NARRADOR/A 1 - Um
poeta jovem estava muito triste, porque queria escrever e não conseguia. Já
tinha pedido ideias às estrelas, aos rios, às fontes, aos lagos, aos animais,
às montanhas…e nada!
(No
parque, dois meninos conversam sentados à sombra de uma árvore frondosa, a
folhear, a conversar alegremente, a partilhar e a trocar livros)
RAPAZ (Anda, nervoso, de um lado para o outro. Olha para um lado, e para o
outro, olha para o tecto) – Olá, amigos…viram por aí
palavras, letras, imagens, sons e…
MENINO E MENINA –
Livros?
RAPAZ –
Sim!
MENINA – Eu
só tenho estes aqui…que encontrei num saco que iam levar para o lixo, só porque
estavam estragados.
RAPAZ –
Onde?
MENINA – Estavam
ali atrás quase a ser levados para o lixo municipal. Eu é que pedi à minha avó
para os levar para casa e concertá-los.
MENINO - São
lindos! E ficaram óptimos! Como novos.
RAPAZ – Isso
não se faz!
MENINA – Eu
trato os meus livros todos, como se fossem pessoas, animais ou plantas!
RAPAZ – É
mesmo assim que eles têm de ser tratados.
MENINO –
Pois, porque são muito bons para nós.
MENINA - São
nossos amigos.
RAPAZ –
Aprendemos muito com eles!
MENINO – Os
livros são tesouros!
MENINA –
Pois são.
RAPAZ – Mas
o que eu quero mesmo saber é onde estão…palavras, ideias, pensamentos…? Onde?
MENINO –
Porque é que estás à procura de livros?
RAPAZ –
Porque quero escrever e não consigo. Parece que desapareci e desapareceu tudo o
que eu queria escrever da minha cabeça!
MENINA –
Pega nestes livros!
(Ele pega num livro e folheia. Numa das
páginas, sai uma voz)
VOZ 1 –
Lê-me. Folheia-me. De certeza que vais encontrar o que tanto procuras.
RAPAZ – Boa
ideia! Obrigado.
VOZ 2 –
Escolhe só as palavras boas e bonitas!
RAPAZ –
Sim, são essas que eu quero! E o mundo também!
NARRADORA 1 – Ao
ler, estamos sempre a aprender coisas novas!
NARRADORA 2 –
Quanto mais lemos, mais facilmente falamos, pensamos, escrevemos, fazemos
amigos, dizemos o que sentimos, e crescemos.
NARRADORA 1 – Não
em tamanho, mas por dentro!
Cena 2
(Ele
começa a folhear e a olhar com atenção…em silêncio. Passam algumas palavras e
pequenas frases…e parecem estar perdidas, olham para todos os lados e umas para
as outras.
PALAVRA 2 –
Ei…estamos num sítio diferente!
PALAVRA 1 –
Esta não é a nossa casa.
CORO DE PALAVRAS – Pois
não!
PALAVRA 3 – O
que aconteceu?
PALAVRA 4 –
Acho que nos mudaram de sítio!
CORO DE PALAVRAS –
Como? Porquê?
RAPAZ –
Onde estão, palavras?
PALAVRA 1 –
Esperem…estou a ouvir qualquer coisa.
RAPAZ –
Palavras…
CORO DE PALAVRAS –
Estamos aqui!
RAPAZ –
Apareçam, lindas palavras! Onde estão, palavras?
CORO DE PALAVRAS –
Aqui!
(As
palavras ficam muito atentas e em silêncio, na expectativa a ver o que está
para acontecer. Ele sorri, fecha o livro).
RAPAZ –
Obrigado amigos. Até à próxima.
OS DOIS (sorriem) –
Obrigada. Até à próxima.
(As
palavras sentam-se no chão, desanimadas e tristes).
Cena 3
NARRADORA 1 - Não
pensou mais nas palavras, e fez as suas tarefas de casa.
NARRADORA 2 –
Tentou deitar-se e dormir, para ver se encontrava palavras perdidas nos sonhos…mas
não pregou o olho a noite toda.
NARRADORA 1 - A
sua tristeza aumentava cada vez mais, porque as palavras continuavam sem
aparecer na sua cabeça.
NARRADORA 2 - Vê-se
ao espelho, à procura das palavras…e só se vê a ele.
PALAVRA 1 –
Olhem, ele está a ver-se ao espelho.
PALAVRA 2 –
Estará à nossa procura?
CORO DE PALAVRAS –
Sim!
PALAVRA 4 – Vamos
gritar agora outra vez…a ver se é desta!
CORO DE PALAVRAS –
Boa… (gritam) Estamos aqui!
PALAVRA 1 –
Acho que ele afinal não viu nada nos livros.
PALAVRA 2 – É.
Está tudo na mesma.
PALAVRA 3 – Ou
então não esteve atento…viu, por ver!
PALAVRA 4 –
Tenho tantas saudades de conhecer palavras novas e diferentes!
CORO DE PALAVRAS – Eu
também!
RAPAZ – Ai,
palavras…lindas palavras…onde estão?
CORO DE PALAVRAS – Aqui!
Cena 4
NARRADORA - Passa
uma borboleta em voo…ele olha fixamente para a borboleta, que pousa na sua
almofada. O rapaz olha para ela.
RAPAZ –
Olá…! Talvez tu sejas a minha salvação…borboleta. Borboleta, borboleta…óh
não…não me sai nada…
BORBOLETA – O
que é que estás para aí a dizer…?
RAPAZ – Não
consigo escrever...não me sai nada. Parece que as palavras fugiram todas…não
sei para onde!
BORBOLETA – Que
palavras?
RAPAZ –
Todas!
BORBOLETA – E
onde tinhas as palavras?
RAPAZ – Não
sei…estavam na minha cabeça, nas mãos, nos meus olhos…lá fora…em todo o lado.
BORBOLETA –
Muda de sítios.
RAPAZ –
Também já fiz isso, e não funciona. Tentei dormir, a ver se as encontrava nos
sonhos, mas não consigo fechar os olhos. Por acaso não viste por aí umas
palavras…?
BORBOLETA – Vi,
sim…milhões e milhões por aí espalhadas a voar.
RAPAZ –
Onde?
BORBOLETA – Por
exemplo…agora estou a ver milhares nos teus olhos…!
RAPAZ (surpreso) –
Palavras nos meus olhos?
BORBOLETA –
Sim.
RAPAZ – Mas
eu vi-me ao espelho, e não vi uma única palavra.
BORBOLETA – Mas
eu vejo. Visita livros…quem sabe, elas foram de férias! Deita-te!
RAPAZ – Não
consigo!
BORBOLETA –
Ora…deita-te! Fecha os olhos, e pede ao João Pestana que te dê soninho.
RAPAZ – Não
consigo.
BORBOLETA – Pára
de resmungar e fecha os olhos. Amanhã é outro dia, e terás outras ideias.
RAPAZ – Ai,
que nerrvoooossss…!
BORBOLETA –
Deita-te e conta até dez. Respira…e não penses nas palavras que não encontras.
Não penses em nada.
NARRADORA 1 – Com
a magia das asas da borboleta, ele adormece e sonha…
NARRADORA 2 - Sonha
que anda atrás das palavras que aparecem em forma de borboletas.
NARRADORA 1 - Milhares
de palavras diferentes, lindas, a voar felizes, diante dos olhos dele.
NARRADORA 2 - Ele
tenta apanhá-las com a rede, com as mãos, corre atrás delas, mas elas não se
deixam apanhar, pousam na sua cabeça, mas deixa de as ver.
(Acorda
sobressaltado e grita).
RAPAZ (grita, nervoso) – Nem
nos sonhos vos consigo apanhar.
Cena 5
(De
repente, ouvem-se muitos passos, muitos risos, e muitas palavras soltas)
RAPAZ –
Estou a ouvir passos! E…risos…
MÍMICA
O
quarto é invadido por personagens de livros, que conversam umas com as outras,
riem, dançam, saltitam, cada uma faz coisas diferentes.
RAPAZ – O
que é isto?
BORBOLETA – Não
perguntes nada…aproveita!
RAPAZ –
Mas…
PALAVRA 1 (feliz) –
Meninas, é agora!
CORO DE PALAVRAS (sorridentes, gritam) –
Boa!
PALAVRA 2 (feliz) –
Finalmente, novas amigas e imagens, e sons…
PALAVRA 3 (sorri) –
Áhhh…olha aquelas que lindas!
PERSONAGEM 1 –
Olhem, palavras…estamos num sítio diferente!
TODAS –
Uau! Éhhhh…
RAPAZ –
Quem são vocês?
PERSONAGEM 2 - Vivemos
todos num grande livro!
PERSONAGEM 1 – Nós
viemos descansar e passear!
PERSONAGEM 6 - Estamos
cansados de ser folheados.
PERSONAGEM 3 – E
de entrar e sair.
PERSONAGEM
4 –
Viemos conhecer sítios diferentes.
PERSONAGEM
5 – E
de silêncio!
PERSONAGEM 1 –
Anda connosco!
Cena 6
(Uma
personagem dá uma caixa em forma de livro. Ele folheia, sentado no chão, e
segue as personagens, sorridente e feliz).
MÍMICA (personagens: borboletas, nuvens,
vento, palavras, letras)
Palavras que voam como borboletas
desajeitadas, outras chocam com nuvens, outras são sopradas pelo vento, e caem
ou correm, tentam segurar-se com as mãos. Cruzam-se com outras palavras, umas
vão para um lado, outras para outro, separam-se pelo caminho, dançam, saltitam,
brincam, riem. Fica tão feliz que levanta-se e entra na brincadeira com elas.
No fim da música:
RAPAZ – Finalmente,
encontrei as palavras outra vez, e voltei a escrever coisas lindas! Muito
obrigado, livros e palavras!
FIM
Lálá
(17/Janeiro/2015)
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