(fotos de Lara Rocha)
Era uma vez várias
barquinhas que apareceram a navegar num grande lago. Eram amarelas e pareciam
muito leves, frágeis. Numas não se via ninguém a conduzi-las.
Quem via, perguntava:
- Áh! Que barquinhas
tão estranhas.
- São muito leves.
- Nem parecem barcas…
- Não levam ninguém.
- Claro que não são
barquinhas…são uma coisa qualquer, menos barquinhas.
Mas nem tudo o que parece é! Estavam muito
enganados… pensavam que não levavam ninguém, mas, de repente, viram uma coisa
muito estranha, e apanharam um grande susto! Duma das barquinhas levanta-se uma
pequenina bonequinha de pano, feita de sementes.
- Ai…! – Gritam todos
e encolhem-se, escondem-se atrás de uma árvore.
- O que é aquilo? –
Pergunta um gato selvagem
- Onde é que aquilo
estava? – Pergunta outro gato assustado
- Nunca vi uma coisa
destas… - Comenta outra gatinha
- Nem eu… - Respondem
todos
E ficam em silêncio, muito quietos a
ver o que ia acontecer. A boneca olha à sua volta, e boceja:
- Áh! Acho que já
cheguei ao lago. (grita) Amiga…cheguei! Onde estás?
Da outra barquinha levanta-se uma
borboleta pequenina, com asinhas finas e leves:
- Olá amiga! – Grita a
borboleta com um grande sorriso.
- Estavas aí há muito?
- Mais ou menos…cheguei
de manhã cedo, como ainda não estavas aqui, adormeci outra vez.
- Óh! Desculpa o
atraso!
- Não! Não te
atrasaste, eu é que não consegui dormir bem, com a felicidade de te receber
aqui!
- (sorri) Eu também
estava em pulgas para te encontrar.
- Estás bem?
- Sim, estou óptima,
obrigada. E tu?
- Também! Anda! Vou mostrar-te
a minha aldeia. Vamos tomar um belo pequeno-almoço, e passear.
A borboleta empurra a barquinha da
boneca, para a berma, dão um abraço e dois beijos, as duas vão passear
alegremente, numa conversa muito animada.
Os gatos acompanham todos os
movimentos, com os olhos muito abertos, sempre que ouvem as vozes.
- Não acredito… -
Comenta uma gata, baixinho
- O que foi? –
Perguntam todos, baixinho
- Intrusos…- Dizem
todos
- É uma amiga daquela
borboleta. – Diz um gato
- Aquela coisa tão
pequena é uma borboleta? – Pergunta a outra gata
- Não. O que saltou da
barquinha não é uma borboleta. – Confirma a outra gata
- Então? – Perguntam todos
- É uma espécie rara…desconhecida.
– Diz outro gato
- Olha que pequena que
ela é.
- Pois é. E…acho que
não são patas…
- Não. São pernas!
- Pernas? – Perguntam
em coro
- Sim, pernas!
- Onde é que a
borboleta foi arranjar uma amiga são, tão…estranha?
- Não sei.
Os gatos continuam a coscuvilhar e
atentos a tudo, a tentar descobrir que amiga era aquela. Entretanto, um
peixinho que vivia no lago assustou-se com a sombra das barquinhas e vai até à superfície.
Fica muito surpreso:
- Nunca vi umas
barquinhas assim!
Ele toca a medo, para ver de que são
feitas as barquinhas.
- Ei…isto não é de
madeira! É mole e macio… (dá um encontrãozinho) Que leve! Quem usará isto? Afogam-se…!
A não ser que sejam…penas, ou…formigas…ou aranhas…e mesmo assim…não sei se
aguenta o peso!
Aparece uma borboleta e pousa noutra
barquinha. O peixinho fica muito atento.
- Como é possível? Aquilo
aguenta o peso de uma borboleta? Mas…não é de madeira, não percebo!
Aproxima-se mais da barquinha da
borboleta.
- Amiga, desculpa…isso
é o teu transporte?
- Sim! – Responde a
borboleta
- E aguenta?
- Claro que aguenta!
- Mas…de que material
é feito? É tão leve…e…macio…parece ser frágil.
- Sim, é mesmo leve,
frágil e macio…não é de madeira, mas aguenta! É feito de pétala de flor! Não aguenta
com todos, mas com os mais levezinhos, aguenta.
- Áh!
- Queres experimentar?
Mas só podes andar na água, à superfície.
- Está bem…
O peixinho fica um pouco desconfiado.
- E daí…acho que não
confio nisso!
- Amigo…já estás na
água.
- Sim…
- Anda lá…salta!
O peixinho salta para a barquinha feita
de pétala de flor, e fica muito admirado porque a pétala aguenta com o seu peso
à superfície.
- Uau! Estou à superfície,
numa barquinha feita de pétalas.
Os dois divertem-se muito, brincam um
com o outro, mergulham e tocam na água nas barquinhas, e embalados pelas águas
ao sabor do vento, adormecem.
A bonequinha e a outra borboleta sua
amiga juntam várias pétalas que pareciam barquinhas, estavam na água, e
constroem uma tendinha no solo, debaixo de uma árvore, á sombra, para a pequena
dormir, porque vai ficar lá uns dias e a casa da borboleta é muito pequena.
Nessa mesma noite, o lago é invadido
por casquinhas de nozes e frascos de vidro, de onde se vê brilhar, alguma coisa
parecida com luz.
E era mesmo luz…dentro das casquinhas
de nozes e dentro dos frascos de vidro, iam centenas de velas que as crianças
da cidade acenderam pela PAZ no mundo.
Todos acordam sobressaltados, porque os
cães não param de ladrar, e vêem aquelas luzes todas na água.
- Tantas barquinhas! –
Diz a borboleta surpresa
- Por isso é que os
cães estão a ladrar… - diz a boneca
- Pois!
- Quem vai nas
barquinhas? – Pergunta a boneca
- Áh! Que lindo…tanta
luz! – Suspira e sorri a sua amiga borboleta
- É mesmo lindo! Quem os
está a conduzir? – Pergunta a boneca
- Ninguém!
- Pois, também não
vejo ninguém. Mas eles não andam sozinhos…
- Pois não! Vão
guiadas pelo sabor da água e da aragem.
De repente as barquinhas de nozes e os
frascos com as luzes, são seguidos e acompanhados por milhares de pirilampos
que ficaram sensibilizados com a causa.
- Onde vai tanta luz? –
Pergunta a borboleta
- Haverá alguma festa
por este caminho? – Pergunta a boneca
- Vamos perguntar. –
Diz a borboleta
As duas aproximam-se da berma e
perguntam a um pirilampo, silencioso:
- Boa noite, amigos! –
Dizem as duas
- Há por aí alguma
festa? – Pergunta a boneca
- Estamos juntos! –
Diz o pirilampo
- Sim, já vi que estão
juntos, mas e as barquinhas à vossa frente? – Pergunta a borboleta
- Estamos juntos e solidários…
(outro interrompe)
- Pela paz! –
Acrescenta outro pirilampo
- As crianças da
cidade puseram velas dentro de barquinhas de casca de noz e dos frascos, que
vês ali a brilhar, pela paz no mundo! É luz!
- O mundo precisa de
toda a luz, e mais alguma, para tanta cabeça maluca! – Diz outro pirilampo
- Tens razão! – Dizem as
duas
- Por isso é que
juntamos a nossa luz! – Acrescenta outro pirilampo
- É! Pode ser
pequenina e fraquinha, mas é luz, e carregada de paz! – Diz outro pirilampo
- O que interessa é a
intenção, e a que a nossa luz transporta é muito boa, com certeza, e comum a
todos.
- Claro! – Dizem as
duas e todos
- Juntem-se a nós…se
quiserem! – Sugere outro pirilampo
- Claro! – Dizem as
duas.
- Óhhh, mas nós não
temos luz! – Repara a boneca
- Não têm uma vela, ou
uma lanterna? – Pergunta outro pirilampo
- Podem vir mesmo sem
luz, o que interessa é a vossa presença.
- Eu tenho! – Lembrou a
boneca
Vai à sua tenda e tira de lá a
lanterna. A borboleta vai buscar outra, e voltam a encontrar-se, seguindo com
os pirilampos.
E chegam ao fim da viagem, onde estão
centenas de crianças e adultos que aplaudem com as lágrimas nos olhos, de
felicidade.
Cada um pega numa vela, e escrevem um
belo poema no chão, para a Paz no Mundo. Uma espécie de oração. Tiram muitas
fotos, e nessa noite, sente-se um ambiente de paz. Além das luzes, todos trocam
abraços.
De certeza que essas luzes de paz
chegaram através das estrelas, aos países no mundo que andam em guerra. Afinal…ninguém
ia nas barquinhas de cascas de nozes, nem naquelas feitas de pétalas de flores,
que pareciam ser barquinhas.
O peixinho
tinha razão…só alguém muito leve podia ir nessas barquinhas de pétalas. Mas a
luz e a paz são sempre muito leves, e não precisam de navegar nas águas em
barquinhas de flores, ou nozes, nem serem conduzidas por alguém, porque a luz
pode voar…e se forem enviadas com toda a bondade, e sinceridade, do coração,
elas chegam lá onde mais precisam dela!
Fim
Lálá
(24/Março/2015)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras