Era
uma vez, na aldeia gelada do Pai Natal, onde todos estavam muito ocupados…ainda
faltava mais de um mês para o Natal, mas antes dessa noite tão especial há
muito para fazer, muitas encomendas.
O
Pai Natal e os duendes a montar os brinquedos, a fazer pequenos ajustes, para
tudo funcionar na perfeição, verificam os pedidos recebidos, e os brinquedos,
registam o que falta, e constroem outros brinquedos.
Há
muita música, cânticos e muita alegria no ar, muitas luzes a piscar e sininhos
a tocar.
Há
muitos barulhos na grande fábrica do Pai Natal…de máquinas a mexer, serras e lâminas
a guinchar que cortam os pedacinhos de madeira que sobram dos brinquedos construídos.
Há
limas que arredondam as pontas dos brinquedos, martelinhos, furadores, pregos,
colas, e águas ferventes, lareiras, fogões e banquinhos de madeira…borrachas,
rodas, réguas, lápis, tintas, panos, brilhantes, olhos, cabelos…caixas de
música, cordas, fios e muitos outros materiais que todos os brinquedos precisam
para nascerem…e montões de brinquedos já prontos, à espera de serem revistos e
embalados em lindos papéis de embrulho.
Há
floquinhos de neve a descer das nuvens e a aterrar sorridentes no solo, vento
que os põe a dançar e que os leva a passear. As renas começam a aperceber-se
que está para chegar o dia em que vão pôr patas ao caminho e levar os
presentes.
É sempre um momento de grande emoção e
felicidade para todos. Quer dizer…para quase todos! Sim…quase todos, porque há
uma rena, entre as outras, que é muito ansiosa…ainda é muito nova, e este vai
ser o seu primeiro Natal a conduzir o Pai Natal.
- Olá…o que se passa ali na casa do Pai Natal? – Pergunta um
lobo.
- Está a preparar os presentes para o Natal…! Tem de ser
com antecedência. E já não falta muito.
A pobre
rena, sente frio na barriga, estremece e sacode-se.
- Vai ser um momento inesquecível para a nossa filhota…! –
Diz o Pai da rena orgulhoso.
- Ai…! – Suspira a rena.
- O que foi? – Perguntam os pais.
- Não quero ir. – Responde a rena nervosa.
- Mas não tens como fugir. Todas nós temos essa função,
mais cedo ou mais tarde…e vais ver como é bom. – Diz a Mãe da rena sorridente.
- No inicio podes sentir um bocadinho de medo…é normal, mas
logo que o trenó começa a andar, sentimo-nos com um poder…e ficamos tão
felizes, tão emocionados, que só queremos é que a viagem não acabe tão depressa…vais
ver, filha…vai ser maravilhoso. – Diz o pai.
- E nós estamos contigo…também vamos. – Diz a mãe.
- Mas descansa…ainda falta muito. – Diz outra rena mais
velha.
Todo aquele
discurso não sossegava a jovem rena, embora ela tentasse disfarçar, e não
pensar nisso. À medida que o trabalho do Pai Natal aumenta, com o passar do
tempo, a rena começa a sentir coisas estranhas sempre que olha para as janelas
da fábrica dos brinquedos.
- Ai…até me gela a espinha. – Suspira a rena – Ai…tanto
movimento…o que será que isto quer dizer? – Pergunta-se a rena.
- Quer dizer que está a chegar a grande noite! – Responde um
gato que estava do lado de dentro da janela.
- Ai…o que é que isso quer dizer? – Pergunta a rena.
- Óh valha-nos…estou a falar chinês? Óh rena…acorda…está
quase a chegar a noite em que o Pai Natal vai distribuir os presentes… -
Explica o gato.
- E isso quer dizer que…? – Pergunta a rena muito
assustada.
- Que tu vais conduzir o Pai Natal…e os teus pais. – Diz o
gato.
- Óh não…! Não…não pode ser…! – Diz a rena muito assustada.
As suas
patas começam a tremer forte, e ela a fraquejar, escorrega na neve, e rebola. Grita.
- Ai…!
A rena mãe
vai ter com ela.
- O que é que te aconteceu? – Pergunta a mãe.
- Escorreguei…as minhas patas começaram a tremer…e eu a
ficar gelada, sem força… - Explica a rena.
- Estás doente…
A rena mãe
abraça a pequena, e leva-a para a corte para se aquecer.
- Vê se recuperas rápido…filha…vem aí uma data importante…não
podes ficar doente…olha que o Pai Natal não tem outras renas disponíveis. –
Informa o Pai.
- Ai…! – Geme a rena.
- Isto não é nada de mais…passa já! É preocupação. – Diz a
mãe a sorrir.
- Tens de aprender a controlar esses nervos, rapariga. –
Diz o pai.
- Sim, e vai aprender. – Garante a mãe.
A mãe
tinha toda a razão…ela sabia muito bem que a pequena rena estava a ficar
preocupada e nervosa. E os dias corriam, quase sem se dar por isso. A azáfama
na fábrica era cada vez maior.
O Pai Natal até teve de contratar mais duendes. Apesar
de muito trabalho, todos estavam muito felizes, e trabalhavam com grande
alegria…!
- Que lindos que estão estes brinquedos! Oh, oh, oh…! –
Suspira o Pai Natal, muito orgulhoso, a apreciar as suas obras.
Os duendes
aplaudiam e todos se ajudam uns aos outros, para terminar as montagens dos
brinquedos.
- Falta muito? – Perguntava a rena mais de uma centena de
vezes por dia.
Ninguém
lhe respondia, ou respondiam simplesmente…«não».
A rena estava muito ansiosa,
nervosa, cheia de medo…de noite, não estava a conseguir dormir, pois,
deitava-se e tinha pesadelos.
Umas vezes, sonhava que começava a conduzir, e de
repente não sabia como o fazer, ou…o trenó não andava e o Pai Natal dizia que a
culpa era dela…ou que o Pai Natal ralhava muito com ela, porque os meninos iam
ficar sem prendas…
Outras vezes, sonhava que os pais lhe diziam que ela era a
vergonha da família, e que a abandonavam por causa disso, e que lhe batiam.
Ela acordava muito assustada, a
gritar, com o coração a bater muito depressa, e a saltar…acordava os pais com
os seus gritos.
Ela quase não conseguia respirar nem falar, e suava frio…tremia
toda…os pais acordavam e ficavam preocupados. Tentavam acalmá-la:
- Calma filha…está tudo bem! – Dizia o Pai.
- Foi só um sonho mau…já passou! – Dizia a Mãe
- Estás em segurança… - Dizia o Pai
- Tens de descansar, está quase a chegar a grande noite, e
tens de ter força. – Recomendava e lembrava a mãe.
- Tenho tanto medo…! – Dizia a pobre rena.
- Mas não há razão nenhuma para teres medo…! – Dizia o Pai.
- Eu não sei fazer isso… - Dizia a rena.
- Não tem nada que saber… só tens de deslizar na neve…não
te preocupes…na hora saberás como fazê-lo. – Explicava a outra rena mais velha.
- E se eu faço mal…os meninos ficam sem prendas, e o Pai
Natal ralha muito! – Dizia a rena a tremer.
- Mas quem é que
disse que vais conduzir mal…? – Perguntava o pai.
Por muitas explicações que dessem a
rena não ficava calma por muito tempo. E enquanto os pais dormiam, ela andava
de um lado para o outro, muito agitada.
Uma estrelinha que estava em cima do
pinheiro, fora da porta, ri-se de ver toda aquela agitação. A rena fica
surpresa, e sai a porta. A rena e a estrela falam uma com a outra:
- Do que é que te estás a rir?
- Porque não dormes?
- Não consigo!
- Porquê?
- Porque se fecho os olhos, fico com muito medo.
- (ri) O quê? Tens medo do escuro?
- Não! Tenho medo de fechar os olhos.
- Porquê?
- Porque se fecho os olhos tenho sonhos maus…e não quero,
porque depois acordo muito assustada, e acordo os meus pais.
- Só porque tiveste um sonho mau uma vez…não quer dizer que
tenhas mais vezes, nessa noite.
- Quer dizer…pois…é o que tem acontecido.
- E são coisas muito feias?
- Sim…horríveis.
- Óh…não ligues a isso…são só sonhos…! De certeza que estás
preocupada com alguma coisa, é por isso que depois sonhas com isso. Mas tens de
fechar os olhos para descansar…e ficares forte para a grande noite que aí vem.
A rena
fica quase sem ar, e a tremer toda.
- Ui, estás bem? – Pergunta a estrela.
- Ai…que eu não consigo…respirar…! – Diz a rena muito
aflita.
- Estás a tremer… - Diz a estrela preocupada.
- Ai…!
- O que foi? Estás doente…? Vai para dentro! – Diz a
estrelinha
Aparece
uma duende que pergunta à estrelinha, muito preocupada com a rena:
- O que está a acontecer…?
- Ela está muito estranha! – Responde a estrelinha
preocupada.
- Óh…coitadinha…está doente?
A rena
agarra-se á barriga, a tremer e quase sem respirar, vai quase a cair atrás de
uma árvore.
- Olha para o andar dela… - Observa a estrela
- Acho que o Pai Natal vai ter de arranjar outra rena…- Diz
a duende.
- Ela há bocado estava a gritar…gritou uma série de vezes,
e parecia uma barata tonta de um lado para o outro. – Descreve a estrelinha.
- Já está assim há muito tempo? – Pergunta a duende.
- Já! Eu já lhe disse que tem de descansar, porque está
quase aí a grande noite, e ela precisa de estar forte! – Conta a estrelinha
- Pois é! – Diz a duende.
- Mas ela diz que não quer fechar os olhos!
- Mas tem de fechar, se não…como é que ela vai descansar? –
Pergunta a duende.
- Perguntei se tinha medo do escuro, ela disse que não…mas
mesmo assim, não fecha os olhos. Diz que não consegue respirar…e treme…parece
uma vara verde em dia de ventania. – Diz a estrelinha.
Ela anda
de um lado para o outro, a tremer toda, a escorregar as patas, agarrada á
barriga, e a arfar, e fica atrás de uma árvore.
- Ai…coitadinha…deve estar com gases… - Diz a duende.
- É…Ei…que cheirete…! – Diz a estrela.
- Áh…já percebi qual é o problema dela…! – Diz a duende.
- O que é…? É grave? É contagioso?
- Não. Não é nada de grave, nem de contagioso…! - Ri a duende.
- São gases…? – Pergunta a estrelinha.
- Sim, também…mas é mais além disso…ela está ansiosa pela
grande noite, com muito medo, e preocupada…é natural, e todas passam pelo mesmo,
enquanto não se habituam. – Explica a duende.
- Mas…podemos ajudá-la? – Pergunta a estrelinha.
- Sim…deixa comigo.
A rena
volta, com ar abatido, quase a arrastar-se, e a arfar.
- Desculpem! – Diz a rena.
- Não faz mal. – Respondem as duas.
- Estás melhor? – Pergunta a estrelinha.
- Ai…acho que não…! – Responde a rena.
- Mas estás doente? – Pergunta a estrelinha.
- Estou muito assustada…e preocupada!
- Com quê? – Pergunta a duende.
- Com…com…
Ela está
tão nervosa que nem consegue falar…contorce-se toda.
- Espera…já sabemos…é por causa da grande noite, que aí
vem, não é?
- Ai…! Sim! – E senta-se na neve.
- Óh…eu entendo-te! Mas não te preocupes, vai correr tudo
bem! – Diz a duende sorridente.
- Ai…tenho tanto medo…é uma responsabilidade muito grande. –
Suspira a rena.
- Que responsabilidade…? Nada disso…só tens de te deixar
deslizar, e deixar-te conduzir pela alegria que anda por todo o lado, no ar…nessa
noite…basta lembrar-te de quanto os meninos vão ficar felizes, ao receber os
presentes dos seus sonhos. – Diz a duende.
- Toda a gente fica preocupada no primeiro contacto, mas depois
não querem outra coisa! – Diz a estrelinha.
- Isso é o que toda a gente diz! – Diz a rena
- E todos estão a dizer a verdade. – Confirma a estrelinha.
- Mas eu acho que não sou capaz! – Diz a rena muito
assustada.
- Claro que és capaz…toda a gente é capaz. – Diz a duende.
- Achas? – Pergunta a rena
- Tenho a certeza! – Garante a duende
- Ai…não sei! – Suspira a rena.
- Podes ter a certeza que sim. Anda, vamos ali á cozinha
para beberes um chá e dormires…se não…ficas muito cansada. – Garante a duende.
- Está bem! – Diz a rena.
Vão à cozinha,
e a duende prepara um chá para a rena relaxar. O Pai Natal está tão ocupado que
nem dá pela sua presença. As duas conversam, e a rena consegue ficar mais calma,
e relaxar, e dormir nessa noite e nas seguintes.
Chega o
grande dia, e a grande noite. Há uma grande euforia, e alegria, todos carregam
os trenós com os sacos de presentes, o Pai Natal prende as coisas, e…a rena
mais nova completamente fora de si…dominada pelo medo, e pela ansiedade, treme
muito, quase não consegue respirar, e a sua barriga está às voltas.
A duende
apercebe-se e dá-lhe de beber…o chá que ela tinha tomado nas noites anteriores,
mas este dava energia.
- Vai…confia em ti…! – Diz a estrela.
- Tu és capaz! Deixa-te deslizar, e conduzir pela alegria
que anda no ar. – Grita a duende.
- Vai correr tudo bem, filha! – Diz a mãe.
- Estamos contigo! – Diz a estrelinha.
- Vamos… - Grita o Pai Natal.
E todos
saltam para o trenó…duendes para ajudar na distribuição, com os papéis
identificados, e as moradas; e o querido Pai Natal, todo feliz, muito bem
instalado, dá o sinal.
A rena enche-se de coragem, e o medo e
a ansiedade desaparecem. Os pais ficam muito orgulhosos e vaidosos, pela sua
coragem e por conduzir tão bem. Ela segue as instruções que lhe deram.
E fazem uma viagem magnifica, muito
segura, rápida, coordenada, e com muitas canções e músicas de Natal, muitas
luzes e risos, pelo caminho. Distribuem todos os presentes que as crianças e os
adultos pediram, e no dia seguinte regressam, todos felizes e tranquilos à sua
terra, para descansar e carregar baterias para as próximas encomendas.
A rena ganhou coragem, e perdeu o
medo. Connosco também acontece isso, muitas vezes…achamos que não somos capazes
de fazer alguma coisa que nos preocupa ou assusta muito, e depois, fazemos
mesmo…ficamos muito orgulhosos e felizes não é? Feliz Natal!
FIM
Lara Rocha
(19/Agosto/2013)
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