Era
uma vez uma jovem rapariga que vivia numa casa pequenina, numa aldeia com
poucos habitantes. Toda a gente a achava estranha porque ela falava sozinha,
regava terra sem nada, sempre com um sorriso na cara. Ninguém lhe perguntava
nada porque ainda a conheciam há pouco tempo e não queriam parecer demasiado coscuvilheiros,
mas todos comentavam entre si.
Ela estava no jardim sem flores, a cantar
com uma voz maravilhosa, a regar e passa uma menina encantada com a sua voz, e
levava consigo um cãozinho numa cestinha que começa a ladrar e fica inquieto.
- Pára…já vamos. – Ralhe ela com o seu cão - Bom dia! Era
você que estava a cantar? – Diz a menina
- Bom dia, querida…Ouviste-me a cantar…? Sim, era eu!
Gosto muito de cantar enquanto rego!
- Sim. Adorei ouvi-la cantar. Tem uma voz mesmo muito
bonita…parecia uma fada! – Diz a menina a sorrir.
- Obrigada! Acordaste cedo. Estás sozinha? Quer dizer,
não estás sozinha porque estás com o teu amigo cãozinho, mas quero dizer…com um
adulto da tua família…? – Pergunta a jovem a sorrir
- Sim, estou com o meu cãozinho, os adultos da minha
família sabem que eu não me perco, nem vou para longe. Já conheço muito bem
este sítio, e ele também. Eu acordo sempre cedo, e vou passear o meu cão, os
grandes não têm tempo, e confiam em mim.
- Áh…muito bem. Mas não tens medo?
- Não! Aqui todos nos conhecemos, e nunca estou sozinha…passo
sempre pelos meus vizinhos, ou primos, ou tios…ou Avós, ou irmãos dos meus avós…Passo
por muitas casas. O meu amiguinho anjinho da guarda também está comigo. E você
está sozinha aí?
- Também não estou totalmente sozinha. Os meus pais
estão a viver na aldeia aqui ao lado, trabalham o dia todo, e esta casa foi
oferta de uma tia. Eu venho cuidar da casa e do jardim, porque gosto muito
deste espaço. E também nunca estou sozinha…
- Também tem o seu anjinho da guarda?
- Sim! Tenho.
- Olhe…o que está a regar?
- A terra.
- Mas isso não tem nada…
- Terá…! Estou a regar para isso.
- Áh…! E vai nascer alguma coisa?
- Sim, muita coisa.
- O que vai nascer?
- Tudo o que eu preciso.
- E o que é que precisa?
- Alimentos.
- Eu também preciso de alimentos.
- Todos precisamos. Até o teu amigo.
- Sim, mas ele não come tudo.
- Pois não. Não é uma pessoa.
- Pois. Vou andando. Até logo.
- Até logo…
A menina segue o seu caminho, e passa
uma velhinha misteriosa com bom aspecto, andar vagaroso, que não era conhecida
da aldeia, e saiu não se soube de onde…Observa a jovem e sorri.
- Bom dia!
- Bom dia, jovem.
- Precisa de alguma coisa?
- Não. Obrigada. És nova aqui…não és?
- Sim. E a senhora?
- Sou qualquer coisa, menos nova…quer dizer…por fora…por
dentro, continuo criança.
- Faz bem…é por isso que tem esse ar jovem.
- Pois é! Continua a fazer as tuas plantações, filha…faz
de conta que não estou aqui.
A jovem sorri, e continua a regar, a
remexer a terra e a velhinha silenciosa, a sorrir, sentada debaixo de uma
árvore muito larga.
- Quer alguma coisa? – Pergunta a jovem
- Não, obrigada. Estás a plantar o teu sustento, certo?
- Sim. Muitos legumes e frutas…flores…árvores…muitas
coisas.
- E sonhos?
- Sonhos? (A jovem ri) Não…esses não se plantam.
- Eu plantava sonhos na minha infância. – Diz a velhinha
a sorrir
- E nasciam? – Pergunta a jovem irónica
- Nasciam. Cresciam e dividiam-se.
- A sério?
- Sim. Pela mão das estrelas que à noite desciam por um
fiozinho da lua, iam tomar conta do meu jardim, e traziam com elas um raio de
sol para cada plantação! – Lembra a velhinha
- Áh! Que lindo! – Diz a jovem a sorrir
- Era! Tu não plantas os teus sonhos?
- Não!
- Porque não?
- Porque…não existem sementes de sonhos.
- Existem! Existe tudo o que nós queremos. Sei que é difícil
para ti acreditar nisso, mas… podias acreditar e experimentar. Gostas de
sonhos?
- Gosto. Alguns…
- Então planta-os.
- Mas…como faço isso?
A velhinha tira umas pedras de cristal,
redondas e transparentes.
- Olha para elas…com a pureza da criança que foste…deixa
que ela encha esses cristais com sonhos, e planta-os…depois…rega-os, como
regras outras coisas. – Explica a velhinha
- Está bem.
A jovem faz o que a velhinha disse, mesmo
sem saber se ia acontecer, quis experimentar. A velhinha desaparece, rápida,
misteriosa e silenciosamente…enquanto a jovem olha para os cristais e deixa que
a criança que ela foi, encha os cristais de sonhos e desejos que ela queria que
acontecessem.
Quando olhou, a senhora tinha
desaparecido, e reparou que toda a terra do jardim estava cheia de brilho e
cabecinhas a espreitar…eram as suas flores, legumes e árvores a nascer.
- Áh! O que é isto?
A jovem fica pensativa. Passa outro
rapaz e pergunta:
- O que tem no seu jardim?
- Tudo o que preciso.
- E o que é tudo o que precisa?
- Legumes, frutas, flores e árvores…Queres ajudar-me?
- Eu…tenho de ir… até logo.
E sai rapidamente. A jovem ri.
- Não percebo porque é que toda a gente me pergunta o
que tenho aqui plantado…este pedacinho de terra é igual aos outros.
E o
dia passa rápido. À noite, a jovem vai dormir, e no jardim tudo o que ela tinha
plantado e pensou que ia demorar o seu tempo, cresce enormemente por causa dos
cristais que ela plantou, de estrelas que desciam por um fiozinho de lua, e
traziam um raio de sol.
As
frutas, os legumes e as árvores aparecem gigantes, cheios de folhas, suculentos,
vistosos, carnudos. Tudo fresco, apetitoso, e as flores de todas as espécies,
até raras, com cores lindas, enormes, como nunca se tinha visto antes em mais
lado nenhum.
A
velhinha enche o jardim com vários animais: lindas borboletas de todos os
tamanhos e cores, passarinhos de várias espécies, com penas coloridas, cigarras
e grilos, joaninhas, gatinhos, e cãezinhos bebés com a sua mãe, muito meigos,
para lhe fazer companhia e protegê-la. Está tudo maravilhoso.
Na manhã seguinte, a jovem acorda e nem
quer acreditar no que está a ver.
- Eu estou a ver bem?
Sai porta fora e toca em tudo, cheira
tudo, pega nos cãezinhos e enche-os de mimos, toma o pequeno-almoço com eles,
dá-lhes de comer, e está muito surpresa com tudo o que vê no seu jardim. Apanha
algumas coisas e prova.
- Hum…que delícia! Huuuummmm…que fresco…cheias de sumo…!
Huummm…que cheirinho. Áh! Que rica sopa que eu vou fazer. E…agora para o almoço…Muito
obrigada…Universo…Terra…não sei quem fez isto…muito obrigada mesmo! Que coisa
fantástica. Mágica…! Uau!
Ela
senta-se a ouvir os passarinhos, as cigarras e os grilos a cantar, a apreciar
as cores das flores, a sentir os toques carinhosos das borboletas, e a ver as
suas cores…a inspirar toda a beleza, cheiros e frescura do jardim, rodeada dos
seus cãezinhos e os gatinhos a brincar.
O
seu jardim foi motivo de invejas e tentativas de maldades, mas estava sempre
protegida, e deu uma grande lição a todos, porque era muito boa, e partilhava
os seus produtos mágicos, com os seus vizinhos, quando tinha demasiado e quando
sentia que lhes fazia falta.
Ela sabia que todos naquela aldeia eram
muito pobres, famílias muito grandes, e nem sempre as terras produziam tudo o
que eles precisavam, ou não produziam tanto… por causa da sua bondade, ela
tinha cada vez mais surpresas, e cada vez mais coisas apetitosas no seu jardim.
FIM
Lálá
(30/Dezembro/2015)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras