Era uma vez uma linda e pequenina joaninha que saiu com a sua família para passear, e reparou numa árvore que tinha umas enormes bolas roxas, pretas, vermelhas e verdes. Ela não fazia a mais pequena ideia do que ela aquilo, nunca tinha visto! Mas achou tão bonitas...e perguntou aos seus pais se eles sabiam o que eram aquelas bolas.
Os seus pais também não sabiam, mas
uma ave de grandes penas compridas e pretas ouviu a pergunta e respondeu:
-
São uvas, criatura vermelha às bolinhas pretas! - Responde a ave com riso
endiabrado e irritante
-
Ei, Óh monte de penas, vê lá como falas com a criança...ela só fez uma pergunta
e nem eu nem a mãe sabemos o que são.
-
Deixem lá...somos vermelhas e pretas, mas ela é toda preta! - Diz a joaninha
-
Pois claro! - Concordam os pais
-
Tens toda a razão. - Concorda a mãe
-
Mas que ignorantes! Ih, ih, ih, ih...Nem pensem que vão lá pousar ou
comer...aquilo é tudo para mim. - Diz a ave arrogante
-
Não faltava mais nada! És a dona da casa? - Pergunta a mãe
-
Sou! - Responde a ave
-
Não querias mais nada! - Ri o pai
-
Esta casa sempre deve ser melhor que a tua... - Diz a joaninha
-
Põe-te a andar! - Ordena o pai
-
Porquê? Os donos são vocês? - Desafia a ave
-
Não! Mas também não vamos comer, muito menos sem autorização. - Diz a mãe
-
Os donos podem ficar muito zangados, e com toda a razão! - Responde a joaninha
-
Medricas! - Goza a ave
-
Vai para longe, maldita! - Ordena o pai
-
Áh, mas que antipáticos... - Ri a ave
-
É como tu mereces ser tratada... - Diz a joaninha
-
Vai lá para a tua toca. - Resmunga o pai
-
Não vou. Só quando tiver feito o meu trabalho. E vocês não vão dizer nada. -
Goza a ave
-
Estás a falar com demasiada certeza... Vai para bem longe. - Ordena outra vez o
pai
A ave desce sem dar mais
respostas, e começa a cortar cachos de uva. Eles nem querem acreditar no que
estão a ver e ficam verdadeiramente irritados. A joaninha pousa no nariz de um
dos cães da casa, que olhou para ela, ela assustou-se:
-
Ai, não olhes assim para mim.
O cão começa a tentar soprá-la, e
ela levanta do seu nariz, encolhida. O cão abre a boca e tenta apanhá-la.
-
Espera...por favor...ladra! (o cão ladra) Não é para mim...mas anda uma ave
muito estranha a tentar comer aquelas bolas grandes penduradas.
O cão fica muito nervoso, percebe
que alguma coisa errada está a acontecer, e ladra sem parar, os outros ladram
com ele, e os donos da casa vão a correr ver o que se passa...apanham a ave em
cheio a debicar atrevidamente, e a lançar veneno na raiz de uma árvore para que
as uvas murchassem.
Os
donos pegam em paus e vassouras, dão sapatadas na ave e chutam-na.
-
Maldita! Xôôô. Vai-te embora...- gritam os donos
Ela grita e depois de apanhar umas
boas vassouradas, voa. Todos aplaudem. Os pais da joaninha não cabem em si de
orgulho pelo trabalho que ela fez. Os donos acariciam os cães, e nem reparam na
joaninha. A joaninha fica triste...mas os cães olham para ela, ladram e cheiram-na,
para os donos a verem.
Os
donos veem-na, e fazem-lhe uma grande festa, de encanto.
-
Óh! Que linda...tão fofinha...tão gira...Óhhh...
Os cães ladram em coro para
agradecer à joaninha, mas os donos não entendem. A joaninha sorri feliz e
vaidosa. Um dos donos pega numa uva e dá à joaninha. A joaninha não sabe o que
fazer com aquela bola gigante, como ela lhe chamava...era realmente gigante à
sua beira.
Pensou
que era para brincar, pousou em cima da uva, e sentiu a sua casca, macia, um
pouco escorregadia, até que escorrega mesmo e a uva rola, fica deitada. Todos
se riem, e a joaninha também.
-
Será que as joaninhas comem uvas? - Pergunta um menino
-
Acho que não! - Respondem todos
-
Isto é de comer? Mas é tão grande... Como é que se come? - Pergunta a joaninha
e fica à espera de resposta.
-
Come joaninha... - Diz outra menina da família
-
Por aqui... - Diz outra menina da família
A joaninha sente um cheirinho bom,
e percebe que aquilo parece água, no sítio onde cortaram a uva, prova e grita:
-
Papá, mamã...isto é delicioso. Venham provar.
A mãe e o pai voam até à uva,
provam-na e confirmam.
-
Olha...mais duas joaninhas! Que giras! Parece que também quiseram provar. - Repara
a dona da casa
-
Realmente...Hummm...que sabor! - Confirma a mãe
-
É mesmo bom, e fresco. - Reforça o pai
E deliciam-se com a uva. Sem se
aperceberem, comem-na toda num abrir e fechar de olhos. No fim, já mais que
satisfeitos, tentam voar, mas estão tão pesados que não se mexem nem um
centímetro.
-
Ui, o que está a acontecer connosco? - Pergunta o pai
-
Não sei. Mas sinto-me muito estranha! - Diz a mãe
-
Eu também... - Diz a joaninha
-
Acho que... – Diz a mãe
Quando percebem que comeram a uva
toda...
-
Aquela bola gigante? – Pergunta a joaninha
-
O que tem? – Pergunta o pai
-
Onde está? – Pergunta a mãe
-
Eu pensei que ela era para brincar, mas depois disseram-me para a... – Conta a
joaninha
-
Comer...! – Dizem os três
-
E tu convidaste-nos a provar... – Lembra a mãe
-
Sim. Não gostaram? – Pergunta a joaninha
-
Muito! – Respondem os pais
-
Mas onde está essa bola gigante? – Pergunta outra vez a joaninha
-
Acho que... – Diz a mãe
-
Já entendi tudo. – Diz o pai
-
O quê? – Pergunta a joaninha
-
Está dividida pela nossa barriga! – Responde a mãe
-
Ãh? – Pergunta a joaninha
-
Sim! Comemo-la! – Confirma o pai
-
Não! – Diz a joaninha a duvidar
-
Não pode ser. – Diz a mãe
-
Um dos meninos deve ter levado. – Diz a joaninha
-
Não levou não! – Diz o pai
-
Aaaaaaiiiiiii... – Suspiram os três
-
Tens a certeza? – Confirma a mãe
-
Agora tenho! – Diz o pai
-
Aiiiiiiiiiiiiii... – Suspiram todos
-
E agora? – Pergunta a joaninha
-
O que vamos fazer? – Pergunta a mãe
-
Acho que vou rebentar. – Comenta a joaninha
-
Eu também! – Dizem os três
-
Mãe...estás com uma barriga...e tu também pai... – Repara a joaninha preocupada
-
Mas que delicada...- Comenta o pai a rir
-
Desculpem...é verdade. – Diz a joaninha
-
A tua está igual. – Responde o pai
-
Está? – Pergunta a joaninha preocupada
-
Está! – Respondem os pais a rir
-
Ai! – Geme a joaninha
-
E agora? – Pergunta a mãe
-
Ficamos à espera que ela esvazie. – Responde o pai
-
E isso vai acontecer? – Pergunta a joaninha assustada
-
Claro que vai. – Garante o pai
-
Quando? – Pergunta a joaninha
-
Daqui a bocado. – Responde o pai
-
Como é que conseguimos comer tanto? – Pergunta a mãe
-
Não sei... – Dizem todos
Soa uma gargalhada de um pequenino
cogumelo debaixo da árvore.
-
O que foi isto? – Perguntam mãe e joaninha
-
Foi uma gargalhada. – Diz o pai
-
Alguém está feliz. – Repara a mãe a rir
Do cogumelo sai um pequeno
dragãozinho amarelo que adora enciclopédias e investigar, a rir.
-
Com que então são vocês...? – Diz o dragãozinho sorridente
-
Já nos conhecemos? – Perguntam as joaninhas
-
Não...quer dizer, eu já vos conheço, mas vocês não me conhecem. – Diz o
dragãozinho
-
Como? – Perguntam as joaninhas
-
Eu sei quem vocês são! – Garante o dragãozinho
-
Sabes? – Perguntam as joaninhas
-
Sei. Vocês são joaninhas. – Responde o dragãozinho muito seguro
-
Sim...- Dizem as joaninhas
-
Isso toda a gente sabe. – Lembra o pai
-
Mas eu sei mais... muito mais. – Diz o dragãozinho
-
O quê? – Perguntam as joaninhas
-
Vocês comeram uma uva e agora estão que não se mexem. – Responde o dragãozinho
-
Isso é novidade, e é saber tudo de nós? – Pergunta a mãe
-
Sim, comemos, e estamos muito pesados. – Acrescenta o dragãozinho
-
Mas o que é que isso tem de importante? – Pergunta o pai
-
Eu sei que estão à espera de fazer a digestão! – Responde o dragãozinho
-
O quê? – Perguntam as joaninhas
-
Áh! Vocês não sabem? Sempre que comemos, fazemos a digestão...os pedacinhos de
tudo o que comemos espalham-se por todo o nosso corpo, através do...sangue... Que
corre dentro de nós...depois de passar por uma máquina que os tritura...o
estomago e o fígado que separa gorduras e outras coisas que não nos fazem
falta, para depois irem para as...sanitas!
O dragãozinho fala com grande
entusiasmo, até dança e faz movimentos exagerados com o corpo enquanto fala,
sorri, e continua a falar sem parar sobre tudo o que sabe sobre joaninhas, e
sobre uvas, sobre os cães, sobre os humanos, sobre a ave da bruxa...dá
exemplos, tira os óculos para ler, fala nos óculos, ajusta-os à cara, dá
exemplos...
As
joaninhas não percebem mais de metade do que ele diz, às vezes riem-se, e dizem
que sim, só para ele não ficar tristes, mas elas estão tão cheias da uva, que
nem o ouvem com atenção. Ele não se cala...parece um rádio ligado.
-
Sugiro que...saltem de cacho em cacho de uvas para se sentirem melhores, mais
vazias... - Diz o dragãozinho
-
O quê? - Perguntam as joaninhas
-
Sim. – Diz o dragãozinho
-
Mas vamos estragar os cachos...- Repara a mãe
-
Não vão nada...são tão leves! – Assegura o dragãozinho
As joaninhas decidem
experimentar.
-
Podem confiar em mim, é seguro e muito divertido! – Garante o dragãozinho
E as joaninhas começam
a saltar, acompanhadas da longa explicação do dragãozinho sobre movimento,
ginástica, digestão, músculos...elas saltam de bago em bago, devagar, porque
estão muito pesadas, balançam-se nos caninhos quando descansam ao passar de um
para o outro, riem, respiram, e começam a perceber que é muito divertido!
Ganham
mais energia e começam a saltar mais rápido, uns saltinhos um bocadinho
maiores, depois maiores, e depois conseguem voar. O dragãozinho ri, aplaude e
fica feliz, mas logo fica calado e triste, a olhar para baixo.
-
O que foi dragãozinho? – Pergunta a joaninha
-
Estás triste? – Pergunta a mãe
O dragãozinho suspira, e começa a
falar mais devagar, sobre tristeza, sobre o coração, sobre lágrimas, sobre
solidão...sobre amizade, soluça...e umas lágrimas caem dos seus grandes olhos
verdes. As joaninhas ficam tristes, e também choramingam. A joaninha dá um
abraço ao dragãozinho, e um beijinho repenicado na bochecha.
-
Não fiques triste, dragãozinho...nós voltamos!
O dragãozinho abre um grande
sorriso, as suas lágrimas transformam-se em cristais brilhantes que lhe caem no
colo, e ele oferece uma a cada joaninha. As joaninhas sorriem, agradecem,
dão-lhe abraços, beijinhos e festinhas, e prometem voltar. O dragãozinho volta
para casa muito feliz.
Vão descansar, e no dia seguinte lá
estão elas outra vez. O dragãozinho leva as joaninhas à sua casinha que fica no
tronco da árvore por cima, onde estão os seus pais e os seus irmãos.
Ele
apresenta toda a família, e as joaninhas são recebidas como se fossem família, servem-lhes
chá, sumo, bolachinhas, e o dragãozinho volta ao pequenino cogumelo onde é o
seu escritório, para mostrar todo orgulhoso, as centenas de livros e
enciclopédias que adora ler...e fala sobre eles, mas desta vez também deixa as
joaninhas falarem.
As uvas pareciam gigantes, mas o
dragãozinho explicou-lhes que as joaninhas é que eram pequeninas, por isso as
uvas para elas pareciam gigantes, mas para as pessoas não são grandes, porque
também têm bocas maiores, e dentes...deu mais uma aula.
As joaninhas aprenderam muito com
ele, e tornaram-se grandes amigos, porque na verdade, o dragãozinho também se
sentia muitas vezes sozinho, embora tivesse a companhia dos livros, mas ele
gostava mesmo era de conversar, ensinar e ter animais ou pessoas perto dele.
A ave, depois das vassouradas ainda
tentou voltar lá, mas os cães estavam muito atentos, e quando sentiam a sua
presença aproximar-se, começavam logo a ladrar, e lá iam os donos com as
vassouras em punho. Ela ficava furiosa, mas não se atreveu mais a descer àquele
campo.
FIM
Lálá
(25/8/2016)
Sem comentários:
Enviar um comentário
Muito obrigada pela visita, e leitura! Voltem sempre, e votem na (s) vossa (s) história (s) preferida (s). Boas leituras