Número total de visualizações de páginas

segunda-feira, 14 de julho de 2025

As filhas do vento

    Era uma vez uma pequena aldeia rodeada de árvores. Em alguns sítios entrava o sol, noutros, as árvores eram tão frondosas que o sol quase não entrava. Mas para os habitantes da aldeia de casinhas baixinhas pareciam de bonecas, isso não era preocupação porque onde o sol entrava, aquecia tudo e muito. 

    Precisavam da sombra e refugiavam-se debaixo das árvores. De há uns tempos para cá, alguma coisa estranha andava por ali. Já todos tinham visto o que parecia uma sombra, transparente, para uns. 

    Outros, viram o que parecia uma mulher transparente ou de vestido branco luminoso, que talvez tocasse um instrumento, porque ouviam uma música. Alguns habitantes diziam ter visto fumo a ondular. 

    Na verdade não sabiam o que era, pois mudava de forma muitas vezes. Todos viam, e todos sentiam medo, apesar da curiosidade. Seria uma habitante, ou um habitante novo? De dia não viam, poderia ser uma animal noturno, só era visto de noite, e como não conheciam, o medo não os deixava aproximar desse ser de muitas formas que tanto os intrigava. 

    Uma noite, um grupo de crianças que brincava à porta de casa, num larguinho, viu o que parecia ser um fumo cinzento, a ondular, parecia estar a dançar. Ouviam música, começam aos gritos, e o fumo desata a fugir, tal como elas. 

    Que grande susto! Os pais perguntaram o que tinha acontecido, e elas contaram. Os pais riram, pensaram que era da sua imaginação. Mas para surpresa deles, o fumo ondulante que tinha fugido, voltou. 

    Os pais viram. E um pouco assustados, perguntam: 

- Fumo...por aqui? De onde vem? 

    O fumo rodopia várias vezes, e aparece em forma de mulher transparente a tocar como já a tinham visto. Os pais ficam assustados, mas ao mesmo tempo encantados. 

    Os vizinhos que estão à janela por terem ouvido os gritos das crianças também estão incrédulos. À beira da mulher, aparece outra sombra branca, do mesmo tamanho, outra mulher, com um violino. 

    Era a música que eles ouviam. Todos ficam de boca aberta, e as mulheres sombras brancas riem. 

- Quem são vocês? - pergunta uma senhora, assustada 

- Não precisam de ficar com esse medo todo! - diz uma mulher sombra 

- Somos do bem! - diz a outra 

- Nunca vos vimos por aqui, só recentemente! - explica um senhor 

    Estava uma brisa nessa noite, e depois formou-se um vento forte, que põe as sombras a ondular, a dançar, a tocar música, só perceberam passado algum tempo, que eram os diferentes sons do vento, quando este passava entre as folhas, na erva alta, nas espigas dos campos. 

- Somos feitas pelo vento! - diz uma sombra 

- E de fumo, ou neblina, conforme o seu estado de espírito, se está bem disposto, mal disposto. 

- Ele gosta de variar e brincar! É por isso que já nos devem ter visto também com outras formas…! - acrescenta outra senhora 

- Quem é o vento? Um vizinho novo? - pergunta uma senhora 

- Não, minha senhora! O vento, que a senhora e todos vocês sentem, todos os dias. Umas vezes, uma brisa, outras vezes mais ou menos forte, até quase ao ciclone! - explica uma sombra 

- Áh! Sim, é verdade. Mas ele tem filhos ou filhas? Não sabíamos. Mas o vento não se vê. Só se sente, e vocês as duas veem-se! - responde a senhora 

- Pois! Também não sabemos porque é que ele faz isso! - diz outra sombra

- Respeitamos o trabalho e as brincadeiras, as alterações de humor dele. - diz a outra sombra 

- E gostamos do que ele faz connosco. - acrescenta a outra sombra 

- Claro! - respondem todos 

- Sim, é verdade. - dizem todos os habitantes 

- Umas pessoas dizem que vocês são fumo ondulante, que dança e toca. 

- Outras pessoas dizem ver uma mulher de luz transparente. 

- Sim, é isso mesmo. 

- Outras vezes somos da cor das nuvens em dias de chuva, para nos protegermos. 

- O nosso Pai é um grande artista! Adora mudar-nos a forma e brincar connosco! - diz uma sombra 

- Nós já tínhamos visto, mas não sabíamos quem eram, de que espécie eram. 

- Querem sentir o nosso abraço? - pergunta uma sombra 

- Sim! - dizem todos 

- Aproximem-se. 

    Os habitantes aproximam-se um pouco a medo, e quando as sombras as abraçam, elas sentem as variações do vento: desde uma brisa, vento moderado, fraco, ligeiro, até um vento cortante, gelado, quando elas se afastam e começam a dançar para os habitantes levemente, de forma alegre, e a outra sombra toca. 

    Todos os habitantes perdem o medo, deixam-se contagiar pela leveza e música delas, com várias cores, brilhos e luzinhas. Tão bonitas, tão leves, parecem artistas de rua, acrobatas, divertidas, brincalhonas, giram sobre elas próprias, cruzam-se, entrelaçam-se, uma na outra, e o público acompanha com um olhar maravilhado, surpreso, e encantado.   

    Deliciavam-se a ouvir os diferentes sons do vento que elas transmitem. Todos sentem as aragens, e os sopros fortes, dançam com elas, e uns com os outros, e aplaudem. Elas sorriem, agradecem e depois desse encontro, gostaram tanto que prometeram encontrar-se mais vezes. 

    E vocês: se pudessem ver o vento, teria forma? Qual? Cheiro? Qual? Sabor? Qual? Cor? Ou cores? Qual ou quais? Tocaria algum instrumento musical? Qual ou quais? Gostavam de ver o vento? 

    Podem deixar nos comentários, se quiserem. 

                                                                    Fim 

                                                                Lara Rocha 

                                                               14/Julho/2025 

Sem comentários:

Enviar um comentário

Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras