Era
uma vez um jardim enorme com muitas outras tulipas, de muitas cores diferentes.
Abriam com o sol, e fechavam com a noite ou quando havia mais sombra.
Um dia, um menino cismou que queria
apanhar borboletas, e que as ia pregar num placard pelas asas com pioneses.
Os pais
não estavam de acordo com essa maldade, e tentavam de todas as maneiras
contrariá-lo, distrai-lo com outras coisas, mas ele era muito mimado, teimoso e
rebelde.
Conseguia tudo o que queria com as suas birras ouvidas
por todo o bairro, ainda por cima, mentia…quando vinham ver o que se passava, e
a razão daquela gritaria, ele dizia que os pais lhe tinham batido.
Felizmente,
muitos vizinhos já sabiam que ele era assim, não acreditavam. Cismou tanto, que saiu de casa sem os pais perceberem,
e levou uma rede para as apanhar, com um saco de pioneses, preparado para
pregar as borboletas.
Correu de um lado
para o outro, mas as borboletas escapavam, e uma delas avisou as outras, muito
assustada:
- Meninas…fujam! Anda aí
um estouvado, uma criatura maldosa que nos quer apanhar com aquelas redes, e
prender com pioneses. Tenham cuidado.
As borboletas ficam muito nervosas e assustadas.
- Como é possível? – Diz uma
borboleta nervosa
- É um adulto? – Pergunta outra
- Não. É uma criatura
pequena. – Responde a outra borboleta
- Tão pequena e já com
essa carga de maldade? – Comenta outra
- Faltam-lhe umas palmadas
para aprender a respeitar. – Diz outra
- É bem verdade…é isso
mesmo! – Concorda outra
- Mas não percam mais
tempo…escondam-se onde puderem e assim que puderem. – Recomenda a borboleta
- Obrigada por avisares,
amiga! – Diz uma borboleta
- De nada…escondam-se como
puderem e onde puderem.
Elas voam rápido, e procuram abrigo, mas são tantas que os
espaços não chegam para todos, pelo menos aqueles lugares que podem ser mais
seguros para as borboletas.
- Está ali… - Grita outra
borboleta
- Maldito! – Gritam todas
- Qual é a piada nisto?
- É nestas alturas que eu
gostava de ser um animal diferente…uma fera com garras.
- Eu também.
- Dava cabo dele…
- E agora…? Para onde
vamos?
- Boa pergunta…já está
tudo cheio!
- Que nervos!
- Em último caso,
damos-lhe um par de estaladões.
- Isso mesmo.
- Que palerma.
- Eu?
- Aquele…
As tulipas apercebem-se da preocupação e agitação das
borboletas e abrem, excepcionalmente:
- Escondam-se aqui! –
Gritam as tulipas
E entram às centenas para as simpáticas tulipas que se
abriram. Logo que elas entram, as tulipas fecham-se.
Não se vê mais uma única
borboleta a voar.
- Onde foram todas? –
Pergunta a criança
Silêncio absoluto. De uma árvore sai um tronco fininho que
lhe bate no rabo. Ele grita.
- Vai-te embora criatura horrível.
– Diz uma voz
- Que voz é esta?
- Vai-te embora! – Grita outra
voz mais forte
- Palerma! – Diz outra voz
- Eu quero borboletas. – Grita
o pequeno
- Elas não aparecem
enquanto as quiseres prender… - avisa a voz mais forte
- Mas eu queroooo… - grita
o pequeno
- Estás habituado a que te
façam todas as vontades…não pode ser. – Ralha outra voz
- Vai para a tua casa, e
não voltes a perseguir as borboletas… – Grita outra voz mais forte
- Elas são bonitas em voo.
– Grita outra voz
- Não vais ter essa sorte
enquanto as perseguires… - Diz uma voz
- Elas não foram feitas
para estar pregadas nas paredes.
- Foram feitas para estar
livres.
O pequeno insiste, mas as vozes não se deixam levar por ele,
e dão-lhe uma bela lição. As tulipas abrem e todas as borboletas voam.
O pequeno
fica tão encantado que perde a vontade de as apanhar e prender, e também as vê
a dançar com todas as suas cores.
- Ááááááhhhh…! – Diz o
pequeno espantado
Até aplaude. Desde esse dia, o pequeno
nunca mais apanhou borboletas. Gostou tanto de as ver, e de ver as tulipas a
abrir e a fechar, que levou os pais a esse jardim para eles verem. Aprendeu a
apreciar o que é bonito, sem prender e sem ficar com elas.
É isso mesmo…há muitas coisas bonitas na
natureza que são só para ser vistas, só assim é que se consegue ver a sua
verdadeira beleza.
O mesmo acontece com as pessoas, e com os sentimentos. Presos,
não mostram a sua beleza.
O Mundo precisa de
pessoas que mostrem a sua verdadeira beleza, não a física, mas aquela que nem
todos os olhos vêem à superfície.
Há belezas que só se descobrem no abraço, na
amizade, no carinho, e na liberdade. O mundo precisa de liberdade, para ser
mais bonito, e nós também.
FIM
Lara Rocha
(6/Abril/2015)
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