NARRADORA – Era uma vez uma ilha selvagem, perdida numa praia selvagem. Nessa
ilha vivia uma grande comunidade de Índios, que nunca tinham ido á cidade, nem
tinham comunicado com outras pessoas. Esses índios vestiam muito pouca roupa, e
não tinham nada que fosse pré-fabricado. Eles próprios construíam os utensílios
de cozinha, os instrumentos de defesa, os medicamentos com produtos naturais,
roupas, a comida era a própria terra que dava, e o que plantavam. As famílias eram
muito numerosas e viviam em tendas cobertas de cabaninhas de palha para se
protegerem da chuva e do calor, embora chovesse muito pouco. Não lhes faltava
nada. Davam-se todos bem. Numa noite com uma Lua Cheia que iluminava tudo, uma
fada Luísa sobrevoou essa ilha, quando já todos dormiam. Estava lá outra fada
residente, pousada numa árvore muito velha, a tocar uma música muito suave com
a sua harpa, como era costume.
FADA LUÍSA – Olá, boa noite!
FADA LUZ (sorri) – Olá!
FADA LUÍSA (sorridente) – Tocas tão bem…! Continua, por favor.
FADA LUZ (sorri) – Agora é hora do silêncio. Entra na minha
casa, para conversarmos um pouco…!
(As duas
entram na velha árvore)
FADA LUZ – Esta é a minha humilde casa…bem-vinda!
FADA LUÍSA – Áh! A tua casa é linda! E tu também.
FADA LUZ (sorri) – Obrigada. És nova aqui, não és?
FADA LUÍSA – Sim. Estou só a sobrevoar a zona…e tu? De onde és?
FADA LUZ – Eu vivo aqui, desde que nasci. Os meus pais vivem naquele cogumelo
ali adiante, muito perto daqui, vou lá todos os dias, e eles vem cá, mas quis
algum espaço só para mim. Faço música para trazer paz à ilha, e para os
adormecer. E tu, o que vieste fazer para além de sobrevoar?
FADA LUÍSA – Vim ver como era esta ilha, com a Luz da Lua.
FADA LUZ – É linda…esta ilha é um sonho…de dia e de noite, com qualquer lua.
Sabes, aqui todos vivem bem, mas falta uma coisa que…talvez nós as duas
possamos ajudá-los a ter!
FADA LUÍSA – O quê?
FADA LUZ – Sorrisos!
FADA LUÍSA (muito surpresa) – Sorrisos?
FADA LUZ – Sim! Sorrisos…eles não sorriem, nem riem!
FADA LUÍSA – Porquê?
FADA LUZ – Deve ser a sua maneira de ser. Estão sempre com cara de pau.
FADA LUÍSA – Cara de pau? Mas eles não têm pele, como nós?
FADA LUZ – Têm pele, como nós, claro, mas estão sempre sérios…
FADA LUÍSA – Sérios…? Huummm…porquê?
FADA LUZ – Não sei, parecem sempre aborrecidos, ou chateados, ou…tristes!
FADA LUÍSA – Porquê?
FADA LUZ – Não sei. Acho que nem sabem o que é sorrir, ou rir.
FADA LUÍSA – Mas como é que isso é possível?
FADA LUZ – Este povo vive muito isolado, nunca contactou com outras pessoas.
FADA LUÍSA – Nunca foram à cidade?
FADA LUZ – Não, nem os da cidade vieram aqui. Os visitantes passam sempre de
longe.
FADA LUÍSA – E como é que conseguem ter as coisas que precisam?
FADA LUZ – Aqui, têm tudo! Só lhes falta sorrir, e rir.
FADA LUÍSA – Mas sorrimos desde que nascemos!
FADA LUZ – Nós, sim, mas não somos todos iguais! Nós sorrimos desde que
nascemos, porque os nossos pais sorriem-nos, e amam-nos, mas talvez estes pais
não sorriam, nem riam para os filhos!
FADA LUÍSA – Será que não gostam dos filhos, como os nossos pais gostam de
nós?
FADA LUZ – Acredito que gostem dos filhos, mesmo sem lhes sorrir. Talvez tenham
outra maneira de lhes mostrar o amor que sentem!
FADA LUÍSA – Mas se não lhes sorriem é porque não ficam felizes por ter os
filhos no colo!
FADA LUZ – Não acredito muito nisso! Somos todos diferentes, aprendemos
muitas coisas iguais, mas não concretizamos o que aprendemos, todos da mesma
maneira. Uns são mais expressivos, outros mais reservados, mas acredito que
tenham na mesma os sentimentos e que haja amor entre eles.
FADA LUÍSA – Eles brincam?
FADA LUZ – Não.
FADA LUÍSA – Eles abraçam-se e beijam-se?
FADA LUZ – Não.
FADA LUÍSA – Por isso é que eles andam sempre tristes!
FADA LUZ – Sim, pode ser…todos precisamos de abraços e beijos, isso faz-nos
bem, e sentimo-nos felizes…
FADA LUÍSA – Há bocado disseste que talvez pudéssemos ajudá-los…como?
FADA LUZ – Sim, podemos! Queres ajudar-me?
FADA LUÍSA – Está bem! Se eu souber como fazer…! Qual é a tua ideia?
FADA LUZ – Claro que sabes! A minha ideia é fazermos um bolo grande, para
todos, com uns ingredientes especiais, que os vão fazer sorrir e rir muito!
FADA LUÍSA – Um bolo? Huummm…parece-me uma excelente ideia! Mas tem de ser
apetitoso.
FADA LUZ – De chocolate! É o ingrediente principal…além de ser delicioso,
traz felicidade e boa disposição.
FADA LUÍSA – Sim, é verdade. E mais?
FADA LUZ – A massa vai ter…sorrisos, em pétalas, abraços e beijos em pó,
gargalhadas em fermento…Huummm…mais…umas estrelas…bolinhas de riso…e…acho que
não me estou a esquecer de nada!
FADA LUÍSA (sorri) – Huummm…que
bom! Já estou com água na boca!
FADA LUZ (sorri) – Eu também!
Já comeste esse bolo?
FADA LUÍSA (sorri) – Sim, já
comi muitas vezes. Sempre que estou alterada, triste, chateada ou nervosa.
FADA LUZ (sorri) – Eu também. Então…mãos à obra.
FADA LUÍSA – Mãos à obra! Espera…onde vais buscar todos esses ingredientes?
FADA LUZ – Anda comigo!
NARRADORA – As duas fadas dão a mão, e vão para a praia buscar todos os
ingredientes para o bolo que estão guardados num baú, dentro de uma árvore
velha.
FADA LUÍSA – Ááááhhh…Nunca tinha entrado aqui!
FADA LUZ – Eu já! Entro muitas vezes.
FADA LUÍSA – Que linda!
FADA LUZ – Só eu sei deste lugar e do que aqui está!
FADA LUÍSA – É o teu refúgio?
FADA LUZ – Sim! Vá…ajuda-me a levar a caixa. Pega daí desse lado! Vamos precisar
de tudo o que está aqui.
FADA LUÍSA – Está bem. Onde é a cozinha?
FADA LUZ – Vais já ver.
NARRADORA – As duas fadas transportam a caixa para uma cozinha entre rochas,
e a fada acende a fogueira, debaixo do pote preto, antigo, onde vai ser feito o
bolo. A fada está encantada.
FADA LUÍSA – Áh! Que cozinha tão linda!
FADA LUZ (sorri) – Nunca tinhas
entrado aqui?
FADA LUÍSA – Não!
FADA LUZ – Esta é uma cozinha comunitária, dos Índios, mas quase nunca vem
aqui gente.
FADA LUÍSA (sorri) – É linda!
FADA LUZ (sorri) – Sim, é. Vamos
lá então fazer o bolo.
NARRADORA – A Fada Luz começa a deitar os ingredientes, um por um, com muito
carinho e delicadamente, mexe-os com elegância, e a outra fada ajuda. Enquanto as
duas conversam alegremente, o bolo cresce, e deixa um aroma delicioso no ar, as
fadas estão radiantes e saltitam de alegria. O bolo cresce ainda mais…
FADA LUZ – Está quase pronto.
FADA LUÍSA – Uau! Boa!
(As duas
batem palminhas)
NARRADORA – E o bolo está pronto. As fadas tiram uma fatia e provam.
AS DUAS – Huummm…!
FADA LUÍSA – Que delícia.
FADA LUZ – Está óptimo, não está?
FADA LUÍSA – Mesmo tentador. E vamos deixá-lo na ilha?
FADA LUZ – Claro.
FADA LUÍSA – No pote?
FADA LUZ – Não…agora vamos pegar nele…tirá-lo do pote, e metê-lo ali na
travessa!
FADA LUÍSA – ÁH! Está bem.
NARRADORA – As duas fadas pegam no bolo e põem-no na travessa. Levam-no para
a ilha, e escondem-se. Pouco depois, todos os índios são despertados pelo
cheiro irresistível do bolo. Reúnem-se à volta deste, e o índio chefe corta o
bolo em fatias. Todos comem com vontade e deliciados, mais que uma fatia. Quando
já estão satisfeitos, guardam o resto do bolo e de repente, as suas caras
começam a mover-se sozinhas, a encolher-se, e a alargar a boca. Olham uns para
os outros, muito assustados. Mas inesperadamente, começam a sorrir, a olhar uns
para os outros. Depois…sem mais nem menos, atrás do sorriso, vem as
gargalhadas, sem motivo, começando num, e os outros a seguir. As fadas riem
também com vontade.
FADA LUZ (a rir) – Ai, que
gargalhadas tão engraçadas, já viste?
FADA LUÍSA (ri) – Pois é! São contagiosas.
FADA LUZ (a rir) – E que
lindas, que são!
FADA LUÍSA (a rir) – Sim, são
sem motivo, mas verdadeiras…são dadas com sinceridade e naturalidade!
FADA LUZ (a rir) – São mesmo. E
essas são mesmo as mais bonitas, que deixam toda a gente realmente feliz…! Quem
as dá, e quem as ouve…!
FADA LUÍSA (a rir) – É verdade!
FADA LUZ (a rir) – Aprenderam a
rir, e a sorrir.
FADA LUÍSA (feliz) – Sim, foi mesmo!
FADA LUZ (orgulhosa) – O bolo
funcionou mesmo.
FADA LUÍSA (orgulhosa) – Pois foi!
FADAS (felizes) – Boa!
(Abraçam-se)
FADA LUZ (sorridente) – Obrigada pela
ajuda, amiga!
FADA LUÍSA (sorri) – De nada. Foi
um prazer.
FADA LUZ – Aparece mais vezes por aqui.
FADA LUÍSA (sorri) – Com certeza
que sim! Passarei com muito gosto…e para a próxima, tens de ir também conhecer
a minha casa…
FADA LUZ (sorri) – Está combinado…é
só aparecer por aqui, e dizeres quando queres que vá lá…
FADA LUÍSA (sorridente) – Sim, eu
venho-te buscar…! Até breve, amiga.
FADA LUZ (sorridente) – Até breve.
NARRADORA – A partir desse dia, as duas fadas tornaram-se grandes amigas,
conviveram e brincaram juntas, aprenderam e ensinaram muita coisa uma à outra. A
ilha nunca mais foi a mesma, porque os índios aprenderam a sorrir e a rir, com
vontade, a brincar e a dançar. As caras de pau, tornaram-se caras de sorrisos,
e palhacinhos, risonhos, sempre a trocar beijos e abraços. Tudo ficou muito
mais feliz e divertido. Há muitas coisas que precisamos de aprender, ao longo
da nossa vida, mas já nascemos a sorrir, e devemos sempre sorrir, assim como
rir. Faz-nos bem à saúde, e faz-nos sentir mais vivos, mais felizes. Não se
esqueçam de sorrir e de rir sempre! Muitas vezes por dia, sozinhos ou
acompanhados, com motivo ou sem motivo. E não se esqueçam de abraçar e de
beijar.
FIM
Lálá
23/Dezembro/2013
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