Era uma vez uma pequena aldeia rodeada de árvores. Em alguns sítios entrava o sol, noutros, as árvores eram tão frondosas que o sol quase não entrava. Mas para os habitantes da aldeia de casinhas baixinhas pareciam de bonecas, isso não era preocupação porque onde o sol entrava, aquecia tudo e muito.
Precisavam da sombra e refugiavam-se debaixo das árvores. De há uns tempos para cá, alguma coisa estranha andava por ali. Já todos tinham visto o que parecia uma sombra, transparente, para uns.
Outros, viram o que parecia uma mulher transparente ou de vestido branco luminoso, que talvez tocasse um instrumento, porque ouviam uma música. Alguns habitantes diziam ter visto fumo a ondular.
Na verdade não sabiam o que era, pois mudava de forma muitas vezes. Todos viam, e todos sentiam medo, apesar da curiosidade. Seria uma habitante, ou um habitante novo? De dia não viam, poderia ser uma animal noturno, só era visto de noite, e como não conheciam, o medo não os deixava aproximar desse ser de muitas formas que tanto os intrigava.
Uma noite, um grupo de crianças que brincava à porta de casa, num larguinho, viu o que parecia ser um fumo cinzento, a ondular, parecia estar a dançar. Ouviam música, começam aos gritos, e o fumo desata a fugir, tal como elas.
Que grande susto! Os pais perguntaram o que tinha acontecido, e elas contaram. Os pais riram, pensaram que era da sua imaginação. Mas para surpresa deles, o fumo ondulante que tinha fugido, voltou.
Os pais viram. E um pouco assustados, perguntam:
- Fumo...por aqui? De onde vem?
O fumo rodopia várias vezes, e aparece em forma de mulher transparente a tocar como já a tinham visto. Os pais ficam assustados, mas ao mesmo tempo encantados.
Os vizinhos que estão à janela por terem ouvido os gritos das crianças também estão incrédulos. À beira da mulher, aparece outra sombra branca, do mesmo tamanho, outra mulher, com um violino.
Era a música que eles ouviam. Todos ficam de boca aberta, e as mulheres sombras brancas riem.
- Quem são vocês? - pergunta uma senhora, assustada
- Não precisam de ficar com esse medo todo! - diz uma mulher sombra
- Somos do bem! - diz a outra
- Nunca vos vimos por aqui, só recentemente! - explica um senhor
Estava uma brisa nessa noite, e depois formou-se um vento forte, que põe as sombras a ondular, a dançar, a tocar música, só perceberam passado algum tempo, que eram os diferentes sons do vento, quando este passava entre as folhas, na erva alta, nas espigas dos campos.
- Somos feitas pelo vento! - diz uma sombra
- E de fumo, ou neblina, conforme o seu estado de espírito, se está bem disposto, mal disposto.
- Ele gosta de variar e brincar! É por isso que já nos devem ter visto também com outras formas…! - acrescenta outra senhora
- Quem é o vento? Um vizinho novo? - pergunta uma senhora
- Não, minha senhora! O vento, que a senhora e todos vocês sentem, todos os dias. Umas vezes, uma brisa, outras vezes mais ou menos forte, até quase ao ciclone! - explica uma sombra
- Áh! Sim, é verdade. Mas ele tem filhos ou filhas? Não sabíamos. Mas o vento não se vê. Só se sente, e vocês as duas veem-se! - responde a senhora
- Pois! Também não sabemos porque é que ele faz isso! - diz outra sombra
- Respeitamos o trabalho e as brincadeiras, as alterações de humor dele. - diz a outra sombra
- E gostamos do que ele faz connosco. - acrescenta a outra sombra
- Claro! - respondem todos
- Sim, é verdade. - dizem todos os habitantes
- Umas pessoas dizem que vocês são fumo ondulante, que dança e toca.
- Outras pessoas dizem ver uma mulher de luz transparente.
- Sim, é isso mesmo.
- Outras vezes somos da cor das nuvens em dias de chuva, para nos protegermos.
- O nosso Pai é um grande artista! Adora mudar-nos a forma e brincar connosco! - diz uma sombra
- Nós já tínhamos visto, mas não sabíamos quem eram, de que espécie eram.
- Querem sentir o nosso abraço? - pergunta uma sombra
- Sim! - dizem todos
- Aproximem-se.
Os habitantes aproximam-se um pouco a medo, e quando as sombras as abraçam, elas sentem as variações do vento: desde uma brisa, vento moderado, fraco, ligeiro, até um vento cortante, gelado, quando elas se afastam e começam a dançar para os habitantes levemente, de forma alegre, e a outra sombra toca.
Todos os habitantes perdem o medo, deixam-se contagiar pela leveza e música delas, com várias cores, brilhos e luzinhas. Tão bonitas, tão leves, parecem artistas de rua, acrobatas, divertidas, brincalhonas, giram sobre elas próprias, cruzam-se, entrelaçam-se, uma na outra, e o público acompanha com um olhar maravilhado, surpreso, e encantado.
Deliciavam-se a ouvir os diferentes sons do vento que elas transmitem. Todos sentem as aragens, e os sopros fortes, dançam com elas, e uns com os outros, e aplaudem. Elas sorriem, agradecem e depois desse encontro, gostaram tanto que prometeram encontrar-se mais vezes.
E vocês: se pudessem ver o vento, teria forma? Qual? Cheiro? Qual? Sabor? Qual? Cor? Ou cores? Qual ou quais? Tocaria algum instrumento musical? Qual ou quais? Gostavam de ver o vento?
Podem deixar nos comentários, se quiserem.
Fim
Lara Rocha
14/Julho/2025