foto tirada por Lara Rocha |
- Quem é esta criatura na água? Que ser estranho! Está a olhar para mim e a repetir o que eu digo...mas eu não o oiço.
Dá uma bicada na água e o seu reflexo desaparece, formando pequeninas ondulações.
- Nunca outra vi, desapareceu?
Olha outra vez e volta a ver a imagem.
- Apareceste outra vez?
O reflexo não responde.
- Estás a gozar comigo, é? Eu não acho piada nenhuma, por estares a repetir tudo o que eu faço e tudo o que digo. Porque é que estás aí?
O reflexo não responde. O pequeno pavão fica nervoso, vira-se de lado e no reflexo vê as suas lindas penas traseiras, brilhantes na água, abana-se, o reflexo faz tudo. Começa a gritar nervoso, e aos saltinhos com os olhos muito abertos assustado:
- Agora tenho olhos atrás? O que é isto?
Salta, olha para a água e lá está o seu reflexo, com as pequenas penas a abanar. Grita, sacode-se, salta nervoso e assustado. Corre a abanar-se, os outros animais observam-no intrigados e a rir:
- O que é que lhe está a dar? - comenta um macaco às gargalhadas
- Realmente...ele não parece nada bem! - diz um esquilo que estava a saborear uma noz.
- Está para ali aos gritos, a sacudir-se, a correr, a saltar...vou perguntar-lhe se está tudo bem com ele - diz um coelho a rir-se
- Parece que tem algum inseto a chateá-lo ou a picá-lo!
Aproxima-se do pavão:
- Então moço? O que se passa? Estás muito agitado!
O pavão continua a saltar, a gritar, não responde ao coelho e vai a correr para a beira dos pais:
- Pai, Mãe, está um bicharoco dentro da água do lago a olhar para mim, a imitar tudo o que eu digo e faço. Depois...desaparece, volta a aparecer. Virei-me de lado, olhei para a água e lá estava ele a imitar-me. Mas agora vi que tenho ramos de árvores colados ou espetados nas costas, ou mais abaixo, ainda por cima com umas centenas de olhos, não os contei mas deve ser próximo disso. Aparecem na água lá com o outro que também tinha iguais...e vocês também têm! O que é isto? Como é que estes paus com olhos vieram aqui parar? Socorro! Tirem-me isto, por favor. Eu corri, saltei, e não saíram.
Os pais desatam às gargalhadas.
- Estão-se a rir? Eu aqui em sofrimento, numa grande aflição, e vocês riem-se? Ááááhhhh, não estava à espera.
- Mostra-nos esse bicharoco do lago. - diz a mãe a rir
- Vocês não vão gostar de o conhecer! Tenho a certeza. - diz o pavão pequenino
- Nós conhecemos esse bicharoco, mas mostra-nos! - diz o pai a rir
- Conhecem? - pergunta o pavãozinho muito surpreso
- Sim, mas mostra-nos, para termos a certeza que é quem estamos a pensar.
Os pavões adultos, vão a rir à gargalhada o caminho todo até ao lago.
- Aqui! - diz o pequeno e espreita
Os pais também espreitam, e veem o seu reflexo:
- Olha que bonitos que nós estamos! - diz a mãe a sorrir
- Mas então, onde está o bicharoco?
- Está aqui...e agora tem mais dois. - diz o pequeno
- Não vês que somos nós, e tu? - comenta a mãe
- É o nosso reflexo? - acrescenta a mãe?
- Olha tu...eu...e a mãe. - diz o pai
O pequeno pavão olha várias vezes para os reflexos na água e para os pais, que continuam a rir
- Mas...mas...como é que pode ser? - pergunta o pavãozinho
- É como se nos estivéssemos a ver ao espelho, em casa.
- Mas estes não têm os ramos das árvores espetados ou colados aqui atrás, com os olhos…
Os pais viram-se de lado, e as grandes penas luminosas veem-se refletidas na água.
- Não são ramos de árvores coladas, muito menos com olhos! São as nossas penas, e as tuas também vês, quando te pões de lado. - explica o pai
- As tuas ainda são pequeninas, mas à medida que vais crescendo, elas também crescem. Ficam como as nossas! - acrescenta a mãe
O pavão pequeno fica boquiaberto, muito surpreso e em silêncio. Os animais à volta riem à gargalhada, com os pavões grandes.
- Ele estava aqui, completamente histérico, nem me respondeu - diz o coelho a rir-se
Gargalhadas de todos
- Pensávamos que ele estava a fugir de algum inseto, ou que estava a picá-lo. - diz o esquilo às gargalhadas, com os pavões grandes
- Então...não há outro a imitar-nos na água? - pergunta o pequeno
- Não, claro que não. - dizem os pais
Os pais abrem as penas maravilhosas, todos os animais batem palmas, como costumam fazer. O pavãozinho pequeno abre as dele, os pais e os outros animais também aplaudem. Ele sorri.
- Sois maravilhosos! - grita uma preguiça num tronco
-Obrigada! - dizem os pavões
- Onde é que o pequeno há bocado ia com tanta pressa, aos saltos, aos gritos…? - pergunta a preguiça
- Estava a ver os reflexos na água e não sabia o que era, nem de quem eram. Eram dele, e depois nossos. - responde a mãe
Todos riem
- Pensei que tinha ramos de árvores com olhos, colados às costas, ou mais abaixo. E que estava uma criatura monstruosa a imitar tudo o que eu dizia e fazia. Que susto que eu apanhei - diz o pavãozinho a rir
Conversam alegremente, passado uns tempos o pequeno pavão cresce como os pais, e vê o seu reflexo na água do lago, com as penas enormes e bonitas.
Vai frequentemente ao lago, e abre as penas, umas vezes com os pais, outras, sozinho e vaidoso, os outros batem palmas.
Adora desfilar, e exibir as suas penas lindíssimas, vai com outros para esse lugar festejar, brincar, rir, conversar, saltar, correr e receber palmas.
A grande família de pavões era realmente bonita e especial, pelas suas penas e espetáculos que davam quando as abriam.
Fim
Lara Rocha
12/Maio/2025