Era uma vez uma
menina que foi passear o seu fiel amigo…o felpudo Tó, num dia cheio de sol, e
em campos repletos de flores nos arredores da sua casa. A menina
inspirava o ar, e fazia lindos colares de margaridas, brancas, e coroas de
girassóis, enquanto o cãozinho corria por onde queria, cheirava as flores,
esgravatava e ladrava a abanar o rabo feliz.
De repente,
o cão ouviu uma voz pequenina e fraquinha:
- Socorro! Ajudem-me, por favor!
Vai a
correr, e a cheirar, e quando ouve outra vez a voz, a pedir ajuda, vê a
borboleta no chão, e gemer.
- Podes comer-me…come se quiseres…tenho uma asa
partida! Dói muito, e não consigo voar. – Diz a borboleta
O cãozinho
fica triste, e começa a ganir.
- Então? Não me vais comer? – Pergunta a borboleta
muito surpresa, a encolher-se cheia de dores.
O cãozinho
esfrega o focinho na borboleta e lambe-a.
- Óh! Tão querido! – Diz a borboleta a sorrir.
O cão
desata a ladrar para chamar a menina.
- O que foi, Tó? Encontraste alguma coisa? – Pergunta a
menina – Deve ter sido um bicho para comeres! Depois não te queixes que estás
maldisposto…não tens juízo a comer.
O cão não
para de ladrar.
- Cala-te um bocadinho, Tó! – Pede a menina – Pronto,
está bem! Mostra lá o pitéu.
A menina
levanta-se e vai à beira do cão. Olha para o chão.
- Tó! Que coisa mais feia! Vais comer uma borboleta,
seu guloso? Ainda por cima tão bonita…na, na, na…escolhe outra coisa…deixa a
borboleta em paz! – Ralha a menina.
- Não! Ele não teve culpa. Está só a pedir ajuda por
mim! – Diz a borboleta.
- Áh! Ele não te fez mal?
- Não!
- O que é que tens?
- Uma asa partida…quase de certeza! Dói muito, não
consigo voar, nem mexê-la, e acho que está toda torta. – Explica a borboleta.
- Óh! Coitadinha! Como é que isso aconteceu?
- Não sei bem…acho que foi uma pedrada de uns rapazes
que estavam aqui a brincar.
- Mas…é claro…só podia ser! São os do costume…ai, se eu
os apanho!
- Será que me podes ajudar?
- Claro que sim…vou mostrar-te ao meu Avô!
- O teu Avô cola asas de borboletas?
- Cola ossos, por isso também deve colar asas!
- Cola ossos?
- Sim…ele é…ortopés…orto…joelhos…orto…costas…orto
braços…orto…mãos e orto mais qualquer coisa das pessoas.
- Orto…pés…? O que é isso?
- São aqueles doutores que concertam os pés, as pernas,
os braços, e outros ossos das pessoas.
- Áh! Ortopedista, queres tu dizer…?
- É. Deve ser isso mesmo…vou levar-te lá! de certeza
que ele vai conseguir fazer alguma coisa, por ti!
- Está bem!
A menina
pega na borboleta com cuidado e leva-a para casa. Ela chora de dores na asa.
- Deve doer mesmo muito, borboleta! – Observa a menina
- Sim, muito mesmo.
- Não te preocupes…isso vai já passar! Bem-vinda à
minha casa! (grita) Avô!
O Avô
estremece.
- Que susto, filha! Diz…
- Desculpa! Não sabia que estavas ocupado.
- Não faz mal…diz lá!
- Olha…encontramos uma borboleta no campo, que diz que
tem uma asa partida…dói-lhe muito, e não consegue voar…diz que levou uma pedrada
duns atrevidos…
- Áh! Coitadinha…Vamos lá ver isso então! Que linda
borboleta!
- Foi o Tó que a encontrou.
O Avô
analisa com cuidado e carinho, ela treme toda, e chora de dores. O cão está
sensível e gane encolhido, juntamente com ela, sempre que ela geme.
- Também estás com dores, Tó? – Pergunta o Avô a
sorrir.
O cão
ladra.
- (a rir) Sim, estás solidário com a tua amiga, eu sei!
Já percebi! – Diz o Avô.
O cão
deita a língua de fora, e lambe a borboleta a abanar o rabo.
- Vá…deixa a tua amiga…ela vai ficar boa…chega-te para
lá…deixa-me trabalhar, se não…não posso ajudá-la.
O cão
ladra, a menina sorri, orgulhosa.
- Este cão é o máximo, não é, Avô?
- Sim, é um bicho bom…sensível e muito meigo.
O cão
lambe a menina, e ela acaricia-o, abraça-o, ele deita-se no chão para receber
mais mimos, e a menina esfrega-lhe a barriga, ele deita a língua de fora,
feliz.
Tira-lhe uma pequena
radiografia.
- Sim, pois é…tem mesmo a asinha partida!
O cão
levanta-se triste e nervoso.
- Para…Tó. Fica aqui. – Ordena a menina
- Calma, Tó…não é nada grave! – Diz o Avô.
Tó
senta-se, e fica muito atento.
- Será que consegues concertá-la, Avô?
- Sim, consigo, claro que sim! Vamos lá tratar disto.
O Avô põe
uma pomada na asa, uma camada de parafina, uma camada de gesso e uma ligadura.
- Pronto…já está! Vais ter de ficar assim um tempo!
- Não faz mal…! Eu queria…era não ter dores! – Diz a
borboleta.
- Boa! Avô…és o máximo…adoro-te! (O Avô sorri
deliciado) Vou arranjar uma gaiola para a deitar.
- Isso mesmo! – Diz o Avô.
- Não te importas pois não, borboleta? – Pergunta a
menina
- Não! Claro que não. – Responde a borboleta.
- Não te esqueças de lhe dar de comer e de beber…
- Sim! E de a cuidar com carinho e atenção!
- Isso mesmo.
- Eu sei, Avô! Muito obrigada.
Beija a
abraça o Avô. O cão roça-se nele, e lambe-o, o Avô acaricia-o. A menina pega na
borboleta e pousa-a na gaiola que era de um grilo. Dá-lhe de comer, de beber,
fala com ela, faz-lhe festinhas, prepara-lhe uma cama confortável, e a borboleta
fica lá com a menina até ficar boa. As duas tornam-se grandes amigas. Passado um
tempo, o Avô tira o gesso à borboleta.
- Já estás óptima, querida! A tua asa já está nova. Já podes
voltar a voar à vontade! – Diz o Avô.
- (feliz) Boa! Muito obrigada!
- (feliz) De nada! Qualquer coisa podes vir cá, está
bem?
- (sorri) Está bem!
- Agora, deves devolver a tua amiga à sua liberdade! –
Diz o Avô.
- Óh! (triste) Isso quer dizer que…vais embora?
- Sim! – Diz a borboleta.
O cãozinho
também fica triste.
- Óh filha, a borboleta quer andar livre, lá fora…é uma
maldade prendê-la! – Diz o Avô.
- Óh! Mas eu estava a gostar tanto dela, que queria
ficar com ela!
O cãozinho
gane, triste.
- Pois é, Tó…eu sei! Até tu, não é…? – Diz a menina.
- Eu venho ver-te mais vezes, prometo! E a ti, também,
Tó…! – Diz a borboleta.
O cãozinho
abana o rabo feliz, ladra, e lambe a borboleta. A borboleta ri-se.
- Prometes?
- Prometo. Nunca te viraria as costas depois de tudo o
que fizeste por mim! Vou agradecer-te para sempre! – Diz a borboleta.
- Tens mesmo de voltar para a tua casa?
- Sim…mas volto a ver-te muito em breve.
- Vá lá, filha…não sejas possessiva! Deixa a bichinha
voar, e viver livre! Podes continuar a gostar dela, e ela de ti, e podem
encontrar-se mais vezes!
- Claro que sim. – Garante a borboleta.
- Óóóhhh…! (chora)
- Óh! Não quero lágrimas…quero ver o sol do teu sorriso
lindo, como aquele que está lá fora. Eu não fugir, nem para longe…podemos
passear sempre juntas. – Pede a borboleta
- A sério? (pergunta a menina a sorrir)
- Claro que sim! Eu vivo ali fora…somos vizinhas!
- (sorri) Que bom! Bem…então se é assim…vai!
- Anda comigo!
- Está bem.
- Até à próxima, Sr. Dr.
- Até à próxima, linda borboleta! Volta sempre, mas para
nos visitar…com que seja porque te magoaste.
- Também acho…! (ri)
As duas
saem. A borboleta feliz porque já consegue voar, e já não tem a asa partida,
mas a menina…está feliz por a sua amiga já estar bem, mas com pena de ficar sem
a borboleta. Tó vai atrás. As duas passeiam, numa conversa muito animada,
brincam juntas, e constroem uma linda amizade.
FIM
Lálá
(31/Dezembro/2013)
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