Era
uma vez uma joaninha que tinha uns lindos olhos verdes enormes, e umas pestanas
ainda maiores, reviradas para cima. Toda a sua família tinha esse pormenor que
fazia a diferença das outras famílias de joaninhas.
As suas pestanas eram muitas vezes
visitadas por borboletas e pirilampos que não resistiam em experimentar,
pousavam nelas, deixavam-se escorregar e até baloiçavam. Queriam ver e sentir de
que eram feitas.
Quando a invasão começou, no início,
a joaninha até achou alguma piada, e permitiu que tocassem ou pousassem nas
suas enormes pestanas, mas cansou-se, e começou a ficar com os olhos muito
irritados de tanto bichinho que pousava lá.
Não queria cortar as pestanas,
porque elas eram bonitas e uma defesa para os seus lindos olhos verdes, mas
também não queria ser má e correr o risco de perder as amizades que tinha
construído com quem pousava nas pestanas.
Como é que ela ia resolver? Não podia ter tudo…ou cortava
as pestanas e deixava de ter os olhos irritados, ou mandava os bichinhos embora
e ia ficar de certeza muito triste porque perdia os amigos.
O que é que ela ia
fazer? Mas que grande dúvida. Foi conversar com a sua madrinha, uma formiga
grande, e simpática, muito amiga da família, a quem ela chamava com muito
carinho «Dlinda». Contou-lhe o que estava a acontecer, e pediu ajuda para a sua
dificuldade.
- O que faço, Dlinda…?
A madrinha
aconselhou-a:
- Olha: deves dizer aos teus
amigos, a verdade! Diz-lhes que gostas muito deles, que deixaste que eles
tocassem e sentissem nas tuas pestanas mas eles não vão poder fazer mais isso
porque estás com os olhos irritados, e se eles pousarem nas tuas pestanas vão
irritar ainda mais os teus olhos. Além disso, também eles podem ficar doentes,
se continuarem a tocar nas tuas pestanas assim.
- A sério?
- Sim! Essa irritação nos
olhos é contagiosa! Se tocarem ai podem apanhar. É como o vírus que provoca a
constipação.
- Áh! Não sabia.
- Sim, é mesmo.
- Mas eu acho que eles vão
ficar muito tristes comigo!
- Não vão nada! Eles são
teus amigos, e vão continuar a ser, só não vão mais para as tuas pestanas, até
porque as tuas pestanas não são um parque de diversões, certo?
- Certo.
- Por muito que eles gostem
das tuas pestanas, não têm o direito de brincar com elas, ou de se divertirem
com elas. Eles vão continuar a ser teus amigos, e a brincar nos sítios onde é
para brincar…nos mesmos onde tu brincas.
- Entendi. E se mesmo assim
eles ficarem zangados comigo?
- Não lhes ligues…
- Obrigada, Dlinda…
- De nada, querida. Até
logo…
- Até logo.
E a joaninha sai de casa da madrinha. Encontra os amigos
que costumavam pousar nas suas pestanas.
- Óh, não amigos…por
favor…não pousem mais nas minhas pestanas. Eu sei que gostam muito delas, e eu
também gosto muito de vocês, mas não vão poder pousar mais aqui. Podem ficar
doentes…isto pega-se…como as constipações. Estão irritadas.
- Óh! Desculpa! – Dizem
todos os amigos
- Coitadinha…estás doente? –
Comenta uma borboleta
- Isto passa. – Diz a
joaninha
- Por nossa causa? –
Pergunta um pirilampo
- Talvez não tenha sido por
vossa causa. – Diz a joaninha
- Já podias ter dito há mais
tempo, amiga. – Diz outra borboleta
- Gostamos muito de ti…-
Dizem todos
- Tens toda a razão…as
pestanas não são sítios para pousar. – Diz outra borboleta
- Mas podemos brincar noutro
sítio… - Diz a joaninha
- Claro! – Dizem todos
- No parque, no jardim, no
campo… - Sugere outra borboleta
- Então não ficaram tristes
comigo? – Pergunta a joaninha
- Claro que não! – Dizem
todos
- Nós é que temos que te
pedir desculpa… - Diz uma borboleta
- Ficaste doente por nossa
causa! – Diz outra borboleta
- Vamos brincar? – Diz a
joaninha
- Vamos! – Gritam todas
E vão todos com a joaninha, de patinhas no chão, ou a
voar, e a cantarolar, a conversar e a rir para o campo. De repente, sentam-se à
sombra debaixo de uma flor enorme, e caem das pétalas, duas gotas de chuva nas
pestanas da joaninha, uma em cada olho.
- Ai…está a chover? –
Pergunta a joaninha
- Não! – Respondem todas
- Caiu-me uma gota nas
pestanas.
As duas gotinhas riem, escorregam e brincam com as
pestanas.
- Ei…saiam daí. – Gritam
todas
- Os olhos dela estão
irritados. – Lembra uma borboleta
- Não podem tocar aí. Vão
ficar doentes. – Lembra outra borboleta
- Não te preocupes! – Dizem
as gotas
- Nós estamos a lavar as
pestanas. – Diz uma gota
- É para isso que
servimos…lavar…desinfectar… - Diz outra gota
- Daqui a pouco já não tens
nada! – Diz uma gota
- É como quando se chora! –
Diz outra gota
- Isso mesmo! As lágrimas
também lavam. – Diz uma gota
- Fecha os olhos! – Diz
outra gota
A joaninha fecha os olhos e as pestanas ficam para a
frente. As borboletas estão muito curiosas e atentas.
- Vejam lá o que vão fazer
aos olhos da nossa amiga! – Diz uma borboleta preocupada
- Fica descansada. –
Assegura uma lágrima
- Sabemos o que estamos a
fazer! – Diz outra lágrima
- Não abras antes de
dizermos. – Diz uma lágrima
- Está bem. – Diz a joaninha
E as duas gostas, enrolam-se sobre si mesmas, e lançam um
grande jacto de água, lavando as enormes pestanas da joaninha, como se fosse um
chuveiro, deslizam sobre as pestanas e parece que estão a esfregá-las. A água
suja cai toda no chão sem molhar a cara da joaninha, e toda a irritação
desaparece. As borboletas estão espantadas.
- Áhhh…! – Exclamam todas
- Como é possível?
- Desapareceu tudo!
- Tudo? As pestanas também?
– Pergunta a joaninha assustada
- Não! Tudo o que era
irritação. As pestanas estão aí, continuam enormes e lindas.
- Áh! Que susto! – Diz a
joaninha a rir
- Estás óptima! – Diz uma
gota
- Obrigada! – Diz a joaninha
- Como vos posso agradecer?
– Pergunta a joaninha
- Chama-nos sempre que
precisares! – Diz outra gota
- Encontras-nos sempre aqui.
– Diz uma gota
E a joaninha volta a brincar feliz.
As gotinhas vão trabalhar para outros sítios, e sempre que ela fica com os
olhos irritados, lá estão as gotinhas. As nossas pestanas não são tão enormes
como as da joaninha, mas também ficam irritadas e sujas de vez em quando, mesmo
sem querermos.
A água limpa tudo…a
da torneira ou as lágrimas, e as pestanas protegem-nos os olhos…abrem e fecham
quando vamos dormir, ou quando está vento e muito sol, para o lixo não entrar.
É para isso que elas existem!
FIM
Lálá
(8/Maio/2015)
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