Era
uma vez um menino que não tratava muito bem dos brinquedos. Quando estava muito
zangado, destruía o primeiro brinquedo que apanhava, depois, o pai e o Avô,
pacientemente e com muito carinho concertavam-nos. Mas ele voltava a
destrui-los, na zanga seguinte.
-
Já te disse que os brinquedos não são para destruir rapaz…! – Dizia o pai
-
Eu não destruí! – Diz o rapaz
-
Ai não? Então…? Montaste-os? – Pergunta o Pai
-
Sim! – Diz o rapaz
-
Que mãos! – Resmunga o Pai.
-
Outra vez…? – Ralhava o Avô
-
Um dia destes não concerto mais nada. – Ameaça o Pai
-
Eu já não concertava hoje…tens de aprender a ser um rapaz meigo, até com os
brinquedos. Quem tos oferece de certeza que ficaria muito triste ao ver o que
fazes com as ofertas. – Diz o Avô.
-
Eles não sentem nada. São de madeira. – Argumenta o rapaz
-
É claro que sentem… - Garante o Avô
-
Isso são histórias que contam à Filipa. – Defende o rapaz
-
Ela sim, trata dos brinquedos como deve ser. – Diz o pai
-
É menina… - Diz o rapaz
-
Sabe comportar-se. E sabe que os brinquedos são para brincar, não são para
estragar, porque eles sentem, e são nossos amigos. – Diz o Avô.
O
menino pousava os brinquedos todos estragados na bancada do Avô, e virava
costas. Desta vez, a vítima do seu nervoso foi um lindo palhaço de madeira, de
fato colorido, ao xadrez, e uma cara pintada, risonha, todo articulado, que
mexia o corpo todo.
Só
porque a mãe não lhe deu o que ele queria, ficou tão zangado que agarrou no
palhaço e desmontou-o todo.
-
Ai, estás-te a rir…? Espera que já vais ver… - Diz o rapaz raivoso
-
O que é que eu fiz?
O
pobre palhaço grita, e tenta segurar as suas partes, mas a sua dor começou a
tomar conta de si…e deixou de gritar. Perdeu as forças, porque o menino: separou
a cabeça do resto do corpo, arrancou a cabeleira, rebentou as cordas do tronco,
dos braços, das pernas e dos pés, de tanto que puxou por ele. Depois, ainda não
satisfeito, pegou nos pedaços todos e atirou pelo ar…foi uma parte para cada
lado. Pobre boneco!
Depois
da destruição saiu do quarto amuado e bateu a porta. O boneco geme.
-
O que foi isto? – Perguntou uma boneca delicada da irmã
-
Mais uma vítima nas mãos daquele estouvado. – Responde outro boneco
-
Mas ele é mesmo palerma… - Diz a boneca.
-
Olha como ele pôs o desgraçado do palhaço… - Observa outro boneco.
-
Mas que terror. E logo um palhaço tão giro. – Suspira a boneca.
-
Foi um sonho mau, ou…o que eu…sonhei que aconteceu, aconteceu mesmo? – Pergunta
o palhaço
-
Desculpa desiludir-te amigo…! Infelizmente aconteceu mesmo! Não foi um sonho
mau que tiveste…foi real! Foste mais uma vítima daquele terror…! – Diz o outro
boneco
-
Óh! Coitadinho. – Lamenta a boneca
-
Vamos cuidar de ti. – Diz o outro boneco
-
(olha em volta) Estes pedaços são meus?
-
Sim! – Respondem os dois
-
Óh…não posso acreditar. – Diz o palhaço assustado
-
Calma, amigo… vais já ficar como novo. – Assegura o outro boneco
O
boneco e a boneca pegam nos pedaços todos, com carinho, aproximam-se dele, e
tentam juntar os pedaços.
-
É assim, mas falta cola… - Lembra o boneco
-
Pois é…está aqui. – Diz a boneca
Pegam
no tubo de cola, e colam todos os pedaços do palhaço. Num instante, o palhaço
fica como novo.
-
Já está! – Diz o boneco sorridente
-
Que lindo! – Diz a boneca
-
Foi rápido! – Diz o palhaço
-
Já temos muita prática! – Assegura o outro boneco.
-
E tu até foste mais ou menos fácil de montar, porque temos situações de
montagem muito mais complicadas! – Diz a boneca.
-
Felizmente, juntos conseguimos sempre. – Diz o outro boneco.
-
Pois. E somos sempre nós que reconstruimos os brinquedos que aquele diabo
destrói. Não pode ver nada direito! – Resmunga a boneca.
-
Agora tens de secar um pouco, amigo! – Diz o outro boneco.
-
Está bem, como faço isso? – Pergunta o palhaço?
-
Nós levamos-te até ali. – Diz a boneca.
Os
dois bonecos arrastam-no com cuidado para o chão onde há sol, e deixam-no ao
sol para secar. Enquanto isso, os três bonecos falam e riem alegremente uns com
os outros. Quando o palhaço está seco, os três dão as mãos, e fogem para o
quarto da Filipa, abraçam-se e beijam-se.
-
Conseguimos! – Gritam os três
-
Aqui estamos seguros, com toda a certeza! Seremos muito bem tratados. – Garante
a boneca.
-
Achas que ele não vai dar pela nossa falta? – Pergunta o palhaço
-
Claro que não…ele nem para os brinquedos olha…a esta hora já se esqueceu de
nós, e do boneco que destruiu…aliás…já deve estar a pensar no próximo boneco ou
brinquedo que vai destruir…ele não sabe o que é brincar, nem para que servem os
brinquedos. Não valoriza a amizade verdadeira que nós podemos oferecer. –
Explica o outro boneco
-
Nunca me vou cansar de vos agradecer tudo isto, amigos! Muito obrigado! – Diz o
palhaço feliz.
-
Não tens de agradecer. A amizade também é para isto…para colar novamente, os
pedaços que são separados, e tirar algumas dores, com abraços, carinhos e
gargalhadas. – Diz o outro boneco.
-
Sim. Vocês são maravilhosos! – Diz o palhaço a sorrir feliz.
O
tempo foi passando e, realmente, o menino não se lembrou mais dos três
brinquedos, destruiu muitos mais, sempre reconstruidos pelos três bonecos. Algumas
amizades na nossa vida também podem ser como a destes três bonecos…para se
ajudarem, para se abraçarem e para se reconstruirem uns aos outros…os pedaços
que se soltam muitas vezes de nós, e apanhar os estilhaços do coração que se
espalham e que nos fazem chorar…na maneira de ser, e nas transformações que
vamos sofrendo. Se nos destroem, como o menino fazia com os brinquedos, não são
amigos, e devemos mantê-los longe.
FIM
Lálá
(31/Janeiro/2014)