Era uma vez dois jovens irmãos: um rapaz e uma rapariga
que viviam numa floresta maravilhosa. À primeira vista, pareciam pessoas
normais, iguais às outras, e eram…mas tinham poderes especiais. Eram sensíveis
e muito bondosos, sempre que viam na sua bola de cristal que alguém precisava
deles, lá iam. Geralmente iam os dois.
Um dia,
Hugo viu na bola de cristal uma senhora de muita idade, que vivia sozinha,
isolada na cidade, e aparentava estar doente. Chama a irmã, muito aflito:
- Diana…anda cá ver isto…!
Diana
assusta-se e vai ter com ele.
- O que foi…? Alguma urgência?
- Sim. Há uma senhora com muita idade, que vive sozinha
num apartamento, na cidade, e parece estar doente. Vamos lá vê-la de perto?
- Sim, claro.
- Vê aqui…
Hugo mostra
a bola à irmã.
- Sim, pois está! Vamos…
- É melhor avisarmos aqui em casa.
- Sim.
Os dois vão
à cozinha e informam os pais. Dão a mão, para reforçar as energias, e vão para
a cidade.
- Viste onde ficava, Hugo?
- Vi. Eu sei onde fica.
- Olha, e como é que vamos entrar no apartamento da
senhora? Será que ela pode levantar-se para abrir a porta?
- Achas…? Com aquela idade…? Não. Entramos pela porta da
cozinha…nas traseiras da casa onde é a cozinha.
- Áh! Já andaste lá a ver isso tudo…
- Claro!
Os dois
entram sem serem vistos, tal como Hugo tinha identificado. A senhora está a
gemer, e muito triste.
- Boa tarde, Avó…precisa de alguma coisa…? – Pergunta
Hugo.
- Ai…! – Diz a senhora.
- Dói-lhe alguma coisa? – Pergunta Diana
- Ai…dói-me tudo…! Acho que cheguei ao fim.
- Não diga isso! – Respondem os irmãos em coro.
- Quer que chamemos uma ambulância ou um médico? –
Pergunta Hugo
- Não…! Ai…aqui…estou melhor. – Responde a senhora.
Os dois
ajudam a senhora a levantar-se, e sentam-na carinhosamente no sofá, ficando um
de cada lado. Hugo dá a mão à senhora, e Diana abraça-a.
- Olhe, diga-me como se chama… - Pede Hugo.
- Ai…não sei…esqueci-me… - Diz a senhora.
- Não faz…! – Respondem os dois.
- Tem família aqui perto? – Pergunta Diana
- Não…eu não tenho ninguém…até o cão…desapareceu. – Diz a
senhora muito triste.
- Tinha um cão? – Pergunta Diana
- Tinha…muito bonito…não sei o que lhe aconteceu. –
Responde a senhora.
- Quer um copinho de água? – Pergunta Diana
- Ai…filhos…não se preocupem comigo…eu não quero dar
trabalho. – Diz a senhora.
- Não dá trabalho nenhum! – Respondem os dois.
Diana vai
encher um copo de água para a senhora. Enquanto isso, Hugo continua a perguntar
à senhora:
- Dói-lhe alguma coisa?
- Ai, filho…dói-me tudo.
- Já vive aqui há muitos anos?
- Sim…!
- Quantos?
- Oitenta e tal… - A senhora bebe a água. Diana volta a
abraçá-la.
Os dois jovens passam a sua luz para a
senhora, e esta, de um momento para o outro, parece que ganha vida, e que até
fica mais nova…começa a lembrar-se de tudo, e a sorrir.
Os três falam alegremente, e riem muito. Mais
tarde, os dois vão passear com a senhora de braço dado, e ela está muito mais
feliz, cheia de energia e alegria, sorri, conta anedotas e histórias, que deixa
os dois irmãos maravilhados. A senhora prepara um lanche apetitoso para os
três, está como nova, já nem lhe dói nada, e fala com eles alegremente. Eles
riem. Ao fim da tarde…
- Desculpem, meus anjos…se me dão licença…vou descansar
um bocadinho.
- À vontade! – Respondem os dois.
- Amanhã vimos visitá-la outra vez…está bem? – Pergunta
Hugo.
- Claro, meus amores…sempre que quiserem. Estou tão
feliz…e já nem me dói nada. Nem sei como vos agradecer…fizeram-me tão bem…! –
Diz a senhora.
- Que bom! – Respondem os dois a sorrir
- Ficamos muito felizes por isso. – Diz o Hugo.
- Vocês os dois são uns anjos…e como é que sabiam que eu
precisava de alguém…? – Pergunta a senhora
- Nós…íamos a passar por aqui, atrás e ouvimo-la…! Como
tinha esta porta aberta…entramos. – Diz Hugo
- Áhhh! Muito obrigada…se fossem outros quaisquer…não me
ouviam, ou até me fariam mal. E o que é que são um ao outro…? Namorados…?
Marido e mulher…? – Diz a senhora.
- Não! Irmãos. – Respondem em coro.
- Irmãos?
- Sim! – Respondem a sorrir.
- Ááááhhh…não são muito parecidos…! E moram aqui perto? –
Sorri.
- Sim! – Respondem a sorrir
- Bem, filhos…mais uma vez muito obrigada. – Responde a
senhora.
- Não precisa de companhia agora para a noite? – Pergunta
Hugo?
- Não, filho…já estou habituada…é muito triste, mas
também…como já estou a dormir…nem percebo que estou sozinha. – Diz a senhora a
rir.
- Amanhã então voltamos…aliás…até lhe deixamos um
contacto, e se precisar chame-nos, a qualquer hora. Combinado? – Diz Hugo
- Não vos vou estar a incomodar… - Diz a senhora.
- Não incomoda nada. – Respondem os dois em coro.
E
dirigem-se para a senhora. Trocam abraços e beijos, e sorrisos com a senhora, e
saem. No dia seguinte, voltam a casa da senhora, com uma surpresa…um lindo
cãozinho, pequenino, muito meigo. A senhora fica muito feliz, abraça e beija e
acaricia o cãozinho, carinhosamente e deliciada, abraça e beija os jovens, e
passam mais uma tarde fantástica com ela. Desapareceram-lhe as dores, e está
muito feliz, com a presença dos jovens e do cãozinho.
- Meus queridos…a vossa presença e o vosso carinho são
melhores que muitos comprimidos…vocês são seres muito especiais. – Diz a
senhora muito contente.
Os dois
sorriem.
- É um remédio fácil, gratuito, sem químicos, e muito
poderoso… - Diz Hugo a sorrir.
- Sim, é mesmo filho. Tenho de vos recompensar. – Diz a
senhora.
- Nem pense nisso. – Dizem os dois.
- Fazemos isto com todo o coração! – Diz Diana.
- Sim, filha…eu sei, mas merecem ser recompensados…hoje
em dia já quase não se encontra pessoas como vocês…os jovens estão muito maus,
sem respeito nenhum pelos mais velhos…! – Explica a senhora.
- Sim, tem razão, mas estamos nós os dois aqui, e somos
diferentes, mas temos todo o gosto em fazê-lo! E não é para recompensas…a
melhor recompensa que podemos ter…já recebemos…que é vê-la bem, feliz, com
saúde e alegria…e fresca…! – Diz Hugo.
- Sim, e estou mesmo…graças a vocês…ganhei anos de vida.
– Diz a senhora.
E a partir
desse dia, vão visitar a senhora todos os dias, e ela nunca mais se sentiu sozinha,
nem doente. Esta senhora e muitas outras que vivem sozinhas. Há coisas que não
se curam com medicamentos…como a solidão, o abandono, o isolamento, a tristeza…
Para as dores emocionais, os melhores medicamentos não são os químicos…são: uma
simples presença doce de alguém, um carinho, um passeio, uns abraços, umas mãos
que segurem nas deles, um simples sorriso, a escuta, uma partilha, umas
conversas, e umas gargalhadas… a atenção, a dedicação, a lembrança…uma
pequenina oferta…é fácil e é barato…faz bem a toda a gente, rejuvenesce,
devolve a saúde, a energia, a alegria de viver, o sentimento de pertença e de
utilidade…tão importantes para os que têm mais idade, e todos ficam a ganhar.
FIM
Lálá
(20/Agosto/2013)
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