Era uma vez um bando de gaivotas que voava sobre
o mar de uma praia. As gaivotas faziam belos bailados, e formas em voo, que
dava gosto ver. Todos os que iam à praia ficavam maravilhados, tiravam fotos e
aplaudiam, por isso, elas achavam que eram as donas da praia.
Um dia, a praia
foi invadida por centenas de borboletas, de todas as cores, que passaram a ser
o centro das atenções, pois nunca tinham sido vistas por ali.
As gaivotas
ficaram muito ciumentas e invejosas, raivosas, quiseram vingar-se porque as
pessoas deixaram de reparar nelas.
As
gaivotas falam umas com as outras:
-
Mas o que é que está a acontecer aqui?
-
Quem são estas?
-
Gaivotas bebés?
-
E de todas aquelas cores?
-
Aquilo não são gaivotas!
-
O que são?
-
Não sei…parecem outros pássaros.
-
Seja o que for…a praia é nossa. Não podem estar aqui.
-
XÔ…
As borboletas estão tão felizes com aquele sítio
que nem ouvem. As gaivotas voam em direção a elas, dão-lhes bicadas, atiram-se
a elas com as patas, e prendem-nas de propósito.
-
Não podem estar aqui…
-
XÔ…
-
Já agora! – Diz uma borboleta
-
Quem são vocês para nos mandarem embora…este sítio é para todos.
-
Quem são vocês? – Pergunta uma gaivota
-
São uns pássaros muito estranhos. – Comenta outra gaivota
-
Parecem pássaros pré-históricos. – Diz outra gaivota às gargalhadas
Todas
as gaivotas riem.
-
Somos borboletas! – Dizem todas
-
Quem? – Perguntam as gaivotas
-
Bor-bo-le-tas! – Repetem as borboletas.
-
Ora…são pássaros, como nós. – Contrapõe outra gaivota
-
Não! Vocês são pássaros, nós somos borboletas.
-
Muito mais bonitas que vocês! – Diz uma borboleta
As
gaivotas desatam a rir
-
Nunca se viram ao espelho de certeza! – Goza uma gaivota
-
Claro que já nos vimos muitas vezes ao espelho…na água. – Diz uma borboleta
-
Não interessa. Vocês não são daqui. – Grita outra gaivota
-
Parecem as rainhas disto tudo! – Comenta uma borboleta
-
E somos! – Dizem todas em coro
-
Essa agora… - Dizem todas as borboletas
-
XÔ… - Gritam as gaivotas agitadas
Levantam
voo, picam-nas, dão-lhes bicadas, pisam as asas, atiram-lhes pedrinhas do mar
que levam nas patas de nos bicos, ouriços e impedem-nas de voar.
As borboletas
gritam, unem-se e vencem sempre. São mais fortes que as maldades das gaivotas e
escaparam, mesmo com as gaivotas às centenas.
As
borboletas cansaram-se de ser maltratadas, e quando se preparavam para
desaparecer dali, um menino atrevido começou a atirar pedras enormes para a
água e atingiu uma série de gaivotas, ferindo-as.
As
borboletas voltaram para trás e juntas, às centenas, empurraram uma pedra
enorme e atiraram para os pés do rapaz. Ele grita, e quase desmaia com dores.
Senta-se na areia, e borboletas e gaivotas desatam às gargalhadas.
Umas borboletas vão ter com as gaivotas feridas,
que estão muito surpresas com o que viram.
-
Estão feridas…! – Exclama uma borboleta
-
Deixem-nos cuidar de vocês! - Diz outra borboleta
-
Depois de vos ajudarmos, vamos embora! – Diz outra borboleta
-
Ai… - Geme uma gaivota
-
Isto dói tanto! – Diz outra gaivota
As
outras borboletas juntam-se e vão para a praia, atrair alguém para ajudar as
gaivotas feridas. Com as suas maravilhosas cores, e misturas nos bailados,
muitas pessoas são atraídas para o mar, para acompanhar o voo das borboletas.
Chegam ao mar, e apercebem-se do menino com o pé
magoado, e as gaivotas feridas a piar. Chamam logo a guarda marítima, e os
salva-vidas levam as gaivotas para o posto de socorro, onde são tratadas.
O
rapaz é levado para o posto médico.
-
Como é que elas ficaram feridas? – Pergunta o socorrista
-
Fui eu que lhes acertei com pedras. – Assume o rapaz
-
Isso faz-se? – Pergunta o socorrista
-
Não…
-
Tiveste agora o troco, levaste com uma pedra no pé.
-
Pois foi.
As
borboletas levantam voo para ir embora, e uma gaivota chama-as.
-
Esperem…
Elas
param, olham para a gaivota.
-
Precisas de ajuda? – Pergunta uma borboleta
-
Não.
-
Então vamos embora! – Diz outra borboleta
-
Esperem… - Pede a gaivota
-
Vocês é que querem que vamos embora. A praia é só vossa…não foi o que disseram?
– Pergunta outra borboleta
-
Desculpem! Nós fomos muito egoístas. Fiquem à vontade, o tempo que quiserem.
Aliás, estamos envergonhadas, porque tratamos-vos mal, e vocês salvaram-nos há
bocadinho…foram vocês, não foram?
-
Só fizemos o que achamos melhor.
-
Além disso, não suportamos ver o que aquele palerma estava a fazer, contra
qualquer animal. – Diz outra borboleta
-
Faríamos isso com qualquer animal que estivesse a ser atacado ou maltratado.
Acrescenta outra borboleta
-
Mas nós maltratamos-vos…deviam ter-nos deixado assim feridas, e abandonadas.
-
Para quê? – Pergunta uma borboleta
-
A nossa bondade e amizade, são muito mais forte que a vossa maldade e egoísmo.
Para que é que nos íamos vingar?
-
Sim, é verdade! – Diz a gaivota
-
Nós ficamos com ciúmes porque vocês passaram a ser o centro das atenções…que
antes éramos nós. – Explica a gaivota
-
Nós não viemos para aqui, para ser o centro das atenções…só viemos passear e
divertir-nos, conhecer outros sítios. – Diz uma borboleta
-
Pois…vocês é que interpretaram como se fossemos uma ameaça. – Diz outra
borboleta
-
Viemos em paz, não para fazer guerra ou disputar a atenção convosco. – Explica
outra borboleta
-
Já tivemos a paga. Perdoem-nos… e fiquem aqui connosco, por favor. – Diz a
gaivota
-
Para quê?
-
Para continuarem a dar-nos bicadas e patadas…?
-
Não! Para serem nossas amigas, e para nos protegerem. Eu não sabia do que vocês
eram capazes. – Diz a gaivota
-
Somos capazes de muito mais…
-
Só queremos paz.
-
Por favor…dêem-nos uma oportunidade, de vos pedirmos desculpa, de vos agradecer
e de vos retribuir o que fizeram por nós, mesmo depois de vos tratarmos tão
mal. – Pede a gaivota
As
borboletas olham-se.
-
Está bem! – Respondem todas
E a gaivota abre um grande sorriso. Juntam-se
todas, trocam carinhos, e brincam umas com as outras. As borboletas e as
gaivotas tornaram-se grandes amigas, e até fizeram espetáculos juntas,
daqueles que se veem nas praias, de vez em quando.
As lindas borboletas
misturaram-se com as gaivotas, e ao fim da tarde, juntavam-se centenas de
pessoas para ver aquele espetáculo.
Se
até as gaivotas e as borboletas podem ser amigas, e conseguem, porque é que o
ser humano não pode, não consegue ou não quer ser amigo, do seu semelhante, mas
ao mesmo tempo, diferente?
FIM
Lara Rocha
(7/Março/2015)
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