Era uma vez um sapo que
vivia num lago com a água toda suja, cheia de ervas daninhas e com um cheiro
insuportável. Todas as pessoas tapavam o nariz e fugiam o mais possível e o
mais rápido que podiam.
Comentavam:
- Que cheiro horrível!
- Ui, que nojo!
- Que porcaria de rio…parece
mais um charco!
- Esta água está insuportável.
- Deve ser só bicharocos.
- Que porcaria.
Outros sapos comentaram:
- A vossa casa deve ser igual!
- Esta gente reclama demais. Fala
sempre!
- Nunca estão satisfeitos.
- Estes humanos são mesmo muito
exigentes…
O sapo tinha uma coroa com três pedras amarelas florescentes
que brilhavam no escuro.
Às vezes, ele mergulhava e só se via as três bolinhas da
coroa a brilhar no escuro. Quando mergulhava deixava a coroa de fora para não
se molhar.
Todas as crianças perguntavam que luzes eram aquelas na água!
- O que é que está ali?
- Que luzes são aquelas na
água?
- Parecem pirilampos…ou bichos!
- Deve ser venenoso.
Uma noite de muita chuva que
ultrapassou as margens, levou a água toda suja, as ervas daninhas e o sapo.
Era tanta água, e ia tão
depressa que ele não conseguiu segurar-se. Rodou na água, bateu várias vezes
com as patas nas pedras, gritou, tentou segurar-se mas a força da água era
maior do que ele.
- Onde é que eu vou parar? Ai…socorro!
– Grita o sapo muito assustado
Alguém lhe grita:
- Atira isso que tens na
cabeça!
- Não! A minha coroa não!
- Coroa? – Pergunta um casal de
sapos
- A tua vida é mais importante
que uma coroa, não? – Pergunta uma rã
- Sim, eu tenho uma coroa.
Agarra-se a uma folha de árvore, mas afunda e a folha
desfaz-se. O sapo consegue agarrar-se finalmente a um tronco grosso que tinha
acabado de se partir e caiu na água.
- Áh! Estou salvo! E a minha
coroa também. – Suspira o sapo.
Passam uns sapinhos muito pequeninos
aos gritos, a rodopiar, o sapo pega neles e põe-nos em cima do tronco. E consegue
também salvar os pais dos bebés.
Entretanto a chuva passou, e os sapos que foram salvos pelo
sapo da coroa, quiseram recompensá-lo e levaram-no para um belo lago cheio de
água limpa, transparente, e com as bicas de água sempre a correr, nenúfares, e
peixinhos, numa casa que mais parecia um palácio.
O sapo fica tão feliz, que
mergulha na água para se lavar, e depois instala-se confortavelmente num nenúfar
e deixa-se levar pela corrente da água.
Os outros sapos e sapinhos e rãs
seguem-lhe o exemplo.
- Áh! Depois de tanto trambolhão,
finalmente descanso. E aqui cheira bem, a água é limpa…!
- Áh! Que bom!
- Acho que me vou mudar para
aqui.
- Eu também não saio mais daqui.
Enquanto o sapo saboreia aquela paz, uma das filhas vai à
janela do seu quarto e vê as três luzes da coroa do sapo.
- Que luzes são aquelas no
lago? Não estavam ali! Serão fadas?
Ela chama a mãe e mostra-lhe. Toda a família sai de casa e
vai ao lago.
- Sapos…? – Exclamam todos
As mulheres e as crianças gritam:
- Ááááhhh…que nojo!
- Tira essa porcaria daí. –
Implora a mãe da menina
O pai pega numa enxada e molha-a na água.
- Óh, sorte maldita! – Grita um
sapo nervoso
- Estávamos tão bem. – Grita uma
rã assustada
- Porque é que vem mexer
connosco…? – Pergunta outro sapo nervoso
- Óh não!
Os sapos escondem-se debaixo
dos nenúfares e atrás da estátua, debaixo da estátua…onde podem.
- Pára, pai. – Grita a menina
- O que foi?
- O sapo tinha alguma coisa
diferente…
- O quê?
- Sim…tinha alguma coisa que
brilhava.
- Não pode ser!
- Olha.
A coroa do sapo aparece, e ele olha assustado para a
família.
- Pois tem…! – Diz o pai
- Tem uma coroa! – Diz a menina
surpresa
- Por favor…não nos faça mal. Acabamos
de passar por uma tempestade, e viemos aqui parar sem dar por isso. Temos
sapinhos pequeninos que foram arrastados pela corrente, e estão muito
assustados. Por favor, deixe-nos descansar só um bocadinho. Assim que
estivermos bem, vamos embora. Sabemos que não gostam de nós. Minha senhora linda…com
todo o respeito…por favor…sei que tem nojo de nós, mas por favor…deixe-nos
ficar só um bocadinho. Temos um aspecto feio, e nojento, mas não lhes fazemos
mal, nem somos venenosos. Também não estragamos nada e até podemos protegê-los
dos mosquitos.
O sapo pede com um tão inocente, tão humilde, que o senhor
da casa fica com pena dele. A dona da casa sorri, e diz:
- Mas este sapo é um fenómeno…sim,
é tudo verdade o que disseste. Está bem, fica.
- Óh…pobres! Está bem,
deixai-vos estar. – Diz o senhor
- Áh! Que bonito…ele tem uma
coroa. – Repara o irmão mais novo
- E brilha no escuro! – Diz o
outro irmão
- Áh! Então eram as luzes que
eu via na água. – Diz a menina
- Sim, é isso. A minha coroa
brilha no escuro! – Confirma o sapo
- Nunca outra vi! – Diz o
senhor
- Nem eu! – Diz a senhora
- Mas que giro. – Diz outra
senhora
Os vizinhos apercebem-se de alguma
confusão de volta do lago e vão ver o que é. Todos ficam muito surpresos e
encantados com a coroa do sapo.
Espalham a novidade, e
toda a aldeia vai visitar milhares de vezes o lago onde está o sapo da coroa
que brilha no escuro.
Tiram-lhe centenas de fotos, ele faz alguns espectáculos,
recebe muitos aplausos e é simpático com todos.
O sapo torna-se o centro
das atenções e gosta. Mas uns dias depois, começa a ficar cansado de tanta
agitação, tantos olhos em cima dele, tantas fotos, tantas vozes…fartou-se da
sua vida de vedeta e fugiu. Os outros seguiram-no.
Saltou vários minutos
pelos campos, muito depressa sempre a olhar para trás, para ver se estava a ser
seguido.
Não é que ele não gostasse de viver naquela água tão limpa e cheirosa,
mas estava já com saudades da sua casa, do seu cantinho, que ainda que não
fosse um palácio, era lá que ele tinha o seu cantinho, estava sossegado, e
tinha companhia. Quando queria estar sozinho, refugiava-se na sua coroa e os
amigos deixavam-no em paz.
Já tinha muitos amigos, e sentia-se feliz naquele sítio. Tinha
mais liberdade. Quando chegou lá, teve uma grande surpresa.
A água já estava
limpa, transparente, via-se o fundo, e as pedras, já não havia ervas daninhas,
nem mau cheiro, e os seus amigos esperavam-no, já há vários dias, por isso
receberam-no numa grande festa. Ninguém tinha ocupado o seu lugar debaixo da
ponte, onde se protegia do frio.
Uma veterinária muito
novinha construiu uma casinha muito confortável e quente, para o sapo, que ela
sabia que estava lá.
Trocam abraços e beijos, festejam, e o sapo volta a ser
quem era, feliz e com a sua coroa que brilhava no escuro.
Ele adorou a sua nova
casa, no sítio onde nasceu e sempre viveu.
- Áh! Que bom que é voltar à
nossa casinha! A quem nos ama. Obrigado, amigos, e até já.
Entra na sua nova casa, instala-se confortavelmente,
aconchega-se e dorme feliz.
FIM
Lara Rocha
(18/Setembro/2014)
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