Era uma vez uma enorme montanha onde havia um
castelo. Nesse castelo viviam reis, rainhas, príncipes e princesas, bobos,
empregados e guardas.
O castelo tinha enormes e lindos jardins, cheios de
lindas flores, de todas as cores, tamanhos e espécies que atraíam muitos
animais como lindas borboletas, passarinhos e pirilampos.
Havia
muita gente da cidade, e da aldeia, que fazia longas caminhadas para a
montanha, não só para apreciar a encantadora paisagem, mas também para conhecer
e cumprimentar os habitantes do castelo, e alguns tentavam conquistar as
princesinhas, mas sempre sem sucesso.
As princesinhas eram ainda
muito novas, aceitavam os presentes, agradeciam, mas não gostavam de nenhum
pretendente…ainda nem sequer pensavam em casar. Para elas não podia ser
qualquer um! Eram princesas, e muito exigentes.
Uma noite quente de Verão, com
um vento quente e uma lua cheia enorme, mágica, que iluminava toda a
montanha…quase como se fosse o sol…sobrevoava por lá, um novo visitante que vinha
de outro jardim. Um lindo pirilampo.
Ele nunca tinha ido ao jardim do castelo,
mas tinha imensa curiosidade em saber como era, quem vivia lá, e queria também
conhecer as princesas.
O pirilampo voa devagar, plana
no ar, e olha para todo o lado.
- Ei…tantas luzes ali no fundo da montanha!
Ali…em alguma luz deve ser o jardim onde vivo…pelo menos…aquelas luzes são-me
familiares. Isto é tão alto! Aqui em baixo…estão mais pirilampos…tanto espaço!
Isto é tudo deles? Ei…que sorte! Aqui o ar é muito diferente do ar que há no
jardim onde vivo! (Inspira e expira) Muito mais agradável…os cheiros… (inspira
e expira) são muito mais agradáveis…muito melhores. Áááááááááhhhhhhhh….que
agradável!
Percorre
janela por janela, devagar, encantado, espreita, mas não consegue ver nada.
- Porque é que não vejo nada? Áááááhhh…se
calhar…estão de olhos fechados…ou têm as janelas fechadas! Não…talvez…ainda não
estejam nos quartos.
Continua
a sua visita pelo enorme castelo, espreita tudo o que pode, cumprimenta os
outros pirilampos, e de repente vê-se luz nos quartos das princesas. O
pirilampo sorri e diz:
- As princesas devem ir deitar-se!
E
espreita pelas janelas acesas.
- Áááááhhh…tantas princesas! Que lindas.
Mas
a pouco e pouco as janelas fecham-se rapidamente, e o pirilampo não vê todas…só
consegue ver de fugida as primeiras.
- Óhhhh…porque não deixam as janelas abertas?
Está calor…podiam dormir com as janelas abertas…Áááááhhh…que pena! Bem…amanhã
venho mais cedo, para ver as princesas mais de perto.
Há
uma janela que tem a luz acesa, mas não se fecha.
- Óóóóhhh…! Uma janela aberta, e luz acesa…!
Boa…!
E
dirige-se para a janela, com a sua luz apagada para não ser visto. Espreita
pela janela e vê uma linda princesa…uma menina de oito anos, de cabelos escuros
e compridos, com cara de boneca, chamada Maria Luísa, veste o pijama, e a sua
aia, apaga a luz e abre a janela.
- Boa Noite, pequenina…se tiveres frio, fecha a
janela! – Diz a Aia.
- Está bem! Dorme descansada! Boa Noite –
responde a Princesa.
A
Aia sai do quarto, e a menina vai à janela.
- Áááááhhh…está uma Lua tão bonita! Enorme!
O
pirilampo olha para a princesa de luz apagada, mas fica tão encantado que a sua
luz acende-se e pisca, pois o seu coração bate muito depressa:
- Óh…que linda! Ai…acho que não me estou a
sentir muito bem…ai, ai…apaga-te luz, apaga-te luz…se não a menina vê-te!
Ai…nunca vi uma menina tão bonita! Óh…estou gelado…e a tremer…Aiiii…o meu
coração vai sair do peito…ai, que medo…óh não…maldito cupido…estúpido…palerma…!
Ai, acho que ele acertou-me…ei…que fraca pontaria, cupido desgraçado…e agora…?
Se estou apaixonado por ela…não posso…ela é uma princesa, e eu sou um
pirilampo…ela nunca vai querer nada comigo! Óhhhh…estou frito! Cupido…tira-me
já a seta…! Ou então…transforma-me num príncipe.
E fica envergonhado, tenta
esconder-se. O Cupido faz uma grande careta e ri-se às gargalhadas.
- Oh, desculpa…acertei-te? Óhhhh… foi sem
querer! (gargalhadas) Não tiro! Nem vou transformar-te em príncipe nenhum.
- Porque me acertaste?
- Já disse que foi sem querer…de propósito…é
para te apaixonares…!
- Não me podia apaixonar por ela.
- (ri às gargalhadas) Eh, eh, eh…eu é que sei.
(outra careta) A minha pontaria é excelente! – Diz o cupido.
- Nota-se…seu malvado.
- É para aprenderes! – Responde o cupido.
- Aprender o quê? –Pergunta o pirilampo.
- Estás mal habituado…sempre a ser
correspondido. – Explica o cupido.
- E as pessoas devem ser felizes ao ser
correspondidas, não?
- Quando eu lanço as setas não lanço para
casais…para serem sempre correspondidos no mesmo sentimento…as pessoas são
livres para escolher por quem se apaixonam e de quem gostam, mas não quer dizer
que o outro também se apaixone! Eu não posso mandar nos sentimentos…apenas
lanço as setas para despertar, e fazer o coração bater mais forte, entre outras
coisas…depois de atirar as setas, com essa função, não tenho mais nada a ver
com isso! – Explica o cupido.
- Mas és mauzinho! – Diz o pirilampo.
- Não…não sou nada…sou um anjinho.
- Mas o coração fica triste, se não é
correspondido.
- Ficam uns dias…depois passa…e isso torna-os
mais fortes. Em breve verás como tenho razão – Responde o Cupido.
O Cupido ri-se e levanta voo.
- Vê se acertas essa pontaria…ninguém merece
sofrer por amor. Já há muito sofrimento. – Grita o pirilampo.
- Eu sei…é por isso que eu atiro setas com amor.
– Grita o cupido.
- Envenenadas, queres tu dizer…! – Responde o
pirilampo a gritar.
Maria Luísa olha para a janela.
- Que lua tão grande…está mesmo bonita! Quem me
dera ter aqui um pedacinho…Uma bolinha com aquela luz…! Espera…além da luz da
Lua…há outra coisa a brilhar…O que é que está a brilhar aqui? – Pergunta Maria
Luísa ao ver a luz do pirilampo.
- Óh, não…ela viu-me! – Murmura o pirilampo.
O
pirilampo tenta esconder-se, mas a sua luz denuncia-o…e a sua paixão.
- Um pirilampo? – Diz a princesa a sorrir.
- Olá princesa…sim, sou um pirilampo!
- Áááááhhh…que lindo! – Elogia a princesa a
sorrir encantada.
- Que linda que és princesinha!
- Obrigada! (sorri) a tua luz está a piscar…?
(ri) que engraçado.
- (envergonhado) Áááááhhh…às vezes fica a
piscar.
- Gosto muito da tua luz.
- A sério? Obrigado.
- Vives aqui no meu jardim?
- Não…eu venho de outro jardim…ali…onde há
muitas luzes! Mas vim passear e sempre tive muita curiosidade em saber como era
o castelo que via de lá.
- Áhhh! E gostaste do que viste?
- Sim, é bonito! E o ambiente é muito agradável.
Os
dois têm uma longa conversa, sorriem e riem. Quando a princesa fica com sono
diz:
- Amigo…desculpa…eu ficava aqui o resto da
noite, a falar e a brincar contigo, mas estou a ficar com sono! O João Pestana
anda aqui a rondar.
- É um guarda?
- (ri) Não! É o duende do sono, que me faz
dormir.
- Óhhhh…não podes mandá-lo embora ou que se junte
a nós?
- Não! Eu não gosto de dormir, mas temos de
descansar.
- Sim, eu compreendo! Não faz mal. Vai dormir,
princesa…bons sonhos!
- Voltas amanhã? – Pergunta a Princesa.
- Queres que eu volte? – Pergunta o pirilampo.
- Sim! – Responde a princesa a sorrir.
- Está bem, eu volto! – Responde o pirilampo a
sorrir.
A
princesa estende a mão para o pirilampo, o pirilampo fica gelado sem luz,
porque não sabe o que fazer.
- Ficaste sem luz?
- Aaaaaahhhh…ela volta já!
- Não me beijas a mão? – Pergunta a Princesa
Maria Luísa muito surpresa.
- Ááááááhhhh…desculpa…não sabia o que devia
fazer…ai, que vergonha.
A
princesa ri e o pirilampo ganha luz novamente. Ele pega na mãozinha da
princesa, pousa nas costas da mão e beija-a repenicadamente. A princesa fica encantada
com a sua luz e com as cócegas.
- Boa noite, linda princesa! – Diz o pirilampo.
- Boa noite! Obrigada pela companhia.
Espera…acompanha-me até ali à cama…por favor!
- Eu posso? – Pergunta o pirilampo surpreso.
- Sim! Sou eu que te estou a pedir!
- Está bem!
E
a luz do pirilampo volta a brilhar mais intensamente. A princesa deita-se e o
pirilampo olha para ela, encantado.
- Que lindo que é o teu quarto, princesinha!
Combina contigo! – Elogia o pirilampo.
- Obrigada! Também gosto muito! – Responde a
princesa.
- Vou deixar-te dormir, linda princesa!
- Boa noite!
- Boa noite!
A
menina boceja e adormece. O pirilampo fica a olhá-la deliciado e sorri. A sua
luz pisca e torna-se mais forte. Está apaixonado! Ouve passos, e esconde-se
debaixo da cama da princesa.
A aia entra e fecha a janela e
persiana da princesa. O pirilampo fica com medo de ser apanhado, mas a Aia não
o vê e sai em silêncio. O pirilampo sorri e olha mais uma vez para a
princesinha, beija-a a medo e levemente, na bochecha, ela mexe-se de olhos
fechados, e sai pela fechadura do quarto.
Ele está leve, sorridente e
cheio de luz que pisca ao ritmo do seu coração que bate depressa porque está
apaixonado. Vai dormir para o jardim, e dentro de umas tulipas que estão meias
abertas.
- Boa noite…podes dar-me dormida? – Pergunta à
Tulipa.
- Olá pequeno…sim, claro! Entra! – Responde a
Tulipa, simpática.
Ele
instala-se confortavelmente, e a princesa não lhe sai da cabeça…deixa-o com um
sorriso de orelha a orelha. A Tulipa percebe logo.
- Ai, ai…o pequeno de luz está apaixonado!
Ele
fica envergonhado e quase sem luz.
- Então…não vale a pena ficares envergonhado!
Desculpa…eu não tinha nada que me meter…mas é que vê-se a léguas…a tua luz está
muito diferente! Mais brilhante, mais forte e a piscar…- Explica a Tulipa a
rir...O pirilampo sorri, e volta a dar luz.
- Sim, é verdade!
- Que bom! E quem é a felizarda?
- Não sei se é bom…é uma princesa!
- Óh, que lindo…chamas-lhe princesinha…?
- Não…ela é mesmo uma princesa…aqui do castelo! Está
naquele quarto!
A
sua luz volta a piscar, e torna-se outra vez mais forte.
- Uma princesa? De carne e osso? – Pergunta a
Tulipa.
- Sim! – Responde o pirilampo.
- Óh…desculpa desiludir-te, mas…não escolheste
bem!
- Mas não fui eu que escolhi! Foi o meu coração…-
responde o pirilampo.
- O teu coração só respondeu ao que agradou aos
teus olhos!
- Sim! Mas porque é que dizes que não escolhi
bem?
- Porque nunca vais ser correspondido…! Ela é
uma princesa, e tu…um pirilampo…nunca uma princesa vai apaixonar-se por um
pirilampo! Até pode gostar de ti…mas não da mesma maneira que tu gostas dela!
- Estás a dizer que eu nunca vou conseguir
conquistá-la?
- Não é isso…! O que estou a dizer é que podes
ser amigo dela, mas nunca poderás ser namorado dela! Os humanos como as
princesas, só podem namorar com humanos, e tu…com outras da tua raça!
- Eu bem desse àquele malvado que tem fraca
pontaria…ele disse que não fez de propósito…e que não faz por mal…! – Diz o
pirilampo.
- Quem?
- O Cupido.
- Encontraste o Cupido?
- Sim…ele atirou-me uma seta envenenada…!
- Envenenada?
- Sim…eu disse-lhe que ele tinha fraca pontaria,
e ainda por cima foi envenenada porque fez-me apaixonar por uma humana.
- Mas não fez por mal…
- Ele diz que não…que só atira setinhas para
fazer o coração bater mais forte, mas não sabe por quem essa pessoa se vai
apaixonar.
- Pois…aí tem razão! Não é ele que manda no
coração…! Podemos ser correspondidos ou não…e a outra pessoa ou ser…não é
obrigado a gostar de nós da mesma maneira!
- E agora, o que é que eu faço?
- Agora, querido…é melhor habituares-te à ideia
e…ou aceitas a amizade dela, ou mais te vale desaparecer para não sofreres mais
e esquecê-la.
- Ai, que trágica!
- Só te estou a abrir os olhos, para não te
iludires, nem teres esperanças que ele te vai corresponder.
O
pirilampo suspira.
- Que pouca sorte a minha! É triste ser um
pirilampo.
- Óh, não digas isso! És como és! A amizade não
tem forma, nem raça, nem sexo…os animais podem ser amigos uns dos outros, e de
humanos…e os humanos podem ser amigos de animais e de pessoas, se gostarem
deles. Podem ser bons amigos, tu e ela! E às vezes tem muito mais valor, as
pessoas tornarem-se amigas, e os animais incluídos, porque assim tornam-se
muito mais felizes, desde que não se magoem, nem se desiludam. Às vezes é muito
melhor ser amigo verdadeiro do que namorado.
- Óh…porque é que eu tinha de me apaixonar por
ela! Ela é tão bonita…tão simpática…tão doce! Será que ela vai querer um amigo
pirilampo?
- Claro que sim! Porque não haveria de querer?
Tenho a certeza que ela não faz esse tipo de distinções…é uma criança. Tenta
conquistá-la como amigo! Mas…agora descansa. Amanhã terás ideias mais claras, e
outras melhores.
- É…está bem! Boa noite!
- Boa Noite!
Nessa
noite, o pirilampo sonha que é um príncipe e que conquista a linda princesinha.
De manhã quando acorda, gostou tanto do sonho, que parecia tão real, que acorda
sorridente, voa da flor:
- Bom dia! Obrigada pela estadia.
- Bom dia! (sorri) Dormiste bem?
- Sim, muito bem…é muito confortável, dormir nas
tuas pétalas!
- (sorri) Volta sempre!
O
pirilampo vai lavar-se no laguinho e olha para a sua imagem reflectida na água.
Fica muito triste e desiludido, porque estava à espera de se ver como um lindo
príncipe, como tinha sonhado, e afinal era um pirilampo.
- Óh…não acredito…! Ainda sou só…um pirilampo…!
Tudo não passou de um sonho.
O
pirilampo senta-se na fonte, triste, e deixa cair algumas lágrimas. De repente,
aparece o Cupido, a tocar trombeta, a rodopiar, feliz, e a dançar com as
borboletas à sua volta.
- Olá…! - Diz o Cupido sorridente.
- Tu outra vez?
- Ei…que tempestade…! (o Cupido e as borboletas
riem)
- Não está muito bem disposto… - Diz uma
borboleta.
- Eu já o conheço! – Diz outra borboleta.
- Coitadinho! – Dizem as borboletas em coro.
- Está triste! – Diz o Cupido.
- Pois estou…e a culpa é toda tua.
- Minha…? Como? Eu sou o anjinho do amor…não
trago infelicidade…
- Ai não…? É só o que trazes! Atiras setas
envenenadas…
- Óh, porque dizes isso? O amor não é veneno.
- É veneno sim!
- Só porque não és correspondido?
- Ora essa…no amor nunca sabemos se vamos ser
correspondidos por quem nos apaixonamos ou não…mas é bom sentir amor por
alguém…sentir o coração a bater mais forte…ficamos mais iluminados. –
Acrescenta outra borboleta.
- Para isso faço um voo mais rápido e fico com o
coração a bater depressa, não precisava de me apaixonar…ainda por cima…por uma
humana…muito diferente de mim. – Responde o pirilampo.
- Que insensível…! – Diz outra borboleta.
- Porque te estás a lamentar tanto de ser um
pirilampo? – Pergunta o Cupido.
- Se eu fosse um príncipe tudo era diferente…! –
Murmura o pirilampo.
- Não era garantia nenhuma. Mesmo que fosses um
príncipe, não queria dizer que ela gostasse de ti. – Responde outra borboleta.
- Ai…dói tanto. – Suspira o pirilampo.
- Claro que dói…todos nós já sentimos essas
dores. – Responde outra borboleta.
- Tu também? – Pergunta o pirilampo.
- Claro! Eu e todos os pirilampos, todas as
borboletas, todos os pássaros, todas as pessoas e todos os animais. – Explica
outra borboleta.
- Como é que sabes? – Pergunta o pirilampo.
- É o que oiço dizer. – Responde a borboleta.
- Com certeza! – Responde o Cupido.
- Esta dor nunca vai passar. – Grita o
pirilampo.
- Claro que vai passar. Todas passam…e ainda
vais ter muitas mais dores como essas, ou maiores. Não acredito que nunca te
tenhas desiludido ou magoado antes! – Diz a borboleta.
- Que simpática! Claro que já…mas não tanto como
esta. – Suspira o pirilampo.
- Já te esqueceste das outras, e ainda bem…mas
de certeza que as outras também foram assim. Por acaso sou simpática. –
Responde a borboleta.
- Agora não estás a ser nada simpática. Só estás
a aumentar a minha dor. – Diz o pirilampo.
- Há dores muito maiores do que essa que estás a
sentir. – Lembra outra borboleta.
- Pode haver, mas neste momento só sei da minha,
que a sinto. – Responde o pirilampo.
- Claro! Cada um sente as suas à sua maneira.
Todos acham que as dores não passam, mas é claro que passam…com o tempo
esquecem. – Diz outra borboleta.
- O que é que eu faço…para deixar de doer? –
Pergunta o pirilampo muito triste.
- Aceita a ideia que nunca terás a princesa
como…uma mulher da tua vida! Lembra-te que ela não sente o mesmo por ti…que o
coração dela não bate ao mesmo ritmo que o teu…por isso…nada de muito sério
haverá entre vocês! Mas, nada impede que tu e ela sejam amigos! E que brinquem
juntos…é muito bom ter amigos…diferentes de nós…desde que nos tratem bem, e nós
deles. – Explica o Cupido.
- Como é que eu vou conseguir ser amigo dela, se
estou apaixonado? – Pergunta o pirilampo.
- A amizade não implica que se esteja
apaixonado…e quem sabe…essa tua paixão por ela, não é paixão! – Explica o
Cupido.
- Como assim? – Pergunta o pirilampo.
- Podes achar que estás apaixonado por ela,
porque o teu coração bate depressa…mas…podes estar apenas encantado por ela…e
quando a conheceres…quando fores amigo dela…essa paixão, ou encanto…vai
transformar-se em amor fraterno…em…carinho…em…coisas muito melhores! Pode
parecer-te que estás apaixonado porque ela agradou-te aos olhos, é bonita…mas
ela pode não ser como tu imaginas!
- Tenho a certeza que é linda e que é boa
pessoa!
- Sim, também não duvido. Mas a amizade não se
conquista!
- Conquista sim…não podes chegar à beira dela e
dizer-lhe directamente que queres ser amigo dela…elas não gostam disso! Tens de
te ir mostrando aos bocadinhos…ser delicado…não a pressiones…mostra-lhe que
pode confiar em ti conversa com ela…faz-lhe companhia, e se ela não quiser
estar contigo, deixa-a! Ela volta mais tarde, e não quer dizer que não goste de
ti!
- Mas sendo amigo dela…não lhe posso oferecer
nada! – Diz o pirilampo.
- Porque não? (ri) Só se não quiseres! – Diz o
cupido.
- Porque é minha amiga! – Responde o pirilampo.
- E os amigos não podem oferecer coisas uns aos
outros?
- Nos anos, e no Natal!
- Não tem que ser só nessas datas…pode-se
oferecer sempre que quisermos. Todos gostamos de pequeninos miminhos dos
amigos, sejam eles quais forem…e de pequeninas lembranças. Aliás…fora de épocas
festivas ainda sabe melhor!
- (sorri) Ai é? Diz-me mais…!
O
pirilampo, o Cupido e as borboletas, têm uma longa conversa. O cupido, e as
borboletas, ensina coisas muito importantes ao pirilampo, e este fica mais
animado.
Ao fim dessa manhã, ele vai para o quarto da princesa e esta já lá não
está. Mas de repente entra no quarto e vai à janela.
- Pirilampo…amiguinho…pirilampo… - chama a
princesa.
O
pirilampo fica feliz e aparece à menina.
- Olá Bom Dia, princesa!
- Olá! Estás aqui? (sorri)
- Sim!
- Já tomaste o pequeno-almoço?
- Já, e tu?
- Eu também! Não vejo a tua luz!
- Porque é de dia! Mas eu estou aqui…
- Áááááhhh…! Está bem…a tua luz é muito bonita.
Todos adoramos pirilampos.
- A sério? (sorri) Obrigado…!
Os
dois ficam à janela a conversar alegremente, e riem até a princesa ser chamada
para almoçar.
De tarde e à noite, voltam a encontrar-se e passeiam pelos
jardins, a princesa brinca com os outros pirilampos e assiste a um bailado de
pirilampos, maravilhada, aplaude.
O seu amigo pirilampo oferece-lhe uma flor, e
em troca, a princesa convida-o para dormir no seu quarto, porque gosta muito
dele. A princesa prepara-lhe uma cama muito confortável na sua mesinha de
cabeceira.
- Ficas aqui, porque eu não gosto nada de
escuro…assim…tenho a tua companhia, e a tua luz de presença! – Diz a princesa.
O
pirilampo está mesmo feliz e a sua luz mais forte, mais brilhante e mais pura.
- Óóóóhhh…muito obrigado, querida princesa.
Também és muito linda, e gosto muito de ti! – Diz o pirilampo sorridente e
feliz!
- (sorri) És o meu melhor amigo.
- (sorri) Tu és a minha única amiga de carne e
osso, mas és maravilhosa.
- (sorri) Obrigada. A tua cama é confortável?
- Sim! Não pode estar melhor!
- (sorri) Boa! Se tiveres frio, diz-me que eu
ponho-te mais roupa…aqui às vezes é muito frio.
- Está bem! E se alguém vier ao teu quarto…não
vão gostar de me ver aqui. Dão-me logo umas chineladas…
- Nada disso! Não te preocupes…eles nem vão
reparar que estás aqui!
- Achas?
- Sim!
- Só se eu apagar a minha luz para eles não me
verem.
- Óh, não…não apagues a tua luz…é tão bonita.
- Não precisas!
- Está bem…! Eu fico aqui quietinho.
- Eu quero que fiques comigo!
- (sorri) Está bem…estou e estarei sempre aqui
contigo!
- Eu sei! Obrigada!
E
desde esta noite, os dois tornam-se verdadeiros e grandes amigos, conversam
muito, riem muito, brincam e passeiam, vão a festas, trocam carinhos e
pequeninos presentes, e partilham o mesmo quarto.
O Cupido e as borboletas
tinham toda a razão: a paixão do pirilampo era mesmo…encantamento…gostou da
princesinha pelos olhos…e quando se tornou amigo dela…os seus sentimentos
tornaram-se mais suaves, de carinho, ternura, respeito…ele gostava da sua
presença, da maneira de ser da menina, e era muito feliz com ela, por ser amigo
dela, por se divertir tanto com ela, e ter longas conversas. A menina correspondia-o
na amizade…no amor fraterno, como se fossem irmãos.
Acontece
muitas vezes com os seres humanos quando conhecem alguém…gostam pelos olhos,
mas não sabem conquistar a amizade aos bocadinhos, e quando conhecem, os
sentimentos transformam-se…umas vezes…tudo não passa de fogo de vista…daquele
primeiro encanto!
Uma chama que se apaga
rapidamente…outras vezes…é o primeiro encanto…começa por uma chaminha
pequenina, e vai aumentando…outras vezes é uma chaminha que alastra e apaga tão
rapidamente como o primeiro encanto.
Outras vezes, há o primeiro
encanto, seguido da chaminha que aumenta à medida que se conhece, e passa para
paixão…que quando se apaga, dói! Outras vezes, há o primeiro encanto, a
chaminha…a lavareda que cresce na amizade, e permanece bem acesa…para
sempre…ou…até haver desilusão.
Por fim…há o primeiro encanto,
a chaminha, a lavareda e a fogueira do amor um pelo outro, dos sentimentos
puros e sinceros, do gostar da presença um do outro, do respeito, da companhia,
da compreensão, amizade, lealdade, fidelidade, e da felicidade.
A amizade conquista-se aos
bocadinhos, sem pressões, sem abandonos, e, ou sufocos…com liberdade, assim
como a confiança e o amor. Há muitos tipos de amor, e cada um tem a sua beleza,
a sua importância, as suas características.
FIM
Lálá
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