Era uma vez uma
varanda cheia de flores, de todas as espécies, cheias de cor onde não vivia
ninguém, a casa não estava mobilada, nem tinha luz. Ninguém sabia como é que
aquelas flores estavam naquela varanda, numa casa de ninguém…se ninguém cuidava
delas não as regava, como estavam na varanda tão bonitas?
Os vizinhos achavam
aquilo muito estranho. Durante o dia só viam flores, de todas as espécies e
cores, mas havia entre elas, uma flor muito diferente…a que destacava pelo seu
tamanho, cor e altura de pé.
Era enorme, as suas
pétalas de cores vivas, macias, de dia…umas vezes viam-nas abertas, outras
vezes viam-nas fechadas. Quando abriam as pétalas da flor cobriam todas as
outras, que se protegiam do calor e da chuva, do vento, como se fosse um guarda
– sol, e um guarda-chuva.
Como é que ela abria
e fechava sem mãos? Será que ela sentia as diferenças de temperatura e de cor?
Pensavam que já tinham visto todos os mistérios dessa flor, mas estavam muito
enganados…numa noite de Verão quente e estrelada, os vizinhos reuniram-se no
largo do bairro e olharam para o jardim…silencioso, mas um novo enigma surge
diante dos olhos deles…a flor gigante estava aberta e iluminada.
Lá
dentro, uma sombra de uma mulher magra, de puxo no cabelo, a andar de um lado para
o outro, a transportar coisas e a falar sozinha. Todos ficam gelados:
-
Uma senhora a dormir numa flor?
-
Ai, que até fico toda arrepiada.
Aproximam-se mais da
flor, e afinal…a sombra não vivia na flor, mas dentro da casa, num quarto num
sofá cama e coberta com dois sacos-camas. Era uma velhinha fugida da guerra, de
muito longe, que só agora tinha conseguido arranjar um trabalho para juntar
dinheiro.
Aquela casinha foi o
único lugar que encontrou para ficar protegida e onde não pagava. Algumas
pessoas na cidade davam-lhe de comer, e roupas, deixavam-na fazer a sua higiene
e faziam-lhe companhia, deixavam-na cuidar de animais domésticos e abandonados
que andavam pela cidade. De noite ela ficava ali.
Adorava
flores, e plantou sementes que lhe ofereceram, e afinal a flor diferente? Não
era uma flor verdadeira como as outras…era um guarda-sol, e guarda-chuva, e
candeeiro que tinha sido oferecido à senhora de um colégio que a acolheu
temporariamente.
A
senhora apareceu na janela, todos estremecem, e quase congelam de medo. Disse:
-
Boa noite! Posso juntar-me a vocês? Estou sem sono.
Todos respiram de alívio, sorriem:
-
Claro! Boa noite!
-
Bem-vinda!
-
Junte-se a nós.
-
Nunca a tínhamos visto por aqui!
Ela
senta-se no meio do chão, no seu colchão, apesar da sua idade, ela ainda estava
cheia de vida e energia. É muito simpática e bondosa; a sua luz interior sai de
si por todo o corpo.
Encantou todos, e
contou a sua história. Todos ficaram comovidos, e enternecidos com a senhora e
com a sua história. Depois de tantas emoções, os vizinhos ajudam-na com o que
podem para lhe proporcionar todo o conforto que ela merecia. Não lhe faltaram
com nada. A pequena casa num instante, transformou-se numa casa completa.
A senhora ganhou uma
segunda família, que a encheu de mimos, e dedicação, faziam-lhe muita
companhia, e fica feliz, cheia de saúde. Na verdade…ainda bem que viram a flor
misteriosa, que afinal, era uma falsa flor, candeeiro, guarda-sol e
guarda-chuva e protegia um ser humano muito especial, com uma história de vida
triste.
Mas ela voltou a ser
feliz. E uns tempos mais tarde, os vizinhos encontraram a família da senhora
que também tinha fugido, e ficaram na casa da senhora. Aquela casa enche-se de
luz…a luz da flor, a luz da senhora e a luz dos bons e belos sentimentos, como
a amizade, a dedicação, o carinho, a troca, e a bondade.
Mistério
desfeito!
Fim
Lálá
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