Era uma vez uma praia como outra qualquer com
areia e mar, pequena e selvagem, mas muito diferente das outros, porque em vez
de ser visitada por pessoas como nós, os únicos seres que podiam andar por lá e
mergulhar nas águas quentes do mar calmo, quase sem ondas, eram personagens de livros.
Personagens de todo o tipo: bondosas, más, invejosas, simpáticas, brincalhonas,
bruxas, fadas, dragões, sereias, piratas…tudo! Até animais e objectos.
As espreguiçadeiras e guarda-sóis eram feitos de
papel de livros, coloridos e com imagens, os meios de transporte não eram
carros, nem eram bem barcos ou bicicletas. Era tudo feito de pedaços de livros
que foram destruídos nas fábricas e bibliotecas para desfazer, quando estavam
estragados.
Um dia, a praia foi invadida por milhares de
personagens que nunca antes tinham sido vistas por ali, nem pelos seus
habitantes que ficaram muito assustados. Estas personagens eram muito
estranhas, com formas misteriosas e algumas assustadoras. Os que já viviam lá,
não gostaram nada disso. De repente, essas personagens desapareceram no pinhal,
onde existiam as outras casas.
Foram atrás deles.
- Mas o que
aconteceu aqui? – Pergunta uma Dama Antiga
- Onde foram
todos? – Pergunta o Detective
-
Desapareceram… - Dizem as outras personagens que viram tudo
- Que
mistério! Vou investigar – Reforça o detective
O detective pega nos seus
instrumentos, e segue as pistas. As outras personagens seguem-no atentas, e
tropeçam em raízes enormes, e grossas que estavam no chão. Elas assustam-se e
gritam. O detective ajuda-as a levantar, preocupado, e elas reparam:
- O que é
isto no chão? – Pergunta a Dama Antiga
- Ai…! –
Geme uma marioneta
- O chão
aumentou de repente? – Pergunta uma boneca de trapos
- Acho que
isto não estava aqui antes… - Comenta um palhacinho de borracha
- Pois não! –
Confirmam todos
- Xiu! Silêncio…
- Ordena o detective
Continua à procura de pistas, e bate
contra um enorme tronco de uma árvore. Cai para trás atordoado.
- Ei…
As personagens ainda muito
assustadas, ajudam-no, e perguntam-lhe se ele está bem.
- Sim…só
preciso de recuperar um bocadinho. Ai…o que aconteceu…? – Pergunta o detective
- Será que
isto é alguma armadilha? – Pergunta o palhacinho de borracha
- Não me
parece. – Diz o detective
Olha para cima, e vê que a enorme
árvore onde bateu, tem um tronco com uma largura assustadora e está cheia de
janelas e portas.
- Eu…estou a
ver qualquer coisa de estranho. Estão a ver o mesmo que eu? – Pergunta o
detective
- O quê? –
Perguntam todos
- Olhem…para
essa árvore…
Todos olhos e vêem o mesmo.
- Sim! É mesmo…
- Dizem todos
- Uma árvore
com portas e janelas. – Comenta a Dama Antiga
- Áhhh! –
Exclamam todos
O detective levanta-se rapidamente,
e volta a investigar, aquela misteriosa árvore que nunca antes tinha estado
ali.
- Esta
árvore…não estava aqui. – Diz o detective
- Pois não! –
Reparam todos
- Mas como é
possível? – Pergunta a marioneta
- Alguém a
deve ter trazido para aqui. – Diz a boneca de trapos
E de repente saem dezenas de
personagens assustadoras, e misteriosas, do tronco da árvore. As personagens de
fora encostam-se ao canto do tronco, atrás, para não serem vistos.
- Elas moram
aqui… - Comenta baixinho o detective
- São as que
vimos na praia, não são? – Pergunta a Dama Antiga
- São! –
Respondem todos
- São horríveis.
– Diz o palhacinho de borracha
Ouve-se uma criança a gritar muito
assustada, e a seguir passa a correr.
- Socorro… (As
personagens terríveis estavam atrás dele) Elas são muito más. Fujam. Moram aqui
nesta árvore. – Diz o rapaz assustado e nervoso
- Temos de
destruir esta árvore. – Sugere o detective
- Como? Eles
são muito poderosos… e perigosos. – Diz o menino
O menino que estava a ler livros de
terror, na sala da sua casa, e a ver estas personagens da árvore, fecha o
livro, nervoso, com o coração a bater muito depressa, e a soar.
- Que raio
de livros! Não gosto destes…- grita – Mãe…odeio estes livros. Vou oferecê-los a
alguma escola ou biblioteca. São de terror.
- De terror?
– Pergunta a mãe surpresa
- Sim.
- Quem te
deu isso?
- Foi o
STRYCHI…da minha sala. Ele gosta desses livros e disse que eu tinha que os ler.
- Mas se não
gostas desses livros, não tens de os ler. Há milhares de livros bons, não
precisas de ler todos, muito menos os que não gostas.
E assim que o menino voltou a pegar
nos livros com as personagens que frequentavam a praia, a árvore gigante que
era habitada por monstros e criaturas horríveis, voltou a ser habitada por
belas personagens.
Foi como se todos tivessem tido um horrível pesadelo.
Felizmente, a árvore voltou a ter belos livros como casas onde viviam alegremente,
as boas personagens.
O menino devolveu os livros de terror ao amigo,
e foi gozado por isso, mas ele não se importou. Continuou a ler os seus livros
preferidos, que eram diferentes do seu amigo, mas os dois meninos continuaram a
ser amigos.
Os amigos não precisam de ter os mesmos gostos. É
preciso é que gostem um do outro, como meninos e como amigos. E os livros
também são nossos amigos, tal como as suas personagens, se quisermos. Tudo depende
da nossa imaginação.
A biblioteca é uma enorme árvore como esta, onde
vivem milhares de personagens em livros. Podemos gostar de uns e não gostar de
outros, mas todos são livros. E em cada livro, podemos ir para sítios
diferentes, sem sairmos do lugar. Em cada livro há uma porta, uma janela, uma
varanda ou até uma família, e uma escola. Os livros são maravilhosos.
FIM
Lálá
(5/Março/2015)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras