Era uma vez uma senhora de muita idade,
que vivia sozinha na sua casa pequenina, uma vivenda com quintal à frente e
jardim atrás, onde ela gostava de passar o dia, com o sol. Ficava num bairro de
uma enorme cidade.
A sua melhor amiga era a solidão, uma mulher jovem,
parecida com ela, que ela conheceu há muitos anos, e viviam na mesma casa. Essa
jovem não envelhecia.
As duas conversavam durante longas horas, passeavam
juntas e riam e choravam. Um dia, a jovem solidão desapareceu sem dizer nada.
A pobre senhora
procurou-a desesperada, por toda a casa, fora de casa, e entre as plantas:
- Solidão…solidão…onde
estás? Foste-te embora, e deixaste-me aqui sozinha? E agora, o que vai ser de
mim…? Não tenho mais com quem conversar!
Sai a porta a chorar, e apanha um grande susto! Está a linda
jovem solidão, cheia de luz, com uns lindos cestos de animais bebés: cãezinhos,
gatinhos, coelhinhos, pintainhos, e carneirinhos.
- Voltaste, querida
solidão? – Pergunta a senhora velhinha com um sorriso aberto
- Claro. Pensaste que eu
ia embora? – Perguntou a solidão a sorrir
- Sim!
- Óh, não…tu sabes que
nunca te abandonaria!
- Felizmente…Isso já os
meus filhos, netos e marido fizeram…Ia ser muito mau se também tu, minha amiga
de tantos dias e tantas horas, fosses embora.
- Óh, não digas essas
coisas tão tristes! Sabes que eu não gosto de ouvir isso.
- Óh filha, mas é a
realidade.
- Não. A realidade é que
estás viva, estás bem de saúde, bem de cabeça, e não estás sozinha. Vais ver que
um dia os teus filhos e netos vão voltar.
- Um dia? Quando? Quando a
casa estiver vazia?
- Nada disso! Um dia
destes. Vais ver. Vá lá…eu fui buscar-te umas prendinhas, não é para te ver
chorar…é para te ver sorrir e feliz. (Sorriem) Esquece essas coisas feias e
tristes, prometes?
- Está bem…prometo. Aliás,
agora que tu voltaste, estou feliz.
A senhora abre um grande sorriso.
- Olha que maravilha…
A jovem entrega os cestinhos com os animais, e tem lá uns
bilhetinhos. Ela lê:
- Avó: cuida destes
bichinhos que te mandamos com muito carinho. Amamos-te. Beijos dos teus netos.
O outro papel dizia: Mãe de luz…estaremos juntos muito em breve. Enquanto isso,
toma conta destes presentes que nos deram, mas infelizmente não podemos ficar
com eles. Até já.
As mãozinhas enrugadas tremem e juntam os papéis ao coração.
Dos seus lindos olhos muito azuis, caem umas lágrimas que parecem cristais
transparentes. E da sua boca brilha um enorme e aberto sorriso de felicidade.
- Então? – Pergunta a
solidão
- Os meus netos e os meus
filhos enviaram-me estes presentes, para eu cuidar…eles não podem ficar lá com
os bichaninhos, e diz que voltam muito em breve…
A solidão fica
muito feliz, e entrega as cestinhas à velhinha, e dá-lhe um sonoro beijo.
- Ai, que riqueza… - Diz a
velhinha feliz
- Eu disse-te que eles iam
voltar.
A velhinha acaricia cada bichinho, deliciada com a maciez do
pêlo, e encantada com o seu tamanho.
- Tão pequeninos! Que
lindos. Toca-lhes… – Diz a velhinha. (A solidão acaricia-os também) Que bom!
As duas acariciam os bichinhos e arranjam nuns cantinhos,
umas caminhas muito confortáveis para eles. Soltam-nos e dão-lhes de comer e de
beber.
- Tu nunca me vais deixar,
pois não, solidão?
- Não! Claro que não. Eu
gosto muito de ti.
- (sorri) Eu também gosto
de ti.
O tempo passa, os bichinhos crescem, e
tornam-se os melhores amigos da senhora, muito meigos, brincalhões, recebem
muitos mimos das duas, e são uma companhia maravilhosa.
A senhora vai passear os cãezinhos e os gatinhos, e os
outros ficam na sua gaiola. A jovem solidão acompanha-a sempre, e todas as
crianças e adultos por quem passa, vão ter com ela, cumprimentam-na, falam
alegremente com ela, fazem-na rir, dão-lhe carinhos e brincam com os animais,
felizes.
A velhinha nunca mais foi a mesma, desde que recebeu os
bichinhos. As suas mãozinhas enrugadas ainda tinham força para pegar nas coisas
que precisava, nos animais, e para abraçar e acariciar quem se cruzava com ela,
e reparava em si e nos seus animais.
Os animais passaram a ser um atractivo para todos, e
assim, a velhinha passou a andar sempre com um sorriso aberto, e uns lindos
olhos brilhantes.
Era uma senhora adorada por todos, e respeitada. Sempre
que podia ajudava também quem precisava. Chega o Inverno. Numa tarde em que
chovia torrencialmente, com neve.
A senhora não sabia quando é que os netos e os filhos
iam regressar, mas também só pensava nisso, e ficava mais triste, quando era
noite. Rezava sempre por eles, para que chegassem em segurança, e para que estivessem
bem.
Sentada à lareira, olhava para as suas mãos enrugadas e
relembrava momentos da sua vida…para se distrair e não ficar triste, a solidão
distraia-a com conversas e brincadeiras. Também fazia malha, roupas e mantas
para os filhos e para os netos, e para outras pessoas que pediam.
Estava ela muito
ocupada, quando de repente tocam à campainha.
- A esta hora? Quem será?
Ai…eu até tenho medo de abrir.
- Vai…não tenhas medo.
A senhora levanta-se e assustada pergunta:
- Quem é?
Do lado de fora respondem em coro muitas vozes:
- Somos nós.
Ela reconhece as vozes, abre a porta, e que enorme surpresa e
felicidade: os filhos e os netos chegaram.
- Olá! – Dizem todos a
sorrir muito felizes.
- Avó… - Gritam os netos
com um grande sorriso
- Mãe…! – Gritam os filhos
da senhora com um grande sorriso.
- Meus amores…! – Grita a
senhora muito feliz.
Trocam muitos abraços e beijos, carinhos
e risos. Entram em casa, e vêem os bichinhos, do mais doce que podia haver…tão
meigos que se enroscaram logo em todos, e lamberam, abanaram os rabos, como se
já fizessem parte da família há muito tempo.
A senhora não cabe
em si de felicidade, e enquanto vêem os outros animais e descarregam os carros,
ela prepara um chá bem quente, com um sabor delicioso, e oferece uns biscoitos
de vários sabores que tinha feito nesse dia.
Todos saboreiam
deliciados, conversam alegremente uns com os outros, riem, contam as aventuras
todas.
- Mãe: viemos para ficar
cá!
- Vamos montar uma casa
que compramos aqui mesmo ao lado da tua.
A senhora abre um grande sorriso de felicidade:
- Óh meus amores…meus
filhos e meus netos…vocês são o meu melhor presente! Não sabem como estou
feliz…
- Nós também estamos muito
felizes. – Respondem os filhos
- Podiam ter dito quando
vinham…
- Quisemos fazer-te uma
surpresa! – Diz o neto
- Tão lindos. – Diz a Avó
- E os bichinhos como se
portaram?
- Óh, maravilhosamente
bem…são uma doçura.
A senhora conta todas as aventuras, e
coisas boas que os animais lhe trouxeram. Todos ouvem encantados, e riem.
Também contam muita coisa que lhes aconteceu. Ficam a conversar até altas horas
da madrugada, com muitas gargalhadas.
Nesse dia todos foram dormir felizes, e
a senhora nunca mais se sentiu sozinha nem triste, porque tinha a sua amiga
solidão, mas também tinha os filhos e os netos mesmo ao lado, na casa deles,
que estavam sempre lá. Os animais também tiveram direito a uma casotinha muito
confortável, e a todo o espaço à frente das casas, no quintal.
Mesmo com as suas mãozinhas enrugadas, era uma senhora muito
activa, simpática, meiga, que adorava companhia, cozinhava, fazia lindos
trabalhos à mão, contava histórias aos netos, passeava com eles e com os
filhos, levavam os animais a passear, mas principalmente adorava encher todas
as pessoas que a rodeavam de carinhos, mimos, beijos, abraços e pequenas
lembranças.
As suas mãozinhas podiam estar enrugadas, mas a sua paixão
pela vida era ainda uma criança, tal como a sua felicidade e o seu coração que
era tão bom.
FIM
Lálá
(16/Setembro/2014)
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