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domingo, 13 de julho de 2025

A viagem de uma pena

       Era uma vez uma pena que se soltou de um pavão, muito bonita, comprida, brilhante, pousada na relva a apreciar a paisagem. O que lhe chamou mais a atenção foi uma criança sorridente, do outro lado da margem a lançar um barquinho feito de esponja, colorido, leve. 

      Nunca tinha visto um barquinho daquele estilo. O menino lançou o barquinho, a cantarolar, baixinho, e disse: 

- Boa viagem, barquinho! Xau. 

      O barquinho começa a andar lentamente, porque o rio tinha pouca água, ao sabor desta, o menino acompanha os movimentos, parece estar a imaginar onde irá parar, levanta-se, e acompanha pela margem, olhando também para a paisagem à sua volta. 

      A pena entra na água mas está tão fria, que sai para se aquecer e apanhar sol, mas fica tão curiosa com o barquinho que vai pela relva a acompanhar a viagem do barquinho e o menino, maravilhada. 

      A sua imaginação começa a trabalhar, sobre para onde irá aquele barquinho, o que encontrará na água e fora dela. Será que alguém vai entrar no barquinho? Talvez um peixinho, um sapinho, uma rãzinha, uma borboleta, uma pedra, uma gota de água? Uma folha de uma árvore? Uma abelha? Ou será que já leva alguém lá dentro? Hummm...não, não vejo ninguém. Será que vai um passarinho a viajar no barquinho? Ou...uma pena, como eu? Será que vai o menino? Não...o menino não sabe lá! Ou, será que é uma armadilha para caçar algum animal? O menino tem ar de bonzinho, acho que não fazia isso. Talvez o barquinho encontre pedras grandes, como é que ele vai sair de lá? Pode ser difícil. 

       Vê o menino entrar na água, porque tal como a pena do pavão imaginava, o barquinho encontrou pedras altas e nem a água conseguia empurrá-lo. O menino pega no barquinho, e põe-no na parte mais lisa. Sai da água, e continua a ver para onde vai. A pena aparece e comenta consigo: 

- E se aparece um patinho, será que vai abocanhá-lo? 

        Aparece mesmo um patinho, o menino grita-lhe, quando se preparava para abocanhar o barquinho. 

- Nem penses! Isso não é para comeres! 

        O patinho não lhe mexe, mas segue atrás dele. Mais à frente, o barquinho fica a rodopiar num buraco com água entre rochas e não consegue sair. O patinho vai lá e empurra-o com o bico. 

- Obrigado, pato! - diz o menino 

- Pensei que ias gritar outra vez comigo. Eu já sabia que isto ia acontecer. - diz o pato 

- Desculpa! Obrigado. 

        O barquinho segue viagem, o pato atrás, a pena numa margem, e o menino na outra. A pena imagina: 

- E se aparece um rato que o quer comer? 

        Aparece mesmo um rato, que tenta morder o barquinho, mas o menino e o pato gritam: 

- Nem te atrevas! 

        O rato recua e encosta-se assustado à parede, logo a seguir esconde-se num buraco. Mais à frente, o barquinho passa por uma zona cheia de pedrinhas, e trepida demais. O patinho pega nele, o menino grita com o pato: 

- Larga isso! 

        Mas quando vê que o patinho tirou o barquinho de tantas pedras, sorriu: 

- Áh! Desculpa, patinho. Obrigado. 

        O barquinho segue, e todos o acompanham, até que para nas grades onde acaba o lago. O menino aprecia a paisagem, vê a pena de pavão na relva, molha os pés, vai buscá-la e põe-na no barquinho, para voltar para o mesmo sítio. A pena sente um bocadinho de medo, mas está toda refastelada. 

- Mas que barquinho tão agradável, tão macio...parece uma nuvem, ou uma espuma! Áh! Que gira paisagem, daqui! Senta-se, aprecia a paisagem, deita-se e vê o céu, a cor do céu, os pássaros, ouve o som da água, vê as árvores e os seus troncos com formas diferentes, as folhas verdes, de vários tamanhos, e tons, a abanar com o vento, como se fossem mãos a acenar. 

        Ela sorri e abana-se também, diz olá, vê a água, a sua cor, as pedrinhas, dezenas de peixes de vários tamanhos e cores, à volta do barco e dos lados. Ela ri, e fica com vontade de lhes tocar, como faz o menino que a acompanha, com os pezinhos na água. 

        Molha as mãos, e desata às gargalhadas quando toca nos peixes, porque são escorregadios, e nadam rápido. Alguns param aos seus pés e aceitam mimos, outros fogem. A pena também os vê nas rochas onde o barquinho ficou preso, para não rodopiar, o menino tira-o e põe-no na água. Faz o mesmo quando passa no monte de pedrinhas. 

        A pena vê flores bravas, e relva verde, esquilos a correr, coelhos bravos, cães a passear com os seus donos, pais a passear bebés, pessoas a andar de bicicleta, a pé, a jogar à bola. O menino também viu, enquanto deu o resto do passeio, relaxado, e no final, ele tira a pena do barquinho, atira-a a rir-se, para a relva, e tira o barquinho da água. 

        A pena fica triste e zangada, pela indelicadeza do rapaz. Vai embora e a pena ficou na dúvida se imaginou essa viagem, ou se a fez mesmo, porque já não viu o menino, nem o barquinho. 

- Será que sonhei, imaginei ou dei mesmo este passeio tão bom naquele barquinho? Porque é que ele tinha de estragar o passeio, ao tirar-me do barquinho e deixar-me aqui na margem? Depois de um passeio tão bom, ou...um sonho, imaginação, não sei...ele não devia ter feito isso! Põe-me no barquinho, e no fim atira-me assim para a relva, leva o barquinho, e eu fico aqui? Óh! Não gostei. Só gostei enquanto andei no barquinho. E o pato, onde está? Se calhar ficou lá atrás. Ele até foi simpático, cuidou do barquinho, livrou-o de alguns perigos. 

        A pena levanta-se, e recolhe-se bum buraquinho de um tronco, porque estava frio. Um passarinho pega na pena com o bico, e leva-a para o seu ninho, para cobrir os seus filhotes. 

        A pena fica assustada, mas quando percebe que é para aquecer passarinhos pequeninos, sente-se orgulhosa e deixa-se ser levada. 

Será que foi um sonho, imaginação ou realidade? 

Se vocês imaginassem um passeio num barquinho como estes, como seria? 

O que veriam? 

E se fossem a pena de pavão, como imaginariam o passeio do barquinho? 

E o que é que o barquinho encontraria? Um rio calmo, ou um rio cheio de obstáculos? 

Podem deixar nos comentários, se quiserem. 

                                                                            FIM 

                                                                       Lara Rocha 

                                                                    12/Julho/2025 

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