Era uma vez uma rainha invejosa, má, fria, arrogante e
vaidosa, exigiu de um empregado seu uma aquisição muito diferente. Ela estava à
janela e viu o arco-íris no monte, por isso, pensando que o arco-íris era uma
coisa que se podia levar, mandou um dos seus criados para lá.
- Vai, e não voltes sem aquilo! – Ordena a rainha
- Mas…
- Cala-te. Não há mas, nem meio mas…vai.
- Eu lamento, mas esse seu desejo é muito difícil.
- Não quero saber…arranja-te! Eu quero os arco-íris e
ponto final. Rápido.
- Mas…
- Despacha-te, antes que seja noite, eu quero ainda hoje…se
não vieres com os arco-íris hoje…vou castigar-te!
- Senhora…
- Cala-te! Vai.
O pobre
criado não falou mais e segui. Não queria desiludir a sua rainha, mas ele achava
difícil apanhar um arco-íris, só que não podia confessar isso com a rainha. Para
ela ficar contente e não o despedir, pôs pés ao caminho e segui para o monte. Pelo
caminho viu o arco-íris, mas quando chegou…e de repente…o arco-íris
desapareceu.
- Óh…ainda não cheguei lá, e o arco-íris já desapareceu…
Ele ia
tão distraído que escorrega numas folhas e cai num buraco depois de rebolar
várias vezes. Um burro salta para o buraco, manda um coice e atira-o pelo ar. Ele
grita, e o burro sai do buraco a rir-se.
- Olha, em vez de te estares a rir, ajuda-me.
- Amigo…rir é bom!
- Eu não achei piada nenhuma.
- Rir, alivia a dor.
- Pois, pois…deve ser.
- É verdade! Olha que eu sou burro, mas sei umas coisas.
- Sim…sim…podes levar-me ao monte por favor?
- Ao monte? Eu…não vou para lá, mas se me disseres o que
vais lá fazer, pode ser que eu vá.
- Vou lá buscar o arco-íris para a rainha.
- O quê?
O burro
desata às gargalhadas, e o rapaz ri-se por contágio, por ouvir as gargalhadas
do burro.
- Desculpa… (ri outra vez)
- Estás bem-disposto! – Diz o rapaz a rir
- É que…isso tem muita piada.
- O quê?
- A rainha quer…um arco-íris…áh, áh, áh, áh… (recomeça às
gargalhadas)
- Mas porque é que te estás a rir tanto?
- Porque ela nunca vai conseguir ter o arco-íris.
- O quê?
- Pois. Ai ela não sabe?
- Não sei…
- Ela não sabe que o arco-íris aparece e desaparece, e
não se pode tocar nele?
- Não…?
- Também não sabes? Vais perder tempo a ir ao monte
buscar o arco-íris. Nunca vais apanhar um…a não ser nos teus sonhos de olhos
fechados…ou abertos…ih, ih, ih…
O rapaz
fica pensativo, e aparecem outra vez outros arco-íris.
- Agora vou apanhar aquele…
- Vais? Boa sorte… (desata a rir)
- Leva-me lá por favor.
- Está bem. Sobe
O rapaz
sobe para o lombo do burro, e quando chegam ao monte, o arco-íris desaparece. Volta
a aparecer, e o rapaz faz tudo para o apanhar. O arco-íris aparece e
desaparece.
- Mas estás a brincar comigo…?
- É mesmo assim, elas não estão a brincar…
- Mas…e agora como é que vou levar um arco-íris àquela
mulher…? Ela lembra-se de cada uma…
- Acho que vais ter de a enfrentar e dizer-lhe a verdade…
- Verdade? Ela mata-me.
- Mas vais ter de dizer, porque na verdade, nunca vais
conseguir apanhar nenhum arco-íris…ele só existe com luz do sol e água…é…ilusão.
Não se pode tocar, nem agarrar, nem meter num frasco ou num saco.
- Não?
- Não!
O rapaz
fica desiludido e com muito medo da rainha. Quando chega ao palácio, conta a
verdade à rainha, muito envergonhado e cheio de medo.
- Incompetente! – Grita a rainha quase a explodir.
Ela chama outros criados para lhe
irem buscar o arco-íris, mas eles também não conseguem, porque aparecem e
desaparecem, não se sabe para onde. Os criados também fazem de tudo e não
conseguem nada. Voltam ao palácio e a rainha fica completamente histérica.
Decide ir ela própria ao monte apanhar os
arco-íris que quisesse, e tem a certeza absoluta que vai conseguir. Mas quando
chega lá…acontece exactamente a mesma coisa: os arco-íris aparecem e desaparecem
num instante, e a rainha não consegue tocar em nenhum.
- Mas o que é que se passa aqui? – Pergunta a rainha
muito zangada
O burro
desata às gargalhadas.
- Nunca vai conseguir…
- Cala-te! – Grita a rainha – Alguém anda a roubar os
arco-íris é? Apanhem o ladrão…- Manda a rainha
Os criados
correm todo o monte, todas as tocas, todas as árvores à procura dos ladrões do
arco-íris.
- Mas que gente tão…rara! – Diz o burro às gargalhadas
- Porque é que te estás a rir…? Ajuda a apanhar os
ladrões. – Manda a rainha muito incomodada.
- Nunca vão encontrar um único ladrão…- Diz o burro a rir
- Porque não? Eles têm de andar por ai. – Diz a rainha
- (RI) Eles não existem…
- Como não existem? Os arco-íris aparecem e desaparecem,
não é sem razão…de certeza que são roubados por alguém.
- Não.
O burro
dá uma longa explicação á rainha sobre os arco-íris. A rainha fica
envergonhada.
- Óh…não posso acreditar. Eu queria tanto um arco-íris…
- Mas isso é da mãe…ela não oferece às mãos criminosas do
homem…são só para os olhos verem tal beleza…
- É mesmo bonito.
- Sim! Se a mãe permitisse que tocassem ou levassem um
arco-íris, uma coisa tão bonita, já não existia…muitos homens já o tinham
vendido uma série de vezes, só para fazer dinheiro, outros já o tinham fundido
e transformado noutra coisa qualquer. Se fosse possível levar um arco-íris,
cada um…nunca ninguém repararia nele…nem que ele é tão lindo. Nem tudo o que
existe na natureza é para ser tocado ou comido…há muita coisa que é para ser
sentida, e vista com os olhos. Quando tocamos com as mãos…estragamos tudo! –
Explica o burro
O burro
ensina a rainha a ver com olhos de ver…a reparar nos mais pequeninos
pormenores, sem tocar, apenas…ver…sentir…e a rainha descobre que afinal não
conhece nada da natureza. Aparecem passado um bocado, nas nuvens uma série de
arco-íris, maravilhosos, com cores nítidas, brilhantes, grossos.
- Ali há água, está a ver…?
- Não.
- Mas há, porque o arco-íris vem de lá.
Começa a
chover e o arco-íris desaparece. A rainha fica encantada.
- Áh! Que maravilha… - Suspira a rainha
- Tem de vir mais vezes passear e sentir a natureza, em
vez de fazer pedidos estranhos…- Diz o burro
- Pois, é verdade.
- Venha, vou mostrar-lhe mais coisas.
A rainha vai montado no burro, e
este mostra-lhe tudo. A rainha parecia outra vez criança, ou que nunca tinha
visto aquilo tudo. Correu, saltou, riu, rebolou na relva, brincou com os
criados, feliz nos campos, andou descalça, apanhou flores, fez fios e arcos de
malmequeres, pôs girassóis no cabelo, chapinhou em lagos, bebeu de fontes…estavam
todos encantados com ela.
A rainha percebeu que o desejo dela era impossível
de realizar, mas para compensar, quando tentou apanhar o arco-íris, descobriu
muitas coisas novas, sentiu-se livre e muito feliz. Pediu desculpa aos criados
pelo pedido tão estranho, e ofereceu-lhes uma bela cesta de frutas que mandou
apanhar para cada um…enorme, cheia de frutas dos seus campos, frescas e suculentas.
A rainha teve na mesma os arco-íris…mas nos
seus olhos!
FIM
Lálá
(15/Novembro/2014)
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