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terça-feira, 13 de maio de 2025

O pequeno pavão

    



foto tirada por Lara Rocha 

 
     Era uma vez um pavão pequenino que viu a sua imagem refletida num lago do jardim. Ficou imóvel a olhar para a imagem: 

- Quem é esta criatura na água? Que ser estranho! Está a olhar para mim e a repetir o que eu digo...mas eu não o oiço. 

    Dá uma bicada na água e o seu reflexo desaparece, formando pequeninas ondulações. 

- Nunca outra vi, desapareceu? 

    Olha outra vez e volta a ver a imagem. 

- Apareceste outra vez? 

    O reflexo não responde. 

- Estás a gozar comigo, é? Eu não acho piada nenhuma, por estares a repetir tudo o que eu faço e tudo o que digo. Porque é que estás aí? 

    O reflexo não responde. O pequeno pavão fica nervoso, vira-se de lado e no reflexo vê as suas lindas penas traseiras, brilhantes na água, abana-se, o reflexo faz tudo. Começa a gritar nervoso, e aos saltinhos com os olhos muito abertos assustado: 

- Agora tenho olhos atrás? O que é isto? 

    Salta, olha para a água e lá está o seu reflexo, com as pequenas penas a abanar. Grita, sacode-se, salta nervoso e assustado. Corre a abanar-se, os outros animais observam-no intrigados e a rir: 

- O que é que lhe está a dar? - comenta um macaco às gargalhadas 

- Realmente...ele não parece nada bem! - diz um esquilo que estava a saborear uma noz. 

- Está para ali aos gritos, a sacudir-se, a correr, a saltar...vou  perguntar-lhe se está tudo bem com ele - diz um coelho a rir-se

- Parece que tem algum inseto a chateá-lo ou a picá-lo! 

    Aproxima-se do pavão:

- Então moço? O que se passa? Estás muito agitado! 

    O pavão continua a saltar, a gritar, não responde ao coelho e vai a correr para a beira dos pais: 

- Pai, Mãe, está um bicharoco dentro da água do lago a olhar para mim, a imitar tudo o que eu digo e faço. Depois...desaparece, volta a aparecer. Virei-me de lado, olhei para a água e lá estava ele a imitar-me. Mas agora vi que tenho ramos de árvores colados ou espetados nas costas, ou mais abaixo, ainda por cima com umas centenas de olhos, não os contei mas deve ser próximo disso. Aparecem na água lá com  o outro que também tinha iguais...e vocês também têm! O que é isto? Como é que estes paus com olhos vieram aqui parar? Socorro! Tirem-me isto, por favor. Eu corri, saltei, e não saíram.

    Os pais desatam às gargalhadas. 

- Estão-se a rir? Eu aqui em sofrimento, numa grande aflição, e vocês riem-se? Ááááhhhh, não estava à espera. 

- Mostra-nos esse bicharoco do lago. - diz a mãe a rir 

- Vocês não vão gostar de o conhecer! Tenho a certeza. - diz o pavão pequenino 

- Nós conhecemos esse bicharoco, mas mostra-nos! - diz o pai a rir 

- Conhecem? - pergunta o pavãozinho muito surpreso 

- Sim, mas mostra-nos, para termos a certeza que é quem estamos a pensar. 

    Os pavões adultos, vão a rir à gargalhada o caminho todo até ao lago. 

- Aqui! - diz o pequeno e espreita 

    Os pais também espreitam, e veem o seu reflexo: 

- Olha que bonitos que nós estamos! - diz a mãe a sorrir 

- Mas então, onde está o bicharoco? 

- Está aqui...e agora tem mais dois. - diz o pequeno

- Não vês que somos nós, e tu? - comenta a mãe 

- É o nosso reflexo? - acrescenta a mãe? 

- Olha tu...eu...e a mãe. - diz o pai 

    O pequeno pavão olha várias vezes para os reflexos na água e para os pais, que continuam a rir 

- Mas...mas...como é que pode ser? - pergunta o pavãozinho 

- É como se nos estivéssemos a ver ao espelho, em casa. 

- Mas estes não têm os ramos das árvores espetados ou colados aqui atrás, com os olhos… 

    Os pais viram-se de lado, e as grandes penas luminosas veem-se refletidas na água. 

- Não são ramos de árvores coladas, muito menos com olhos! São as nossas penas, e as tuas também vês, quando te pões de lado. - explica o pai 

- As tuas ainda são pequeninas, mas à medida que vais crescendo, elas também crescem. Ficam como as nossas! - acrescenta a mãe 

    O pavão pequeno fica boquiaberto, muito surpreso e em silêncio. Os animais à volta riem à gargalhada, com os pavões grandes. 

- Ele estava aqui, completamente histérico, nem me respondeu - diz o coelho a rir-se 

    Gargalhadas de todos 

- Pensávamos que ele estava a fugir de algum inseto, ou que estava a picá-lo. - diz o esquilo às gargalhadas, com os pavões grandes 

- Então...não há outro a imitar-nos na água? - pergunta o pequeno 

- Não, claro que não. - dizem os pais 

    Os pais abrem as penas maravilhosas, todos os animais batem palmas, como costumam fazer. O pavãozinho pequeno abre as dele, os pais e os outros animais também aplaudem. Ele sorri. 

- Sois maravilhosos! - grita uma preguiça num tronco

-Obrigada! - dizem os pavões 

- Onde é que o pequeno há bocado ia com tanta pressa, aos saltos, aos gritos…? - pergunta a preguiça

- Estava a ver os reflexos na água e não sabia o que era, nem de quem eram. Eram dele, e depois nossos. - responde a mãe

Todos riem

- Pensei que tinha ramos de árvores com olhos, colados às costas, ou mais abaixo. E que estava uma criatura monstruosa a imitar tudo o que eu dizia e fazia. Que susto que eu apanhei - diz o pavãozinho a rir

Conversam alegremente, passado uns tempos o pequeno pavão cresce como os pais, e vê o seu reflexo na água do lago, com as penas enormes e bonitas. 

Vai frequentemente ao lago, e abre as penas, umas vezes com os pais, outras, sozinho e vaidoso, os outros batem palmas. 

Adora desfilar, e exibir as suas penas lindíssimas, vai com outros para esse lugar festejar, brincar, rir, conversar, saltar, correr e receber palmas. 

A grande família de pavões era realmente bonita e especial, pelas suas penas e espetáculos que davam quando as abriam. 

                                                                Fim 

                                                          Lara Rocha 

                                                        12/Maio/2025 

sábado, 3 de maio de 2025

Rosa Amor

 

foto de Lara Rocha 


    Há uns anos atrás, uma jovem misteriosa, chamada Natureza, ofereceu a um casal, um lindo botão de flor, fechado. 

    Disse para cuidarem dele com amor, regar com carinho, educação, sensibilidade atenção e dedicação, para falar com ele. 

    Acrescentou que desabrocharia passado nove meses, numa linda flor e desapareceu. O casal ficou surpreso e apreensivo, sem perceber o que tinha acabado de acontecer, e o que significaria aquilo.

    Procuraram por ela, mas não a viram em lado nenhum, estava escondida, e a sorrir. 

- Tenho a certeza que estarás muito bem entregue! - murmura a jovem Natureza, ao ver o carinho com que o casal segurou a flor

    Assim aconteceu, o casal cuidou do botão de flor com amor, e estavam ansiosos por saber que flor seria, e porque demoraria tanto tempo. Regaram-na, falavam com ela, o botãozinho ia crescendo, alargando, tentavam imaginar a cor que teria, mas ele não a mostrava. 

    O casal não tinha preferência, pois adoravam todas as flores, em botão, e, ou abertas. Acariciavam o botãozinho, mudavam de terra de vez em quando, punham-no a apanhar sol, e ar, quando estava vento recolhiam-no. 

    O botãozinho ouvia as conversas todas, e sorria fechado nas pétalas, quando o casal lhe tocava. Não viam, mas era um sorriso luminoso, por se sentir acarinhado, acolhido, amado. 

    Passados nove meses, como a Natureza anunciou, o botãozinho de flor, abriu. Era uma linda rosa cor-de-fogo, com amarelo, laranja e vermelho! Uma perfeição, parecia que estava a sorrir, com as pétalas delicadas, o casal não ouvia, mas imaginava, o som do sorriso da rosa, quando lhe tocavam com carinho. 

    Que surpresa tão agradável, o casal não podia estar mais feliz, e continuaram a cuidar dele, com tanto amor e dedicação que cresceu como nunca se tinha visto. 

    Que lindo que era, sempre viçoso e vistoso, brilhante, adorava sol, e ficava ainda mais bonito, continuaram a regá-lo, a alimentá-lo, a conversar com ele. Deram-lhe o nome de Rosa Amor. 

    Um nome que fazia todo o sentido, porque era o símbolo do amor do casal, um pelo outro, dos dois pela Natureza, um prémio por terem cuidado tão bem dele. 

    Era como se fosse um filho, aliás, quando a esposa soube que vinha a caminho, um bebé verdadeiro. Pensaram que a flor iria murchar de tristeza, ou ciúmes, mas não. 

    Porque tinham atenção e amor para os dois; para o bebé, para a flor, a diferença é que este botãozinho que vinha a caminho, era uma pessoa. Um ser vivo, como um botãozinho em flor, que exigia mais amor, mais dedicação, mais regras, mais atenção, carinho. 

    Sem nunca se esquecerem da  Rosa Amor, que mesmo sendo uma flor, estava feliz por ter um irmãozinho em forma de pessoa, nunca se sentiu excluída, nem abandonada. 

     Quando o bebé nasceu, a flor chorou de alegria, surgiram gotas de água nas suas pétalas, e algumas caíram, ao ver aquele ser delicado, frágil e lindo como ela. 

     Rosa Amor, sorria ao ver a ternura dos pais, com aquele bebé, e a gratidão do bebé a olhar para eles, o carinho que ele recebia, e chegava para a flor. Mostraram o bebé à flor, e esta inclinou-se, encostou-se à carinha dele, com as suas pétalas macias, e voltou a chorar de alegria como se estivesse a fazer uma carícia ou a dar um beijinho no seu irmãozinho humano. 

     O bebé e os pais sorriram de alegria, pegaram na mãozinha do bebé, e fizeram uma festinha das pétalas da flor. Ela sorriu e brilhou com tanto amor. Cresceram juntos, nunca faltou carinho, atenção, dedicação, amor, regras, diálogo, aos dois, e formaram uma linda família.  

    Todos os dias agradeciam à Natureza, aquele botãozinho maravilhoso, e o botãozinho verdadeiro, o bebé que também adorava a flor. Ela abanava-se e ele desatava à gargalhada, que fazia o mesmo com os pais. 

    Parecia que os dois comunicavam um com o outro, só entre eles, balbucios e gargalhadas, trocas de mimos, e papagueados que só a flor e o bebé entendiam. 

    O casal agradecia todos os dias, a saúde, e a alegria, o amor que havia naquela casa, com aquela flor. A jovem Natureza apreciava encantada, espreitava e sorria à flor, esta retribuía. 

    Sentia-se orgulhosa, e de vez em quando as duas conversavam sobre a felicidade da flor naquela casa, o bebé, a forma como eram tratados, e outros assuntos. 

    E assim se constroem as amizades, os amores, com dedicação, paciência, carinho, diálogo, respeito, acolhimento, atenção, sem pressa, com delicadeza. Botõezinhos fechados, que se vão abrindo em lindas flores. 

                                            FIM 

                                       Lara Rocha 

                                      2/Maio/2025