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domingo, 13 de julho de 2025

A casa dos patinhos

  

foto de Lara Rocha, tirada num jardim (2025) 


  Era uma vez uma família de patinhos que viviam num pequeno ribeiro, calmo, da casa numa quinta, que ia aumentando mais adiante e encontrava-se com um rio maior, para outro enorme. 

  Geralmente estava bom tempo, mas de repente, acontece uma grande mudança, como já não se lembravam de sentir. Um dia com um calor muito estranho. 

   Uma atmosfera que causava aflição e medo, estava tão pesada que até os habitantes se queixavam e andavam mais lentos. Os patinhos quase não se mexiam, pareciam sonolentos, os pássaros murchos nos ninhos, como se fosse noite, ou Inverno. 

   Os animais das cortes, pareciam pressentir alguma mudança porque mostravam-se inquietos, agitados, entravam e saiam dos estábulos a correr desvairados, sem destino, voltavam a entrar com falta de ar. 

    Os donos da casa sentiam-se muito cansados e preocupados com aquela mudança do comportamento dos animais, aquela atmosfera horrível, um calor sufocante, sem sol. 

   O céu fica cada vez mais pesado, escuro e a juntar à preocupação dos donos, os cães desatam a uivar e a ladrar. Eles tinham razão, porque de repente, surgem no céu rajadas de clarões e trovões estrondosos, que abanavam o chão. 

  Os donos ficaram dentro de casa, com medo e a rezar para que aquilo passasse rápido, e para não ser nada de mau. Mas estavam enganados. 

  Infelizmente, começa uma chuva torrencial, tão forte como nunca antes tinham visto. Nem queriam acreditar que fosse verdade, só existia noutros países, mas era mesmo verdade, naquele lugar, onde nem sequer imaginavam. 

   Os pássaros e outros animais conseguiram proteger-se nos troncos, nos estábulos, mas os patos não tiveram tempo. Quase como se estivessem a dormir, deixaram-se ir pela corrente, que se tornava cada vez mais cheia, mais suja, mais forte, e fazia muito barulho. 

   Os pobres patos não sabiam o que estava a acontecer, nem onde iam parar, mas algum sítio haveriam de encontrar. Tentavam voar, mas era impossível.

 Tentaram sair da água mas esta era mais forte do que eles. Grasnavam forte, agarraram-se uns aos outros com muito medo, rodopiaram várias vezes na água, algum lixo bateu contra eles. 

- Tanta água! - grita um patinho 

- Onde vamos parar? - pergunta outro 

- Não sabemos. Vamos ver. Estamos juntos, não nos larguem. - diz a mãe pata 

  Os pais sentiam tanto medo, como os pequenos, mas tentaram disfarçar; sempre a segurar nos pequenos. A enxurrada continuava, mas felizmente os patos conseguiram saltar numa zona mais larga, onde também havia água que assustava. 

    Esse rio era mais largo, tinha margens,  e os patos conseguiram voar para lá. 

- E agora? - pergunta a pata mãe

- Não conheço este sítio! - diz o pai pato 

- Nem eu. - diz a mãe pata 

- Vamos ver! - sugere o pai 

    Ao longo da margem, em pedra, a chover torrencialmente mas já em segurança, protegidos pelas árvores que abanavam quase até ao chão, para o lado da rua, e voltavam a levantar-se, os patos correm com medo. 

  Caminharam uns metros, e viram uma praia. O mar metia medo, chegava quase à estrada, com ondas que fustigavam tudo e enormes. Os trovões iluminavam tudo, e estouravam ruidosamente por todo o lado. 

- Viemos ter onde…? - pergunta um patinho 

- À praia! - responde uma gaivota que eles não tinham visto. 

- Como é que andam por aqui com esta tempestade? - pergunta outra gaivota 

- Não sabemos! - respondem os patos 

- Nem sabemos o que está a acontecer, nunca vimos tanta água, mas viemos com a força dela. - explica a mãe pata 

- Era muita água suja, e arrastou-nos. - acrescenta o pai pato 

- Nós viemos de uma quinta, com outros animais. 

- Áááhhh…! - dizem as gaivotas 

- Que pena! - lamenta uma 

- Vieram com o enxurro? - dizem várias gaivotas 

- Sim. 

- Abriguem-se aqui! - sugere uma gaivota 

- Entrem, fiquem à vontade. - diz outra 

- Este barco está abandonado, quer dizer, nós fizemos dele a nossa casa, quando está mais frio, ou chove, vamos para a parte de baixo, que é coberta. Tem várias casotinhas. Fiquem aí numa delas. 

- Obrigado! - dizem todos 

  Entram no barco abandonado, com o que restava dele, realmente podiam aproveitar para viver vários animais. Conversam com as gaivotas, elas tentam arranjar alimento para todos e conseguem, com dificuldade, por causa do vento. 

  No dia seguinte, ouvem toda a gente na praia a falar de muitos estragos. Os patos ficam preocupados. Estão muito agradecidos às gaivotas, mas voam no sentido inverso para ver se encontram novamente a quinta onde viviam. 

  Nem querem acreditar no que estão a ver...tanta coisa estragada, tanta árvore caída, casas com coisas partidas, telhas no chão, vidros, portas quase arrancadas, lixo por todo o lado. Os campos não se viam, estavam alagados de água. 

   Ouviram e viram pessoas aos gritos a ver a destruição, aterrorizadas, e a chorar por terem ficado com estragos nas casas, nos telhados, nos campos, nos carros. 

  Encontraram a quinta onde viveram, não viam o seu lago, estava cheio de água, coberto de pedras e paus, lama, os campos completamente inundados com água, os donos em prantos, a tirar água aos baldes, de dentro de casa, das cortes, um filme de terror, também eles tinham estragos no telhado e nos vidros. 

  Os patos sentiram muita pena deles, ficaram desolados, com as lágrimas nos olhos. Não aguentaram, nem podiam fazer nada, voltaram para o barco da praia. Contaram às gaivotas a desgraça que viram. 

    As gaivotas ficaram tristes, e convidaram-nos a dar uma caminhada pela praia, apanhar sol, para acalmar, enquanto elas iam pescar. Foi o que fizeram, patas na areia molhada, o mar muito mais calmo, tanto andaram na areia como no mar, e deliciaram-se com comida. 

    Mesmo gostando tanto do primeiro sítio onde viveram, e dos donos, decidiram ficar a viver no barco que consideravam confortável, aconchegante. 

    Uma casa perecida com a deles, com as vizinhas gaivotas, com quem se davam muito bem, e eram ótimas pescadoras. Conversavam, brincavam, riam, passeavam, pescavam e abrigavam-se. 

    Nos dias seguintes, voaram várias vezes, com as gaivotas, por cima da casa antiga, que tinha desaparecido, viam os donos a tentar recompor-se. 

  Tanto os patos, como as gaivotas, sentiam-se tristes, e queriam ajudar, mas eram corridas de muitas casas, com a revolta dos moradores que também pensavam que estas iam roubar alimentos. 

    Claro que a culpa não era delas, mas elas compreendiam que fosse a tristeza e a revolta. Deixaram-se estar na praia, no barco, naquele novo espaço, que tornaram mais confortável e aconchegante, com a ajuda das gaivotas que fizeram ninhos quentes, para os patos. 

   Como se sentiram bem nesse barco, não voltaram para a quinta. Viam o nascer do sol, contemplavam o maravilhoso pôr-do-sol, aplaudiam, sorriam, outras vezes, iam com as gaivotas vê-los do mar. Ainda mais bonito. 

   As tempestades começaram a ser mais frequentes, o mar onde estava o barco, mas outro lugar seguro que encontraram, foi a casa também abandonada de um antigo pescador. Estava vazia, as gaivotas e os patos resguardavam-se lá. 

    Num dos dias que foram revisitar a quinta, repararam que ainda havia muita coisa estragada, e a sua casa, do pequeno rio, não tinha sido reconstruída. 

    A sua tristeza era enorme. Não percebiam porque é que estava a haver tantas tempestades tão violentas, mas ouviam toda a gente a falar nelas, e a dizer que era a poluição, as alterações climáticas, o aquecimento global. 

    Mesmo que não soubessem o que era isso, percebiam que não era bom. E era perigoso para todos. 

E vocês, porque é que acham que há cada vez mais tempestades, com muitos estragos? 

Se as gaivotas e os patos vos perguntassem, o que lhes respondiam? 

Se fossem os patos, onde preferiam morar: no barco abandonado, ou na casinha do pescador? 

Porquê? Podem deixar nos comentários, se quiserem.

                                                            Fim 

                                                      Lara Rocha 

                                                    12/Julho/2025 

 

                                        

                                                

 

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