Era uma vez uma menina pequenina
que quis andar de baloiço na casa dos seus avós, onde ficava todos os dias
enquanto os seus pais iam trabalhar.
Ela pediu à Avó para pôr o baloiço, mas a
Avó disse-lhe que estava muito ocupada e não podia interromper o que estava a
fazer, por isso, que fosse pedir ao Avô.
A menina foi pedir ao Avô, mas este
disse-lhe para pedir à Avó, porque também estava muito ocupado na sua oficina
de concertos de carros.
- Mas Avô…já pedi à Avó e ela disse que estava
muito ocupada, não podia, e para pedir a ti. Agora peço a ti e tu dizes para
pedir à Avó…estão os dois muito ocupados. E eu? – Resmunga a menina triste
- Filha, vai brincar com outra coisa…mais
tarde, eu ponho-te o baloiço, estamos combinados? – Negoceia o Avô
- Mas que chatice! Vocês adultos às vezes são horríveis.
Põe o trabalho à frente dos filhos e dos netos. Que seca! – Resmunga e vira
costas
Vai para o jardim amuada, e
senta-se no banco de ferro em forma de nuvem, pintado de azul-bebé. Aparece um
duende pequeno, muito traquinas, a voar muito apressado sobre as árvores de
mochila às costas e óculos de sol.
- Ei…onde vais com tanta pressa? Até tu estás
com pressa…? De quê? – Pergunta a menina
O duende para e olha para
ela.
- Estás a falar comigo?
- Sim! Porque estás a voar tão depressa?
- Estou no meu trabalho.
- Até tu, tens trabalho? Só trabalho...só trabalho.
- Estás zangada?
- Estou.
- Posso saber porquê?
- Pedi aos meus avós para pôr o baloiço, e não
podem. Pedi à minha Avó, ela disse para pedir ao meu Avô porque estava muito
ocupada. Pedi ao meu Avô, ele disse para eu pedir à Avó, porque estava muito
ocupado. Estão sempre muito ocupados…sempre o trabalho primeiro do que as
netas.
- E qual é o trabalho deles?
- A minha Avó faz bolos, e costuras, roupas,
lãs…o meu Avô concerta carros. Os meus pais estão a trabalhar, e eu fico sempre
aqui. Brinco muitas vezes sozinha, e não gosto nada. Hoje queria andar de
baloiço e os meus avós não podem. Que chatice. – Resmunga
- Eu ponho-te o baloiço e brinco contigo, pode
ser?
- Pode! Não te importas…?
- Não.
- Mas estás a trabalhar.
- Não faz mal. Há tempo para tudo…eu quero, é
ver um sorriso teu, e brilho nos olhos.
- Boa…obrigada.
O
duende chama os amigos e juntos prendem o baloiço feito pelo Avô, a gosto da
menina, entre duas árvores, fazem uma vénia à menina e ajudam-na a subir para o
baloiço, e empurram-na.
A menina grita e ri feliz,
pede para dar mais ou menos lanço, e os duendes aproveitam a boleia, numa
grande alegria, e conversam divertidos uns com os outros.
- Áh, áh, áh…faz cócegas…e os cabelos a voar…Uau!
Parece que até estou a voar… éééééééhhhhhhhhhhhh…………
Todos riem e aplaudem, voam à
volta do baloiço, penduram-se e balançam-se. Passado um bocado, o trombone da
floresta dos duendes soa, e eles estremecem.
- Óh não…vamos ter de ir embora. Até logo,
menina…voltaremos.
- Até logo. Obrigada…
Eles voltam para a floresta e
a menina fica outra vez sozinha e triste:
- Óh…estava a ser tão divertido. Que pena! –
Lamenta a menina
A árvore dá um valente e
sonoro espirro. A menina salta do baloiço muito assustada, mas ao mesmo tempo
ri-se.
- Foste tu que espirraste?
- Sim, desculpa, querida…
- Santinho!
- Obrigada.
- Estás constipada?
- Sim…esta poluição.
- Óh, coitadinha. Olha, podes empurrar-me um
bocadinho, por favor…?
- Claro que sim!
A
menina e as árvores têm uma longa conversa, enquanto a árvore empurra o baloiço.
Quando a menina não quer andar mais de baloiço, as árvores contam-lhe histórias,
ela ouve encantada, e conta outras, riem e no fim da tarde voltam os duendes
para brincar com a menina.
Os Avós continuam a
trabalhar, até que se lembram que a menina deveria estar sozinha e saem de casa
muito preocupados para o jardim. Quando vêem a menina ela está divertidíssima,
e brincar com os duendes e com as árvores.
- Já acabaram o trabalho? – Pergunta a menina
zangada
- Sim…
- Agora já não quero andar de baloiço. Já andei…pelo
menos alguém ainda teve tempo para mim. Vocês sempre ocupados. – Resmunga
- Quem? – Perguntam os avós assustados
- Os duendes da floresta, e as árvores. Eles puseram-me
o baloiço, as árvores empurraram-me e contaram-me histórias, eu contei-lhes
outras…os duendes foram trabalhar, mas voltaram para brincar comigo! – Responde
a menina
- Acho que é imaginação dela… - murmura a Avó
- Ááááááhhhh… - respondem os dois avós
- Porque é que vocês os dois e os meus pais…só
pensam em trabalhar, e não têm tempo para mim?
Os
Avós tentam explicar à menina, mas ela ainda é muito pequena para entender. Mas
depois desse dia, os Avós passaram a dar-lhe um bocadinho mais de atenção, a
empurrá-la no baloiço e a contar-lhe histórias.
Os
duendes e as árvores substituíam os Avós, quando estes estavam muito ocupados,
e a menina já não estava sozinha. Ela adorava esses amigos, eles eram muito
enérgicos, eléctricos e divertidíssimos.
Perceberam que a menina se
sentia muito sozinha, e como os pais também trabalhavam, eles também, mas se
não fossem os Avós, a menina sentia-se abandonada. Como dizia o duende…há
sempre tempo para tudo, mesmo com muito trabalho, há sempre tempo para as
crianças.
FIM
Lara Rocha
(25/Julho/2015)