Era
uma vez uma boneca feita de madeira, palitos, por isso era fininha. A sua
cabeça era uma bolinha redonda de madeira. Os olhos, dois botões pretos, o
nariz uma molinha e a boca um pedacinho de feixo. Tinha cabelos compridos de
cor castanha muito encaracoladinhos feitos de lã. Usava uns sapatinhos de malha
a condizer com o vestido. Esta boneca vivia numa toca de uma árvore com a sua
família, numa grande floresta, onde tudo era puro e bonito, não havia poluição,
nem guerra.
Uma
tarde, a boneca saiu de casa e disse aos pais que ia dar uma voltinha. Os pais
deixaram-na ir, com muitas recomendações, as de sempre, sobre a segurança, e
que ela já sabia de cor e salteado. Ouviu e prometeu ter cuidado. Ela não tinha
nenhum lugar especial para ir na grande floresta, mas queria andar um pouco.
Seguiu
pelo caminho do costume, e viu coisas que sempre tinham estado lá, mas como ela
passava sempre a correr, ou ia distraída sozinha com as suas brincadeiras, ou
com os manos, primos e amigos, por isso não reparava em nada.
Desta
vez, ela caminhou devagar, e viu tudo o que conseguiu ao pormenor, coisas
lindas, flores, árvores que pareciam gente, de braços abertos e troncos
ondulados. Cruzou-se com coelhos, que saiam das tocas apressados, viu toupeiras
à superfície à procura de raízes.
Ouviu
e viu passarinhos a chilrear e crias bebés em ninhos à espera de comida,
esfomeados, viu as suas mães a voar e a transportar alimentos. Parou para
conversar com fadas que estavam a costurar uma bela toalha rendada, abelhas e
borboletas a aspirar pólen das flores e a levá-lo para as fábricas onde os
anões o transformavam, em rebuçados, cremes, xaropes, bolos, e outros objectos.
Brincou com macacos, fugiu de
leões, chitas, leopardos, e panteras, correu com lebres, andou montada no
cavalo Universo, e depois passeou de caracol que a levou a ver o resto…as
cascatas onde estavam fadas a tomar banho, sereias a aquecer as lindas vozes e
a ensaiar para espectáculos, morcegos a dormir pendurados em troncos e em
grutas, onde entrou, e viu cristais no tecto e no chão.
- Que coisas tão bonitas! Nunca tinha vindo
aqui. Aquelas sereias cantam mesmo bem! E que lindas que são. Um dia destes,
viu ver se elas me deixam tomar ali um banhinho! As águas são transparentes. O sítio
onde vivo é mesmo maravilhoso, cheio de surpresas. Como é que eu nunca vi
aquilo? Se calhar já estavam lá, acho que não iam aparecer ali, só para eu ver!
Estas grutas…são um sonho…parecem salões de bailes! E a água a cair…a circular
por estes caminhos…parece que fazem música! É tão bom este som! Onde será que
vai dar esta água?
E continua a explorar a
gruta, até chegar a um laguinho com peixes de todas as cores e tamanhos.
- Áh! Que lindo! Então vem ter aqui a água! Tantos
peixes…e um de cada cor…são todos diferentes.
Um peixinho brincalhão vem à superfície
com a boca cheia de água, e envia um grande chafariz para a boneca, da sua
boca. Ainda não satisfeito, mergulha de propósito e com esse salto, a boneca
leva um banho completo. Ela grita e o peixinho ri-se.
- E agora? Como é que eu me vou secar?
E sai da gruta muito zangada.
Continua em frente, e o sol seca-lhe a roupa num instante.
- Obrigada, sol!
E pára junto a um enorme
campo onde estão vacas, bois, cavalos e póneis a pastar sossegados. Por trás
tem uma montanha, aquela que a boneca vê do terraço da sua casa, mas nunca lá
foi.
- Aqui…é onde acaba a aldeia. Já andei tudo? Parece
que andei pouco.
E começa a subir à montanha. Pelo
caminho apanha amoras, framboesas e umas folhas que ela conhece bem, que dão
para fazer chá. Vê plantações de milho, de cabaças, pepinos, alfaces, batatas,
árvores de frutos vários, cruza-se com alguns lobos que a cumprimentam e
perguntam se quer ajuda, ou se está perdida. Ela agradece e diz que não,
aproveita e conversa um pouco mais com eles…que simpáticos que eles são.
De repente, o céu que estava
limpo, quando a boneca saiu de casa, fica cheio de nuvens, escuras, carregadas,
e o sol esconde-se. A boneca estava tão encantada com a paisagem que estava a
ver do cimo da montanha, que só acordou quando sentiu um vento frio e forte
acabado de se levantar. A boneca estremece, olha para o céu muito surpresa, e
pergunta:
- Áh! O que aconteceu? Ainda há bocado estava
sol, e agora…nuvens por todo o lado e este vento…ficaram com inveja, foi? Também
vieram ver a paisagem?
As nuvens riem, e caem
algumas gotas de chuva em cima da boneca. A mãe da boneca, como sabia que a
filha era muito distraída, pensa em tudo, e sabia que ela ia perder-se no
passeio, enviou uma borboleta especial, que foi sempre atrás dela, discreta e
silenciosa, para a proteger e tudo o que ela precisasse.
- Menina…acorda! Está na hora de ir para casa.
Não tarda nada, vai chover forte! – Diz a borboleta
- Áh! Quem és tu?
- Estou sempre contigo!
- És a minha sombra?
- Não! Sou tua amiga e tua protectora!
- Nunca te tinha visto antes!
- Pois não…mas ando muitas vezes contigo!
A boneca sorri, não sabe que
foi a mãe que a enviou, mas gosta dela e agradece-lhe.
- Então, mas ainda não me disseste o que
aconteceu ao céu…
- Vamos embora! Eu explico-te pelo caminho.
- Está bem! Realmente está frio e há muitas
nuvens.
Elas
descem a montanha, e cruzam-se com matilhas de lobos que voltam para as tocas
apressados. Os pássaros voam baixinho e com dificuldade, correm para os ninhos,
caem mais pingas.
A borboleta abre as suas
asas, que pareciam pequenas, mas abertas eram enormes, e abriga a boneca.
- Áh! Tens guarda - chuva?
- Tenho!
- Já sabias que ia chover?
- Já.
- Como? Eu não sabia de nada!
- Mas não se tem falado noutra coisa…tu é que
com certeza, e como sempre, andas distraída!
- Do que estás a falar?
- Não reparaste que havia mais agitação na
floresta?
- Reparei…mas…o que é que isso tem a ver com
as nuvens e a chuva?
E passam esquilos a correr,
carregados de nozes, os coelhos e as lebres voltam para as tocas a correr, tudo
procura abrigo.
- Porque estão todos a fugir? – Pergunta a
boneca
- Porque está a chover. Acorda rapariga…amanhã
será um dia muito especial…
- Alguém faz anos?
- Não! Quer dizer…que eu conheça não!
- Então é especial porquê?
- Porque hoje...termina o Verão, e amanhã
chega o Outono! No Outono, o tempo é mais instável, por isso já se preparam
para depois não andarem à chuva, nem passarem fome!
- Ááááhhh…claro! Como é que eu não me lembrei
disso!
- Estás sempre distraída! É por isso que estou
sempre contigo!
- Óh! Muito obrigada. Foi a minha mamã que te
enviou, não foi?
- Foi!
- Realmente, se não fosses tu, eu já estava
toda encharcada. Nunca pensei que fosse chover.
- Claro! Mas na estação do ano que começa
amanhã, devemos pensar nisso, e estar preparados para essas alterações…de calor…para
frio, e de sol para nuvens, vento…
- Pois. Não me lembrei que hoje termina o
Verão. Até parece que o Outono é que já chegou.
- Sim.
A chuva carrega e ela acelera
o passo. Pelo caminho conta à borboleta tudo o que viu, e chega a casa, seca! Os
pais ficam descansados quando ela entra a porta.
- Mãe…Pai…manos…sabiam que está a chover? –
Repara a boneca
- Claro! – Respondem todos
- Basta olhar lá para fora. – Acrescenta um
irmão
- Pois. Já sabiam que ia chover? – pergunta a
boneca
- Não! – Respondem todos
- Mas amanhã vai haver festa aqui na floresta!
– Lembra outro irmão
- Ai…já te tinham dito? – Pergunta a boneca muito
surpresa
- Já! – Confirma o irmão
- A mim não me tinham dito. – Diz a boneca
- Já tinham dito, sim! Tu é que estás sempre
distraída e não ligaste! – Comenta outra mana
- É verdade! – Dizem os pais
- Hoje termina o Verão! – Lembra a boneca
- Sim! – Respondem todos
- Já sabíamos. – Lembra outro mano
- E amanhã começa o Outono! – Diz a boneca
- É! – Respondem todos
- E vai haver a festa da folha, aqui na
floresta. – Lembra outra mana
- Áh! Boa! Adoro essa festa! – Diz a boneca
A
chuva cai torrencial, com trovoada e vento forte. A boneca conta tudo o que viu…
Se não fosse a borboleta enviada pela mãe, a boneca tinha-se perdido, ou tinha
apanhado uma grande chuvada.
No dia seguinte, faz-se a
grande festa da folha, na floresta, com muitos petiscos, bebidas, danças e
cantares.
Acham que a boneca continuou
a ser muito distraída, ou começou a estar mais atenta ao que acontecia à sua
volta? E vocês? Fazem alguma festa quando chega o Outono?
O que é que vêem nos vossos caminhos?
Já alguma vez caminharam mais devagar e nesses passeios descobriram coisas que nunca tinham visto antes? O que viram?
FIM
Lálá
(20/Agosto/2015)
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