(foto tirada por Lara Rocha)
Era uma vez uma praia que tinha areia, e mar. No mar viviam muitas espécies de peixes e algas. Um dia, um ser muito estranho entrou no mar. Nunca ninguém o tinha visto por ali, nem sabiam quem era.
Era uma mistura de peixe, com elfo, tinha
escamas nas enormes orelhas bicudas, e salpicos de cores brilhantes por toda a
cauda. Os cabelos eram compridos e pareciam algas. Trazia alguma coisa às
costas…um saco grande.
Nadou
debaixo da água à procura de um espaço. Olhou para todo o lado, e cruzou-se com
uma sereia. A sereia ficou assustada com o seu aspecto.
- Menina, desculpe…
- Diz a criatura estranha
A sereia responde a medo:
- Diz…
- Estou à procura
de um espaço! Sabe dizer-me onde posso ficar?
- Um espaço, para
quê?
- Para dormir, e
tocar.
- Dormir e tocar?
Mas, vai dormir ou vai tocar…?
- As duas coisas.
- Então quer um
espaço para viver?
- Sim, isso mesmo!
- O que aqui não
falta é espaço, agora depende do que quiser…dos seus gostos…
- Posso ficar em
qualquer sítio destes?
- Sim, claro. Onde
gostar mais.
- Áh! Que bom!
Obrigada.
- De nada.
Ela dá uns passos, e pára pensativa.
- Mas que criatura
tão…estranha!
- Sim, sou
estranho! – Responde o misterioso ser
A sereia encolhe-se assustada
- Lê os meus
pensamentos? – Pergunta a sereia
- Não. Sinto as
tuas vibrações dos pensamentos que estás a ter. Eu sei que estás a pensar que
sou uma criatura muito estranha. Não te preocupes… toda a gente pensa isso.
Sim, sou estranho…eu sei. Mas podes ficar descansada, que não faço mal.
- (ela sorri
embaraçada) É que… nunca o tinha visto por aqui antes.
- Claro que não.
Nem eu a ti. Vim de outro sítio.
- Áh! Por isso é
que não nos conhecemos.
- Exactamente. Mas
olha, aproveito para te convidar, se gostas de música, para assistires ao meu
concerto esta noite…na praia.
- És músico?
- Sim! Bem…não sei
se sou, sei que vivo da música e adoro música. É assim que ganho a vida. Faço
muitas coisas.
- Então se eu
puder, apareço.
- Isso. Até logo.
- Até logo.
A sereia volta atrás:
- Vais fazer-me uma
pergunta…! – Diz a criatura
- Sim…se não se
importar.
- Não, não me
importo nada! Eu sei qual é, mas manda…
- Eu queria saber,
de onde veio?
- Eu sabia! (ri)
Vim de um mar onde já quase não se respirava. As bolinhas de água eram de cor
branca e preta, e não subiam para a superfície. Por sinal, muito mal cheirosas.
- Lhec. Onde era?
- Longe daqui, não
sei a quantos quilómetros, mas era muito longe! Aqui respira-se, lá não. Já não
havia espaço com tanto lixo debaixo da água.
- Ui. Que filme de
terror.
- Não era um filme,
era a vida real.
- E que bolas eram
essas de cor preta e branca…que não subiam para a superfície?
- Não eram coisa
boa.
- Então?
- Era…petróleo,
tintas, detergentes…
- Ai…acho que estou
mal-disposta só de ouvir.
- Imagina se
estivesses mesmo lá! Eu estava a ficar intoxicado, foi por isso que saí.
- Fez bem, aqui é
tudo limpo.
- Para já!
- Acha que essa
porcaria pode chegar cá?
- Bem…espero muito
sinceramente que não! Mas nada é garantido!
- Aqui vai
sentir-se muito bem.
- Tenho a certeza
que sim!
- Bem…se precisar
de alguma coisa de nós, estamos sempre por aqui. Passa sempre aqui algum ser
bondoso.
- Muito obrigado.
- Até logo.
- Até logo.
A sereia segue o seu caminho ainda
um pouco assustada com aquele misterioso ser. Ele experimenta vários cantos,
instala-se no que gosta mais, e onde se sente melhor.
Tira do grande saco vários
instrumentos musicais, e começa a ensaiar para o espectáculo da noite. Debaixo
da água e à sua volta formam-se milhares de bolinhas de água, umas maiores
outras mais pequenas, conforme a intensidade com que toca.
De noite, o jovem vai para a
superfície, e começa a tocar na água. Centenas de pessoas invadem a praia, e
passado algum tempo, ele sai da água com pernas, em vez da cauda.
Fica sentado num palco que tem um grande tanque
de água. Ele entra para o tanque, e ganha novamente cauda, sempre a tocar os
instrumentos. A sua cauda brilhante dá luz, e todos aplaudem maravilhados.
Todas as sereias assistem ao concerto dentro da
água. O jovem atira-se para o mar, e toca dentro da água. À volta dele
formam-se milhares de bolinhas de água, que voam como bolas de sabão para o
público, à medida que ele vai tocando. Os sons é que fazem as bolas.
O público aplaude, e vibra, agarram as bolinhas
e sopram. O rapaz toca músicas de todo o tipo, o público salta, canta e dança
com ele. Ele anda de um lado para o outro, em cima do palco, sempre a tocar e a
cantar, depois salta para o tanque, e para o mar, tanto aparece com pernas,
como com cauda.
No final do concerto, dá muitos autógrafos, e tira
fotografias com os admiradores. E repousa feliz, adormecendo logo que se deita.
Enquanto dorme, uns peixinhos pequeninos, quiseram experimentar os
instrumentos, e tocam sem ele se aperceber. Formam-se mais centenas de bolinhas
na água.
Uma sereia
vê tantas bolinhas na água que se aproxima e vê que são os marotos dos
peixinhos a tocar sem autorização. Ela chuta-os, e eles desatam a fugir.
O ser
estranho acorda.
- Quem mexeu nos
meus instrumentos? – Pergunta ele
- Desculpe…foram
uns peixinhos traquinas. Mas já os mandei embora. Fizeram barulho para si? –
Responde e pergunta a sereia
- Não! Não te
preocupes.
- Estava a dormir?
- Sim, mas senti a
vibração deles a mexer nos meus instrumentos…mas sabia que não estavam a
estragá-los, e que não era por mal. São curiosos, é normal. Foi por isso que
também não lhes disse nada.
- Áh!
- A água ainda está
cheia de bolinhas…tocaram forte!
- É.
- Não, não leio
pensamentos…sinto vibrações. Sou um ser estranho não sou?
A sereia sorri.
- Não. É diferente.
- Somos todos.
Os dois conversam alegremente, e nos
dias seguintes, sempre que viam bolinhas na água, já sabiam que era ele que
estava a tocar. Sentia-se tão bem naquele sítio, que nunca mais foi para outro.
Todos os habitantes se conheciam e ajudavam-se
sempre que precisavam, faziam muitas festas e bailes, eram amigos, e cuidavam
muito bem do seu espaço. Não se via um único sinal de poluição de águas, nem
lixo. Era por isso que as bolinhas na água, dos instrumentos, flutuavam. Toda a
gente gostava muito dele e das suas músicas.
A sereia e o ser misterioso tinham
toda a razão! Ali naquele mar, respirava-se bem, a água era limpa, e todos eram
saudáveis. Muito diferente do sítio de onde ele tinha vindo.
E vocês? Já viram
algum ser estranho como este? Se vivessem no mar, esse mar era limpo ou cheio
de lixo como o nosso? Limpavam-no? Como? E as praias perto de vocês, como são?
FIM
Lálá
(23/Fevereiro/2015)