar as cerejas. Eles eram atraídos pelas cerejas e num
instante comeram todas as cerejas, enquanto elas brincavam, distraídas.
Elas
tinham visto muitos pássaros naquela zona, mas não pensaram que eles andassem à
sua volta por causa das cerejas que tinham nos cabelos. Nem se lembraram que
tinham cerejas no cabelo.
Quando
repararam umas nas outras, não tinham uma única cereja…só os pauzinhos das
cerejas que estavam presas nos ganchos, de resto tinha desaparecido tudo: as
cerejas e os caroços. Elas ficaram muito tristes e zangadas.
Começaram aos gritos e a tentar chutar
todos os pássaros que estavam com o papo bem cheio de cerejas. Tão cheio que
quase nem conseguiam voar.
- Porque é que comeram as nossas cerejas? – Pergunta a
Lucinha
- Xô daqui para fora…seus comilões… - Grita Mimosa
- Gulosos. – Resmunga Leninha
- Atrevidos! – Gritam todas
- Estavam capazes de nos comer os cabelos. – Comenta Lúcia
- Desculpem…! – Dizem os pássaros
- Estávamos com muita fome e sede… - Explica um pássaro
- Vimos estas cerejas tão bonitas… - Diz outro pássaro
- Não resistimos! Comemos… - Confessa outro pássaro
- Só deixaram os pauzinhos… - Repara Carlinha
Elas tiram
os ganchos, zangadas.
- Para que é que me mandaste pôr cerejas no cabelo, óh
estrela aí em cima? – Pergunta Lucinha muito zangada
- O quê? – Perguntam todas as primas
- Uma estrela ontem disse para eu pôr cerejas no cabelo
para arranjar novos e bons amigos! – Conta Lucinha
- E arranjaste…os pássaros! – Diz a voz da estrela
- Mas que grandes amigos…comeram-nos todas as cerejas. Estavam
capazes de nos comer a cabeça e o cabelo. – Resmunga Lucinha
- Amigos desses não precisamos. – Acrescenta Leninha
- Pões raminhos de cerejas na tua janela. – Sugere a
estrelinha
- E se eles sujam a janela toda? – Lembra Mimosa
- A mamã não vai gostar nada! – Diz Lúcia
- Não! – Confirma Carlinha
- Olha…estrela, porque é que não me mandas amigos de
carne e osso, como eu…em vez de pássaros? É isso que eu quero? – Pergunta a
Lucinha
- Porque os amigos não se mandam assim. Não sou eu, nem
nenhuma estrela que vai trazer-te amigos… tu e o teu coração é que vão
escolhê-los. – Explica a estrela
- Mas… - Diz Lucinha
- Isso mesmo! – Confirma Lúcia
- Não é justo. – Resmunga Lucinha
- É justo sim! Vais ver… Os únicos amigos que te posso
mandar são os sonhos bons, fazer-te companhia, livrar-te dos pesadelos e
ajudar-te a realizar alguns desejos. Mas este que me pedes, não posso realizar!
És tu que os escolhes. - Diz a estrela
- Acho que a estrelinha tem razão, prima. A minha mãe
diz o mesmo. – Comenta Leninha
- Óh! – Diz a Lucinha desanimada
- Não fiques triste comigo… - Pede a estrelinha
- Para que queres mais amigos, prima? – Pergunta Mimosa
- Vocês têm tantos…eu também queria ter. – Responde
Lucinha
- Não…só temos meninos conhecidos, e interesseiros. –
Comenta Carlinha
- Aqueles que são nossos amigos, só porque temos uma
casa grande, e vivemos num sítio com ar puro…só brincam connosco quando querem
receber coisas de graça. – Acrescenta Leninha
- Não são amigos. Nós, primas, é que somos as
verdadeiras amigas umas das outras. – Diz Mimosa
- A minha mãe também diz isso. – Acrescenta Lúcia
- Não interessa o número de amigos que temos…interessa
a qualidade. – Lembra Carlinha
- Eu e as minhas manas temos muito poucos amigos, mas
sabemos que são bons, e são sempre nossos amigos. – Comenta Leninha
- Como é que sabem? – Pergunta Lucinha
- O nosso coração é que nos disse que eles eram e são
os nossos bons, e verdadeiros amigos, mas só são 3 ou 4. – Responde Mimosa
- Pois! – Concorda a estrela
- Mas o meu coração não me diz nada…sou amiga de todos,
gosto de quase todos. – Diz Lucinha
- E podemos gostar de muita gente, mas há uns meninos e
meninas que são mais especiais para nós. São esses os nossos verdadeiros e bons
amigos. – Responde Carlinha
- Sim! – Respondem todas
- Isso mesmo. – Concorda a estrela
- Então…acho que tenho alguns amigos verdadeiros… e
bons. Mas eu queria ter mais. – Diz Lucinha
- Quase nunca se tem muitos, quando são os amigos
verdadeiros. Mas esses muito poucos estão sempre lá…para darem um bocadinho deles
a nós, e receberem algumas coisas que lhes damos. – Explica a estrela
- Áh! Percebi. – Reconhece Lucinha
- A mamã tem sempre razão. Foi ela que nos disse! E nós
aprendemos. – Diz Mimosa
- Pois é! – Dizem todas
- Os animais são os únicos amigos que te posso mandar,
pequena! – Diz a estrela
- Obrigada! – Diz a Lucinha
- Os animais também são nossos amigos! – Diz Leninha
- Pois são! – Dizem todas
- Amigos são aqueles que não querem saber das nossas
coisas materiais. – Diz Mimosa
- Amigos são aqueles a quem não lhes interessa os
brinquedos que temos, e que brincam connosco só porque são giros. – Diz Lúcia
- Isso mesmo! São amigos, aqueles que querem estar
connosco, brincar connosco, e não se importam de partilhar.
- Pois! – Diz a estrela
- Então…eu tenho alguns bons amigos. Acho que não
preciso de mais. – Diz Lucinha
- Poderás vir a ter muitos mais, mas nem todos serão
esses especiais. – Diz a estrela
- Entendi. Eu gosto muito dos amigos que tenho! – Diz Lucinha
E a
Lucinha aprendeu uma coisa muito importante com a estrela…que os amigos não se
pedem…escolhem-se pelo coração. E voltam a brincar umas com as outras, os
pássaros não deixam mais aquele sítio, porque elas deixam todos os dias cerejas
para os pássaros, para eles não comerem as melhores.
E vocês? Sabem
quem são os vossos melhores amigos?
São muitos ou poucos?
Como é que sabem que eles são vossos amigos
verdadeiros?
Lembrem-se:
os verdadeiros amigos podem não ser muitos, mas são os que nos dão as melhores
coisas do seu coração, e não os que nos dão muitas coisas falsas.
FIM
Lálá
(17/Maio/2015)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras